quarta-feira, 10 de abril de 2024

DEMOCRACIA ELEITORAL ABSOLUTISTA – MAIS UMA RONDA DE ELEIÇÕES BURGUESAS


10 de Abril de 2024  Robert Bibeau 



Por Robert Bibeau.

Eleições europeias, eleições russas, eleições americanas, eleições no Haiti atingido pela fome... a burguesia mundial organiza regularmente mascaradas eleitorais para mudar a sua guarda pretoriana.  O capital mundial conseguiu impor a sua ideologia "democrática eleitoralista absolutista".

No Ocidente, como no Oriente, tanto no Norte como no Sul do planeta, os desafiantes profissionais da política burguesa competem eleitoralmente pelo privilégio de representar tal ou tal fracção ou facção do capital burguês de esquerda, de centro ou de direita (!). Estes nomes não passam de disfarces para esconder o servilismo destes fantoches aos plutocratas do capital mundial de esquerda, de centro ou de direita.

Ao longo do último século, a mascarada eleitoral burguesa aperfeiçoou o seu guião absolutista e está hoje bem implantada em todos os Estados capitalistas burgueses (há cerca de 200 Estados "democráticos" absolutistas burgueses registados na ONU, excluindo a teocrática Cidade do Vaticano e a etnocêntrica Suíça).

A receita eleitoralista absolutista é simples: baseia-se essencialmente no poder económico, ou seja, na propriedade dos meios de produção, de troca e de comunicação... por outras palavras, no poder do dinheiro ou do capital, como diria Marx.

François Hollande (2012-2017), antigo Presidente francês, um velho fantoche da política de esquerda da burguesia francesa, confessou candidamente no início do seu mandato de cinco anos: "Nesta batalha que está em curso, vou dizer-vos quem é o meu adversário, o meu verdadeiro adversário. Não tem nome, não tem rosto, não tem partido, nunca se vai candidatar, por isso não vai ser eleito, e mesmo assim governa. Esse adversário é o mundo das finanças. Diante dos nossos olhos, em vinte anos, as finanças assumiram o controlo da economia, da sociedade e até das nossas vidas. A partir de agora, é possível, numa fracção de segundo, movimentar somas vertiginosas de dinheiro, ameaçar Estados", trovejou, apontando o dedo acusador a este mundo opaco no seu discurso fundador do Le Bourget (26 de Janeiro de 2012). (Ver resultados da pesquisa por "mascarada eleitoral" – Les 7 du Quebeque).

Seja qual for o hemisfério, seja qual for o continente, seja qual for a aliança militar ou comercial beligerante (OTAN, BRICS, SCO, CIS, EU, NAFTA, CETA, etc.), seja qual for a etnia, religião, língua ou nacionalidade das populações do Estado burguês que organiza um circo eleitoral no seu território, para eleger representantes para a Assembleia Nacional fetiche ou para escolher um presidente decorativo, o papel de um partido político burguês é sempre o mesmo, recolher o dinheiro necessário para o bom funcionamento do circo eleitoral e para a eleição dos seus candidatos e do seu potro presidencial ou ministerial à frente do Estado fetiche. A panóplia dos meios de comunicação a soldo do capital é responsável por apontar à população eleitoral o(s) candidato(s) adequado(s) aos meios de comunicação social e aos proprietários capitalistas.

Normalmente, em última instância, não interessa ao grande capital mundial se este ou aquele ganha as honras da máscara eleitoral, uma vez que, em qualquer caso, o sortudo vencedor – da esquerda ou da direita – não terá outra alternativa senão aplicar as regras de governação já estabelecidas e levar a cabo as políticas que lhe são ditadas pelas leis e princípios da economia política capitalista.

