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PRÓLOGO
Revolução, marxismo, socialismo, comunismo, maoísmo, castrismo, nacionalismo, colonialismo, fascismo, totalitarismo, capitalismo, imperialismo, todos estes são termos que fizeram manchetes nos séculos XIX, XX e XXI e que têm assombrado a burguesia mundializada. Estes termos foram mal utilizados e manipulados pelos esquerdistas, os falsos amigos do proletariado, que nunca têm falta de imaginação quando se trata de difundir a sua verborreia idiossincrática. O nosso objetivo é restabelecer a verdade lexical e restaurar o significado materialista dialéctico dos termos revolucionários, para que possamos compreender melhor o que foram estas revoluções supostamente socialistas ou comunistas, mas certamente não proletárias, e preparar melhor a próxima revolução proletária internacional.
PREFÁCIO
Uma Revolução
Social é um acto de acusação e de destruição de um modo de produção social
em todos os seus aspectos. Em primeiro lugar, nos seus aspectos económicos e
financeiros, depois nos seus aspectos políticos e, finalmente, como último
recurso, nos seus aspectos sociais, culturais, morais e ideológicos. Esta
destruição total exige obviamente a reconstrução completa de todos estes
aspectos da vida social. Uma Revolução Social é o acto de uma classe social
oprimida, explorada e alienada por uma classe social dominante exploradora e
alienante. Até agora, as revoluções sociais beneficiaram uma terceira classe
social, que se apoderou do poder económico e comercial (meios de produção, de
troca e de comunicação).
Tomemos o exemplo da maior revolução social
dos tempos modernos, a Revolução Russa
de 1917-1918. A classe camponesa,
incluindo milhões de servos (muzhiks), apoiada pela classe operária (em grande
parte minoritária), eram as classes revolucionárias de massas. A aristocracia feudal era a classe
exploradora dominante e reaccionária. A classe
burguesa e o seu segmento pequeno-burguês lideraram a revolta camponesa, a
insurreição popular, o movimento para destruir a velha ordem feudal e a
construção do modo de produção capitalista sob o modelo do capitalismo
monopolista de Estado, mais vulgarmente conhecido como “socialismo”. A longo prazo,
a Revolução Russa aniquilou a infraestrutura e a superestrutura feudais russas.
A revolução aniquilou a classe aristocrática feudal, os seus órgãos políticos,
leis e órgãos de governação, mas manteve alguma jurisprudência feudal, bem como
o aparelho cultural e eclesiástico. A longo prazo, a classe camponesa foi
transformada numa classe proletária que trabalha em fábricas, estaleiros,
minas, florestas e campos, de tal modo que, em 1941, as tropas nazis ficaram
espantadas ao descobrir uma nova Rússia industrializada, electrificada,
mecanizada sob o “socialismo”, em rápida urbanização, dirigida e administrada
por apparatchiks bolcheviques que se proclamavam “comunistas”. Social,
cultural, moral e etnicamente, o processo de transformação foi mais longo e
mais complexo, como veremos mais adiante. Em todo o caso, nesta revolução, como
em todas as outras, as transformações culturais e ideológicas baseavam-se em
convulsões na infraestrutura e na superestrutura da produção, da troca, da
comunicação e, em última análise, da acumulação de capital.
Hoje, a ideologia idealista burguesa (em oposição ao materialismo dialéctico científico) baseia-se nas quimeras da esquerda americana e europeia e no fumo e espelhos da “Grande Revolução Cultural Proletária” dos maoístas na China. Duas fontes complementares.
Uma Revolução Cultural assenta necessariamente numa revolução social mundial, numa revolução económica do modo de produção. Os homens e mulheres revolucionários e reaccionários são a expressão das classes sociais em luta. A sua missão é representar os pontos fortes, as fraquezas, as insuficiências e as perspectivas das classes sociais em luta. A classe exploradora dominante que controla o aparelho de produção, de troca e de comunicação decide sobre os “heróis” e os “arautos” populares. As teorias “radicais” ou oportunistas formalizam as mudanças sociais e cristalizam-nas. Não são as fontes dessas mudanças sociais, mas a sua expressão. As guerras, as revoltas de sectores inteiros do processo de produção e acumulação, como os camponeses, os trabalhadores dos serviços e das comunicações, os intelectuais burgueses em processo de empobrecimento e proletarização, nunca dão origem a uma revolução social, nem sequer a uma revolução “cultural”. Só uma classe social revolucionária de massas pode realizar uma revolução social mundial. Assim, nestes tempos conturbados, não é o “caos” sistémico provocado pelo capital mundializado - uma ilustração das dificuldades da acumulação de capital - que determina por si só a marcha para a revolução social proletária, mas o grau de consciência e o estado de organização da classe social proletária revolucionária. O objectivo deste livro é contribuir para o desenvolvimento das condições subjectivas da revolução proletária que se aproxima.
1. Guerras e revoluções no século XX
O século XX
começou com a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), seguida de uma revolução
europeia abortada, e continuou com uma miríade de guerras locais, culminando
numa série de crises económicas e fases políticas reaccionárias (fascismo,
totalitarismo, militarismo). Como e por que razão estas sucessões de guerras e
crises económicas sistémicas se assemelham às condições geopolíticas actuais?
Para responder a estas questões, é necessário analisar a infraestrutura e a
superestrutura do modo de produção capitalista em transformação no mundo
capitalista então em expansão, submetendo, por sua vez, a Europa Oriental, o
Norte de África, a América Latina, o Médio Oriente e o Sudeste Asiático às
condições da acumulação capitalista
(investimento-produção-comércio-reinvestimento).
Da leitura destas transformações históricas, podemos deduzir que até à data nunca houve uma revolução social proletária vitoriosa. No que diz respeito à classe social proletária, uma revolução é um movimento de classe político, social e ideológico pelo qual a classe dominante de um modo de produção obsoleto é derrubada, a sua infraestrutura e superestrutura destruídas e substituídas por um novo poder, novos meios de produção, novas relações sociais de produção, sob a liderança de uma nova classe social revolucionária que constrói um novo modo de produção hegemónico. A Revolução Francesa foi uma autêntica revolução de classe social em que a burguesia, apoiada pelo vasto campesinato, derrubou a ordem feudal e construiu o modo de produção capitalista e a sociedade capitalista. Do mesmo modo, na Revolução Russa de 1917, a burguesia russa, apoiada pelas massas camponesas e pelos primeiros elementos do proletariado russo, derrubou a aristocracia czarista e começou a construir a sociedade capitalista soviética.
2. O exemplo da « Primavera árabe »
Assim, a “primavera Árabe” nunca foi um movimento
revolucionário proletário. Foi antes uma série de revoltas populares que
visavam sacudir o jugo das facções nacionalistas chauvinistas da classe
capitalista para exigir que esta tivesse em conta o sofrimento e as
necessidades básicas das populações nacionais empobrecidas e proletarizadas de
vários países abalados por estas revoltas populistas (incluindo alguns países
não árabes como o Irão, a Turquia e a Somália). Sabemos agora que uma facção
nacionalista burguesa reaccionária, agrupada sob a égide dos “Irmãos Muçulmanos”, tentou, em alguns
países, liderar estas revoltas e apresentar-se como alternativa aos
capitalistas compradores que governam estes países mergulhados numa grave crise
económica, social e institucional. Na maior parte dos casos, os Irmãos
Muçulmanos não conseguiram tomar o poder face à resistência das facções da
plutocracia compradora há muito instalada no poder e apoiada pelas potências
imperialistas mundiais.
Para a classe social proletária, as revoltas populistas conhecidas como “primavera Árabe” e “Coletes Amarelos”, ou a “batalha contra a reforma das pensões” são excelentes escolas para aprender, mobilizar e organizar movimentos insurreccionais de massas. Movimentos que deve estudar cuidadosamente para preparar as condições subjectivas da revolução que se aproxima (1).
3.
Ditadura de classe
do proletariado
Na próxima revolução social proletária, o objectivo será derrubar o poder burguês anti-democrático, ou seja, o Estado burguês totalitário (liberal, fascista ou dito socialista) e substituí-lo temporariamente, não pela ditadura de um partido político, mas pela ditadura da imensa classe proletária democrática em armas; derrubar o modo de produção capitalista (MPC) para o substituir pelo modo de produção comunista proletário (MPCP).
Ditadura de
classe do proletariado |
A ditadura do proletariado designa a forma de
poder político de classe durante a fase de transição entre o modo de produção
capitalista e o novo modo de produção comunista proletário, entre a sociedade
capitalista e a sociedade comunista. Foi durante a revolução de 1848 que a
expressão completa “ditadura de classe
do proletariado” apareceu pela primeira vez. Anteriormente, Marx e Engels
falavam apenas do “proletariado
organizado como classe dominante”. Para Marx, o termo proletariado não
significava “pessoas pobres”, mas aqueles que trabalham e produzem
mais-valia, encabeçados pela classe operária. A “ditadura de classe do proletariado” é o exercício do poder
político pela classe operária como um todo e no seu próprio interesse, a fim
de assegurar a reprodução do género humano. As suas referências à “ditadura de classe do proletariado”
mostram que Marx entendia por isto o exercício do poder político pela classe operária
num quadro democrático e popular onde a burguesia decaída não teria o lazer
de organizar a contra-revolução (é aqui que a ditadura de classe se aplica).
A ditadura de classe da imensa maioria do proletariado será necessária durante
o período histórico de transição do capitalismo de classes para o comunismo
sem classes, sem proprietários dos meios de produção, de troca e de
comunicação. As várias ditaduras de Estado ditas “socialistas” que
proliferaram desde as Revoluções Russa e Chinesa não eram sociedades de
transição de “ditadura de classe do proletariado”, mas formas
social-democráticas totalitárias de capitalismo monopolista de Estado. |
Durante o século XX, em vez de verdadeiras revoluções proletárias internacionalistas, a época deu origem a sistemas “socialistas” (a forma burocrática e monopolista de estado totalitário do capitalismo liberal). Ainda hoje, estes regimes socialistas totalitários, para os que sobrevivem, servem de suporte à propaganda anti-proletária burguesa (ver alguns artigos sobre propaganda
https://les7duquebec.net/?s=propagande).
A primeira revolução proletária internacionalista está a chegar, e pode ser a surpresa do século XXI. Uma surpresa esperada pela classe proletária internacionalista, para grande desespero da classe capitalista mundialista, que está disposta a recorrer a todo o tipo de conspirações e guerras para manter o seu poder e salvaguardar o seu modo de produção obsoleto, o seu modo decadente de valorização e acumulação de capital.
Não são as poéticas políticas ou as suas organizações populistas (ONG e sindicatos) através das redes sociais que irão desencadear as insurreições populares, e muito menos as revoluções proletárias. Uma insurreição popular será desencadeada pelas massas populares num movimento espontâneo e anárquico de revolta contra as suas miseráveis condições de vida e de trabalho. Estas insurreições populares repetidas abalarão toda a superestrutura social. Se a classe operária - a ponta de lança da classe proletária internacionalista - conseguir tomar a direcção do movimento espontâneo, transformá-lo-á num levantamento proletário revolucionário consciente e organizado através das suas organizações proletárias de massas. A vanguarda proletária revolucionária organizada acompanhará, esclarecerá e radicalizará a classe proletária, a fim de a afastar dos compromissos reformistas e oportunistas (ver o volume “Manifesto do Partido dos Trabalhadores”). Manifeste du Parti Ouvrier (réédition-2020) – les 7 du quebec e https://les7duquebec.net/archives/258677).
“Aos olhos de Rosa
Luxemburgo, como de todos os marxistas, é a massa organizada,
esclarecida e disciplinada na sua organização política, que constitui a força
motriz da luta revolucionária de massas. Rosa Luxemburgo desconfiava, com
razão, da grande massa desorganizada de seguidores, cuja ignorância era a
base, a contrapartida e até a justificação das concepções totalitárias
professadas pelos leninistas e pelos reformistas sobre a relação entre a
massa e os dirigentes. Um rebanho cego e ignorante precisa evidentemente de
um pastor e de um cão, quer o cão se chame Guepéou ou Gestapo”. Fonte : Lucien Laurat
– 1898-1973 – Prefácio a Rosa Luxemburgo, Marxismo
contra Ditadura, Éditions Spartacus /1934 e 1977. |
6.
Os comités de trabalhadores
e os sovietes de classe
Nos próximos anos, as questões de organização da classe proletária na sua luta revolucionária internacionalista para derrubar o Estado e o sistema capitalista serão centrais, a fim de construir, não o “socialismo de Estado burocrático” como uma sociedade de transição para o comunismo (uma utopia que falhou onde quer que tenha sido construída), mas para construir o moderno modo de produção comunista proletário. As questões de organização, do “centralismo democrático” e da ditadura de classe do proletariado, são de grande preocupação para os partidos e organizações políticas envolvidos no movimento revolucionário. Os comités de trabalhadores ou sovietes de classe parecem-nos ser a forma adequada de organização revolucionária proletária (ver o documento: “Plataforma Política do GIGC”). http://www.igcl.org/+Plateforme-politique-du-GIGC).
7. Primeira condição para uma revolução social : uma
classe revolucionária consciente
Uma insurreição popular e uma revolução proletária exigem uma classe proletária grande e moderna, que trabalhe em fábricas digitalizadas e altamente especializadas (interligadas - mecanizadas - robotizadas - eficientes - produtivas), instaladas em enormes megacidades urbanas sob a ditadura da classe capitalista e a administração do Estado dos ricos. Sem uma classe social proletária mundializada, sobre-explorada, oprimida e consciencializada, nenhuma revolução proletária será possível.
A classe proletária segundo
Marx e Engels |
“A classe
possuidora e o proletariado representam a mesma alienação humana. Mas a
primeira deleita-se com esta auto-alienação, experimenta a alienação como o
seu próprio poder e possui em si a aparência de uma existência humana; a
segunda sente-se aniquilada na alienação, vê em si a sua própria impotência e
a realidade de uma existência desumana. (...) Dentro desta
antítese, o proprietário privado representa a corrente “conservadora”,
enquanto o proletário representa o vector revolucionário “destrutivo”. Este último
actua para manter a antítese, o primeiro para a destruir. Se, no seu
movimento económico, a propriedade privada caminha para a sua própria
dissolução, não o faz senão através de uma evolução independente dela,
inconsciente, contrária à sua vontade e inerente à sua natureza, simplesmente
produzindo o proletariado enquanto proletariado, miséria consciente da sua
miséria moral e física, desumanização que, consciente de si mesma, tende a
abolir-se. O proletariado
executa a sentença que a propriedade privada pronuncia contra si mesmo ao
reproduzir o proletariado, assim como executa a sentença que o trabalho
assalariado pronuncia contra si mesmo ao produzir a riqueza dos outros e a
sua própria miséria. Se o proletariado triunfar, não se terá tornado de modo
algum o lado absoluto da sociedade, pois só triunfará abolindo-se a si
próprio (como trabalho assalariado) e abolindo o seu contrário (capital e
lucro). Nesse momento,
o proletariado terá desaparecido juntamente com a sua antítese, que é também
a sua condição (de existência), a propriedade privada. Fonte: Karl
Marx e Friedrich Engels, A Sagrada Família Crítica da Crítica, 1845. |
Um proletariado tão grande e moderno, trabalhando numa economia industrial e financeira de alta tecnologia, não existia na Rússia de 1917, nem na Albânia (1945), nem na China (1949), nem na Coreia (1950), nem em Cuba (1959), nem no Vietname (1973), nem em qualquer outro país, nem sob qualquer outra revolução que se intitulasse “Revolução Democrática Popular ou Revolução Socialista de Nova Democracia”. Neste decadente século XXI, estão reunidas as condições objectivas (meios de produção, comércio e comunicação e forças produtivas) e as condições subjectivas (ideologia, moral, moralidade e consciência de classe) para a Revolução Social Proletária superar o modo de produção capitalista. Se o proletariado triunfar, não se tornará de modo algum o lado negro hegemónico da nova sociedade, pois só triunfará abolindo-se a si próprio como classe (o trabalho assalariado) e abolindo o seu oposto, a classe opressora (o capital). A singularidade da Revolução Proletária será que a classe revolucionária no poder, que é maioritária, não imporá a sua supremacia, mas desaparecerá gradualmente juntamente com o seu poder hegemónico (a ditadura de classe do proletariado).
8.
