Sion Assidon, o activista
pró-palestiniano marroquino anti-sionista está em coma, internado numa clínica
privada em Mohammedia.
René Naba, 18 de Agosto de 2025
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actualização, 18 de Agosto de 2025
Sion
Assidon, o activista marroquino pró-palestiniano e anti-sionista, está em coma,
internado numa clínica privada em Mohammedia, nos arredores de Casablanca.
Este é o
único ponto claro num caso que, em muitos aspectos, é obscuro, devido à
personalidade do indivíduo e ao seu papel de destaque na defesa da causa
palestiniana em Marrocos, um país que durante muito tempo manteve uma
cooperação clandestina com Israel antes de oficializar publicamente a sua
proximidade com o Estado hebreu, em 2018.
Anti-sionista
radical e fervoroso defensor da causa palestiniana, Sion Assidon foi alvo de
uma acção hostil que comprometeu gravemente a sua saúde, deixando-o em estado
comatoso. Ele está internado numa clínica privada em Mohammedia, nos arredores
de Casablanca, onde reside.
Proveniente
de uma família judaica marroquina, Sion Assidon reivindica-se como «cidadão
marroquino, amazigho-árabe» e não como judeu. Matemático de formação, é membro
do Partido Comunista Marroquino. Ele aderiu ao movimento
-nakhduma-al-shaab (Servimos o povo),
dedicou-se à luta pela instauração da democracia no seu país, o que lhe valeu
ser preso de 1972 a 1984, durante os anos de chumbo sob o reinado de Hassan II.
Em 1986,
fundou a sua empresa de informática e depois assumiu a empresa familiar. É
coordenador da BDS Marrocos. Em 2005, fundou a «Transparency Marrocos», da qual
se tornou director, e depois membro do Conselho Executivo e do Conselho de
Administração da Transparency International.
O site
marroquino Ya Biladi foi o primeiro a dar o alerta: Sion Assidon foi
transferido na segunda-feira, 11 de Agosto de 2025, para o hospital «em estado
de inconsciência». O site ecoa as preocupações do «Observatório Marroquino
contra a Normalização».
Num
comunicado assinado pelo seu presidente Ahmed Ouihmane, o Observatório expressa
viva preocupação com o estado de saúde crítico de Sion Assidon,
«militante
emblemático dos direitos humanos e figura de proa do movimento Boicote,
Desinvestimento e Sanções (BDS). Internado na unidade de cuidados intensivos de
uma clínica privada em Mohammedia, continua em coma».
Maroc Hebdo,
lacónico, tuíta na sua página do Facebook: «Emergência médica: o activista Sion
Assidon hospitalizado», como que sugerindo que este militante de longa data foi
acometido por um mal-estar repentino e hospitalizado.
Mas todos
sabem que em Marrocos, como em muitos países árabes, a imprensa não goza de
total liberdade. Da mesma forma que em Israel, onde a censura militar censura
tudo o que diz respeito a assuntos militares.
A versão de
Tahar Almouez, um intelectual tunisino geralmente bem informado sobre os
assuntos do Magrebe devido às suas relações com o mundo intelectual magrebino.
Acidente fortuito ou tentativa de assassinato?
As autoridades de segurança de Marrocos foram alertadas sobre o facto de
ter sido perdida a comunicação com o cidadão marroquino Sion Assidon desde
sábado, 9 de Agosto.
As forças de segurança decidiram então forçar a entrada na residência do activista
pró-palestiniano.
Elas encontraram Sion sentado, mas inconsciente, na sua casa em Mohammedia,
no dia 11 de Agosto. Na sua cabeça havia vestígios de ferimentos suspeitos no
rosto e no ombro.
Os médicos consideraram o seu estado «crítico» devido ao atraso no seu
transporte para o hospital. Sion foi submetido a uma operação de emergência no
cérebro. Verificou-se que ele foi vítima de uma hemorragia.
As autoridades marroquinas afirmaram que Sion tinha caído de uma escada,
embora não houvesse nenhuma árvore que exigisse subir numa escada no pequeno
jardim da sua casa.
Esta versão suscitou dúvidas e suspeitas. É mais provável que Sion tenha
sido vítima de uma agressão por parte daqueles que se incomodam com a atitude
hostil de Sion em relação à normalização das relações entre Israel e Marrocos.
As autoridades marroquinas não comunicaram oficialmente as circunstâncias
deste grave caso e também não ordenaram uma investigação sobre o mesmo.
Fim da versão de Tahar Elmouez
A
neutralização - provisória ou definitiva - de Sion Assidon ocorre num momento
em que cresce a inquietação da população marroquina devido à passividade do
governo em relação a Israel, enquanto um genocídio é perpetrado contra a
população de Gaza. Uma passividade ainda mais insuportável para muitos
marroquinos, uma vez que o soberano cherifiano preside, em princípio, o Comité
Al Dods (Jerusalém), o terceiro local sagrado do Islão.