Na véspera de uma nova ronda de mascaradas eleitorais, reafirmamos as nossas conclusões do volume "Democracia nos Estados Unidos – Mascaradas Eleitorais": DEMOCRACIA NOS ESTADOS UNIDOS (Electoral Masquerades) – The Quebec 7

"Usando a interminável campanha eleitoral dos EUA de 2016 e a eleição francesa de 2017 como exemplo, demonstramos, apoiando-nos nos factos, que as eleições 'democráticas' de bilionários – não importa quão silenciosa ou ostensivamente orquestradas e manipuladas – são fundamentalmente anti-classe operária e visam apenas fortalecer o Estado de bem-estar social para os ricos. Visam apenas desarmar e comprometer a classe proletária e incitá-la a colocar o seu destino nas mãos do Estado fetichista burguês, o quadro central do grande capital. Veremos que a democracia burguesa é uma ilusão para distrair a classe proletária da sua missão revolucionária histórica. https://les7duquebec.net/wp-content/uploads/2020/06/LA-DEMOCRATIE-AUX-ETATS-UNIS.pdf 



 

O SUFRÁGIO UNIVERSAL, O CHARME DISCRETO DA DEMOCRACIA BURGUESA

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"O sufrágio universal não me assusta, as pessoas vão votar como lhes dizem", disse o monárquico Alexis de Tocqueville.

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Fonte: SUFRÁGIO UNIVERSAL, O CHARME DISCRETO DA DEMOCRACIA BURGUESA – VIVA A REVOLUÇÃO (mai68.org)

A discussão foi suspensa, mas o sufrágio universal foi imediatamente proclamado. Era necessário acalmar os insurgentes ameaçadores e contrabalançar as medidas de austeridade. Esta citação do Professor de Ciência Política Alain Garrigou, retirada do seu artigo no "Le Monde diplomatique" sobre o sufrágio universal, poderia resumir a minha resposta ao mesmo artigo.

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A sociedade é um supermercado, e o "Presidente da República" é um funcionário do departamento de reclamações: está lá para levar com todos os golpes no lugar do capital. Os verdadeiros líderes nunca são eleitos. Os patrões da França são os patrões. Na verdade, são eles que, financiando campanhas eleitorais num sentido e não no outro, escolhem o presidente do departamento de reclamações. Nem sequer temos "a liberdade de escolher a bandeira da nossa futura desilusão" (Higelin).

O sufrágio universal não é uma conquista de 1848, é a arma usada pelo governo para derrotar a tentativa revolucionária da época. Quem estava no poder sabia que a revolução só estava presente nas grandes cidades. Instituiu o sufrágio universal para esmagar as armas dos revolucionários parisienses sob os votos do resto da França. Noutros países europeus, a revolução de 1848 não foi poderosa o suficiente para que o governo precisasse do sufrágio universal para superá-la.

Ai do vencido, ele até perderá a memória. A revolução de 1848 foi derrotada a tal ponto que as autoridades conseguiram fazê-la crer que tinha vencido e que a arma da sua derrota, o sufrágio universal, era a sua principal conquista.

 


O desenho acima, ilustrando o artigo ao qual respondo, poderia facilmente ilustrar o meu texto, mas ironicamente, não para mostrar a "conquista" de 1848, mas para explicar como a burguesia desarmou a revolução (neste desenho de época, vemos um "homem" substituindo a sua espingarda por um boletim de voto).

Hoje, o sufrágio universal ainda serve o mesmo propósito (e qualquer pretexto é bom para desarmar os "cidadãos"). Assim, para derrotar o Maio de 68, De Gaulle, no seu discurso de 30 de Maio, propôs: "Ou guerra civil agora, ou eleições daqui a um mês". Enquanto isso, carros blindados circulavam ostensivamente em Paris. E os manifestantes que gritavam "eleições, armadilha para tolos! Só há uma solução, a revolução! Não podiam fazer nada a esse respeito: estavam desarmados!

É um facto: o povo "exprime-se" através do sufrágio universal. Mas, como dizia Karl Marx1 : "Quando ouço falar do povo, pergunto-me o que se está a planear contra o proletariado". De facto, o povo é toda a nação, a união sagrada entre a burguesia e os proletários de um mesmo país, a colaboração de classes; o proletariado, pelo contrário, é internacional e pratica a luta de classes. Actualmente, o sufrágio universal está em todo o lado e a luta de classes em lado nenhum.