As outras classes
sociais sob o capitalismo
As massas camponesas (nos países em vias de desenvolvimento), o lumpen-proletariado, a multidão pequeno-burguesa frustrada, empobrecida e ressentida, nunca serão capazes de iniciar e liderar uma revolução proletária que vise a abolição do capital e a construção de uma sociedade comunista internacionalista.
Os fundadores do socialismo científico
insistiam em que a sociedade capitalista continha classes sociais intermédias,
pequeno-burguesas, dentro das quais havia uma diferenciação social constante,
com uma fracção delas a proletarizar-se, enquanto alguns dos seus membros conseguiam
ascender ao nível da burguesia.
No Manifesto
do Partido Comunista, Karl Marx observou que os “pequenos industriais,
comerciantes e rentistas, artesãos e camponeses” que constituíam “todo o
escalão inferior das ‘classes médias’ de outrora estão a cair no proletariado;
por um lado, porque o seu fraco capital não lhes permite empregar os processos
da grande indústria, sucumbem na sua concorrência com os grandes capitalistas;
por outro lado, porque a sua competência técnica é depreciada pelos novos
métodos de produção. Por conseguinte, o proletariado é recrutado em todas as classes
da população. A revolta agrícola dos últimos anos no Ocidente é um bom exemplo
deste problema.
“De todas as classes que, actualmente, se
opõem à burguesia, só o proletariado é uma classe verdadeiramente
revolucionária. As outras classes declinam e perecem com a grande indústria; o
proletariado, pelo contrário, é o seu produto mais autêntico. As “classes
médias”, os pequenos fabricantes, os retalhistas, os artesãos, os camponeses,
todos eles combatem a grande burguesia porque esta constitui uma ameaça à sua
existência como “classes médias”. Elas
não são, pois, revolucionárias, mas sim conservadoras; mais do que isso, elas são reaccionárias : elas pretendem virar a roda
da história ao contrário. Se são revolucionários, é tendo em conta a
sua transição iminente para o proletariado: defendem então os seus interesses
futuros e não os seus interesses presentes; abandonam o seu próprio ponto de
vista para se colocarem sob o do proletariado”.
Este vasto movimento de proletarização
daquilo a que Karl Marx já chamava as “classes
médias” explica que os fundadores do socialismo científico tenham
considerado, com razão, que a oposição irredutível entre o proletariado e a
burguesia constitui a base dos antagonismos de classe nas sociedades
capitalistas modernas (ver Vincent Gouysse, “As classes sociais sob o imperialismo”).
imperialismo_e_classes_sociais.pdf (les7duquebec.net) https://les7duquebec.net/archives/289990).
O proletariado revolucionário deve ter cuidado
com a multidão, ociosa e empobrecida pela crise económica. Cabe à “vanguarda
revolucionária” proteger a classe proletária contra as tendências reformistas,
oportunistas e conciliatórias promovidas pelas camadas sociais que aspiram à
propriedade burguesa e ao modo de vida burguês. O proletariado deve precaver-se
contra estas fracções de classe “conspiradoras”, sempre rápidas a desertar no
meio da luta, como o demonstraram as revoltas agrícolas.
9.
Revoluções nacionais,
anti-coloniais, democráticas burguesas
A maior parte das insurreições dos séculos XIX e XX foram descritas como uma Revolução Democrática Popular, ou uma Revolução Socialista, ou uma Revolução Socialista de Nova Democracia, ou uma Luta de Libertação Nacional, Anti-Colonial e Anti-Imperialista, todos eles termos apropriados para descrever estas convulsões históricas que surgiram do coração do modo de produção capitalista emergente, ou do coração do modo de produção feudal decadente. No entanto, nenhuma destas “revoluções” conseguiu libertar o povo - a nação - e a classe proletária - do modo de produção capitalista mundializado. Cada um destes Estados burgueses “libertados” caiu nas mãos de um ou outro bloco imperialista (Bloco Soviético, União Europeia, Aliança Atlântica-NATO, CEI, Aliança do Pacífico, SCO). Estas guerras coloniais não foram de modo algum revoluções comunistas proletárias (2).
Uma revolução nacional burguesa assume geralmente a forma de uma guerra de libertação nacional, anti-colonial e supostamente anti-imperialista, conduzida pela burguesia nacional. Estas “revoluções” não têm como objectivo derrubar o modo de produção capitalista.
Estas “revoluções nacionais” (militares, palacianas ou coloridas) inscrevem-se nesta etapa histórica em que certas burguesias nacionais decidiram pôr em causa os laços de subjugação económica e política colonial, quer nas colónias de povoamento, como a Argélia, o Canadá, a Austrália, a Argentina, a Venezuela ou a África do Sul, quer nas colónias de exploração, nomeadamente no Congo, em Cuba, no Senegal, na Líbia, na Síria, no Afeganistão, no Camboja, nas Filipinas, etc.
Os capitalistas nacionais vassalos, ligados por laços económicos, industriais e financeiros a uma ou mais potências coloniais dominantes, revoltaram-se e exigiram o estabelecimento de novas relações sociais de produção em que teriam uma melhor posição na gestão dos assuntos neo-coloniais e na partilha da riqueza nacional. Tomando o exemplo da África do Sul, a luta anti-apartheid não foi conduzida pelo proletariado sul-africano e resultou na partilha do poder económico (financeiro, industrial e comercial), político (legislativo e executivo), administrativo, judicial e militar entre as diferentes facções da burguesia - branca, negra, indiana e asiática - presentes na África do Sul. O proletariado sul-africano nas minas, nas fábricas, na agricultura e no sector dos serviços não viu qualquer mudança no seu miserável modo de vida. O proletariado sul-africano limitou-se a mudar de patrão.
10.
Revolução nacional não é revolução proletária
Onde quer que tenham ocorrido, estas revoluções democráticas populares assumiram as características de revoluções burguesas, por vezes anti-feudais, frequentemente nacionalistas e anti-coloniais, mas nunca anti-capitalistas, anti-imperialistas ou proletárias. Em todos estes países, a classe proletária revolucionária não existia como uma classe “em si” e como uma classe “para si” (lutando pela conquista do poder de classe e para destruir o aparelho de Estado). Apesar de o proletariado existir como classe “em si”, travando lutas de resistência na frente económica, era minoritário e marginal, carecendo da experiência da luta de classes e de uma clara visão política proletária para cumprir a sua missão histórica: a criação de uma nova sociedade sem Estado, sem classe social, sem propriedade e sem exploração.
Estas Revoluções Democráticas Populares - mesmo quando foram dirigidas por partidos que se proclamavam “comunistas”, “socialistas”, “vermelhos” ou “revolucionários” - não conseguiram romper completamente os laços económicos e políticos que ligavam estas colónias ou quase-colónias à sua “mãe-pátria”, nem quebrar as suas múltiplas dependências culturais, educativas, jurídicas e administrativas em relação aos impérios coloniais, nem as suas relações com a burguesia imperialista hegemónica das potências dominantes agrupadas sob esta ou aquela aliança imperialista: Aliança Atlântica-NATO, ASEAN, COMECON, CEI, SCO, Commonwealth, Francofonia, etc.).
11.
A Revolução burguesa anti-feudal de 1917-1918 na
Rússia
Quando a Revolução Russa, depois de ter cortado a maior parte dos seus laços com os países do imperialismo mundial, quis prosseguir a industrialização acelerada das repúblicas soviéticas, o poder estatal soviético teve de restabelecer relações (diplomáticas e económicas) com os países imperialistas para relançar o comércio com vista à importação de tecnologia industrial. O restabelecimento do comércio internacional permitiu a sobrevivência da URSS “socialista”, transformando este vasto país numa entidade totalitária de Estado capitalista monopolista, em transição para a fase imperialista deste modo de produção. A Segunda Guerra Mundial e a Guerra Fria confirmariam a transição do Império Soviético “socialista” para um imperialismo belicoso, materializado pela anexação de vários países e pela colocação sob tutela de muitos Estados da Europa Central e Oriental.
12.
A sociedade feudal não pode passar directamente do
feudalismo para o comunismo
Ao usurpar a liderança da revolução russa - sem o querer, há que dizê-lo - o Partido Bolchevique foi forçado a continuar esta usurpação e a tomar o lugar dos sovietes de camponeses, operários e soldados para assumir a governação do aparelho de Estado que o proletariado russo não podia assumir. Essa governação só podia ser burguesa e capitalista. A história não pode ignorar um modo de produção. Não se pode saltar uma etapa da evolução económica e social nacional e mundial, saltando do feudalismo para o comunismo, sem passar pelo capitalismo imperialista produtivista, mecanizado, robotizado, digitalizado, científico, tecnológico e avançado, apesar de ser descrito como uma “fase de transição socialista”. Analisaremos este ponto nas páginas seguintes.
13.
A luta de
libertação nacional não liberta o proletariado
Em muitos países colonizados, a burguesia nacional envolveu-se na efígie do “socialismo” ou mesmo do “comunismo”, que misturou com o seu próprio traje nacional chauvinista, a fim de alistar o povo - incluindo a classe operária - para usar essa carne de canhão nacional, essa força militante que tinha sido arregimentada e formatada, na defesa dos interesses de classe de um ou outro dos clãs burgueses que travavam uma guerra “patriótica” pela partilha do poder e da riqueza nacional. O único objectivo destas guerras de libertação nacional era impor uma facção nacional como beneficiária e intermediária da exploração mundializada dos trabalhadores - camponeses, operários, pequenos comerciantes - e da pequena burguesia nacional. As fronteiras destas guerras nacionalistas chauvinistas não eram os limites internacionais das lutas de classe do proletariado.
Nalguns países, como a Rússia (1917), a Albânia (1945), a China (1949), a Coreia (1950) e o Vietname (1973), as forças políticas ditas “comunistas” tomaram a dianteira nas revoltas populares. Mas estes não podiam ser levantamentos proletários, porque o proletariado nestes países era fraco, minoritário, inexperiente, alienado e sem consciência de classe. Inquestionavelmente, estes proletários não estavam preparados para travar a luta de classes “por si próprios” com o objectivo de destruir o aparelho de Estado burguês, conquistar o poder da ditadura da classe proletária e construir uma sociedade comunista internacionalista.
14.
O modo
de produção socialista de transição num só país
Vários partidos “comunistas” viram-se na situação de ter de construir a economia capitalista industrializada de alta tecnologia que era essencial para construir as forças produtivas e criar as bases materiais, industriais, comerciais e sociais do capitalismo. Como salientou Rosa Luxemburgo, “o capitalismo produz o proletariado e também o lucro”. A revolução proletária internacional exige o desenvolvimento de um proletariado moderno, e esta classe só pode crescer num modo de produção caracterizado por relações de produção capitalistas que envolvem a propriedade privada ou estatal burguesa dos meios de produção, de troca e de comunicação. Foi assim que os partidos “comunistas” no poder nestes países construíram as bases económicas, sociais e políticas capitalistas da revolução proletária que se avizinhava.
Ninguém pode dirigir uma revolução proletária sem proletários. Em todos estes países ditos “comunistas”, os partidos políticos de esquerda viram-se em posição de compensar a fraqueza organizacional e estrutural das suas classes burguesas nacionais e de ordenar a construção do modo de produção capitalista nos seus respectivos Estados nacionais. Aquilo a que chamavam um modo de produção transitório “socialista” num único país.
No entanto, estes
“camaradas” deveriam saber que o proletariado não tem pátria, tem apenas as
suas cadeias nacionais e sociais a quebrar para se emancipar.
1 15. A Segunda Guerra imperialista mundial
A Segunda Guerra Mundial, que os soviéticos chamaram de A Grande Guerra Patriótica Multinacional, merece uma análise cuidadosa. Esta segunda guerra mundial imperialista revela tanto o amadurecimento das condições objectivas da revolução proletária como o definhamento das condições subjectivas da revolução proletária internacionalista. Esta carnificina, na qual pereceram milhões de proletários, demonstrou tanto o domínio muito forte da classe burguesa sobre as massas como a grande fraqueza ideológica e organizativa da classe proletária internacional.
A classe proletária emergiu desta sucessão de duas guerras genocidas, desta experiência traumática, da erradicação dos proletários com armas nucleares, enfraquecida e desamparada. E abandonou a direcção das suas lutas de resistência à “classe média” pequeno-burguesa. Sob o capitalismo hegemónico, a classe proletária não tem outra alternativa senão erguer-se e lutar pela sua sobrevivência e pela sobrevivência de toda a humanidade.
16.
A Revolução Proletária Internacional ainda
está para vir
A revolução proletária internacional ainda está para vir. A burguesia mundial, sobre esta questão como sobre outras, mente descaradamente e a sua propaganda tem por objectivo mistificar o proletariado. A era da revolução proletária não está atrás de nós: está à nossa frente. O modo de produção capitalista, marcado pela intensificação e aprofundamento da crise económica, política e social, conduzirá inevitavelmente a resistências e revoltas de classe que abalarão os pilares do templo imperialista mundial. A questão da direcção de classe do proletariado sobre todas as classes em insurreição já se colocou.
17.
As dimensões económica, política e ideológica da luta de classes
As autoridades ideológicas e políticas nunca são as autoridades dominantes na luta de classes. No entanto, numa situação insurreccional, estas instâncias podem tornar-se decisivas. É a instância económica da luta entre o capital e o trabalho, entre a burguesia e o proletariado, que é dominante. Assim, apesar de todos os seus esforços, os bolcheviques não puderam construir o modo de produção comunista proletário sobre as ruínas da sociedade czarista, feudal, agrária e camponesa. Em suma, qualquer análise concreta de uma situação revolucionária concreta deve começar com uma análise do contexto económico da luta de classes, que também se trava nas frentes política, social e ideológica.
18.
O fluxo e o refluxo da luta de classes na
frente económica
Cada organização proletária evolui de acordo com as orientações impostas pela progressão da luta de classes na frente económica e, correlativamente, nas frentes política, social e ideológica. No início deste caótico século XXI, nenhuma organização política dominou o movimento proletário popular espontâneo. Uma organização revolucionária deve adaptar-se aos fluxos e refluxos do movimento proletário espontâneo. É esta incapacidade de compreender e de se adaptar estratégica e tacticamente que explica a anemia, o isolamento, o sectarismo e o dogmatismo do movimento comunista internacionalista face às exigências da revolução proletária mundial.
19.
A bolchevização das organizações comunistas
Após a derrota da Revolução Internacionalista, incapaz de agitar o mundo operário internacional, ainda demasiado fraco, inexperiente e frágil, a “bolchevização” das organizações comunistas e da Internacional Comunista impôs-se ao movimento proletário como a aceitação desta derrota.
A “bolchevização” das organizações não foi a razão da derrota da revolução social, que era incapaz de se internacionalizar; foi antes o resultado do definhamento da vaga espontânea de insurreição e do impasse revolucionário em que se tinham atolado os proletários dos poucos países industrializados, ainda demasiado fracos para vencer.
Para compreender o caminho seguido pelo Partido Bolchevique, pela Internacional Comunista e pelos partidos comunistas nacionais, é necessário analisar as transformações que se iniciaram na arena económica da luta de classes após a Primeira Guerra Mundial. Assim, um país feudal, atrasado do ponto de vista económico, industrial, comercial e financeiro e, sobretudo, do ponto de vista do desenvolvimento das forças produtivas sociais (campesinato e artesanato), não pode dar origem a um Estado, a uma sociedade socialista em transição para o modo de produção comunista hiperindustrializado, mecanizado, digitalizado e desenvolvido. Isto é tanto mais verdade quanto esta sociedade atrasada está isolada, cercada e atacada por países capitalistas intervencionistas e belicistas.
A partir destas observações, conclui-se que a tomada do poder pelo Partido Bolchevique na Rússia, seguida da campanha do Exército Vermelho para conquistar os territórios de todas as Rússias, conduziu a um impasse que paralisou o movimento revolucionário russo. Se tivesse sido possível construir uma sociedade socialista e depois um modo de produção comunista na Rússia, em 1917-1918 o “estalinismo” e outras formas de oportunismo e reformismo burgueses teriam sido rejeitados pelas massas proletárias revolucionárias.
