segunda-feira, 15 de abril de 2024

Agricultores subsidiados, manipulados pelo Estado para fazer pagar os trabalhadores assalariados

 


 15 de Abril de 2024  Robert Bibeau  


Por Khider Mesloub.

Desde há vários meses, em muitos países europeus e na América, os agricultores, esses pequenos capitalistas locais, mobilizam-se contra a diminuição dos seus rendimentos (em legítima defesa das suas condições de vida e de trabalho), provocada, entre outras coisas, pela multiplicação dos impostos, das prestações sociais e das taxas ligadas às normas ambientais.

O estrangulamento dos pequenos agricultores pelo Estado do grande capital - o seu empobrecimento - em benefício da indústria agro-alimentar multimilionária, bem como a concentração das explorações e o consequente sobre-endividamento, empobrecem uma grande franja de agricultores que são proprietários capitalistas das suas explorações familiares. Com a aceleração e o aprofundamento da crise económica, o aumento dos custos de produção, combinado com a inflação devida ao sobre-endividamento dos governos (na sequência da sua gestão do demente confinamento relacionado com o COVID), está a conduzir ao empobrecimento, que também atinge os proprietários de explorações agrícolas de média dimensão. Em toda a Europa, centenas de milhares de pequenos agricultores capitalistas estão mergulhados na angústia e na miséria, ao ponto de alguns serem levados à depressão ou mesmo ao suicídio...

Para protestar contra a degradação das suas condições de vida ou contra a ameaça do seu desaparecimento, os pequenos "camponeses" (agricultores pobres e proprietários de gigantescas explorações capitalistas) mobilizam-se sem descanso sob a bandeira das mesmas palavras de ordem burguesas e chauvinistas: defesa da propriedade privada e do pequeno capital, defesa do mercado nacional... em benefício, não sabem (???) do grande capital agro-alimentar multinacional e multimilionário (Monsanto, etc.).

Da Polónia à França, passando pela Alemanha e Itália, as exigências dos pequenos agricultores capitalistas indignados são idênticas:  contra os "encargos", contra os "impostos", contra as "normas e burocracias de Bruxelas", contra a "concorrência nacional desleal", num contexto de defesa acérrima da preservação da sua propriedade... do seu capital, da protecção das fronteiras dos cartéis bilionários contra as importações estrangeiras... O Estado desempenha o seu papel de correia de transmissão do grande capital mundializado fortemente subsidiado para alienar o pequeno capital ligeiramente subsidiado. Note-se que o grande capital fortemente subsidiado quer reduzir os subsídios aos pequenos capitalistas agrários para quebrar a sua capacidade de resistência na guerra competitiva entre os pequenos e médios capitalistas nacionalistas e os grandes capitalistas multinacionais.

Os agricultores estão também a protestar contra a União Europeia, que isentou os produtos agrícolas ucranianos de direitos aduaneiros desde o início da guerra por procuração. Vale a pena salientar que esta isenção não foi ditada por razões humanitárias, mas sim por razões financeiras. Uma vez que as exportações agrícolas são a principal fonte de divisas da Ucrânia, este país tem de dispor de recursos financeiros suficientes para pagar as armas ocidentais e reembolsar os empréstimos concedidos pelos países europeus belicosos.

Uma coisa é certa: nem os pequenos agricultores nem os médios agricultores da Europa, lutando para defender os seus interesses como empregadores e o seu capital (mesmo a crédito) junto dos Estados nacionais, podem impedir que o rolo compressor capitalista/mundialista continue a sua operação de esmagamento e depois de absorção das suas empresas agrícolas. Porque, na mundialização capitalista, a crise económica e a concorrência exacerbada fazem com que as empresas mais fracas, mais frágeis, estejam condenadas a desaparecer sob os dentes dos tubarões dos cartéis.

A crise está também a conduzir a uma redução dos subsídios governamentais e europeus. Para recordar, se a agricultura europeia se tornou o primeiro exportador mundial, foi graças aos subsídios. E os subsídios são o dinheiro dos contribuintes, ou seja, dos trabalhadores.