 O professor de Ciência Política diz-nos: "O sufrágio universal... uma instituição que não só registou o equilíbrio do poder, mas deu aos homens, e depois às mulheres, uma dignidade que a sua condição social lhes negava". Em primeiro lugar, eu diria que a dignidade é o que se dá aos vencidos para que aceitem a derrota (com dignidade). Mas também diria que o sufrágio universal não regista de forma alguma a relação de forças. Regista apenas os números, o que não é surpreendente numa "sociedade" onde a quantidade destruiu a qualidade. Para registar as relações de força, as perguntas não devem ser: "Quem concorda com isto? mas, como foi feito em Atenas, creio eu: "Quem está disposto a lutar por isto? Quem está disposto a lutar contra? E veríamos que não só os números seriam menores, mas que em muitos casos o resultado seria o oposto do obtido com o outro tipo de pergunta 2. Além disso, raramente nos é pedida a nossa opinião sobre o que deve ser feito. Somos obrigados a votar em pessoas que, uma vez eleitas, nos recordam que as promessas eleitorais não são nada, que, como dizia Pasqua: "As promessas só comprometem quem acredita nelas". Mitterrand prometeu-nos que era socialista quando, na realidade, era petainista...

Por exemplo, não nos perguntaram a nossa opinião sobre a nuclearização da França. Mas, como dizia Pasqua: "A democracia pára onde começa a razão de Estado. O Estado é necessariamente prioritário, pois não é mais do que "os bandos armados do poder" (Karl Marx). Também não nos vão perguntar a nossa opinião sobre a futura transgenização do país. Contentamo-nos em começar devagar: "Só o milho...".

E, quando nos pedem a nossa opinião sobre algo importante, se não votarmos como devíamos, pedem-nos que votemos de novo, tal como aconteceu na Dinamarca por causa de Maastricht. Em França, para garantir que votávamos correctamente, os meios de comunicação social3 diziam todos "Vive Maastricht!" e o europeísta Mitterrand, então Presidente da República Francesa, arranjou maneira de se desculpar, optando por ser operado de novo ao cancro da próstata uma semana antes do referendo! (quando o cidadão comum só é operado uma vez a um cancro deste tipo). De qualquer modo, a construção da Europa foi imposta pelos "americanos" com o Plano Marshall em 1947, em troca da sua "ajuda" financeira. O sufrágio universal é ridículo4. "O capitalismo é a lei do bastardo", por isso o que é que o sufrágio universal pode fazer contra ele? Se o voto pudesse mudar alguma coisa, seria proibido! 

A burguesia prefere a luta eleitoral à luta de classes. E o pseudo-combate entre a direita política e a esquerda política é apenas o espectáculo (no sentido de Debord) da luta de classes. Por outras palavras, através de um subterfúgio bem executado, os prestidigitadores do poder conseguiram subverter a luta de classes e substituí-la pela pseudo-luta eleitoral entre a direita e a esquerda sem que ninguém se apercebesse. Os vencidos fecham os olhos: é mais fácil rastejar em direcção a uma urna do que erguer-se como o Che, de Kalashnikov na mão. Sim, o sufrágio universal é de facto um sedativo5, destinado, tal como Estaline, a encerrar a dissidência num colete de forças químico. Se a greve e a crítica são armas fundamentais do proletariado, podemos ainda dizer com Karl Marx: "A arma da crítica nunca substituirá a crítica pelas armas".

O SUFRÁGIO UNIVERSAL, O CHARME DISCRETO DA DEMOCRACIA BURGUESA – VIVA A REVOLUÇÃO (mai68.org)


Notas:

1) Karl Marx nunca foi tão lido na Europa de Leste como desde o espetáculo do colapso de um comunismo que nunca existiu.

2) Dito isto, não estou a escrever estas últimas linhas para encorajar uma mudança no tipo de perguntas, mas apenas para as demonstrar.

3) " Os jornalistas estão ao serviço de quem lhes paga", como diria Serge Halimi, suponho.

4) Se ainda tivéssemos dúvidas sobre este assunto, os artigos do Le Monde Diplomatique sobre o I.M.A. encarregavam-se de as eliminar.

5) Como vos diz, o Professor de Ciência Política, nas primeiras frases em que o cito.

 
















"Isso é para o inimigo exterior, mas no interior, é assim que se combate os adversários com justiça...". L'urne et le fusil, gravura de Louis Marie Bosredon, Abril de 1848

 

Fonte : LA DÉMOCRATIE ÉLECTORALISTE ABSOLUTISTE – ENCORE UNE RONDE D’ÉLECTIONS BOURGEOISES – les 7 du quebec

Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice




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