Mas precisamente porque o proletariado russo era uma minoria (7 milhões de pessoas, no máximo), enquanto as massas camponesas eram uma grande maioria (mais de 35 milhões de muzhiks, semi-escravos e analfabetos, cultivando o solo com arados e aspirando à propriedade privada) num país que mal tinha saído do feudalismo e era governado por um monarca despótico, não existiam as condições económicas materiais concretas para uma revolução proletária moderna. Os outros Estados e territórios agrupados em torno da Federação Russa Soviética encontravam-se num estado ainda mais profundo de atraso económico e social. Em muitas dessas terras feudais, o proletariado simplesmente não existia. As condições objectivas para a revolução proletária estavam atrasadas em relação às condições subjectivas, ideológicas e políticas, tal como eram transmitidas pelo Partido Bolchevique. A vontade revolucionária (subjectiva) do Partido Bolchevique e de Lenine não podia compensar este atraso económico estrutural objectivo.
20. Opositores oportunistas do Partido Bolchevique
Com a excepção de algumas raras correntes comunistas de esquerda, a maioria das tendências políticas oposicionistas não conseguiu detectar o impasse para o qual a revolução russa se dirigia ao criar um poderoso Estado burocrático monopolista, destinado a levar a federação da Rússia feudal através da passagem obrigatória para o modo de produção capitalista monopolista. Os muitos opositores de esquerda e de direita sugeriram que só a direcção revolucionária se tinha desviado e que isso podia ser rectificado com mais - ou menos - totalitarismo, que eles confundiam com a “ditadura de classe do proletariado”. Sugeriam que muitas decisões estavam erradas e que bastaria um forte pontapé nas pinças para endireitar o navio do império soviético em formação.
Este foi o erro de Trotsky em particular, que propôs a sua própria linha oportunista em vez da de Estaline. A mesma atitude foi adoptada por Zinoviev, Kamenev, Piatakov, Radek, Rykov, Bukharin e outros opositores. O “estalinismo”, para usar a expressão utilizada por estes opositores, foi a resposta oportunista de uma revolução encurralada por uma economia e uma sociedade atrasadas em relação às necessidades de uma revolução proletária internacionalista.
21.
A vitória da corrente oportunista
estalinista
Durante o século XX, a história da esquerda socialista e comunista, na URSS, na Internacional Comunista e em todo o mundo, assumiu a forma de uma luta pelo poder entre clãs ambiciosos que disputavam o poder absoluto sobre o partido único, sobre as massas populares e sobre o aparelho tirânico do Estado soviético ou pseudo-democrático. Os sovietes dos camponeses, soldados e operários foram dissolvidos e o “estalinismo” impôs-se como a via privilegiada para a industrialização acelerada do império soviético.
22.
Le O « Estalinismo » como corrente
oportunista
A utilização da expressão “estalinismo” denota uma concepção idealista na análise da situação económica, política, social e ideológica da Rússia soviética. A história da humanidade não é a história de grandes homens ou de personagens célebres (tiranos, heróis narcisistas ou ditadores de opereta) que nos são impostos pelas classes dominantes. A história da humanidade é a história das massas populares organizadas e actuando em classes sociais (escravos, servos, camponeses, pequenos burgueses, operários e proletários).
O “estalinismo” foi a resposta do modo de produção, das relações sociais de produção e das classes sociais de todas as Rússias (maciçamente camponesas e analfabetas, cultivando a terra com pás de madeira) incapazes de dar origem ao modo de produção comunista hiper-industrializado, mecanizado e digitalizado. E com razão. A Rússia ainda não tinha conhecido o capitalismo monopolista produtivista desenfreado e o processo de acumulação capitalista estava apenas a começar.
Na nossa opinião, não havia revisionismo estalinista. Havia um revisionismo bolchevique, que Estaline, por exemplo, pôs dolorosamente em prática. E quando Khrushchev destituiu Estaline, o revisionismo bolchevique permaneceu no poder até ao seu colapso em 1991, tendo cumprido a sua missão histórica de fazer eclodir o modo de produção capitalista num imenso território rico em recursos que cobre um sexto do globo. A revolução proletária internacional está agora na ordem do dia na Rússia capitalista e em todo o Império Soviético desintegrado... como no resto do mundo.
O Partido Bolchevique, sob o comando de Estaline, teve o mérito de conduzir a Rússia na construção de um poderoso Estado totalitário de capitalismo monopolista. Em apenas vinte anos, esta nova potência capitalista foi capaz de enfrentar e esmagar a Alemanha nazi, uma das principais potências mundiais. Imaginem o que teria acontecido se o czar e a sua corte arcaica tivessem permanecido no poder. Imaginem os destacamentos de cavalaria e os seus soldados de infantaria czaristas a esmagarem as divisões panzer nazis em 1941. Porque a Alemanha teria atacado e ocupado a Rússia e as suas colónias internas tão seguramente como o fez com a Rússia soviética. O capitalismo alemão teria precisado tanto do trigo e do “espaço vital” da Ucrânia, do petróleo de Baku, dos minerais dos Urais e do Cáucaso e dos escravos assalariados da Rússia, quer o país fosse governado por um czar despótico ou por um primeiro-secretário tirânico.
23. La révolution prolétarienne n’a pas été trahie,
elle n’a jamais eu lieu
A Revolução Russa de Outubro (bolchevique) não foi traída, Senhor Trotsky. Ficou atolada porque estava paralisada pelo seu atraso económico e técnico. Para além disso, o país estava isolado e cercado. A Revolução Russa de Outubro de 1917-1918 estava à frente da História, que avançava a passo de caracol. Na Rússia czarista, devido à diáspora intelectual russa, as condições subjectivas da revolução estavam à frente das condições objectivas. O contrário do que vemos hoje, um século depois, na América capitalista, na Europa, na Rússia, na Índia e na China.
Como e porquê esta inversão? Foi antes e durante a Segunda Guerra Mundial e durante a “Guerra Fria” que começou esta mudança, esta liquidação das condições da revolução proletária internacionalista.
O Partido Bolchevique, através do controlo legal que exercia sobre o aparelho de Estado soviético, tornou-se o principal veículo de ascensão social e de edificação da classe burguesa burocrática na URSS. Foi através do Partido e do Estado controlado pelo Partido que se construiu a superestrutura de classe burguesa essencial para a construção do modo capitalista de produção, troca e comunicação (MPC), criando ao mesmo tempo a base material para a consolidação da classe dominante burocrática. Esta classe mostrou abertamente o seu poder em várias fases do desenvolvimento histórico do capitalismo na URSS.
Primeiro, com a imposição da Nova Economia Política (NEP - 1921), depois com a “des-sovietização” (1923) da URSS (os Sovietes de camponeses e operários foram transformados em conchas vazias desprovidas de qualquer poder). Seguiu-se a preparação da URSS e de outros países capitalistas para a Segunda Guerra Mundial, que incluiu o processo de “bolchevização” das organizações comunistas nacionais e internacionais (1930). Poderíamos comparar o processo de “bolchevização” das organizações à imposição de uma economia de guerra a uma nação. Finalmente, a dissolução da Terceira Internacional Comunista (Comintern), em 1943, pôs um fim definitivo às pretensões revolucionárias proletárias dos comunistas revisionistas.
(voir, https://fr.wikipedia.org/wiki/Internationale_communiste).
Depois veio a revolta palaciana organizada pela camarilha de Khrushchev (1953). Este “golpe de Estado”, apoiado por várias facções burguesas do Partido, realizou-se sem qualquer reacção dos quadros e dos milhões de membros do Partido Comunista (bolchevique) da União Soviética. Esta descida aos infernos culminou com a liquidação definitiva da ordem jurídica totalitária soviética, orquestrada por Gorbachev (1985-1991), porta-voz dos apparatchiks instalados no poder do Estado e desejosos de se apoderarem dos meios de produção, do comércio, da comercialização e da comunicação pública. Apesar destes factos evidentes, que podem ser observados por qualquer pessoa que se dê ao trabalho de olhar para a evolução histórica da Rússia soviética sem antolhos, a “bolchevização” e o seu manto de chumbo conseguiram vencer as dissensões nas organizações comunistas mundiais, mesmo entre a Oposição.
Mais tarde, os “maoístas” de Pequim e os “hodjistas” de Tirana não conseguiram explicar os fundamentos económicos e sociológicos profundos da revolta palaciana “khrushcheviana” e das suas consequências até à degenerescência “gorbacheviana”, que também os varreu (1965-1991).
24. A “pátria
do proletariado internacional” sob cerco
Uma parte das energias da esquerda comunista tem sido desperdiçada a destruir-se mutuamente e a excomungar-se grupo contra grupo. Porque é que o proletariado internacionalista se há-de amarrar a estes esquifes à deriva, que se debatem em recifes ideológicos utópicos tão afastados do materialismo dialéctico, como o oximoro “a pátria do proletariado internacional” (!) O proletariado internacional não tem pátria.
A “bolchevização” do PC (b), da Internacional Comunista (Comintern) e dos partidos comunistas patrióticos foi a resposta da nova burguesia estatal soviética à agressão económica, política e ideológica das burguesias capitalistas circundantes e concorrentes.
« Como Arthur
Koestler mostra claramente em Zero e o Infinito, a dialéctica das sucessivas
purgas era sustentada pelo facto de o Partido e “A Pátria do Proletariado”
(sic), a URSS, estarem rodeados de inimigos. Era necessário dar a impressão de
uma fortaleza sitiada para consolidar a “fé” no Partido e criar a nostalgia de
uma comunidade perdida: um patriotismo de organização. Esta ficção funcionou
bem, pois muitos opositores denunciaram-se a si próprios, fizeram autocríticas
ou assinaram “confissões” em defesa do partido.
Mas o mais incrível é que as tácticas que funcionaram tão bem nos
partidos comunistas estalinistas do período entre guerras tendem a perpetuar-se
facilmente nas organizações revolucionárias de hoje.» (3).
25.
As vagas oportunistas dos anos setenta
A vaga de organizações marxistas-leninistas (maoístas, castristas, trotskistas, eurocomunistas) que surgiram durante a crise económica sistémica dos anos 70 também se afundou no sectarismo e no dogmatismo, que Lenine tinha criticado severamente: “É dever dos comunistas militantes verificar por si próprios as resoluções das autoridades superiores do partido. Quem, em política, acredita na sua palavra é um idiota indecente”. (4).
A organização revolucionária do proletariado baseia-se na necessidade e no dever do debate económico, político e ideológico no seu seio. E no direito de formar fracções, como escrevem os camaradas da Esquerda Comunista:
« Toda a
história do movimento operário, e os seus momentos mais ricos são prova disso,
tem sido um confronto contínuo de grupos e tendências.» (5).
26.
A
organização proletária revolucionária
A organização
revolucionária proletária não é e não pode tornar-se uma organização de massas
com centenas de milhares de membros quando o capitalismo totalitário é omnipotente.
Quando a economia capitalista experimenta reavivamentos momentâneos de relativa
prosperidade, o movimento revolucionário proletário é confrontado com uma queda
significativa no seu número de membros. Os oportunistas apoderam-se então do
controlo das organizações de massas (sindicatos, associações de ajuda mútua,
amizades, ONGs e partidos políticos). Em contrapartida, logo que a economia
capitalista entrou em crise económica, o movimento revolucionário proletário
recuperou o seu vigor combativo e o seu rigor programático. É então o dever das
organizações revolucionárias proletárias elevarem-se ao nível ideológico e
político da classe que aspiram a dirigir.
27.
A Grande Guerra
Patriótica capitalista
Em 1945, a
vitória do capitalismo de Estado soviético sobre o capitalismo imperialista
alemão não transformou esta guerra imperialista numa guerra revolucionária
proletária em defesa da “Pátria do
Socialismo” (sic), a menos que se considere o “socialismo” soviético como
capitalismo monopolista de Estado. Do ponto de vista do Império Russo e do
Partido “Nacional” Bolchevique, a Grande
Guerra Patriótica Multinacional foi uma guerra de resistência dos “povos” e
da burguesia soviéticos, que lutaram arduamente para preservar o seu novo
Estado-nação industrializado e modernizado.
28. A inversão das alianças (1936-1945)
A Guerra Civil Patriótica Nacionalista Espanhola (1936-1939) foi o
prelúdio da Grande Guerra Patriótica de 1941. Em 1936, foram os soldados
nacionalistas espanhóis, liderados pelo fascista Franco, que
assassinaram os seus irmãos de classe republicanos nacionalistas apoiados pela
aliança das potências capitalistas ocidentais (incluindo a URSS). Foram as
tropas republicanas do governo burguês de Madrid que exterminaram os seus
irmãos de classe apoiados pela aliança das potências capitalistas do Eixo.
Esta guerra patriótica começou antes do Tratado de Não Agressão
Germano-Soviético (1939 - primeira inversão de alianças) e cinco anos antes
da Operação Barbarossa (1941 - segunda inversão de alianças); sete anos
antes da dissolução da Internacional Comunista (1943) e nove anos antes
dos acordos imperialistas de Ialta e Potsdam (1945), que estabeleceram a
divisão do mundo entre as alianças das potências capitalistas triunfantes, mas
ainda concorrentes, como a “Guerra Fria” inter-imperial viria a atestar
mais tarde.
Todos estes acontecimentos económicos, políticos, diplomáticos e militares não contribuíram em nada para a revolução proletária internacional, digam o que disserem os exegetas do “estalinismo”.
Depois dos acordos de Ialta e de Potsdam (1945), o império soviético estendeu-se ainda mais, até às portas do Adriático, em direcção ao Elba, ao Báltico, a uma parte da Finlândia e às ilhas Kuril, após a entrada não provocada na guerra contra o imperialismo japonês (6). Sabemos agora o que aconteceu a estas conquistas efémeras do império russo-soviético. Em 1989, o anacrónico Muro de Berlim foi derrubado, simbolizando o colapso da frágil aliança económica socialista (Comecon 1949-1991), enredada em múltiplas contradições económicas, políticas, sociais e militares. Todos podem constatar que o capitalismo monopolista de Estado soviético acabou por se revelar menos eficaz, menos produtivista, menos capaz de acrescentar valor ao capital e de assegurar a acumulação do que o capitalismo monopolista “liberal”, financeirizado e mundializado... pelo menos até à recente crise sistémica do Grande Capital em desordem (7).
29. A guerra
como consequência da crise económica
Se a Primeira Guerra Mundial foi a resposta do modo de produção capitalista à crise económica do final do século XIX, a Segunda Guerra Mundial foi a resposta do modo de produção capitalista à crise económica de 1929. A conquista de novos mercados e a redistribuição dos antigos foram os objectivos destas primeiras vagas de “mundialização” (1873-1945), inicialmente sob a hegemonia imperial franco-britânica e depois americana. Este período foi marcado pela formação de monopólios, pela acumulação e concentração de capital e por uma série de crises económicas sistémicas, incluindo a “Longa Depressão” de 1873 a 1891. Esta crise de sobreprodução foi o produto nefasto da “idade de ouro” financeira, que encantou os rentistas parasitas que não podiam contribuir para a reprodução alargada do capital. Esta longa depressão, que começou com uma grave crise bancária, foi precedida por um duplo movimento de especulação imobiliária e bolsista, facilitado pela liberalização da banca nos anos 1870. Que semelhanças espantosas existem entre esta “Longa Depressão” e a actual depressão económica e a guerra que ela está a preparar!
30. A crise
económica conduz à guerra
No modo de produção capitalista (MPC), uma guerra não é fundamentalmente ideológica, étnica, linguística, racial, religiosa, moral, social ou nacional. Estes vectores fazem parte do contexto que molda os interesses económicos dos confrontos armados.
No modo de produção capitalista, uma guerra é, antes de mais, a consequência das profundas contradições económicas que se reflectem nas relações sociais de produção entre classes e fragmentos de classes sociais concorrentes. No entanto, ao manipular a opinião pública através de uma intensa propaganda destilada pelos aparelhos de condicionamento ideológico (meios de comunicação social, sistemas educativos e culturais), a guerra de apropriação dos meios de produção (capital e trabalho), a guerra de rapina dos recursos, a guerra de partilha dos mercados e de conquista de zonas de influência, assume a aparência de um conflito étnico, linguístico, cultural, religioso, racial ou territorial - numa palavra, a aparência de um conflito “patriótico”. Estes ecrãs ideológicos e políticos servem para ocultar a contradição fundamental deste sistema de exploração, que é incapaz de assegurar pacificamente - sem concorrência - as condições de acumulação e de reprodução da espécie humana.
