Terminou mais uma mascarada eleitoral! A burguesia, o grande
capital imperialista, a classe dominante, lograram, à custa da poderosa e sofisticada
máquina de propaganda onde investem alguns dos milhões de euros que roubam à
classe operária e aos trabalhadores assalariados, que estes votassem nos
candidatos que já haviam previamente definido como aqueles que melhor
assegurariam a defesa do seus interesses.
Os donos disto tudo,
deste Carnaval burguês, impuseram o rei Momo que já haviam previamente seleccionado
e que pode assegurar – acreditam eles - , com a maioria absoluta obtida, a tão
desejada estabilidade política, económica, financeira e social do seu
regime. Rei Momo Costa que já garantiu, no seu discurso de vitória eleitoral,
que desta não resultará um poder absoluto e, bem pelo contrário, exigirá maior
acerto com os restantes partidos, a concertação social e o Presidente da
República. Acredita quem quiser. Talvez os mesmos que ainda acreditam no
milagre de Fátima ou no roliço Pai Natal.
A escolha era muita e múltipla – à esquerda e à direita. Uns por convite, outros porque choraram, em
bicos de pés, baba e ranho para serem incluídos, todos apresentaram programas
que se limitaram a assegurar que não era uma mudança de regime o que
pretendiam, mas sim reformas que lhes
proporcionassem mais algumas migalhas no bolo do orçamento.
O modelo de geringonça
antecipadamente escolhido pela classe dominante no ciclo político anterior a
este revelou-se defunto. Acabou! Está morto ... matado! Deu lugar a um novo
ciclo político que possa permitir à burguesia capitalista e imperialista ter o
vislumbre de uma retoma da acumulação de mais valias, de riqueza, em suma, de
capital, que contrarie as baixas sucessivas que tem registado nas últimas
décadas, fruto de uma irreversível e crescente crise política e económica,
sistémica, que se agravou com uma pandemia mal explicada e, sobretudo, mal
gerida.
Se o resultado podia ter sido outro! Não! Porque dependeu,
como sempre, de como reagiria o sector da pequena-burguesia poltrona e cobarde,
sempre assustada com o retorno do papão fascista, e da longa noite da ditadura.
Uma vez mais, imperou o voto (f)útil . Serão
quatro anos de ditadura de Costa e do Partido “Socialista”, quatro longos anos de
arrogância, despotismo, nepotismo,
enfim, de ditadura “democrática”.
É muito provável, como aconteceu com maiorias políticas do
passado, que esta que agora vai assumir o poder, venha a suscitar a revolta
popular. Nessa circunstância, das duas uma: ou a burguesia deitará, de novo, a
mão às duas opções de que dispõe:
·
recorrer ao bloco frentista de esquerda para assegurar o acalmar do
ímpeto insurrecional de operários e restantes escravos assalariados.
·
Ou bem que sabe arregimenta o bloco de direita e
extrema direita, que está sempre disponível para fazer o papel de polícia mau e que não exita em exibir a
matraca que, já no passado recente, garantiu a imposição de toda a sorte de
medidas anti-populares que agravariam ainda mais as condições de vida do povo e
assegurariam a desejada retoma dos ritmos de crescimento da acumulação
capitalista.
Ou, então, a classe operária e os restantes escravos
assalariados organizam-se de molde a fazer-lhes frente, implementando
insurreições populares como prelúdio da revolução comunista.
Até o PCTP/MRPP, que emergiu, nos anos 70 do século passado,
de uma ruptura com o revisionismo moderno e o social-imperialismo, se deixou
embalar, pela mão de uma clique social-fascista, burocrata e revisionista,
nesta parada carnavalesca ... e, no mínimo, burlesca. Não satisfeitos com o
facto de terem convencido, por anunciada margem minoritária, alguns militantes
e simpatizantes do Partido em alinharem nesta autêntica palhaçada,
sujeitaram-no a uma derrota humilhante. A história se encarregará de nunca lhes
perdoar esta traição e aplicar-lhes o correctivo que merecem.
