segunda-feira, 4 de novembro de 2024

O Custo de um Sorriso

 


 4 de Novembro de 2024  Olivier Cabanel  

OLIVIER CABANEL — Já é altura de começarmos a pensar no trabalho.

A história prova que o trabalho não traz felicidade, pois o homem sempre tentou torná-lo menos árduo.

Não se tornou sedentário, cultivando, produzindo, criando plantas e caça no local para poupar o seu esforço?

Sempre favoreceu a preguiça, mesmo que lhe custe admiti-lo, pois a moral condena-a à partida.

Mesmo que isso signifique ir contra o projecto sarkozista de “trabalhar mais para ganhar mais”, porque não pensar em “trabalhar menos”?

Na Bíblia, Deus queria que o homemganhasse o seu pão com o suor do seu rosto”.link

O trabalho seria, portanto, um castigo.

A origem da palavra " trabalho" vem do latim "tripalium", que era um instrumento de tortura. link

Era usado, entre outras coisas, para marcar gado (e escravos?) com ferro quente, e era um símbolo de sofrimento.

É neste sentido que devemos entender o uso da palavra "parto" dada a uma mulher quando ela dá à luz.

O trabalho, que nos permite ganhar dinheiro, deve trazer-nos felicidade, segundo o adágio: "o dinheiro não traz felicidade, mas contribui para ela".

Mas a felicidade não se compra!

Pode-se pagar pelo sexo, mas não se pode comprar o amor, a ternura ou a paixão.

Quanto custa um sorriso?

Um sorriso não custa nada, mas produz muito!

Enriquece tanto quem o dá como quem o recebe,

Pode não durar muito tempo, mas a sua recordação pode durar para sempre: que produto no mercado actual pode dizer o mesmo?

Ninguém é suficientemente rico para passar sem ele, e ninguém é demasiado pobre para não o merecer.

Um sorriso é algo que só tem valor a partir do momento em que é dado.

Faça uma visita guiada a uma empresa: de que sorrisos se lembra?

As mulheres e os homens que trabalham apenas para ganhar a vida raramente sorriem.

Então, porque não aceitar esta realidade: queremos viver para ser, não apenas para trabalhar.

Queremos ser utilizados para algo importante, não como ferramentas para criar novas necessidades.

Queremos ser criadores e não actores.

Quando é que vai haver finalmente um Ministério da Preguiça?

Como diz Pierre Pradervant no seu livro (Managing My Money in Freedom/2004):

Podes comprar uma cama, mas não podes dormir,

comida, mas não o apetite,

livros, mas não inteligência,

remédios, mas não saúde,

jóias, mas não a beleza,

uma certa reputação, mas não uma boa consciência,

as relações, mas não a amizade...”.

Será que a felicidade que procuramos não vem através da ociosidade?

Das rodas de oleiro às rodas digitais, o homem nunca parou de criar máquinas para poupar os seus esforços. link

Hoje, as máquinas fazem máquinas, capazes de fazer outras máquinas, que são naturalmente cada vez mais eficientes.

Foram feitos cálculos académicos:

Está provado que seria mais positivo para a saúde do planeta pagar aos funcionários das fábricas de armamento para nada fazerem.

Houve mesmo um tempo em que um grande patrão automóvel (a Ford) continuou durante algum tempo a pagar salários aos operários de que já não necessitava, uma vez que as máquinas os tinham substituído.

Ele disse a si mesmo: "Se eu demiti-los, eles não terão salário e quem comprará os meus carros?"

Para aqueles que afirmam que as trocas sem dinheiro não existem, é preciso recordar-lhes a existência da troca directa, bem como o trabalho realizado nas associações e nas famílias, sempre de forma voluntária.

Paul Lafargue escrevera já em 1880:

«Para que atinja a consciência da sua força, o proletariado deve espezinhar os preconceitos da moral cristã, económica e livre; deve voltar aos seus instintos naturais, deve proclamar os Direitos da Preguiça, mil e mil vezes mais sagrados do que os direitos ftísicos do Homem, inventados pelos defensores metafísicos da revolução burguesa; que se obriga a trabalhar apenas três horas por dia, a ser preguiçoso e a festejar o resto do dia e da noite ". link "o direito à preguiça", (edições Allia)

Três horas de trabalho por dia deixariam o tempo livre.

O que faríamos com ele?

Talvez nada! Talvez tudo!

Talvez pudéssemos pensar melhor, criar, dormir, sonhar, divertir-nos, descobrir, compreender, amar e alcançar a felicidade.

Este é também o foco de um movimento recente: o decrescimento, que defende, entre outras coisas, uma abordagem diferente do trabalho. Hiperligação:

« Não será possível acabar com os condenados ao trabalho enquanto permanecerem condenados ao consumo, e assim permanecerão enquanto mantiverem a mesma concepção de felicidade »

(decrescimento/ Paul Ariès/ Golias edição/2008)

Porque como disse um velho amigo africano:

"Ter sete pares de ténis não permite correr sete vezes mais depressa."

 

Fonte: Le prix du Sourire – les 7 du quebec

Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice




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