31. A guerra « patriótica » engendra a guerra
mundial
O recrudescimento constante da crise económica sistémica do capitalismo obriga as potências da Aliança Atlântica (NATO) a provocar guerras no Médio Oriente, na Europa de Leste, nos Balcãs, no Cáucaso, em África, na América Latina e no Sudeste Asiático, a fim de manterem o seu controlo sobre os recursos energéticos, as matérias-primas, os meios de produção e os mercados. Assassinam e substituem os antigos intermediários nacionalistas locais que se tornaram incómodos, embaraçosos ou oposicionistas. No entanto, desde a emergência de uma nova superpotência na cena mundial, estas guerras locais, apoiadas pelo aspirante a hegemon, funcionam por vezes em detrimento das potências ocidentais.
Na Síria, por exemplo, a França perdeu para Bashar al Assad, apoiado pela Rússia e pela Aliança dos Países Capitalistas Emergentes. Na Ucrânia, o governo fantoche de Volodymyr Zelensky teve de se curvar perante a poderosa Rússia imperial. Na Palestina ocupada, os Estados Unidos e o seu representante nazi, Israel, foram incapazes de exterminar o Hamas ou o povo palestiniano. Uma coisa é certa, esta sucessão de guerras por procuração terá conduzido à deslocação das relações sociais de produção nestes países, que estão integrados no bloco económico imperialista. Em vez de consolidarem o seu domínio sobre estes países, as potências ocidentais e orientais terão favorecido o surgimento de tensões tribais, a reactivação de conflitos étnicos seculares, o ressurgimento do fanatismo religioso e do nacionalismo chauvinista, activados pelos diferentes segmentos da burguesia e das oligarquias feudais locais incitados pelas potências imperialistas, abrindo assim caminho a uma confrontação mundial.
32. A pseudo estratégia do « caos »
Contrariamente ao que sugerem os “teóricos da conspiração”, o “caos” social não é o objectivo das potências capitalistas concorrentes. No entanto, o “caos” social resulta das suas intervenções militares desesperadas, porque as guerras e a diplomacia das canhoneiras são um prolongamento das suas actividades políticas tirânicas, que são elas próprias o resultado da sua concorrência económica sistemática (8).
33. Da Grande Guerra Patriótica à guerra do Donbass
Voltemos à Segunda Guerra Mundial, que tem sido amplamente discutida desde que a guerra na Ucrânia se intensificou em Fevereiro de 2022. Em 1941, o capitalismo soviético foi atacado pelo exército alemão. Durante os quatro anos do conflito, seis milhões de soldados alemães, constituídos por unidades de elite da Wehrmacht, foram destacados para as planícies da Rússia europeia. Era com as riquezas confiscadas à União Soviética que o Império Alemão pretendia reabastecer o seu exército, relançar a sua economia e revitalizar a sua indústria, preparar-se para contrariar a invasão americano-britânica na Frente Ocidental e prosseguir a sua agressão no Norte de África. No entanto, o capitalismo monopolista de Estado russo conseguiu mobilizar as forças dos povos soviéticos multi-étnicos numa Grande Guerra Patriótica (nacionalista burguesa) para salvaguardar o poder do Partido Bolchevique sobre o aparelho de Estado totalitário e repelir o invasor que tinha vindo para pilhar, explorar, espremer e sangrar a chamada “Pátria dos Operários” com as suas múltiplas nacionalidades.
O poderoso exército nazi, com a sua selvajaria sem precedentes, foi repelido a muito custo (25 milhões de mortos soviéticos e milhões de feridos). Depois da guerra, no âmbito de acordos negociados com os seus aliados imperialistas, a União Soviética protegeu as suas fronteiras com um glaciar de países escravizados. Estes países, a começar pela Jugoslávia titista e pela Roménia de Ceausescu, tentariam mais tarde libertar-se do domínio imperialista soviético e colocar-se sob a égide da NATO. Os esquerdistas estavam convencidos de que jogar tanto o jogo soviético como o americano-britânico lhes traria benefícios.
O colapso do modelo soviético de desenvolvimento capitalista monopolista de Estado (1991) e o fim da primeira fase de competição “fria” (Guerra Fria) demonstraram a pusilanimidade dos seus objectivos imperiais “multipolares”. Actualmente, Vladimir Putin, um digno sucessor dos apparatchiks nacionalistas soviéticos da Guerra Fria, prossegue esta política de manutenção de um glaciar de países subjugados às portas do sitiado império russo. A guerra na Ucrânia, depois das guerras na Síria e no Afeganistão, marca um ponto de viragem histórico no jogo de alianças imperialistas entre a Aliança Ocidental e a Aliança Oriental.
34. O anverso e o reverso do campo do capital
A Rússia está claramente sob ataque da Aliança Atlântica (NATO). É o preço que está a pagar por se ter aliado à nova superpotência capitalista chinesa, cuja sombra ameaçadora paira no horizonte da economia política mundial. A agressividade da Aliança Atlântica (NATO) belicista não impede a Rússia e a China de expandirem as suas zonas de influência no Médio Oriente, em África, na América do Sul e no Sudeste Asiático, um movimento centrípeto que a superpotência americana em declínio é incapaz de contrariar.
De que serve à classe proletária revolucionária conhecer os parâmetros do esforço desenvolvido por cada uma das superpotências envolvidas nestas guerras de carnificina e pilhagem? O que é importante saber é que em todas essas guerras a classe proletária sempre serviu de carne para canhão para a defesa dos interesses das diversas burguesias, plutocracias e oligarquias nacionalistas.
Todas estas guerras têm um carácter imperialista, apesar de as burguesias nacionalistas ocidentais pretenderem defender a democracia burguesa contra o militarismo e o totalitarismo asiáticos, e lutar contra o fascismo ou o nazismo, dois modos de governação inerentes ao modo de produção capitalista. Os dois blocos imperialistas, a versão “democrático-libertária” e a versão “dirigista totalitária”, são económica, política e ideologicamente idênticos. Todos os beligerantes das guerras imperialistas fazem parte do capitalismo mundializado e constituem o anverso e o reverso do grande capital mundial. Cada uma das alianças entre potências é capaz das piores barbaridades (campos de concentração, gulags, colónias penais, Hiroshima, Nagasaki, Gaza, genocídios, extermínios, epidemias e pandemias, confinamentos dementes, etc.) contra a classe proletária internacional. Os confinamentos em massa durante a pandemia de COVID-19 entre 2020 e 2022 foram uma demonstração desastrosa disso, que apanhou a classe proletária e as suas organizações desprevenidas (9). (Ver : UN AUTRE REGARD SUR LE COVID-19 (20 AUTEURS) – les 7 du quebec).
35. O Estado burguês está na origem do fascismo
Historicamente, a democracia e a ditadura, dois modos complementares de governação política, alternam-se no âmbito do modo de produção capitalista, institucionalmente encarnado pelo Estado burguês. Como escreveu Lenine no seu livro O Estado e a Revolução: “enquanto existir o Estado, não haverá liberdade; quando reinar a liberdade, não haverá Estado”. Por outras palavras, não pode haver democracia popular sob a ditadura do capital, um modo de produção e de governação baseado na exploração, na opressão, na repressão e na alienação, como ilustram a repressão autoritária, o despotismo estatal e a fascistização crescente das relações sociais nas sociedades capitalistas.
Movimento “revolucionário”
da pequena burguesia que lidera a contra-revolução e tem como missão
histórica a destruição do tecido de organizações de classe herdado da Segunda
Internacional, substituindo-o pelo enquadramento forçado dos trabalhadores no
capitalismo de Estado através de sindicatos e instituições derivadas ou integradas
no aparelho político do Estado.
Origem do fascismo
O fascismo surge em Itália num contexto nacionalista que defendia a participação na
Primeira Guerra Mundial para “consolidar” a reunificação italiana, ou seja, o
programa total da revolução burguesa. O programa remonta aos anos 1914-15, ou
seja, ao período que precede a entrada da Itália na guerra mundial. Os grupos
que reivindicavam esta intervenção, constituídos politicamente por
representantes de várias tendências, foram a primeira manifestação do
fascismo. Havia um grupo de direita com Salandra, ou seja, os
grandes industriais interessados na guerra que, antes de pedirem a
intervenção da Entente, tinham defendido a guerra contra a Entente. Por outro
lado, havia as tendências burguesas de esquerda: os radicais italianos, ou
seja, os democratas de esquerda e os republicanos, apoiantes tradicionais da
libertação de Trento e Trieste. Em terceiro lugar, alguns elementos do movimento
proletário, sindicalistas revolucionários e anarquistas. O líder da ala
esquerda do Partido Socialista e diretor do “Avanti”, Mussolini, também pertenceu a estes grupos (embora este seja um
caso individual de particular importância). Estas tendências de “esquerda”
foram as que se juntaram em torno de d'Annunzio, Rossoni e Mussolini num “revolucionarismo” da pequena burguesia. Como todo o revolucionismo
pequeno-burguês, era acima de tudo nacionalista, patriótico e popular (interclassista). Mas em 1919-20, há dois elementos que marcam uma mudança de época histórica , dando-lhe uma forma específica de fascismo : a revolução operária e a
integração dos sindicatos no capitalismo de Estado. O que deu ao fascismo a oportunidade de
se tornar a esperança da grande burguesia foram as hesitações e as fraquezas
do movimento revolucionário em Itália. Após a incapacidade do Partido
Socialista para liderar os movimentos de massas dos trabalhadores, as
ocupações de fábricas e os movimentos do proletariado rural, a pequena burguesia em massa
transformou-se e a burguesia viu uma oportunidade para a utilizar como aríete
contra a revolução em curso. O proletariado estava desorientado e
desmoralizado. Assim que viu a vitória escapar-lhe, o seu estado de espírito
sofreu uma profunda transformação. Pode dizer-se que, em 1919 e na primeira
metade de 1920, a burguesia italiana tinha-se resignado, em certa medida, a
assistir à vitória da revolução. A classe
média e a pequena burguesia tendiam a desempenhar um papel passivo, não
em relação à grande burguesia, mas em relação ao proletariado, que
acreditavam estar prestes a vencer. Este estado de espírito foi mais tarde
radicalmente alterado. Em vez de assistir à vitória do proletariado, a
burguesia organizou com êxito a sua defesa. Quando a “classe média” se
apercebeu de que o Pai Socialista não era capaz de assumir a liderança,
perdeu gradualmente a confiança nas possibilidades do proletariado e virou-se
para a classe oposta. Foi nesta altura que começou a ofensiva capitalista e
burguesa. Esta aproveitou-se essencialmente do novo estado de espírito em que
se encontrava a classe média. Graças à sua composição extremamente
heterogénea, o fascismo representou a solução para o problema da mobilização
das classes médias a favor da ofensiva capitalista. Apesar das inevitáveis incongruências ideológicas de um
tal movimento, o fascismo não era apenas uma ideologia nacionalista e reaccionária
que mobilizava uma pequena burguesia frustrada contra o proletariado.
Construiu uma forma específica de capitalismo de Estado socialista em torno
dos sindicatos: o Estado corporativo. Fonte :
Amadeo Bordiga. Rapport
sur le fascisme. IVe Congrès de l’Internationale communiste. e Fascisme |
Dictionnaire marxiste (marxismo.school) http://diccionario.marxismo.school/#page-top |
36. O fascismo como modo de governação
A este respeito, é útil recordar que, contrariamente à ideia errónea comummente difundida pela historiografia e pelos meios de comunicação social a soldo do capital, o fascismo não foi engendrado por um racismo étnico ou sociológico, Pelo contrário, foi procriado “democraticamente” durante a Primeira Guerra Mundial, quando a luta de classes se esvaiu e se dissolveu num patriotismo nacionalista belicista propagado pelas classes dominantes, retransmitido no movimento operário pela pequena burguesia (a chamada classe média), oportunistas, esquerdistas e/ou direitistas. Assim, contrariamente à visão populista comum, o fascismo não deve ser associado apenas aos partidos de extrema-direita, que podem ser correctamente descritos como populistas e racistas. Hoje em dia, o fascismo, ou seja, a governação pelo terror e o Estado corporativo, tornou-se a prerrogativa dos Estados de esquerda ditos socialistas e dos Estados de direita ditos liberais.
Institucionalmente,
muitos Estados estão actualmente em vias de se tornarem fascistas, Estados em
que todas as vozes discordantes devem ser abafadas, todas as oposições
esmagadas, todos os desafios aniquilados. Mussolini
resumiu o fascismo em três estrofes: tudo para o ESTADO; tudo através do ESTADO;
tudo no ESTADO. Esta é a verdadeira definição política e sociológica do
fascismo, amplamente ilustrada nos últimos anos pelo desencadeamento da chamada
pandemia de COVID pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e
pelo confinamento demente que atingiu centenas de milhões de pessoas,
reduzindo-as à mendicidade.
Em 1977, na sua aula inaugural no Collège de France sobre o papel da linguagem na sociedade, Roland Barthes proferiu uma frase poderosa que poderia ser aplicada ao Estado burguês: “Mas a linguagem, como desempenho de toda a linguagem, não é nem reaccionária nem progressista; é muito simplesmente: fascista; porque o fascismo não é impedir as pessoas de dizer, é obrigá-las a dizer”. No capitalismo monopolista mundializado, o Estado não é reaccionário nem progressista; é simplesmente fascista, qualquer que seja a sua linguagem política (democrática ou totalitária).
37. O nível
de desenvolvimento económico
Não é o modo de governação - fascismo, nazismo, militarismo, democracia libertária, socialismo totalitário - que determina quem ganha uma guerra competitiva ou um conflito militar. É o nível de desenvolvimento do modo de produção dominante, o desenvolvimento dos meios de produção, as forças produtivas e as relações sociais de produção entre as potências beligerantes que decidem quem ganha. Assim, em 1939-1945, a derrota das potências do Eixo era inevitável e a vitória das potências ocidentais era inevitável. A Alemanha, por exemplo, não tinha condições para financiar um projecto científico-militar como o Projecto Manhattan (bomba atómica), através do qual a América se posicionou como potência nuclear hegemónica. Quanto ao Japão, basta dizer que não construiu novos porta-aviões ou super navios de guerra durante a guerra. O esforço de guerra japonês absorveu a totalidade das forças produtivas desta economia recentemente industrializada. O imperialismo americano, por seu lado, acelerou a modernização da sua marinha, a arma de eleição na guerra do Pacífico, ao mesmo tempo que rearmou parcialmente o Reino Unido e a Rússia. O enorme poder económico e militar dos Estados Unidos, combinado com o poderio militar da União Soviética, formou a dupla invencível da Segunda Guerra Mundial. Em 1946, a economia dos EUA representava 45% da economia mundial.
38. A « Guerra fria » e o fim do campo soviético
Depois de cinquenta anos de “Guerra Fria” (1945-1991) entre o capitalismo monopolista de Estado totalitário (de esquerda) e o capitalismo monopolista de Estado liberal (de direita), a primeira caiu com estrondo, levando consigo as ilusões esquerdistas de um socialismo totalitário em transição para o comunismo.
Se a URSS e o campo socialista puderam sobreviver durante setenta anos (1917-1991) ao lado do campo imperialista atlântico, foi porque a União Soviética e o “Comecon” eram a forma económica, financeira, política, diplomática, jurídica, ideológica e sociológica do modo de produção e de troca capitalista monopolista adaptado aos países da Eurásia recentemente integrados na economia capitalista hegemónica, recentemente incorporados no imperialismo.
39. Duas
alianças imperialistas em confronto
Desde o colapso do bloco capitalista soviético em 1991, a paisagem política mundial está virada do avesso. Duas alianças imperialistas parecem estar a emergir: a Aliança Atlântica, unida sob a égide da NATO, com os Estados Unidos como potência hegemónica. Em oposição a esta aliança belicosa, a Nova Aliança do Pacífico, igualmente vingativa, está a tomar forma gradualmente, com a Rússia e a China como potências dominantes. O Irão, alguns países do Médio Oriente e alguns países “não alinhados” dos BRICS+, da Comunidade de Estados Independentes e da Organização de Cooperação de Xangai postulam candidatar-se a membros desta aliança imperialista emergente sob domínio chinês.
BRICS+: um agrupamento imperialista
de países capitalistas emergentes O Brasil, a Rússia, a Índia e a China formaram inicialmente o BRIC em
2009, após uma série de reuniões e acordos. A primeira cimeira do BRIC
realizou-se em Ekaterinburgo, na Rússia, a 16 de Junho desse ano, onde os
chefes de Estado acordaram em reforçar o diálogo e a cooperação entre eles.