Refugiaram-se atrás de uma táctica que, no passado, alegava
ser útil para o proletariado e seus aliados , apoiarem a candidatura do seu
Partido de classe em actos eleitorais burgueses, para que se pudesse aferir do
grau de consciência da classe, alegando ainda que os comunistas deveriam
aproveitar o espaço mediático que a burguesia era obrigada – para não deixar
cair a máscara de falsa democrata – a colocar à sua disposição, para divulgar o
seu programa político, a sua estratégia e a sua táctica. Pois bem, nem o papel
de enfant terrible do sistema
conseguiram desempenhar.
Uma linha profundamente reaccionária, passadista, que lançou
para as urtigas a ruptura que o camarada Arnaldo Matos tinha feito com esta
linha, claramente expressa nas “Teses da Urgeiriça” e na sua intervenção no 1º
de Maio de 2018 de onde, aliás, se retirou, na íntegra, o Plano de Acção
aprovado, por unanimidade e aclamação, no I Congresso Extraordinário do
PCTP/MRPP, que ocorreu nos dias 18 e 19 de Setembro de 2020, em Lisboa, quando
se comemoravam os 50 anos da fundação do MRPP.
Esta camarilha reaccionária e contra-revolucionária nunca
percebeu, aliás – e até se lhe vem opondo – a brilhante análise marxista
contida nos supracitados documentos, já que não entende o que se espera do
movimento revolucionário, operário e comunista, numa época em que o
imperialismo e as relações imperialistas se espalharam por todo o mundo.
Nesta Campanha Alegre queirosiana,
a Mensagem que os candidatos – sobretudo a revisionista, social-fascista e
analfabeta do marxismo, Cidália Guerreiro – conseguiram passar foi a de
atrapalhação total, impreparação inqualificável, inversão total do método
dialéctico marxista para se analisar e determinar as causas e os efeitos das
questões debatidas, inversão total do princípio marxista de que qualqer
fenómeno – seja ele social, político, económico e financeiro, ambiental ou da
natureza – precede a solução que os comunistas e revolucionários devem sintetizar
para, depois, poderem propor à classe que representam, devendo esta conter a
solução revolucionária pela qual os operários, os comunistas, os revolucionários,
se devem bater.
Acantonados na defunta proposta de “Governo Democrático
Patriótico”, ainda assente na política frentista dos idos do final do século
passado, princípios deste século, apresentam um “Programa Proletário para o
presente, com horizonte de futuro” que replica as ilusões reformistas e
revisionistas de PCP , BE e outras formações ditas de esquerda, isto é, de que todas as medidas que são propostas por
estes traidores seriam passíveis de ser aplicadas no quadro de um modo de produção
e de uma superestrutura ideológica completamente sequestrada pela classe
dominante – a burguesia capitalista e imperialista e o seu modo de
produção caduco. Isto é, alimentar a
ilusão, junto da classe operária que assegura representar, de que com as reformas que o PCTP/MRPP propõe, a classe operária e os seus aliados
atingiriam os objectivos propostos pelo seu “Programa Proletário”!!!
Mesmo a argumentação em torno das questões que lhes íam
sendo colocadas nos debates – se isto está mal o que propõem fazer para
alterar? – assentou no mais nauseabundo dos discursos reformistas e
revisionistas. Nunca se deixou claro, como é timbre dos verdadeiros comunistas,
que, no quadro do modo de produção capitalista e imperialista a única solução é
a Revolução
Comunista, a substituição do modo de produção capitalista, por um
novo modo de produção, o modo de produção comunista. O que ocorrerá necessariamente
– já que nenhuma classe abandona o poder de livre vontade – de forma violenta,
por um acto revolucionário da classe mais revolucionária da sociedade – o
proletariado. Entre esta postura e a proposta de convergência de esquerda
feita pelo Livre, pelo PCP ou pelo BE, viesse o diabo e escolhesse!
