segunda-feira, 1 de abril de 2024

As cigarras estão de volta

 


 1 de abril de 2024  Olivier Cabanel  Sem comentários

OLIVIER CABANEL — Se as andorinhas anunciam todos os anos a Primavera, é possível que as cigarras confirmem o aquecimento global.

Ainda não há muito tempo, as últimas cigarras podiam ser ouvidas a cantar na região de Valence.

Izieux, uma pequena aldeia do departamento de Ain, mais conhecida por um drama que marcou a Segunda Guerra Mundial, está de novo no centro das atenções.

Toda a gente já ouviu falar das crianças de Izieux, perseguidas pelo carniceiro nazi Barbie, mesmo nas montanhas do Ain, e acolhidas por François Mitterrand.

De facto, mesmo que isso signifique apertar alguns botões no rosto corado de Claude Allègre, que continua a negar alegremente a existência do aquecimento global, hoje é possível ouvir o canto das cigarras na região de Izieux, 100 km a norte de Valence.

É claro que haverá alguns opositores que apontarão para certas espécies de cigarras que sempre viveram em certas partes da Alemanha ou do Canadá, mas as cigarras observadas em Izieux, na região de Ain, são de facto da variedade mediterrânica (cicada plebeja), que nada têm a ver com a cigarra norte-americana (magicicada septemdecim).

Já em Outubro de 2008, Orjan Gustafsson, um investigador sueco em missão a bordo do "Jacob Smirnitskyi", um navio oceanográfico russo, tinha alertado a opinião pública mundial.

Tinha constatado a presença de aberturas de metano.

"Ontem, pela primeira vez, estudámos uma zona onde a descarga foi tão intensa que o metano não teve tempo de se dissolver na água, mas subiu à superfície sob a forma de bolhas. Estas aberturas de metano foram detectadas por sonar e por instrumentos sismológicos".

Estas observações foram confirmadas alguns dias mais tarde por uma equipa britânica de oceanógrafos a bordo do James Clark Ross, que contou 250 fontes de metano no Ártico.

Para compreender o significado desta descoberta, é importante recordar que o metano é o gás que mais contribui para o aquecimento global, sendo 20 vezes mais activo como gás com efeito de estufa do que o dióxido de carbono.

Para o Professor Emilien Pelletier, químico e ecotoxicologista marinho do Institut des Sciences de la mer em Rimouski, este fenómeno não é diferente do que acontece no permafrost da Terra, onde basta uma mudança de apenas alguns décimos de grau centígrado para desencadear a redistribuição de um gás solidificado como o metano.

Na sua opinião, o que vai acontecer a seguir pode ser "potencialmente catastrófico", devido à magnitude das entradas adicionais de gases com efeito de estufa, se o fenómeno, que é marginal de momento, se espalhar pela maior parte dos fundos marinhos dos mares do Ártico, porque os modelos de previsão não incluíram estes dados nos seus cálculos.

Esta é uma oportunidade para recordar algumas das inverdades do filme "Home", de Yann Arthus Bertrand, onde se comenta que "se o metano aprisionado sob o permafrost fosse libertado um dia, haveria motivos para preocupação".

De facto, há motivos para preocupação, porque o tempo condicional utilizado pelo realizador já não é relevante: a ficção imaginada pelo realizador começou há quase um ano!

Como todos sabemos, os gelos dos dois pólos estão a derreter a um ritmo muito mais rápido do que se pensava.

Nos últimos 50 anos, a temperatura média anual no Alasca e na Sibéria aumentou dois graus.

A calota de gelo cobre uma área entre 7,5 e 15 milhões de km2.

Nos últimos trinta anos, já derreteram 988 000 km2 de gelo, o que corresponde ao dobro da superfície de França e a 8% da sua superfície total.

A situação não é melhor na Antárctida, onde se observou recentemente que um enorme pedaço de gelo (chamado Plataforma de Gelo Wilkins) com 41 km de comprimento e 2,5 km de largura se está a separar do bloco de gelo e começa lentamente a desintegrar-se.

Alguns dias depois de ter escrito este artigo, recebi um telefonema de uma pessoa da minha aldeia.

Como dirigente de uma associação ambiental, achou por bem dar-me a sua informação: uma cigarra estava a cantar junto à sua casa, na minha aldeia.

Então, como dizia um velho amigo meu africano:

"Se estás a nadar em felicidade, fica onde tens pé".

 

Fonte: Les cigales sont de retour – les 7 du quebec

Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice




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