No ano seguinte, em Brasília, Brasil, em Abril de 2010, realizou-se a segunda
cimeira, onde os líderes destes países sublinharam a necessidade de um
sistema intergovernamental mundial multipolar. Depois, na sua terceira
reunião, em Nova Iorque, em Setembro de 2010, os BRIC acordaram a entrada da
África do Sul. A África do Sul aderiu após um esforço sustentado devido à sua política
externa activa. Na quarta cimeira, em Março de 2012, em Nova Deli, na Índia,
foi feito o primeiro anúncio da criação de um Novo Banco de Desenvolvimento
(NDB), que foi formalizado na quinta cimeira, em Durban, na África do Sul, em
2013, com a intenção clara de os BRICS se tornarem independentes do Fundo
Monetário Internacional (FMI), do Banco Mundial (BM), dos Estados Unidos e da
União Europeia. O acordo para a sua criação foi finalmente alcançado em 2014, na sexta
reunião dos BRICS em Fortaleza, Brasil. Os BRICS representam 40% da população
mundial, ou seja, mais de 3,1 mil milhões de pessoas. Os BRICS reúnem países
com diferentes graus de desenvolvimento. O Brasil é o maior país da América
do Sul, tanto em termos de população (cerca de 213 milhões) como de
superfície, ocupando 1/3 da América do Sul. É também o quarto país mais rico
das Américas em termos de PIB. De acordo com o Índice de Competitividade Mundial do Fórum Económico
Mundial, o Brasil ficou em 108.º lugar entre 137 economias em 2017 em termos
da qualidade geral das suas infra-estruturas. A Rússia, o maior país transcontinental com influência mundial, possui
também o maior arsenal nuclear do planeta e um enorme poder militar, que está
a utilizar na Síria e na Ucrânia, em particular. A Rússia oferece o melhor
nível de vida aos seus habitantes, em comparação com os restantes países dos
BRICS, com 3,5% do PIB consagrado à educação e 3,1% à saúde pública. Apenas
0,2% da população vive abaixo do limiar de pobreza. A economia russa sofre de
uma falta significativa de infra-estruturas bancárias, devido ao
subdesenvolvimento dos mercados financeiros e às dificuldades em obter
empréstimos e capital de investimento do Ocidente. A Índia é uma potência mundial emergente com uma economia em constante
crescimento. É actualmente a quinta maior economia do mundo em termos de PIB,
enquanto o seu território alberga a maior população do mundo, com quase 1,4
mil milhões de pessoas. O crescimento do PIB do país tem sido um dos mais
elevados do mundo na última década, atingindo um crescimento anual entre 6% e
7%. No entanto, a Índia tem um dos rendimentos per capita mais baixos do
mundo, ao mesmo tempo que enfrenta enormes problemas sociais devido à
pobreza. A Índia tem as percentagens mais baixas do PIB dedicadas à educação
e à saúde entre os BRICS, com 2,7% e 1,2%, respectivamente. A China, com uma população de 1,4 mil milhões de habitantes, está a
desenvolver-se rapidamente, com uma penetração económica na Ásia, na América
Latina, em África e noutras partes do mundo. É um gigante económico com uma
taxa de crescimento anual de 6,6%, ameaçando a hegemonia económica dos
Estados Unidos. A China é o primeiro exportador mundial desde 2014. Ao mesmo
tempo, a China continua a ser um país de rendimento médio, com um rendimento
per capita que representa apenas um quarto do dos países de rendimento
elevado. Cerca de 375 milhões de chineses vivem abaixo do limiar de pobreza,
com 5,50 dólares por dia. A África do Sul é o maior parceiro comercial da China em África. Centenas
de empresas chinesas, tanto públicas como privadas, estão actualmente activas
no país. A economia da África do Sul é a segunda maior do continente
africano, a seguir à da Nigéria. Possui riquezas naturais em ouro, prata e
carvão, mas também uma das mais elevadas taxas de desigualdade do mundo. Os
10% mais ricos da população detêm cerca de 71% da riqueza líquida, enquanto
os 60% mais pobres detêm 7%. É um país com um peso político particular em
África, sendo o único membro africano do grupo G20. Os BRICS são, portanto, um campo que se opõe ao Ocidente, quer
politicamente através da aliança Estados Unidos-União Europeia, quer
militarmente através da NATO, quer economicamente através de organizações
económicas internacionais de origem americana, como o FMI, o Banco Mundial
(BM), a Organização Mundial do Comércio (OMC) ou a Organização Mundial de Saúde
(OMS). A orientação estratégica dos BRICS é contrariar a arquitectura
financeira internacional dominada pelos Estados Unidos. Após quinze anos, durante os quais muitos questionaram a viabilidade do
sistema, os equilíbrios mundiais existentes estão a levar ao alargamento do
bloco. Muitos países manifestaram o seu desejo de se tornarem membros dos
BRICS. Na sua 15ª Cimeira, realizada em Joanesburgo, na África do Sul, os
BRICS acolheram seis novos membros: Egipto,
Etiópia, Arábia Saudita, Irão, Argentina e Emirados Árabes Unidos. https://les7duquebec.net/archives/286020 « Bienvenue
aux BRICS 11 » s’écrie le pamphlétaire (Pepe Escobar) les perspectives
de guerre se rapprochent! – les 7 du quebec. Dados comparativos entre BRICS+ e OTAN Os números do FMI acabam de ser publicados em 12 de Abril de 2023.
Estas previsões são actualizadas de seis em seis meses para ter em conta os
resultados reais. De acordo com as minhas observações ao longo de mais de uma
década, estas actualizações produzem muitas vezes resultados mais favoráveis
do que as previsões. Em 2000, o PIB dos 5 países
que viriam a constituir os BRICS representava 18,1% do PIB mundial em
paridade de poder de compra (PPC). Actualmente, a parte destes 5 países
aumentou para 32,1% do PIB mundial e o FMI prevê que esta parte continue a
aumentar, porque o crescimento dos BRICS, impulsionado pela China e pela
Índia, é muito mais forte do que o dos países ocidentais. DADOS DO FMI
A partir da sua cimeira
anual, em Agosto de 2023, na África do Sul, os BRICS irão expandir-se
gradualmente, seleccionando os melhores candidatos para se juntarem a eles
como membros permanentes.
Do lado ocidental, o declínio prossegue inexoravelmente, ou pelo menos
a parte das economias ocidentais no PIB mundial (PPC). O PIB dos EUA
representava, por si só, 50% do PIB mundial no final da guerra, em 1945. Em
2000, representava apenas 20,3%. Atualmente, representa apenas 15,4% e esta percentagem está a
diminuir todos os anos. Os europeus também representavam 20,3% do PIB mundial em PPC em 2000. Actualmente, essa
percentagem é de apenas 14,6% e
continua a diminuir de ano para ano. É evidente que o campo ocidental já não tem o peso económico que tinha
há 23 anos, que lhe permitia dominar a economia e a finança mundiais. Tanto mais que a operação de desdolarização
do comércio mundial, iniciada pela Rússia e posta em prática pelos BRICS,
ainda não produziu os seus primeiros resultados. https://les7duquebec.net/archives/285574 Les BRICS confirment
« Ils ne veulent pas dé-dollariser et ne sont pas
anti-capitalistes » – les 7 du quebec Um número crescente de países recorre ao comércio sem dólar para
escapar às pressões, ou mesmo às sanções, e à extra-territorialidade do
direito americano, ligada à utilização do dólar nas transacções. Esta desdolarização progressiva, que está
apenas a começar, poderá ter efeitos sem precedentes na economia mundial,
impulsionando as economias que se libertam do dólar e acelerando o declínio
dos Estados que se agarram às “regras americanas”, cada vez mais obsoletas. https://les7duquebec.net/?s=brics. A guerra na Ucrânia, que se seguiu à fase aguda da crise do COVID-19,
precipitou a situação. A intervenção imperialista da Rússia na Ucrânia terá
contribuído para um enfraquecimento duradouro da coligação ocidental por
meios económicos e não militares. https://les7duquebec.net/?s=ukraine.
NOTAS BRICS: L’ADVERSAIRE QUI FAIT PEUR A
L’OCCIDENT – les 7 du quebec Fonte : Dominique Delawarde sur
https://les7duquebec.net/archives/282245 |
40. Dois campos antagónicos em confronto
A história da humanidade até aos dias de hoje não é a história de impérios coloniais, nem de alianças militares agressivas, nem de patéticos tiranos psicopatas. A história da humanidade é a história da luta de classes para arrancar da biosfera terrestre os meios para se perpetuar como espécie. A luta de classes opõe: a classe burguesa-capitalista dominante - belicista - hegemónica - decadente - reaccionária - minoritária - à classe proletária. Esta classe confronta-se com a classe dominada - maioritária - empobrecida - explorada - alienada - insubordinada - e potencialmente revolucionária - do proletariado. É por isso que afirmamos que, em última análise, dois campos antagónicos se confrontam no palco da história. Um campo quer perpetuar a civilização burguesa decadente; o outro campo está a trabalhar para derrubar o Velho Mundo do capital e construir o Novo Mundo do comunismo proletário. Os nomes destes dois campos são: o campo imperialista do capital mundializado, dividido numa série de alianças belicosas, e o campo do proletariado internacional, dividido numa multidão de pequenas organizações confusas. Voltaremos a este ponto.
41. O programa da Esquerda comunista italiana
Para se unir, o campo proletário precisa de um programa revolucionário a longo prazo para cumprir as suas tarefas. Nos anos 30, a esquerda comunista italiana propôs o seguinte programa revolucionário proletário:
·
A organização
revolucionária do proletariado deve sempre aderir aos princípios do
internacionalismo proletário. Neste período de crise sistémica do capitalismo
na sua fase imperialista decadente, as lutas de libertação nacional são
reaccionárias, anti-internacionalistas e, em última análise, anti-proletárias.
·
Não há frente unida com os social-patriotas,
os chamados “anti-fascistas” e as figuras burguesas “democráticas”, berços do
fascismo em todas as suas formas.
·
A classe
proletária é a única classe social-revolucionária coerente. E qualquer outra
classe ou fragmento de classe que aspire a contribuir para a revolução
proletária deve colocar-se sob a direcção da classe proletária.
·
A classe
proletária não tem de federar ou assumir as exigências reformistas de outras
classes ou segmentos de classe empobrecidos no decurso da crise sistémica do
capitalismo.
·
Apoiar o
democratismo burguês ou algumas reformas sociais oportunistas é o mesmo que
apoiar o fortalecimento do modo de produção capitalista nas suas componentes
económica, política e ideológica.
· Neste mundo globalizado, a única solução radical para neutralizar a marcha para a guerra e o totalitarismo de Estado (qualquer que seja a sua versão governamental: socialista, social-democrata, nacionalista, liberal ou neo-liberal) é promover a insurreição popular e a revolução proletária (10).
Temos de aprender com os fracassos da vaga
revolucionária dos anos vinte, da Revolução Russa (bolchevique) em particular,
da vaga revolucionária do pós-guerra, da Revolução Chinesa em particular
(1949), da vaga pré-revolucionária dos anos sessenta e setenta, de Cuba e da
Guerra do Vietname em particular, para elaborar as tácticas e estratégias
adequadas que servirão de base ideológica às organizações que inevitavelmente
surgirão do ressurgimento do movimento proletário espontâneo. Elaboremos a táctica
e a estratégia para que as forças revolucionárias proletárias consigam
transformar o movimento insurrecional popular espontâneo numa revolução
proletária consciente.
42. A fonte fundamental da crise económica
A partir do momento em que o
desenvolvimento dos meios de produção, incluindo as forças produtivas vivas (trabalho), se torna incompatível com as
relações sociais de produção, todo o modo de produção capitalista corre o risco
de se desmoronar. Nos Grundrisse,
Marx descreveu este princípio da seguinte forma:
“Assim que o trabalho na sua forma imediata [viver e produzir mais-valia] deixa de ser a principal fonte de [criação de] riqueza [reprodução do capital], o tempo de trabalho [trabalho necessário e mais-valia] deixa e tem de deixar de ser a sua medida [da reprodução do capital] e o valor de troca deixa também de ser valor de uso. Assim, a produção [o modo de produção] baseada no valor de troca [comercial] entra em colapso.” Mais adiante, Marx acrescenta: “A partir de então, o processo de produção deixa de ser um processo de trabalho, no sentido em que o trabalho constituiria a sua unidade dominante. Nos múltiplos pontos do sistema mecânico, o trabalho já não aparece como um ser consciente, sob a forma de alguns trabalhadores vivos dispersos, sujeitos ao processo mundial da maquinaria; eles formam apenas um elemento do sistema, cuja unidade não reside no trabalhador vivo, mas na maquinaria viva (activa) que, comparada com a actividade isolada e insignificante do trabalho vivo, aparece como um organismo gigantesco.” (11).
O verme revolucionário está no coração da maçã capitalista. Está intimamente integrado no sistema, independentemente da acção do capital ou da classe capitalista. O que quer que a classe proletária faça, este modo de produção só pode entrar em colapso e provavelmente ressurgir das cinzas ou ser substituído por um novo modo de produção. Os oportunistas e reformistas acalentam o sonho de reformar - ajustar - melhorar - a civilização capitalista. Os revolucionários proletários, por outro lado, lutam para derrubar a civilização capitalista, para impedir que ela renasça das cinzas e para construir o novo modo de produção - a nova civilização comunista proletária.
Estamos conscientes da
fraqueza ideológica e subjectiva do proletariado. Estamos também conscientes da
sua imensa força material e objectiva, e sabemos que em certas circunstâncias
revolucionárias a consciência da classe oprimida dá espontaneamente saltos
gigantescos. Nas páginas seguintes examinaremos as condições objectivas e
subjectivas da revolução proletária internacional.
43. A financiarização da economi
O que é que se pode entender do princípio de Marx da criação robotizada de valor e da acumulação de capital? Este mecanismo de desintegração do valor de troca das mercadorias em geral, e da mercadoria mais importante de todas - a força de trabalho em particular - conduz a uma cisão entre a mercadoria fetiche - o dinheiro - e todas as outras mercadorias transaccionadas que o dinheiro supostamente representa. É assim que os bancos centrais emitem grandes quantidades de dinheiro sem qualquer equivalente em termos de bens transaccionáveis reais. O sistema capitalista “financeirizado” (monetizado) está num estado perpétuo de inflação, deflação ou estagflação.
Esta é a fonte de
todos os surtos de febre financeira e das repetidas crises de sobreprodução que
o moribundo modo de produção capitalista está a viver. É aqui, pelo menos na
fase imperialista do capitalismo, que se manifesta profundamente a contradição
entre o capital-mercadoria [os meios de produção e de troca] e o
trabalho-mercadoria [a força de trabalho viva], que perde progressivamente o
seu valor de troca e mesmo a sua utilidade material, ou seja, o seu valor de
uso.
44. A produtividade do trabalho afecta o seu valor
No entanto, os
robots, as máquinas, os computadores, os chips, o software, as tecnologias que
substituem o trabalho vivo pelo trabalho morto são meios de produção produzidos
pelo trabalho assalariado vivo. E contêm uma grande quantidade de valor de
mercado [são caros]. Estas máquinas, estas tecnologias são capital constante (Cc)
que torna inútil uma parte do trabalho vivo (Cv), substituindo-o por trabalho
morto [Cc], o que leva a um aumento da produtividade do trabalho vivo, a uma
diminuição do seu valor de mercado total e a uma deterioração da composição
orgânica do capital Cv/Cc, e portanto a uma diminuição da taxa média de
mais-valia e de lucro.
45. O capital serra o ramo em que está empoleirado
Temos de
compreender o drama shakespeariano que se desenrola perante o capital. O
trabalho vivo, a própria fonte de todo o valor de mercado - de todo o valor de
troca -, o próprio fundamento do modo de produção capitalista, a única
mercadoria com capacidade de transmitir valor às outras mercadorias da cadeia
de produção, está a ver o seu valor e o seu uso diminuir. Segue-se o desemprego
em massa. A fonte de todo o valor [de toda a riqueza] diminui e, por
conseguinte, deixa de poder transmitir “mais-valia”, “mais-valia” não
remunerada. Com o desemprego, o consumo diminui e a economia sobreaquecida é
declarada em sobreprodução, enquanto segmentos da população têm cada vez menos
poder de compra para sobreviver. O capital está a serrar o ramo do lucro no
qual se encontra empoleirado.
46.
