8 de Novembro de 2024 Robert Bibeau
Por Andrew Korybko. Eis porque é que Trump acabou de assumir o crédito por "matar" o Nord Stream II
Os nossos artigos
anteriores sobre o megagasoduto Nord Stream: https://les7duquebec.net/?s=nord+stream
Trump quis dissipar quaisquer dúvidas que alguns eleitores indecisos pudessem ainda ter sobre as suas ligações à Rússia, lembrando-lhes que impôs sanções contra o megaprojecto, o que desmentiu as alegações dos democratas sobre o Russiagate e foi mesmo hipocritamente abandonado por Biden durante nove meses.
Trump gabou-se durante
a sua entrevista ao vivo com Tucker Carlson num evento de
caridade no Arizona na noite de quinta-feira que ele foi responsável pelo
"assassinato" do Nord Stream II. Nas suas próprias palavras,
"os democratas gostam de dizer que eu era amigo da Rússia, que trabalhei
para a Rússia, que fui um espião russo. O maior trabalho que a Rússia já teve
foi o Nord Stream 2. É o maior gasoduto do mundo, vai da Rússia à Alemanha e a
toda a Europa. Eu matei-o. Ninguém o mataria, excepto eu. Eu parei-o. Há um
ponto que agora será ampliado.
Para começar, ele não
estava claramente a referir-se ao ataque terrorista de Setembro de
2022, uma vez que não estava no cargo na época e, portanto, não
poderia ter tido nada a ver com isso. Em vez disso, o que ele queria transmitir
é que as falsas alegações dos democratas de que ele é um fantoche russo são
desmentidas pelo facto de que ele sancionou o Nord Stream II, o
que foi feito num esforço para roubar o mercado europeu de energia da Rússia. Numa
reviravolta inesperada, Biden renunciou a
essas sanções em Maio de 2021, um mês antes de se reunir com Putin.
“Embora continuemos a opor-nos ao gasoduto, chegámos à conclusão de que as sanções não iriam impedir a sua construção e arriscavam-se a minar uma aliança crítica com a Alemanha, bem como com a UE e outros aliados europeus”. Ao mesmo tempo, Biden justificou a decisão dizendo que “o Nord Stream está 99% concluído. A ideia de que algo ia ser dito ou feito para parar não era possível.
Pode-se argumentar, no
entanto, que este foi apenas um "gesto de boa vontade" para facilitar
o seu encontro com Putin em Genebra, em Junho daquele ano, para discutir o
alcance dos laços bilaterais dos seus países após o acúmulo militar da Rússia
ao longo da fronteira ucraniana na Primavera. Nenhum avanço ocorreu,
o que pode ser atribuído em retrospectiva aos falcões anti-russos nas
burocracias militares, diplomáticas e de inteligência permanentes dos Estados
Unidos ("Estado profundo") que favorecem a contenção da
Rússia sobre a da China na nova Guerra Fria.
Este é um tema que se opõe a duas camarilhas dentro da burguesia americana e,
portanto, do Estado profundo (os burocratas de Washington).
Reflectindo sobre esta
oportunidade perdida, os EUA aparentemente pensaram que poderiam baixar a
guarda estratégica da Rússia ao renunciar às sanções a este megaprojecto, na
esperança de que Moscovo ignorasse a infiltração da OTAN nas suas
fronteiras, inclusive através da sua expansão clandestina na Ucrânia. Foram
estes movimentos militares que permitiram a Putin partilhar as suas exigências
de garantias de segurança em Dezembro, que foram rejeitadas e seguidas pela
reimposição dessas mesmas sanções um dia antes do
início da operação especial. Em resumo –
negociatas-trapalhadas entre potências imperialistas beligerantes em que o povo
russo do Donbass não conta para nada (EQM).
A razão pela qual é
importante referi-lo é que ele prova que Biden hipocritamente adoptou uma
política pró-Rússia (independentemente do motivo inteligente por trás dela)
depois de o seu partido ter usado a teoria da conspiração Russiagate como arma para
impedir Trump de melhorar os seus laços com a Rússia. Em particular, Biden
renunciou às mesmas sanções que Trump impôs e presumivelmente fê-lo como um
"gesto de boa vontade" para facilitar o encontro de Biden com Putin,
que se reuniu com Trump sem quaisquer condições prévias implícitas.
Também não podemos excluir a possibilidade de a decisão de Biden de reimpor
sanções ao Nord Stream II um dia antes do início da operação especial ter sido
o que levou Putin a permitir que a campanha fosse para a frente, depois de os
EUA terem retirado a grande cenoura que tinham dado à Rússia nove meses antes
por ignorar a expansão da NATO. Do seu ponto de vista, já não havia qualquer
razão para não avançar com aquilo que, nessa altura, sinalizou como sendo os
seus possíveis planos para desmilitarizar a Ucrânia, tornando tudo talvez
inevitável nessa altura.
Por vezes, Trump tem dificuldade em transmitir as complexidades das
relações internacionais, como quando não conseguiu explicar a relevância da sua
decisão de se gabar de ter “matado” o Nord Stream II na sua entrevista a
Tucker. Tudo o que ele queria fazer era mostrar como estas sanções desmentiam a
teoria da conspiração do Russiagate. Podia ter dito mais sobre o assunto, como
fez esta análise, mas, de qualquer forma, era um ponto válido para dissipar quaisquer
dúvidas que alguns eleitores indecisos pudessem ainda ter sobre as suas
ligações à Rússia.
Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis
Júdice
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