13 de Novembro de
2024 Robert Bibeau
Por Global Times − 04 de
novembro de 2024
As
recentes sanções de Pequim contra a Skydio, o maior fabricante de drones dos
EUA, põem em evidência a necessidade de compreender a interdependência entre as
economias chinesa e americana, bem como as falhas fundamentais da estratégia de
Washington em relação à China.
A
resposta rápida de Pequim às vendas de armas dos EUA a Taiwan afectou
profundamente a cadeia de abastecimento da Skydio. A empresa foi forçada a
restringir o seu fornecimento de baterias e a procurar urgentemente
alternativas até à Primavera de 2025. Segundo consta, a empresa também pediu
ajuda a altos funcionários da Casa Branca, na esperança de que os EUA e os seus
aliados possam ajudar a resolver a “interrupção
do fornecimento de baterias”. Esta situação difícil com que a empresa se
depara põe em evidência a necessidade urgente de uma mudança estratégica nas
relações EUA-China.
“Trata-se de uma
tentativa de eliminar a principal empresa americana de drones e de aprofundar a
dependência mundial dos fornecedores chineses de drones”, declarou Adam Bry,
director executivo da Skydio, numa carta dirigida aos clientes, divulgada em
primeira mão pelo Financial Times.
A empresa, que fornece drones às forças armadas ucranianas e à agência de
combate a incêndios de Taiwan, fabrica os seus produtos nos EUA, mas continua a
depender de uma cadeia de abastecimento mundial para muitos dos seus
componentes; um dos componentes mais críticos, as baterias, continua a vir da
China.
Este incidente serve
de alerta: as contramedidas de Pequim contra as empresas americanas são
decisões razoáveis e legítimas tomadas para proteger os interesses fundamentais
da China e defender o princípio básico de que os drones não devem ser
utilizados para a guerra. Mais importante ainda, mostra que a China já não
entrará simplesmente em modo de defesa e engolirá a repressão e contenção dos
EUA; em vez disso, a China adoptará cada vez mais contramedidas.
Há muito que a China dispõe de tais capacidades. Desde que a administração Trump lançou a guerra comercial em 2018,
Washington tem seguido uma estratégia de “dissociação”
da China sob o pretexto da segurança nacional. A administração Biden
institucionalizou, sistematizou e aumentou totalmente as sanções e a contenção,
em particular através do reforço contínuo das restricções às exportações de
alta tecnologia e ao investimento na China.
No entanto, como demonstra o caso Skydio, esta abordagem está agora a sair
pela culatra aos Estados Unidos. A incapacidade da empresa de assegurar o
fornecimento de componentes essenciais, como as baterias, expõe a dolorosa
realidade de que a indústria tecnológica dos EUA continua profundamente
dependente das cadeias de abastecimento chinesas.
Esta situação é apenas um pequeno exemplo da forte dependência dos Estados
Unidos em relação à produção chinesa. À medida que a política de contenção dos
EUA se intensifica, cada vez mais indústrias, empresas e mesmo toda a economia
dos EUA pagarão um preço cada vez mais elevado.
O recente relatório da RAND Corporation
“The Effectiveness of U.S. Economic
Policies Regarding China Conducted from 2017 to 2024” afirma que as políticas
económicas dos EUA em relação à China fizeram “progressos limitados” na promoção de um
comércio mais justo... Algumas medidas políticas, em particular os aumentos de
tarifas, tiveram um impacto negativo no crescimento económico dos EUA, no
emprego na indústria transformadora e nas exportações.
No entanto, esta apreciação baseia-se numa altura em que a China se retraía
para não tomar contra-medidas mais fortes, o que reflecte os danos
auto-infligidos pela contenção dos EUA. Quando a China começar a adoptar contra-medidas,
a situação deixará de ser tão simples.
As restricções
impostas pelos EUA não conseguiram conter o progresso tecnológico da China e
reforçaram a determinação de Pequim em tornar-se auto-suficiente. Desde 2018,
as capacidades de produção da China reforçaram-se, com avanços nos veículos
eléctricos, na inteligência artificial e noutras tecnologias de ponta.
A resposta de Pequim à
pressão externa foi sempre metódica e estratégica, com o objectivo não só de
resistir à pressão, mas também de consolidar e fazer avançar as políticas de
desenvolvimento estabelecidas pela China. Enquanto Washington se concentra nas
restricções e na contenção, a China está a diversificar os seus mercados, a
reforçar a sua base de produção, a aprofundar a sua integração nas cadeias de
abastecimento mundiais e a expandir de forma abrangente a sua presença no mercado
mundial.
A China não procura
deliberadamente dissociar a sua cadeia de abastecimento e industrial dos
Estados Unidos, nem faz da substituição dos Estados Unidos um objectivo
estratégico.
A China está concentrada na exploração de soluções para os seus próprios problemas de desenvolvimento económico, reforçando assim a sua competitividade económica. À medida que estes objectivos forem sendo continuamente alcançados, a capacidade global da China para contrariar os EUA tornar-se-á ainda mais forte.
A China não espera que Washington recue num futuro próximo, e a futura concorrência entre a produção e a tecnologia chinesas e americanas em todo o mundo tornar-se-á mais intensa, complexa e feroz, podendo durar um período prolongado e remodelar significativamente o panorama económico mundial.
No entanto, os EUA enfrentarão consequências sem precedentes quando a China começar a contra-atacar. É provável que cada vez mais empresas americanas, como a Skydio, sejam vítimas da estratégia de dissociação EUA-China.
Global Times
Traduzido por Wayan, revisto por Hervé, para o Saker Francophone. China anuncia intenção de retaliar contra sanções dos EUA | O Saker francophone
Este artigo
foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice
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