A contradição entre o trabalho e o capital aprofunda-se
No modo de produção capitalista na sua fase imperialista, não é o valor de uso que determina o valor de troca, mas vice-versa. É o valor de troca do mercado que atribui valor de uso a qualquer mercadoria (a condição é que a sua produção conduza à realização de mais-valia e de lucro). O papel da publicidade é então o de tornar desejável esta mercadoria inútil. Caso contrário, a contradição entre o trabalho e o capital aprofunda-se ainda mais, pois o capital reduz a sua produção e, consequentemente, o seu consumo de trabalho assalariado, do qual depende totalmente para a sua valorização, reprodução e acumulação. O capital vê-se assim obrigado a intensificar a extracção de mais-valia relativa e absoluta de cada hora de trabalho vivo consumido. Este processo de intensificação da extracção - confiscação - da mais-valia leva o capitalismo ao ponto de reduzir o tempo de trabalho necessário (trabalho necessário para assegurar a reprodução da força de trabalho) abaixo do mínimo social necessário para a reprodução física “alargada” do proletariado (o proletário e a sua família).
Isto revela o
“mistério” da pobreza numa sociedade industrial de abundância avançada. Assim,
pelo próprio processo da sua alienação, a força de trabalho está ameaçada de
extinção. A realização desta contradição fundamental entre capital e trabalho
conduz o sistema económico capitalista à sua auto-destruição. A força de
trabalho viva - o proletariado mundial - não tem então outra alternativa senão
revoltar-se e resolver esta contradição para poder sobreviver. Ao fazê-lo, a
classe proletária destrói as condições da sua existência enquanto classe
social.
47. A financeirização do processo de desvalorização do capital
Na ausência de valor de uso para transformar em valor de mercado e realizar em títulos financeiros (dinheiro, acções, obrigações, títulos de dívida, derivados bolsistas), e de valor para perpetuar o ciclo económico de acumulação, o sistema bancário e financeiro mundializado começou a emitir “dinheiro falso”. Por outras palavras, “crédito, criando depósitos para gerar novo crédito”. Em suma, uma devastação de ajustamentos e perturbações financeiras, monetárias e bolsistas (taxas directoras flutuantes, quantitative easing, etc.).
Vejamos algumas das estatísticas (quadro 1) que marcam a descida aos infernos de um banco que foi sacrificado em 2008 durante a crise do subprime, para dar uma lição a outros bancos que, de qualquer modo, não poderão evitar o destino do banco sacrificado. É o modo de produção que já não pode cumprir a sua missão de reprodução alargada da força de trabalho viva e, por conseguinte, de valorização do capital e de acumulação. Estas duas componentes fundamentais do modo de produção capitalista são inseparáveis. E a extinção de um leva ao desaparecimento do outro.
A partir do momento em que o capital já não pode assegurar a reprodução alargada da força de trabalho que lhe dá vida através da confiscação da mais-valia, o PPM está comprometido numa aporia que o faz perder a confiança da classe proletária. São os capitalistas que empurrarão o proletariado para a insurreição, e não a agitação dos militantes populistas.
O quadro 1 mostra
que, se em 2008, aquando do colapso do Lehman
Brothers, a situação financeira mundial era catastrófica, quatro anos mais
tarde (2012), ela tinha-se agravado do ponto de vista financeiro. As finanças
são simplesmente o reflexo bancário e monetário da saúde económica mundial de
um sistema social. Não poderia ser de outra forma, dada a lei da depreciação do
valor de mercado da força de trabalho, que gera mais-valia e lucro (12).
Quadro 1
|
2008 |
2012 |
Volume dos produtos derivados negociados ao balcão em milhares de
milhões de dólares americanos |
516 000 milhares de milhões de dólares |
708 000 milhares de milhões de dólares |
Endividamento dos países da OCDE (países ricos) |
75% |
105% |
Défice dos países da OCDE em% do seu PIB |
3,5% |
5,5% |
Alavancagem do crédito |
31 para o Lehman Brothers |
De 13 à 85 |
Balanços dos bancos centrais da Fed e do BCE (dívidas incobráveis
trocadas por dinheiro zero) |
900 milhares de milhões de dólares |
3 000 milhares de milhões |
0,5% |
-0,1% |
|
2,7% |
3,2% |
|
5,9% |
8% |
|
Reservas mundiais de divisas |
4 000 mil milhões de dólares |
11200 milhares de milhões de dólares |
Reservas de divisas da China |
1900 milhares de
milhões de dólares $ |
3500 milhares de milhões de dólares |
48.
“Vamos fazer mais daquilo que não
funciona”.
É assim que os oportunistas, os reformistas, os esquerdistas e os direitistas, os bilionários do mundo “unipolar” e os plutocratas do mundo “multipolar” e dos BRICS, trabalhando desesperadamente para salvar o modo de produção capitalista reformado, esperam ingenuamente salvar o “soldado capitalista” e prolongar a sua agonia. Propõem a criação de uma série de organismos internacionais paralelos e em concorrência com os actuais, dominados pelo hegemon americano. Assim, está escrito que :
“O
novo banco de desenvolvimento dos BRICS
não é uma alternativa ao FMI e ao Banco Mundial (BM), mas um complemento,
porque responde a desafios que foram ignorados pelas instituições financeiras
internacionais. O FMI não tem feito outra coisa senão trabalhar no interesse
dos especuladores. E as enormes quantidades de dólares, euros, libras e ienes
que saem das bolsas de divisas estão agora a chegar em vagas aos países BRICS,
desestabilizando as suas economias. É, portanto, necessário que os BRICS
desenvolvam as suas próprias instituições financeiras, para financiar projectos
de desenvolvimento a longo prazo. Parte deste novo sistema é o Sistema de
Reserva de Divisas, que integra essencialmente as lições da crise asiática de
1997, quando as moedas dos países asiáticos caíram, devido à especulação, 80%
numa semana. Responde igualmente aos ataques ferozes recentemente lançados
pelos fundos especulativos contra os países da América Latina”. Este sistema
paralelo pode tornar-se muito rapidamente a tábua de salvação após o colapso
do sistema financeiro transatlântico: porque pode ocorrer um crash a qualquer
momento, maior do que o de 2008, que se seguiu ao colapso do Lehman Brothers. Todo o sistema bancário europeu e,
provavelmente, americano entraria em colapso; um tal crash poderia também ser
desencadeado pelo colapso da Ucrânia; ou por uma simples explosão da bolha dos
derivados, que actualmente ascende a 2 milhões de milhões de dólares, uma soma
que nunca poderá ser reembolsada” (13).
49. A cavalgada da finança mundial
Em virtude das leis, regras e princípios da economia política capitalista, na fase imperialista, ou seja, na fase de uma economia política mundializada, inter-relacionada e integrada a nível mundial, uma metade dos continentes não pode desmoronar sob o peso das contradições económicas enquanto a outra metade continua a prosperar pacificamente. Os mercados entrelaçados, os fundos de pensões e de investimento, os bancos, as companhias de seguros, as instituições internacionais e as empresas multinacionais dos países BRICS serão inevitavelmente arrastados juntamente com os da Aliança Atlântica imperialista, porque são regidos pelas mesmas leis da economia política.
Apesar das
inúmeras reuniões de cúpula entre os gestores do esquema financeiro Ponzi para
conter a crise, o destino da economia capitalista estará selado (14). Há muito
tempo que previmos a desvalorização drástica do dólar e das suas moedas
vassalas, que furtaria aos capitalistas credores e aos capitalistas devedores,
bem como aos milhões de pequenos aforradores da “classe média” (sic). Esta perspectiva cataclísmica está agora a
aproximar-se. Os imensos trusts mundiais não deixarão de atacar os interesses
dos pequenos empresários nacionais, dos pequenos capitalistas, da indústria
agro-alimentar e da burguesia de serviços. Estas últimas não ficarão inertes.
Tentarão resistir. Mas a verdade é que o seu destino económico já foi selado
pelo capital coveiro: vão perecer. A partir daí, poderão juntar-se à
insurreição proletária, desde que o proletariado saiba mantê-los sob controlo,
porque é preciso ter sempre cuidado com os cães de guarda do sistema, os
convertidos da última hora, susceptíveis de se tornarem o cavalo de Troia do
Capital nas fileiras da revolução.
50. Guerra imperialista e revolta popular
Para o Capital, uma terceira guerra mundial
imperialista acabará por ser a solução definitiva para os seus recorrentes
problemas económicos e financeiros. A destruição das forças produtivas, dos meios
de produção e dos bens excedentários tornar-se-á a única solução que a mecânica
do sistema imperialista competitivo imporá aos diferentes actores da economia e
às economias nacionais. Quanto aos esquerdistas e aos direitistas, dar-se-ão
conta de que a classe proletária não tem qualquer interesse nas suas querelas
sectárias e dogmáticas. Longe de controvérsias estéreis, o proletariado deve
trabalhar para se dotar de uma direção de classe unitária, com uma compreensão
comum da mecânica económica.
O determinismo ideológico
de Kautsky a Mao Tsé Tung
Significa isto « quanto mais tempo o imperialismo dispuser de uma reserva de
acumulação nos países mais retardatários ou onde uma grande parte da
população viva ainda de uma agricultura de subsistência à margem da grande
indústria, o modo de produção capitalista [no seu estadio imperialista moderno] disporá
de uma reserva de crescente potencial para
a extensão das suas forças produtivas, dos seus meios de produção, para a
acumulação da Fonte : L’impérialisme stade suprême du mode
de production capitaliste (MPC) – les 7 du quebec |
51. Quatro modos de produção sucessivos
Desde o início da humanidade, o mundo conheceu quatro
modos de produção. O modo de produção primitivo sem classes (caçadores-colectores),
o modo de produção esclavagista (escravos e homens livres), o modo de produção
feudal (servos e senhores) e o modo de produção capitalista (proletários e burgueses).
Um dia, o mundo conhecerá um novo modo de produção sem classes, o comunismo.
Para já, vejamos a evolução do modo de produção capitalista (MPC).
52. Diferentes modos de produção geram diferentes imperialismos
No decurso da história, seguindo as vicissitudes
da luta de classes, impulsionada pelas contradições inerentes a cada modo de
produção, a evolução económica e social conduziu cada sistema de produção, cada
civilização, desde a sua fase de emergência revolucionária até à sua fase final
de colapso, passando por fases de crescimento e depois de degeneração. A
História conheceu uma variedade de imperialismos, de que são exemplos
relevantes o Império do Meio (China), o Império Romano, o Império Bizantino, o
Império Espanhol, o Império Árabe, o Império Inca, o Império Maia, o Império do
Congo, o Império Austro-Húngaro, o Império Russo, o Império Otomano, o Segundo
Império Francês, o Império Britânico, o Terceiro Reich Alemão, o Império
Americano e o Império Soviético.
Apesar de semelhantes em muitos aspectos
(militarização e armamento, hegemonia sobre o comércio externo, guerra de
expansão, pilhagem dos recursos internos e externos, exploração da força de
trabalho das classes laboriosas, etc.), estes impérios diferenciam-se pelas
caraterísticas do seu modo de produção (tecnologias, meios de produção, meios
de transporte, meios de troca e de comunicação); pelas relações sociais de
produção e, consequentemente, pela cultura (religião, língua, costumes, laços
sociais, educação, etc.) específica de cada civilização. Em suma, em função das
caraterísticas da infraestrutura e da superestrutura social.
53. O capitalismo no seu estadio imperialista
O imperialismo capitalista moderno caracteriza-se por uma série de princípios económicos. Em primeiro lugar e acima de tudo, o imperialismo moderno significa a monopolização da propriedade dos meios de produção, de troca e de comunicação. A monopolização não significa a redução da concorrência, mas antes o seu exacerbamento. Sob o imperialismo capitalista, as guerras comerciais entre os grandes trusts e cartéis multinacionais são contínuas.
O imperialismo capitalista moderno também significa a concentração de riqueza - bens sociais - recursos e “Capital” nas mãos de alguns milhares de grandes capitalistas financeiros mundiais multi-bilionários.
É também a integração de todos os sectores industriais, comerciais e financeiros numa única economia política mundializada e interdependente. Esta caraterística torna muito difícil que outras potências imperiais concorrentes boicotem ou imponham sanções económicas contra uma potência - a Rússia, o Irão ou a China, por exemplo.
O imperialismo moderno é também a globalização dos meios de produção (em particular das forças produtivas humanas) que o capital desloca de um continente para outro como escravos assalariados ou refugiados económicos. O imperialismo capitalista gera a mundialização da economia e das relações sociais de produção. Isto leva à transferência de tecnologias de um mercado para outro e à deslocalização de unidades de produção em busca dos salários mais baixos.
Por último, o imperialismo capitalista
moderno significa a financeirização
do comércio e a terciarização dos
empregos, alguns dos quais são precários e parasitários (ou seja, não produzem
mais-valia), conduzindo à insegurança no emprego e ao empobrecimento das
classes trabalhadoras.
Lenine e as suas teses
económicas sobre o imperialismo
(e não cinco
caraterísticas de um país imperialista) |
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54. Reorganização da cadeia de produção, da divisão internacional do trabalho e da distribuição do capital
No seu desenvolvimento histórico espontâneo, o imperialismo capitalista provocou uma remodelação constante da divisão internacional do trabalho, uma redistribuição da cadeia de produção e da distribuição mundial do capital. Isto levou Marx a dizer: “Enquanto o imperialismo tiver uma reserva de acumulação nos países economicamente mais atrasados, onde uma grande parte da população ainda vive da agricultura de subsistência à margem da grande indústria, o modo de produção capitalista [na sua fase imperialista moderna] terá uma reserva de crescimento potencial para a extensão das suas forças produtivas, dos seus meios de produção, para a acumulação de mais-valia e de lucros a reinvestir na sua reprodução alargada”. Poder-se-á deduzir destas reflexões formuladas por Marx em 1859 que “a classe capitalista monopolista mundial poderá continuar a utilizar uma parte dos lucros pilhados nos países dominados do Terceiro Mundo para corromper a aristocracia operária e a pequena burguesia dos países imperialistas ocidentais em declínio?» (15).
Consideramos que
a compra e venda da mercadoria “força de trabalho” não está sujeita a critérios
morais, mas sim a critérios sociais e económicos, como o seu custo de produção
e o seu nível de produtividade. (16).
Références
complémentaires Os leitores poderão consultar a obra de Lenine “O imperialismo, fase
suprema do capitalismo”. L’Impérialisme stade suprême du
capitalisme (Lénine) – les 7 du quebec, https://les7duquebec.net/archives/289963 . Assim como o artigo L’impérialisme stade suprême du mode
de production capitaliste (MPC) – les 7 du quebec , https://les7duquebec.net/archives/286047 , e “Les classes sociales sous l'impérialisme” de Vincent Gouysse. LES CLASSES
SOCIALES SOUS L’IMPÉRIALISME (Vincent Gouysse) – les 7 du quebec et https://les7duquebec.net/archives/289990 . |
55. Aumento da produtividade e benefícios sociais
De facto, apesar da abundante oferta de trabalhadores no Terceiro Mundo, o capital já não é capaz de manter os seus lucros e assegurar a sua valorização. Por outras palavras, assegurar a reprodução alargada do sistema mundializado de exploração. Por isso, a austeridade está na ordem do dia nos antigos países de prosperidade.
Não foi a chamada classe
operária “aristocrática” que partilhou uma parte dos lucros da exploração
colonial do Terceiro Mundo, mas a classe pequeno-burguesa parasitária, agora em processo de
pauperização e proletarização acelerada. A “classe média” está agora a ser
forçada a adoptar um estilo de vida espartano, reduzido à aquisição das
necessidades básicas, mal podendo assegurar a sua própria reprodução miserável.
Os poucos benefícios sociais temporários
que o capital mundial concede à classe operária ocidental provêm dos aumentos
de produtividade (aumento dos ritmos de trabalho e intensificação do
trabalho) impostos aos trabalhadores assalariados sobre-explorados.
56. Uma formação social não pode sobreviver depois de ter desenvolvido todas as suas capacidades produtivas
A corrente de pensamento económico inspirada nas teorias de Kautsky aplica mecanicamente os apoftegmas formulados por Marx, mas não confronta a sua interpretação com a realidade contemporânea. A crise económica do imperialismo é sistémica, apesar de existirem sempre recursos, meios de produção e forças produtivas que podem ser utilizados e explorados. Precisamos de reler o postulado de Marx de que um modo de produção - uma formação social - “nunca pode [ser definitivamente derrubado] antes de todas as forças produtivas que essa formação social é capaz de conter terem sido desenvolvidas”. A contrario, uma formação social não pode sobreviver depois de ter desenvolvido todas as suas forças produtivas.
