sexta-feira, 13 de setembro de 2024

Um Partido Comunista é presa apetecida que toda a burguesia gosta de ostentar como troféu de conquista.

 


É que um Partido Comunista não só reproduz em menor escala a sociedade onde actua como a luta de classes no seu interior adquire particular complexidade e nalgumas circunstâncias ferocidade extrema.

Como identificar numa organização comunista actuação burguesa?

Em primeiro lugar no estudo das mais abrangentes manifestações da vida no nosso planeta entre as quais, e com assumido relevo, a da luta económica nas distintas sociedades humanas.

É conhecida a afirmação de que sem teoria revolucionária não há revolução.

A vitoriosa revolução burguesa é uma expressiva confirmação de tal afirmação, com a sua notável plêiade de intelectuais e toda uma classe armada de referenciais ideológicos e processuais a informar e enformar o seu quotidiano.

Mas a revolução burguesa, com a sua falaciosa bandeira de “liberdade, igualdade, fraternidade”, o que trouxe foi fraternidade envenenada pela concorrência, igualdade pervertida pelos direitos desiguais e continuada liberdade da exploração do homem pelo homem sob novos argumentos. O resultado apesar da mistificação é uma nova revolução. Desta vez pelo proletariado nascido da prolífica revolução burguesa mudada agora em reaccionária contra revolução.

O desespero da burguesia é de tal ordem que persegue, oculta e denigre quanto pode os artistas e intelectuais intérpretes da classe operária em simultâneo com a malversão, a ocultação e a proibição do pensamento operário, promovendo para o efeito e ao máximo a reprodução de pensamentos e comportamentos burgueses entre quem trabalha.

A reprodução das relações de patrão e capataz que dá ordens e do cala e consente do empregado perverte e mesmo inviabiliza a comum aferição do que fazer, do por que fazer e do resultado do fazer. A recusa da organização celular e a manutenção de organizações fantoche no Partido é expressão de perversão e viabilização operativas tipicamente anti-comunistas.

Ambas estas manifestações burguesas perpassaram em vida do camarada Arnaldo Matos pelo PCTP/MRPP, sendo que após o seu falecimento agigantaram-se despudoradamente na ausência do sua firme crítica. 

A explosão contra-revolucionária logrou mentores mas também escoriados.

A esperança maior reside em quem a deflagração pouco ou nada atingiu, isto é, as resilientes massas operárias, cinicamente repudiadas, não vá o diabo aclarar a perfídia.

O fenómeno não se restringiu ao movimento comunista em Portugal, é um fenómeno mundial, ocorrendo com tanto mais intensidade quanto mais se avoluma a crítica ao que o próprio Marx chamou de comunismo grosseiro ou que classificou como mancomunação com interesses externos ao proletariado.

Mas não só abusam de Marx, fazem também o mesmo ao camarada Arnaldo Matos, mandando à urtigas a corajosa exposição nas Teses da Urgeiriça sobre o movimento comunista internacional e a natureza e o carácter de classe das duas grandes revoluções tidas como comunistas, a de 1917 na Rússia e a de 1949 na China, mas em que em ambas não foi atacado o processo económico da circulação do capital nem posta em causa a apropriação privada da mais-valia, seja a título individual, corporativo, de toda uma classe em conjunto ou estatal – como ipsis verbis declara.

 

Pedro Pacheco

Região Autónoma dos Açores, 12 Set 2024

Sem comentários:

Enviar um comentário