É que um Partido Comunista não só reproduz em menor escala a
sociedade onde actua como a luta de classes no seu interior adquire particular
complexidade e nalgumas circunstâncias ferocidade extrema.
Como identificar numa organização comunista actuação burguesa?
Em primeiro lugar no estudo das mais abrangentes manifestações
da vida no nosso planeta entre as quais, e com assumido relevo, a da luta
económica nas distintas sociedades humanas.
É conhecida a afirmação de que sem teoria revolucionária não há
revolução.
A vitoriosa revolução burguesa é uma expressiva confirmação de
tal afirmação, com a sua notável plêiade de intelectuais e toda uma classe
armada de referenciais ideológicos e processuais a informar e enformar o seu
quotidiano.
Mas a revolução burguesa, com a sua falaciosa bandeira de
“liberdade, igualdade, fraternidade”, o que trouxe foi fraternidade envenenada
pela concorrência, igualdade pervertida pelos direitos desiguais e continuada
liberdade da exploração do homem pelo homem sob novos argumentos. O resultado
apesar da mistificação é uma nova revolução. Desta vez pelo proletariado
nascido da prolífica revolução burguesa mudada agora em reaccionária contra
revolução.
O desespero da burguesia é de tal ordem que persegue, oculta e
denigre quanto pode os artistas e intelectuais intérpretes da classe operária
em simultâneo com a malversão, a ocultação e a proibição do pensamento
operário, promovendo para o efeito e ao máximo a reprodução de pensamentos e
comportamentos burgueses entre quem trabalha.
A reprodução das relações de patrão e capataz que dá ordens e do
cala e consente do empregado perverte e mesmo inviabiliza a comum aferição do
que fazer, do por que fazer e do resultado do fazer. A recusa da organização
celular e a manutenção de organizações fantoche no Partido é expressão de
perversão e viabilização operativas tipicamente anti-comunistas.
Ambas estas manifestações burguesas perpassaram em vida do
camarada Arnaldo Matos pelo PCTP/MRPP, sendo que após o seu falecimento
agigantaram-se despudoradamente na ausência do sua firme crítica.
A explosão contra-revolucionária logrou mentores mas também
escoriados.
A esperança maior reside em quem a deflagração pouco ou nada
atingiu, isto é, as resilientes massas operárias, cinicamente repudiadas, não
vá o diabo aclarar a perfídia.
O fenómeno não se restringiu ao movimento comunista em Portugal,
é um fenómeno mundial, ocorrendo com tanto mais intensidade quanto mais se
avoluma a crítica ao que o próprio Marx chamou de comunismo grosseiro ou que
classificou como mancomunação com interesses externos ao proletariado.
Mas não só abusam de Marx, fazem também o mesmo ao camarada
Arnaldo Matos, mandando à urtigas a corajosa exposição nas Teses da Urgeiriça
sobre o movimento comunista internacional e a natureza e o carácter de classe
das duas grandes revoluções tidas como comunistas, a de 1917 na Rússia e a de
1949 na China, mas em que em ambas não foi atacado o processo económico da
circulação do capital nem posta em causa a apropriação privada da mais-valia,
seja a título individual, corporativo, de toda uma classe em conjunto ou
estatal – como ipsis verbis declara.
Pedro Pacheco
Região Autónoma dos Açores, 12 Set 2024
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