Neste
contexto, a eliminação de um militante muito activo da causa palestiniana, com
grande notoriedade junto da população e na cena internacional, assume o carácter
de um caso obscuro digno das proezas dos capangas marroquinos... ou dos seus
émulos israelitas?
Como foi o
caso do desaparecimento de Mehdi Ben Barka, líder carismático da oposição
marroquina, raptado no coração de Paris, em 1967, numa operação conjunta
israelo-marroquina, tanto mais que Marrocos é habitual em desaparecimentos
misteriosos, como foi o caso de personagens que se tornaram incómodas.
Lembre-se do
caso do general Mohamad Oufkir e do general Ahmad Dlimi.
O general Mohamad Oufkir
Em 10 de Julho
de 1971, uma tentativa de golpe de Estado causou mais de cem mortes no palácio
real de Soukheirat. Um ano depois, em 16 de Agosto de 1972, o general Oufkir
organizou um ataque contra o avião do soberano. Oufkir, segundo a versão
oficial, suicidou-se.
Ahmad Dlimi
Um dos
principais participantes na conspiração para eliminar o carismático líder da
oposição marroquina, Mehdi Ben Barka, raptado e assassinado em Paris em 1967,
considerado o principal homem forte do rei Hassan II. Em 1983, Dlimi morreu no
que foi oficialmente relatado por fontes marroquinas como um acidente de carro,
colidindo de frente com um camião-cisterna no palmeiral de Marraquexe.
………….poucas horas antes do início da visita oficial do presidente francês
François Mitterrand ao Marrocos.
Para saber
mais sobre o tema do judaísmo marroquino, consulte estes links:
- https://www.renenaba.com/hommage-a-edmond-amran-el-maleh-et-abraham-sarfati-lhonneur-du-judaisme-marocain/
- https://www.renenaba.com/jordanie-et-maroc-additif/
Sobre as relações
entre o Marrocos e Israel :
- https://www.madaniya.info/2025/06/24/exclusivite-maroc-israel-2-officiers-marocains-tues-sur-une-base-israelienne-par-un-tir-balistique-iranien/
- https://www.renenaba.com/maroc-israel-hassan-ii-la-grande-imposture/
Ilustração
D.R
René Naba
Jornalista e escritor,
ex-responsável pelo mundo árabe-muçulmano no serviço diplomático da AFP, depois
conselheiro do director-geral da RMC Médio Oriente, responsável pela
informação, membro do grupo consultivo do Instituto Escandinavo dos Direitos
Humanos e da Associação de Amizade Euro-Árabe. De 1969 a 1979, foi
correspondente rotativo no escritório regional da Agência France-Presse (AFP)
em Beirute, onde cobriu, nomeadamente, a guerra civil jordano-palestiniana, o
«Setembro Negro» de 1970, a nacionalização das instalações petrolíferas do
Iraque e da Líbia (1972), uma dezena de golpes de Estado e sequestros de
aviões, bem como a guerra do Líbano (1975-1990), a terceira guerra
israelo-árabe de Outubro de 1973 e as primeiras negociações de paz entre o Egipto
e Israel em Mena House, no Cairo (1979). De 1979 a 1989, foi responsável pelo
mundo árabe-muçulmano no serviço diplomático da AFP [ref. necessária], depois
conselheiro do director-geral da RMC Médio Oriente, encarregado da informação,
de 1989 a 1995. Autor de «L'Arabie saoudite, un royaume des ténèbres» (Golias),
«Du Bougnoule au sauvageon, voyage dans l'imaginaire français» (Harmattan),
«Hariri, de père en fils, hommes d'affaires, premiers ministres» (Harmattan),
«Les révolutions arabes et la malédiction de Camp David» (Bachari), «Média et
Démocratie, la captation de l'imaginaire un enjeu du XXIme siècle» (Golias).
Desde 2013, é membro do grupo consultivo do Instituto Escandinavo dos Direitos
Humanos (SIHR), com sede em Genebra. Além disso, é vice-presidente do Centro
Internacional Contra o Terrorismo (ICALT), em Genebra; presidente da associação
de caridade LINA, que actua nos bairros do norte de Marselha, e presidente
honorário da «Car tu y es libre» (Quartier libre), que trabalha para a promoção
social e política das zonas periurbanas do departamento de Bouches-du-Rhône, no
sul da França. Desde 2014, é consultor do Instituto Internacional para a Paz, a
Justiça e os Direitos Humanos (IIPJDH), com sede em Genebra. Desde 1 de Setembro
de 2014, é responsável pela coordenação editorial do site https://www.madaniya.info e apresentador de uma crónica semanal na Radio
Galère (Marselha), às quintas-feiras, das 16h às 18h.
Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis
Júdice
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