2 de Novembro de 2024 Robert Bibeau
Por Marie Schwab. chroniquepalestine.com. Ter, 29 de Outubro de 2024. Fonte https://fr.sott.net/article/44077-Gaza-des-crimes-d-atrocites-et-des-crimes-contre-l-humanite. https://youtu.be/e6Xu3T_LH6U
Gostaria de começar por pensar em Abdelaziz, que
nasceu debaixo das bombas e morreu de fome e desidratação aos 5 meses de idade.
Aos 5 meses, deveria ter o dobro do seu peso à nascença; pesava menos do que
quando nasceu.
Um pensamento para Anwar, nascido sob as bombas, que morreu de fome e desidratação aos 3 meses. Ambos sofreram com a fome durante toda a sua curta vida, desde o dia em que nasceram. (1)
“A sobrevivência tornou-se uma batalha diária e a deslocação constante de um lugar para outro tem consequências emocionais e físicas. Em dois dias, sofremos mais bombardeamentos do que em todo o mês de Setembro. Estamos a ficar cada vez mais fracos. Muitos estão doentes, muitos estão feridos e muitos estão em ambas as situações. O que imaginam ser um inferno, nós estamos nele. E pior": palavras de Musabah Almadhoun, do norte de Gaza. (2)Sobre a racionalidade como facto antropológico e histórico
No norte de Gaza, o exército israelita, confiante na sua impunidade, não se entrega a uma nova orgia de massacres... Está a executar um plano...– o Plano dos Generais: o objectivo é esvaziar o norte de Gaza de toda a vida. Ordenou a evacuação das 200.000 pessoas que viviam em Jabaliya, Beit Lahiya e Beit Hanoun, bombardeou e atacou com espingardas de atirador furtivo os que tentaram sair e designou os que ficaram - feridos, doentes, cépticos - como “alvos terroristas”. (3)
Fugir sob as bombas ou ficar e morrer -
sob as bombas ou de fome.
Durante três semanas, o cerco total imposto pelo exército genocida ao norte de Gaza bloqueou todo o abastecimento de alimentos e água. Os hospitais foram privados de material médico e do combustível necessário para os geradores. O exército de ocupação invade os hospitais, espalhando o terror, assassinando e raptando cirurgiões e destruindo tanques de água e unidades de oxigénio.
O Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Turk, referiu-se a “crimes de atrocidade” e a “crimes contra a humanidade”. (4) Os doentes internados nos cuidados intensivos, incluindo os bebés prematuros, estão a morrer. O Dr. Husam Abu Safiyeh, em Kamal Adwan, descreve o seu hospital como “uma vala comum”. A sua câmara foca um bebé prematuro com um traumatismo craniano e uma infecção secundária, órfão de pai, mãe e avó.
Dr. Amin Abu Amsheh: “É um extermínio. Mas apesar da falta de comida, da exaustão, do cerco e dos drones, nós, médicos palestinianos, vamos ficar. (5)
A realidade é atroz, brutal, violenta e está a piorar de dia para dia. Agora que as necessidades são maiores, os meios são mais escassos do que nunca, o que significa mais mortes e mais sofrimento. “Sobreviveram a doze meses de guerra, a deslocações repetidas, a bombardeamentos, à perda de entes queridos e de casas, à privação de alimentos, de água e de cuidados de saúde. E nas últimas [três] semanas, passámos a outro nível em termos de bombardeamentos [e privações]”, afirma Sam Rose, da UNRWA (6).
Um enfermeiro do hospital Indonésia disse:
“Estamos exaustos. O
depósito de água está vazio. Mal consigo falar, estou exausto, com náuseas e
tonturas. Todas estas pessoas estão a contar comigo para lhes dar comida,
segurança e os cuidados de que necessitam. Nós não podemos fazer isso. Mas
estamos a fazer tudo o que podemos e a rezar a Deus para que salve a nossa
gente no hospital”. (7)
No norte de Gaza, já não há nada para tratar os doentes. Apenas uma missão em cinquenta e quatro pôde entrar em Gaza na primeira quinzena de Outubro, e cada missão que é impedida constitui uma ameaça concreta à sobrevivência. Joyce Msuya, do OCHA, refere que 85% das deslocações coordenadas com Israel foram recusadas, enquanto as outras foram impedidas ou canceladas devido ao perigo. (8)
Seis camiões por dia entraram em Gaza entre 9 e 16 de Outubro. É uma
situação que roça o absurdo. Durante o ano passado, 250.000 camiões foram
impedidos de entrar em Gaza pelas forças de ocupação. (9) Camiões que contêm
100% das necessidades básicas de sobrevivência.