Este postulado
diz respeito não tanto à disponibilidade de recursos naturais, de energia e de
assalariados para explorar, mas à capacidade deste modo de produção, ou seja,
da formação social burguesa capitalista, de assegurar o desenvolvimento social
geral através da valorização e da acumulação do capital e, em última análise,
de assegurar a reprodução da espécie humana. Observamos, com Lenine, que o modo
de produção capitalista na sua fase imperialista moderna desenvolveu todas as
forças produtivas, não potencialmente disponíveis, mas que é capaz de
valorizar... o seu papel histórico terminou.
57. A crise final
Em qualquer modo
de produção, a partir do momento em que as relações sociais de produção impedem
o desenvolvimento dos meios de produção, em particular das forças produtivas
vivas (força de trabalho), isso indica que esse modo de produção (essa
sociedade) está a entrar na sua fase de crise sistémica final. Por outras
palavras, este modo de produção está a completar a sua missão histórica.
Correlativamente, esta sociedade está a entrar num período de grande agitação
social e política, à medida que uma revolução económica e social fermenta no
seu seio. Um profeta deu um passo em frente e proferiu um oráculo anunciando “a
derrota do Ocidente”.
Estamos à beira de um ponto de viragem mundial Emmanuel Todd |
Será justo dizer que a Ordem
Mundial Ocidental unipolar - em crescimento ou em declínio, pouco importa
- e a Nova Ordem Mundial Oriental multipolar
são movidas por um instinto de poder, de domínio, de espoliação, de pilhagem
dos recursos, de acumulação de dinheiro e de destruição histérica da moral e
da natureza? É esta a hipótese que orienta o escritor Emmanuel Todd no seu último livro intitulado “A
derrota do Ocidente”. Como todos os intelectuais burgueses, o
analista académico Todd adopta uma abordagem idealista e moralista
(religiosa) da história mundial e da economia política internacional, que ele
descreve como “geopolítica activa”. Acreditamos que um ponto de vista dialéctico
e materialista histórico nos permite compreender melhor (explicar e
articular) os motivos - as forças - e as contradições - que conduzem o mundo
do Ocidente para o Oriente e do Norte para o Sul. A humanidade, no seu conjunto, é movida por uma única força, um único
desejo dominante, um único instinto hegemónico: reproduzir-se. Ao longo da história, para se reproduzir, a
espécie humana organizou-se em sociedade
(agrupamentos colaborativos), elas próprias estruturadas em classes sociais. A função destes
agrupamentos sociais - foi - é - e continuará a ser - permitir ao homem
explorar os recursos da natureza (o planeta) para assegurar a reprodução da sua espécie. Através deste processo económico (modo de produção), diferentes
sociedades humanas colaborativas entraram em contradição – em conflito -, este
é o processo histórico, social, político, militar e moral que Marx
classificou em cinco fases (colectivo primitivo, escravatura, feudalismo,
capitalismo, comunismo colectivo). A “vontade ou pulsão” de força, de
dominação, de poder de espoliação, de pilhagem e de destruição, de
construção, de conservação, de acumulação e de partilha, são tácticas
espontaneamente adoptadas para pôr em prática as contradições que fazem
avançar o instinto de reprodução da espécie. A história da humanidade é a história deste processo de reprodução
constantemente renovado. A “derrota do Ocidente” às mãos
do Oriente, como afirma Emmanuel Todd, deve ser lida, a nosso ver, como a
primeira ronda da derrota e do colapso da quarta etapa histórica da
humanidade, a do modo de produção capitalista mundializado. Será a derrota de
um eixo capitalista contra um eixo capitalista rival (Ocidental - Oriental). Antes disso, porém, o mundo
inteiro terá de passar por um período de guerra entre o Ocidente decadente e
o Oriente emergente, sob a bota do grande capital. (Ver
: entre
les États-Unis et la Chine, « une grande guerre approche », assure
un haut gradé de l’armée – les 7 du quebec
e https://les7duquebec.net/archives/288204 .) O caminho
histórico será então aberto para abrir caminho à classe proletária
revolucionária internacionalista, a única esperança da humanidade. Então,
pela primeira vez na história da raça humana, estarão reunidas as condições
objectivas e subjectivas para a Revolução Proletária. Source : «On est à la
veille d’un basculement du monde» (Emmanuel Todd sur vidéo – les 7 du quebec .
https://les7duquebec.net/archives/288861.) |
58. A classe por detrás das novas relações de produção
Toda a revolução social é um processo pelo qual a classe que cria as novas relações sociais de produção - que libertará os meios de produção e as forças produtivas - estabelece o seu domínio económico, político, diplomático, militar, social, ideológico e moral sobre toda a sociedade. A revolução proletária não escapará a esta dinâmica coerciva para afirmar e consolidar o seu domínio. No entanto, o protocolo para levar a cabo este novo tipo de revolução e os seus objectivos serão diferentes das revoluções sociais anteriores. As revoluções sociais anteriores (da escravatura ao feudalismo e ao capitalismo) situavam-se na encruzilhada de dois modos de produção marcados pela escassez, corolário do subdesenvolvimento das forças produtivas inerentes a estas formações sociais e económicas arcaicas. Além disso, a função destas revoluções (feudais e depois burguesas) era substituir o domínio de uma classe exploradora (a nobreza) pelo domínio de outra classe exploradora (a burguesia). A sua missão histórica limitava-se a resolver a contradição fundamental de um sistema, estabelecendo um novo modo de produção mais eficaz, baseado em duas novas classes antagónicas e interdependentes (burguesia e proletariado) e numa nova ordem social escravista.
Pelo contrário, o objectivo da revolução proletária será o de substituir
as relações de produção baseadas na escassez (relativa) e na exploração por
relações de produção baseadas na abundância e na livre disposição dos recursos
e dos bens. Desta forma, significará o fim de todas as formas de propriedade,
dos privilégios de exploração e alienação de classe.
59. Caraterísticas da revolução proletária
I)
Será uma revolução social à escala
internacional, que só poderá atingir os seus objectivos se ocorrer no momento
em que o velho modo de produção decadente tiver atingido o seu pleno
desenvolvimento económico; no momento em que já não lhe for possível valorizar
mais capital e forças produtivas que possam ser exploradas de forma rentável
(produção de mais-valia). Marx sublinhou que um modo de produção - uma formação
social - “nunca desaparece antes de se
terem desenvolvido todas as forças produtivas que é suficientemente grande para
conter”. Lenine retomou este aforismo quando escreveu: “O socialismo é impossível sem a técnica da
grande indústria capitalista, uma técnica organizada de acordo com a última
palavra da ciência moderna; é impossível sem uma organização metódica regulada
pelo Estado e que impõe a dezenas de milhões de homens a estrita observância de
uma única norma na produção e distribuição dos produtos. (...) “.
Com efeito, ele admitia que era impossível passar directamente do modo
de produção feudal-camponês para o modo de produção comunista-proletário sem
passar pelo modo de produção burguês-capitalista.
II)
Os bolcheviques
chamaram a este último modo de civilização o “modo de produção socialista em transição para o comunismo”, uma
denominação de origem controlada destinada a ser exportada para todo o mundo,
em particular para os países subdesenvolvidos do Terceiro Mundo. O modo de
produção de transição entre o feudalismo e o comunismo é designado por modo de
produção capitalista burguês na sua forma liberal de direita ou fascista, ou na
sua forma social-democrata de esquerda ou socialista totalitária.
III)
A revolução
proletária só pode ter lugar quando o modo de produção capitalista tiver
atingido a sua fase imperialista decadente, ou seja, a fase em que já não pode
valorizar, reproduzir ou acumular mais capital. O capitalismo atingiu agora
esse limite sistémico. Não era esse o caso em 1917 ou em 1949. O debate sobre o
trabalho produtor de mais-valia e o trabalho improdutivo tem por objectivo
determinar “os limites da produção capitalista”, o momento da fase final do
sistema, o início do seu colapso. Por outras palavras, o momento em que a massa
de capital já não é capaz de se valorizar criando uma expansão produtiva de
mais-valia. Por outras palavras, o momento em que o capital fixo (Cc) congela e
se desvaloriza, em que já não há liquidez financeira (crédito) e capital
variável comprometido (Cv) suficientes para impulsionar o capital total para um
novo ciclo de produção-valorização-acumulação.
IV)
Será a primeira
revolução social que só poderá atingir os seus objectivos generalizando-se, a
mais ou menos longo prazo, a todas as populações. Porque, ao abolir a
propriedade, a revolução proletária terá de abolir todas as legislações,
fronteiras, quadros jurídicos e administrativos sectoriais, regionais,
nacionais e internacionais que estruturam e impõem o poder do capital à escala
nacional e internacional.
V)
Esta será a
primeira revolução social mundial em que a classe revolucionária será a antiga
classe explorada do modo de produção anterior. Outra singularidade: a classe
proletária revolucionária não poderá contar com a sua riqueza acumulada nem com
qualquer poder económico para a conquista do poder político, económico e
ideológico.
VI)
Outra particularidade é que a classe
proletária não terá interesses económicos específicos a defender, a não ser os
interesses da humanidade no seu conjunto. Esta será a primeira revolução social
da história em que a tomada do poder político precederá a tomada da economia
colectiva, daí a sua designação provisória de economia proletária comunista,
estando a classe proletária destinada a desaparecer como a dos capitalistas.
VII)
Pela primeira vez
na história, a classe dominante revolucionária será a classe explorada e
alienada. Como o marxismo sempre afirmou contra as teorias socialistas utópicas
e reformistas pequeno-burguesas, o desenvolvimento da luta revolucionária é
condicionado pelo aprofundamento e generalização da luta de classes do
proletariado internacional em cada uma das instâncias da luta de classes
(económica, política, ideológica).
Marx, capitalismo,
desenvolvimento desigual e o comunismo Por Adam Buick |
Marx também se preocupava com outro problema que mais tarde foi resolvido
graças ao progresso tecnológico do capitalismo: a transição para o comunismo.
Marx viveu numa época em que o capitalismo ainda não tinha lançado
completamente as bases que teriam permitido a realização imediata do
comunismo. Quando esta objeção foi levantada, ele respondeu que, se a classe
operária tivesse tomado o poder nessa altura (o que, como podemos ver agora,
era altamente improvável, dada a imaturidade política da classe operária na
época e o facto de muitas pessoas ainda estarem empregadas na pequena indústria),
teria sido necessário um período de transição relativamente longo, que teria
permitido primeiro centralizar a administração dos meios de produção, que
ainda não estavam totalmente industrializados. Uma vez feito isso, os meios
de produção deveriam ter-se desenvolvido rapidamente para que todas as
necessidades humanas pudessem ser satisfeitas em breve. Mas, entretanto, ainda segundo Marx, o consumo teria de ser limitado,
mesmo numa sociedade baseada na propriedade comum e na gestão democrática dos
meios de produção: o livre acesso em função das necessidades individuais não
poderia ser implementado enquanto os meios de produção não estivessem mais
desenvolvidos. Marx não menciona o tempo necessário, mas, a julgar pelo
progresso tecnológico que se seguiu, terá demorado cerca de trinta anos.
(sic) Este ponto de vista era compreensível na altura, mas não hoje. Actualmente,
os “períodos de transição”, as “ditaduras revolucionárias” e as “ordens de
serviço” não têm razão de ser e representam conceitos do século XIX. O livre
acesso de todos aos bens e serviços, de acordo com as necessidades
individuais, poderia ser plenamente introduzido quase imediatamente após a
realização do comunismo - e o comunismo poderia ser realizado assim que a
classe operária o desejasse e tomasse as medidas políticas necessárias. No entanto, é questionável se a falta de desenvolvimento industrial e
social em algumas partes do mundo poderia atrasar a realização do comunismo. Este problema é conhecido como o problema dos países “atrasados”, mas é
mais exactamente o problema do desenvolvimento desigual. A resposta simples é
não. Não é necessário que todo o mundo se industrialize ou que toda a
população do mundo se transforme em assalariados não-proprietários para que o
comunismo possa ser alcançado. A base material do comunismo é a organização mundial estabelecida pelo
capitalismo. A massa de riqueza produzida no mundo actual é produzida pelo
trabalho cooperativo de milhões de pessoas empregadas para gerir esta
organização. O capitalismo deu origem à classe operária, cujo interesse
económico é a realização do comunismo. É por isso que a força do movimento
comunista virá dos assalariados nas partes do mundo onde o capitalismo está
avançado. De facto, o desenvolvimento industrial não está de modo algum
uniformemente distribuído por todo o mundo. Na Europa, na América do Norte,
na Austrália, no Japão, na Rússia e na China, a grande maioria da população
vive e trabalha em condições capitalistas de produção com fins lucrativos e
de trabalho assalariado, enquanto nalgumas partes do mundo a indústria
capitalista não é mais do que um oásis no meio de um deserto de agricultura
atrasada. Entre estes dois pólos encontram-se países em diferentes estádios
de desenvolvimento industrial. Actualmente, nem todos os seres humanos são
assalariados não-proprietários, sendo a maior parte dos outros camponeses
ainda explorados por latifundiários e usurários. Dizer que uma grande parte das pessoas não está sujeita às condições de
vida capitalistas não significa que as suas vidas não sejam afectadas por
este sistema. As flutuações de preços no mercado mundial têm uma influência
directa no seu nível de vida, e não podem escapar às consequências das
guerras entre potências capitalistas. Tendo em conta este facto e o facto de
a maior parte da riqueza mundial ser produzida nos países capitalistas,
podemos dizer que o capitalismo é o sistema social predominante no mundo de
hoje. Não há necessidade de esperar que a produção capitalista exista em todo o
lado para que o comunismo possa ser alcançado. O comunismo é possível agora e
tem-no sido desde há muitos anos, desde que existe a sua base industrial.
Logo que os proletários do mundo o queiram, poderão estabelecer a propriedade
comum dos meios de produção e de distribuição e realizar uma produção
orientada exclusivamente para a satisfação das necessidades humanas. O capitalismo à escala mundial está há muito ultrapassado, pelo que a sua
introdução nos países industrialmente subdesenvolvidos deixou de ser uma
etapa necessária do progresso económico. O comunismo, que implica a
emancipação de toda a humanidade, pode resolver os problemas dos habitantes
desses países, bem como os dos operários dos países capitalistas há muito
estabelecidos. Uma vez alcançado o comunismo, não haverá razão para que esses
países se desenvolvam em condições radicalmente diferentes das impostas pelo
capitalismo. Sejam quais forem os resultados a longo prazo, o impacto imediato do
capitalismo nas sociedades pré-industriais foi desastroso em todo o lado. Começou
com o tráfico de escravos nos primeiros tempos do capitalismo e, actualmente,
esta parte do mundo está à beira da fome. O capitalismo desmembrou essas
sociedades para obrigar os trabalhadores a trabalhar nas plantações, nas
minas e nas fábricas que criou. Tudo
isto causou um terrível sofrimento humano. As pessoas já não precisam de sofrer mais em nome de um futuro melhor.