Actualmente, na União Europeia, 30% do rendimento agrícola provém de subsídios. Nalguns países europeus, esta percentagem sobe para 45%, nomeadamente na Alemanha. Em França, essa percentagem é de 80%. Na Finlândia, a percentagem aproxima-se dos 100%, com 93%.

No entanto, numa Europa em crise económica e que se prepara para uma guerra mundial, chegou o momento da austeridade, das restricções orçamentais e dos cortes drásticos nos subsídios.

De um modo geral, os agricultores, independentemente da dimensão da sua exploração, não se opõem ao capitalismo. Pior ainda, os agricultores defendem os interesses dos seus patrões, nomeadamente "encargos sociais" mais baixos, exigem o encerramento das fronteiras e, sobretudo, o aumento dos preços dos seus produtos.

Estas exigências são fundamentalmente anti-proletárias.  Porque equivalem a fazer com que os trabalhadores europeus paguem o preço total dos produtos agrícolas, trabalhadores que já foram extremamente empobrecidos pela hiperinflação orquestrada pelos industriais e seus governos. Estas exigências são também anti-proletárias porque, com as novas ajudas financeiras e as isenções fiscais concedidas pelos governos aos agricultores, continuarão a ser os trabalhadores europeus a pagar a factura sob a forma de impostos mais elevados.

Uma coisa é certa: desde o nascimento do capitalismo, o campesinato nunca desempenhou um papel revolucionário, a não ser, raramente, como força de apoio ao proletariado e, regularmente, à burguesia.

Devido ao seu apego atávico à propriedade privada, à sua fragmentação territorial, à sua diferenciação social, às suas representações ideológicas reaccionárias, à sua falta de consciência de classe, à sua pusilanimidade política, ao seu activismo político anárquico limitado a pequenas queixas e a pequenas reformas, à sua permeabilidade à propaganda burguesa e ao seu lugar evanescente na história, os agricultores contemporâneos, particularmente na Europa, são fundamentalmente reaccionários nas suas reivindicações. Mesmo que os camponeses, "um amontoado de sacos de batatas formando uma classe amorfa", para usar a expressão de Karl Marx, pudessem juntar forças com os trabalhadores numa dinâmica de convergência de lutas, rapidamente voltariam a cair nos seus caminhos contra-revolucionários.

Como a história nos ensina, se os camponeses aderem a um movimento revolucionário, é menos por vontade de transformar a sociedade do que para defender os seus interesses corporativistas. Porque, como escreveram Marx e Engels: "Eles não são revolucionários, mas conservadores; mais ainda, são reaccionários; exigem que a história volte atrás. Se agem revolucionariamente, é por medo de cair no proletariado". Foi a ameaça de despromoção e de proletarização que levou os agricultores europeus a revoltarem-se contra os respectivos governos.

Assim sendo, ao contrário da classe operária, que luta para transformar radicalmente as suas condições de existência e derrubar o capitalismo com vista à instauração de uma sociedade sem classes, o campesinato apenas aspira a perseverar na sociedade capitalista, a escapar à sua proletarização, a fugir à perspectiva da sua dissolução na futura sociedade igualitária, mesmo através da colaboração armada com a burguesia.

Uma coisa é certa: com o agravamento da crise sistémica na Europa, muitas camadas sociais não exploradoras mas não revolucionárias, como os agricultores, serão obrigadas a revoltar-se. Mas sem oferecer qualquer perspectiva política de emancipação, a não ser a do nacionalismo, do chauvinismo, da reacção e do populismo. Pior ainda, a do fascismo, que está a ressurgir em pleno em muitos países europeus.

Mais uma razão para os trabalhadores europeus não apoiarem, e muito menos participarem, nestes movimentos esporádicos impulsionados por estas múltiplas camadas populistas sem futuro.

Khider MESLOUB

 

Fonte: Les agriculteurs subventionnés, manipulés par l’État pour faire payer les travailleurs salariés – les 7 du quebec

Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice




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