Philippe Lazzarini, da UNRWA, condena a utilização da ajuda humanitária
como “arma de guerra”. “As pessoas estão apenas à espera de morrer”, afirma.
(10) Para Riyadh Mansour, embaixador da Palestina na ONU, “isto não é uma
guerra, é uma cadeia interminável de crimes e violações do direito
internacional. Os palestinianos não têm outra escolha senão ficar e morrer ou
enfrentar a morte noutro lugar”. (11)
Não é preciso ser jurista para perceber que impedir o acesso a bens de primeira necessidade é um crime. É uma questão de senso comum e é condenado pelo Estatuto de Roma do TPI (1998). Não há regra que Israel não tenha violado.
Aquilo a que estamos a assistir em directo
é ao genocídio dos palestinianos E a guerra declarada de Israel ao direito
internacional e às instituições internacionais. Israel está a bombardear as
instalações da ONU em Gaza, a confiscar as instalações da ONU em Jerusalém
Oriental, a designar a UNRWA como uma
organização terrorista, a declarar o Secretário-Geral das Nações Unidas non grata em Israel, a disparar contra as
forças de manutenção da paz no Líbano.
Como é que Israel pode
continuar a gozar de impunidade e do apoio dos seus aliados ocidentais? Apoio
para quê? O massacre em massa de crianças? O extermínio de um povo? Em nome de
que valores? O apartheid, o desprezo pela lei e pela vida humana?
De que estamos exactamente a falar quando o Ocidente defende o direito de Israel a defender-se? A defesa do expansionismo, do colonialismo, da subjugação e da opressão de um povo? (12) O direito de se defender nunca inclui, sejam quais forem os pretextos, os crimes de dizimação deliberada do sistema de saúde, de ataque a jornalistas, de bloqueio sistemático da ajuda humanitária, a tortura e o bloqueio.
Em 2004, o TPI negou a Israel, a potência ocupante, o direito de se
defender contra o povo palestiniano sob ocupação. Israel só tem deveres para
com os palestinianos: saúde, educação e protecção. A lei não pode ser
negociada, tem de ser aplicada. Sanções imediatas contra Israel, um Estado
genocida. Deixar que isso aconteça é ser cúmplice.
“Gostaria de terminar com um pensamento para as catorze crianças assassinadas ontem à noite em Khan Younis, no sul da Faixa de Gaza, pelas bombas israelitas. Um pensamento para Abdallah, de 11 anos de idade, assassinado por franco-atiradores na terça-feira, em Nablus, quando atirava uma pedra contra um veículo blindado do exército de ocupação que estava a liderar um assalto à sua cidade. Um pensamento pelos quatro engenheiros assassinados a 19 de outubro em Khan Younis quando reparavam o sistema de água.”
(1) Cf. Marcos Scialla, faminto desde o dia em que nasceu. Como a fome
persegue as crianças de Gaza, Al Jazeera 20.10.2024
Defesa das Crianças Internacional Palestina, "O meu filho chorou a
noite toda de fome": As crianças palestinas mortas de fome pelas
autoridades israelitas, 24.7.2024
(2) Musabah Almadhoun, Norte de Gaza é o que você imagina que o inferno seja, e
provavelmente pior, Al Jazeera 24.10.2024
§
(3) Mehdi Hasan, Conheça o arquiteto por
trás do "Plano Geral" genocida de Israel, Zeteo 24.10.2024
§
(4) Al Jazeera 25.10.2024
§
(5) Qassam Muaddi, "Isto é um
extermínio": os ataques de Israel ao último hospital em funcionamento no
norte de Gaza, Mondoweiss 23.10.2024
§
(6) Sam Rose, Al Jazeera 23.10.2024
§
(7) Enfermeira do Hospital Indonésia no
Norte de Gaza, Instagram 22.10.2024
§
(8) Notícias da ONU 16.10.2024
§
(9) Gabinete de Comunicação Social de
Gaza na Al Jazeera 22.10.2024
§
(9) Al Jazeera 22.10.2024
§
(11) Notícias da ONU 16.10.2024
(12) Cf. Palestina no Reino Unido, Husam Zomlot, embaixador palestiniano,
dirige-se à prestigiada União de Oxford sobre a actual "aniquilação"
de Gaza, 11.10.20
https://www.youtube.com/watch?v=e6Xu3T_LH6U
Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis
Júdice
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