Mas, afinal, o que obteve o PCTP/MRPP com estas eleições? E
a classe operária e os restantes escravos assalariados? Basta avaliar os
resultados que o partido obteve nos 9 dos 22 Distritos eleitorais a que decidiu
apresentar listas de candidatos (!!!). Vejam-se, abaixo, os reveladores quadros
da derrota em toda a linha, da humilhação mais indigna, da traição mais torpe,
imposta pela direcção revisionista, burocrata e social-fascista da dupla
Cidália Guerreiro/João Pinto:
Distrito Legislativas 2015 Legislativas 2019 Diferença Legislativas 2022 Diferença
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Aveiro
3.280
1.892 -1388 1.409 - 483
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|
Beja
1.945
865 -1.080 415 - 450
|
|
C.Branco
1.080
694 -694 313
- 381
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Coimbra
1.889
1.031 -858 552 - 479
|
|
Lisboa
11.083
8.923 -2.160 4.916 -
4.007
|
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Portalegre
1.001
628 -373 304 - 628
|
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Setúbal
6.721
3.538 -3.183 2.525 -
1.013
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Açores
601
528 -73 321 -
207
|
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Europa 98 1.267 +1169 Por apurar
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Ora bem! Avaliemos a
situação tendo em conta alguns dos “argumentos” apresentados pela referida
camarilha :
1.
O
argumento de que as eleições servem para divulgar o programa da classe operária. O programa dos comunistas. O número de círculos
eleitorais a que o Partido concorreu e os resultados finais falam por si.
Afinal, o programa chegou ainda a menos alvos – cerca de metade - do que os resultados obtidos em eleições
passadas e, ainda assim, os poucos que votaram não representam, de todo, o
universo de votantes, isto é, os 22 círculos eleitorais
2.
O
argumento de que a participação do Partido se prenderia com questões
financeiras. Com este resultado, o Partido não averbou qualquer
vantagem financeira , pelo que, se já estava em falência técnica, brevemente, porque abandonou a linha de massas
marxista, entrará em colapso financeiro total e irreversível!
3.
O
argumento de que a participação no acto eleitoral burguês permitiria medir o
estado de consciência da classe operária e restantes escravos assalariados.
A fraquíssima votação obtida demonstra a falência deste argumento.
4.
Atendendo aos resultados miseráveis obtidos nos
9 dos 22 círculos eleitorais a que se concorreu, estamos conversados! Aliás, a
taxa combinada de abstenção, votos nulos e brancos, ligeiramente inferior à
registada nas eleições legislativas de 2019, é bem demonstrativa de que a classe operária e
os restantes escravos assalariados já compreenderam – muito antes da sua vanguarda – que deve desprezar o
carnaval eleitoral burguês. Para, no passo seguinte, preparar-se e organizar-se
para a insurreição popular que conduzirá à Revolução Comunista, para a
realização da qual será necessário que se organize em Partido – O Partido
Comunista Operário que, seguramente, não existe neste momento. Pelo menos
enquanto esta direcção estiver alcandorada no Comité Central - morto e em putrefacção – do PCTP/MRPP.
5.
O
argumento da dissolução do Partido. Baseando-se numa chantagem
inqualificável, no comunicado a anunciar a participação do PCTP/MRPP nesta
mascarada eleitoral, o Comité Central do Partido alertava, ainda, para o risco
de a burguesia – caso o Partido não participasse no dito Carnaval – ter a
tentação de proceder à sua extinção administrativa,
ameaça que já havia ensaiado por mais do que uma ocasião. Ameaça que só poderá
ser rechaçada se a política marxista, a linha de massas comunista, for retomada.
Os resultados que se registaram, bem pelo contrário, anunciam que, se a burguesia
já vislumbrava essa hipótese, agora se sente mais confortável e legitimada a passar ao nível seguinte, aquele que
tanto apavarou a dupla revisionista, burocrata e social-fascista Cidália/Pinto
que está a liiquidar o Partido.
Qualquer solução
que se apresente, no quadro do sistema capitalista, constitui uma traição
miserável aos interesses dos operários e uma reles manipulação quanto à
possibilidade de, no quadro do sistema que explora a classe operária, se
encontrar a solução para a sua libertação da exploração, da miséria e da
humilhação a que a classe está sujeita neste momento.
No final da noite eleitoral ficou cada vez mais claro que a
estratégia de um Partido Comunista Operário deve ser a de se organizar e
preparar a classe operária para transformar a guerra inter-imperialista em
avançado estado de execução pelos blocos imperialistas – a aliança atlântica e
o bloco da aliança de Xangai. Pelo que necessita de aprofundar os mecanismos
que assegurem a execução de uma táctica marxista que passa, necessáriamente,
pelo aprofundamento do estudo do marxismo.
Luis Júdice
31 de Janeiro de 2022