Graças à propriedade comum e à orientação da produção para a satisfação
exclusiva das necessidades humanas, o desenvolvimento industrial pôde
realizar-se sem os inconvenientes que sempre o acompanharam no regime
capitalista. Graças aos conhecimentos já adquiridos por médicos,
nutricionistas, sociólogos e outros, a transição para as técnicas de produção
industrial poderia, num mundo comunista, ser efectuada sem aumentar a miséria
humana. As pessoas em causa não seriam vítimas forçadas a tornarem-se
assalariadas, mas seriam ajudadas por pessoas de outras partes do mundo a
tornarem-se membros de pleno direito da comunidade comunista, capazes de
usufruir de educação e de abundância, capazes de dar o seu próprio contributo
para a sociedade. Se certos grupos ou indivíduos não quisessem mudar o seu
modo de vida, ninguém os obrigaria a fazê-lo, mas é provável que esses casos
fossem muito raros, uma vez que o capitalismo já desintegrou a maior parte
das sociedades pré-industriais e fez com que as pessoas desejassem uma vida
mais satisfatória. O desenvolvimento das regiões mais atrasadas do mundo será um dos
problemas da sociedade futura, mas, tal como noutros casos, o comunismo
proporcionará um quadro em que este problema poderá ser resolvido de forma
racional e humana. Uma vez que o capitalismo já não tem nada de positivo a
contribuir para o desenvolvimento dos meios de produção, de distribuição
(troca) e de comunicação, os chamados movimentos de “libertação nacional” e
“anti-imperialistas”, que visam conquistar o poder político nos países
subdesenvolvidos, não devem ser apoiados na modernização e industrialização
(“capitalização”) das regiões que governam. Muitos destes movimentos, e os regimes que instalaram, inspiraram-se no
modelo bolchevique. Os bolcheviques
eram uma minoria resoluta que tomou o poder na Rússia em 1917 e, através de
políticas ditatoriais, construiu uma economia capitalista moderna,
estabelecendo-se como a nova classe privilegiada e exploradora. Do ponto de
vista dos governados, a subida ao poder de uma tal classe não representa mais
do que uma mudança de senhores, com a perspectiva de passar do estado de
camponeses explorados para o de assalariados explorados. Também neste caso,
isto não tem nada a ver com o comunismo e não é de todo necessário, uma vez
que o comunismo à escala mundial é agora possível. Fonte : Adam Buick,
20.12.2001, em https://les7duquebec.net/archives/289999 |
60. Insurreição popular e revolução proletária
No decurso deste
movimento, que vai desde as insurreições populares espontâneas em muitos países
e regiões ao mesmo tempo, passando pela insurreição mundializada, pela
revolução proletária internacional e, finalmente, pela consolidação da ditadura
de classe do proletariado (e não a ditadura de um aparelho partidário
burocrático) para a construção do modo de produção comunista, a classe
proletária impor-se-á gradualmente como a força motriz e o principal líder da
transformação social. Durante este processo revolucionário, em que todos os
estratos da sociedade (pequenos burgueses, camponeses, lumpens, cidadãos
comunais e comunalistas) serão mobilizados com as suas queixas particulares e
as suas ideologias singulares, o proletariado terá de permanecer vigilante para
não se deixar contaminar pelas suas exigências sectoriais, oportunistas e
reformistas e, acima de tudo, para não se desviar da sua missão histórica.
61. A necessidade da liderança proletária
Lenine escreveu alguns textos importantes
sobre a necessidade absoluta de nunca amarrar a Revolução Socialista ao arado
do campesinato russo ou da pequena burguesia menchevique.
“Numa perspectiva revolucionária, o proletariado no seu conjunto continua a ser a única força social capaz, através do seu papel central nas relações de produção, de unificar as reivindicações sectoriais ou categoriais de outras camadas sociais, de impedir que degenerem em revoltas corporativas, de as orientar no sentido da luta pelo poder e da tomada em mãos da produção pelos próprios produtores [...]. As explosões operárias existem, são recorrentes, e há mais de um século que o capitalismo não consegue evitá-las. É um facto teimoso, cujo retorno está inscrito na própria estrutura das relações de produção capitalistas. Deste ponto de vista, a questão não é desesperar porque a classe operária não é revolucionária no quotidiano, mas descobrir em que circunstâncias excepcionais ela pode tornar-se revolucionária, como se preparar para isso e como contribuir para isso”. (17)
No entanto, Lenine e o Partido Bolchevique
não puderam evitar que a burguesia impusesse a sua ditadura à Revolução Russa,
dado o estado embrionário do desenvolvimento económico capitalista e, portanto,
do proletariado russo no início do século XX.
62. A vertente económica da luta é dominante
Em todos os
momentos, a instância económica da luta de classes domina. Por outro lado, no
contexto de um levantamento insurreccional proletário, é a instância política
que se torna decisiva. Não se torna assim de forma mecânica ou espontânea. É o
nível de consciência revolucionária da classe proletária “em si” e “para si”,
combinado com a existência de organizações revolucionárias - possivelmente
agrupadas em partidos políticos de classe nacionais e internacionais - que
determina esta evolução da insurreição desorganizada através da resistência
económica espontânea para a luta revolucionária de classe consciente que visa a
conquista do poder político e militar primeiro, depois económico e finalmente
ideológico, a fim de libertar a raça humana da escravidão de classe.
63. Uma civilização produz as condições para a sua destruição
É com um contra-exemplo, retirado da obra de um intelectual de esquerda, que prosseguimos este estudo das condições necessárias a uma insurreição popular espontânea, conducente à revolução proletária, à construção do modo de produção comunista através de uma longa fase de transição.
Nicos Poulantzas escreve: “O modo de produção ‘puro’, tal como Marx o construiu com base na formação social inglesa do século XIX, não existe na realidade. É um objecto formal abstracto, um arquétipo com o qual nenhuma formação social concreta coincide”. No seu livro Pouvoir politique et classes sociales, Nicos Poulantzas vê uma formação social como a sobreposição específica de vários modos de produção “puros”. Nicos Poulantzas acrescenta: “A formação social é, ela própria, uma unidade complexa, dominada por um determinado modo de produção sobre os outros que a compõem”. “A crise revolucionária que estamos a estudar não é, portanto, a crise de um modo de produção, porque entre modos de produção há transformação e não crise (sic). A única crise de que podemos falar é a de uma formação social específica, onde as contradições do modo de produção ganham vida e se actualizam através das forças sociais reais envolvidas”. O autor conclui: “A história, no seu conjunto, é feita de acções de personalidades que são forças actuantes.” (18)
Quando uma formação
social - produto de um modo de produção dominante - constitui, como escreve o
autor, “a sobreposição específica de vários modos de produção - uma unidade
dominante complexa (...)”, é porque esse modo de produção, nessa formação
social específica, ainda não atingiu o seu estádio supremo de evolução -
imperialista e decadente - a ponto de não emergir desse pântano pútrido
económico, social, político e ideológico outra solução que não seja a solução
da auto-destruição, isto é, a guerra total. Por outras palavras, as condições
essenciais da “crise revolucionária” ainda não estão reunidas nesta formação
social específica.
64. A classe social dominante e os seus arautos
No que diz respeito ao papel
das “personalidades revolucionárias,
forças sociais activas (...)” que Poulantzas menciona, pensamos que as
personalidades são forjadas e colocadas na vanguarda do movimento social e
político na medida em que correspondem às necessidades das tarefas históricas
da época. Não são os partidos políticos ou os líderes carismáticos e populistas
que forjam a história das classes sociais. São as classes sociais forjadas pelo
sistema (civilização) que seleccionam e moldam os seus líderes de acordo com as
necessidades e contingências do movimento histórico. Assim, Lenine, o pequeno
burguês, e Estaline, o apparatchik, conduziram o Partido Bolchevique e a
formação social russa na transformação desta sociedade feudal numa sociedade
capitalista monopolista de Estado. Neste facto, mereceram o crédito da
história, pois este passo era necessário para o desenvolvimento da revolução
proletária internacional.
As potências imperiais actuais
partilham o mundo, os seus recursos, as suas riquezas, os seus meios de
produção, de troca e de comunicação. Nesta guerra concorrencial pela acumulação
de capital, as potências imperiais conspiram umas contra as outras, sozinhas ou
em associações criminosas sob a hegemonia de uma ou outra superpotência.
Os chamados “senhores do mundo” político são governados por mega-corporações
industriais e financeiras como a GAFAM,
a Big Pharma, a Black Rock (a terceira maior economia do mundo) e outros trusts
industriais energéticos, financeiros e militares (19).
65. Imperialismo - a
fase final do capitalismo
A
amálgama mundializada de todas estas forças económicas, políticas, jurídicas,
sociais e militares constitui aquilo a que chamamos imperialismo. Quando um país, grande ou pequeno, vive sob um modo
de produção capitalista que atingiu a sua fase imperialista de desenvolvimento
económico, diz-se que atingiu a fase imperialista da sua evolução. O adjectivo
“imperialista” não se aplica à entidade governamental - o Estado - mas ao modo
de produção em que essa entidade política está imersa. Assim, o Butão, com o
seu ridículo Índice de Felicidade Bruta (FIB), sob a feroz ditadura de
lamaserias reaccionárias, é uma entidade capitalista que, como todos os outros
países do planeta, atingiu o seu nível de desenvolvimento imperialista sob a
ditadura do capitalismo indiano, que lhe atribui a sua função na “comunidade
internacional do trabalho”. O mesmo se aplica à
Suíça e ao Gabão.
66. As marionetas
políticas marcam o passo
Não acreditamos que líderes como Vladimir Putin, Joe Biden, Xi Jinping ou Emmanuel Macron possam transformar o
mundo e orientar o seu curso a partir do Olimpo imperial de Moscovo,
Washington, Pequim ou Paris.
Na verdade, o modo de produção capitalista é
regido por leis inexoráveis, cujas forças motrizes são as classes sociais antagónicas agrupadas em pequenos ou grandes
Estados burgueses. Não são os dirigentes que forjam as classes sociais dos seus
países; são as classes sociais que levam este ou aquele dirigente ao poder
político nacional ou internacional, atribuindo-lhe a missão de fazer funcionar
este complexo aparelho com o objetivo de reproduzir o capital e, em última
análise, a espécie humana.
Sob o modo de produção capitalista que hoje
domina totalmente o planeta, a bitola para avaliar o sucesso ou o fracasso de
um dirigente é a sua capacidade de assegurar as condições de acumulação do
capital. Terá Vladimir Putin aumentado as oportunidades de lucro e de
acumulação de capital para a classe capitalista russa? Esta é a questão que
preocupa a burguesia russa. Emmanuel Macron reduziu as oportunidades de lucro e
de acumulação para a plutocracia francesa, e pagará o preço na próxima campanha
eleitoral francesa.
Putin - em nome e sob a supervisão da classe
dos oligarcas russos - cumpriu a sua missão reorganizando o capital financeiro
e industrial russo à escala mundial quando os Estados Unidos e a União Europeia
sancionaram, atacaram e tentaram isolar o capital russo; quando as potências
capitalistas ocidentais expropriaram o capital russo investido no Ocidente (300
mil milhões de dólares) e forçaram o capital russo a retirar-se para novos
mercados, a encontrar novos clientes e a unir forças com novos aliados naquilo
a que os ideólogos burgueses chamam a “guerra dos mundialistas unipolares contra os
nacionalistas patrióticos multipolares” (sic). Um mantra repetido tanto
por esquerdistas como por direitistas.
Unipolar e multipolar não passam de fórmulas
vazias destinadas a mascarar a hegemonia da principal potência. Os BRICS+, a CEI, a Organização de
Cooperação de Xangai - OCX - são alianças imperiais do Oriente (Pacífico)
que se preparam para enfrentar as alianças imperiais do Ocidente (Atlântico)
como a NATO, a União Europeia, o QUAD,
o AUKUS, na conquista da hegemonia
mundial global (20).
O desenvolvimento “natural” do modo de
produção capitalista empurra-o inexoravelmente para o imperialismo “unipolar e concentracionista” e para a guerra de
repartição das zonas de influência e dos mercados, e não para um falso “nacionalismo
económico multipolar”.
67. A crise está inscrita nos genes do capital
O desenvolvimento
sistémico do modo de produção capitalista implica o desenvolvimento total da
sua contradição principal, nomeadamente a contradição entre o capital e o
trabalho, a contradição entre a classe burguesa e a classe proletária, a
contradição entre a propriedade dos meios de produção, de troca e de
comunicação e as forças produtivas socializadas. Esta contradição anima o
sistema capitalista e impulsiona o seu movimento para a frente até ao momento
em que o “Capital” já não reúne as condições da sua valorização (da sua
reprodução alargada), da sua acumulação... Daí decorre a impossibilidade de o “Capital”
se realizar - de se valorizar - como mais-valia e lucro. O resultado é uma
acumulação de capital fictício, não valorizado, não enriquecido com mais-valia,
em suma, capital morto não rentável, vector de putrefação da formação social,
da civilização burguesa, condenada por uma crise económica inelutável. Uma
crise que se está a transformar rapidamente numa crise social, política,
ideológica, cultural e moral.
68. Expedientes financeiros para relançar a economia
A incapacidade do
modo de produção capitalista para assegurar o funcionamento normativo do seu
ciclo reprodutivo obriga o “Capital” a recorrer a expedientes financeiros para
tentar reanimar o aparelho económico paralisado, nomeadamente através do
recurso imoderado ao crédito, da emissão de moedas sem valor, da imposição de
medidas, programas e políticas de austeridade, a fim de modificar a repartição
do capital entre a remuneração da força de trabalho (salários) e a remuneração
do capital (lucros).
69. O orçamento de Estado contribui para a valorização do capital
Vale a pena lembrar que o orçamento do Estado burguês é essencialmente uma contribuição para as condições de valorização do capital. Embora esta luta de resistência na frente económica da luta de classes acabe por ser perdida porque o capital e o seu Estado não podem distribuir o valor de mercado que já não geram em quantidade suficiente (ninguém está preso ao impossível), a resistência do proletariado francês contra o Estado e a sua reforma das pensões foi uma guerra de classes memorável. Apesar disso, esta resistência popular foi, e continuará a ser, indispensável, porque é através destes confrontos recorrentes que a classe operária adquire as capacidades militantes (militares) e a consciência revolucionária necessárias à insurreição popular.
Em suma, como era
de esperar, o tempo do chamado “Estado Providência dos Gloriosos Anos Trinta
(1945-1975)” terminou. A partir de agora, o tempo é de imposição de medidas
de austeridade e de desenvolvimento exponencial do Estado policial, em suma, o tempo é de degradação das condições de
vida e de trabalho dos trabalhadores proletários e de militarização da
sociedade burguesa, preparando a guerra imperialista generalizada.
70. A resistência popular necessária, mas insuficiente
Todos os dias, algures no mundo, assistimos à eclosão de movimentos de protesto de estudantes, assalariados empobrecidos, desempregados desvalorizados, pobres abandonados e beneficiários da assistência social, migrantes famintos, expatriados e refugiados políticos e económicos de guerras por procuração, agricultores empobrecidos, camponeses sem terra, trabalhadores enfraquecidos dos serviços públicos, ambientalistas utópicos, feministas amarguradas, pequenos burgueses frustrados, empobrecidos e proletarizados e empresários falidos. É claro que estes movimentos de massas de protesto e resistência são necessários, mas não são suficientes para abanar e derrubar o sistema capitalista. Uma coisa é certa: enquanto a classe proletária, enquanto classe activa e consciente, não tomar medidas para defender as suas condições de vida e de trabalho, estas agitações sectoriais não conduzirão a nenhuma vitória anticapitalista.
Os militantes
proletários estão interessados nas actividades revolucionárias da sua classe.
Não procuraram federar ou “unificar as
reivindicações sectoriais ou categóricas de outras camadas sociais, nem impedir
que degenerassem em revoltas corporativas (...)”. No entanto, todos estes
movimentos populares de protesto à escala local, nacional ou internacional (Occupy Wall Street, Indignados, Coletes Amarelos,
Revoltas Agrícolas, etc.) são úteis,
porque criam as condições económicas, políticas, ideológicas e sociais para a
mutualização e radicalização das lutas e para o amadurecimento da insurreição
popular de massas, condições para a Revolução Proletária que iremos agora
analisar.
71. O capital saqueia os salários através da inflação
Ao contrário do que afirmam os economistas vulgares, não é essencial para o bom funcionamento do sistema capitalista que o poder de compra dos assalariados seja onerado por impostos, por restricções de austeridade impostas às transferências sociais e por cortes nas despesas públicas em bens, equipamentos e serviços. O Estado burguês poderia facilmente enviar um cheque de vários milhares de milhões de dólares diretamente aos banqueiros e aos bilionários, e o capital obteria o seu “lucro financeiro” através de um curto-circuito (do Estado burguês - directamente para os bolsos dos tubarões financeiros - para os paraísos fiscais), até que a moeda inflaccionária - desvalorizada - (sem qualquer lastro) entrasse em colapso.
Basta lembrar
que, durante a crise do “subprime” e
dos derivados nos EUA em 2008, o governo dos EUA não pagou os seus empréstimos
e subsídios a pequenos proprietários falidos para apoiar o seu poder de compra
e manter as suas casas. Em vez disso, o governo dos EUA pagou milhares de
milhões de dólares diretamente aos bancos, aos trusts e às grandes empresas
multinacionais, não sem antes expropriar os proletários e levá-los à pobreza.
Esta operação estancou temporariamente a hemorragia dos lucros, sem libertar os
pequenos proprietários das suas obrigações e dívidas hipotecárias. A seguir, é
pela inflação que o capital e o seu Estado ditatorial mantiveram então a pressão
sobre os assalariados, aumentando o preço dos bens de consumo, desvalorizando a
força de trabalho e transferindo para o capital o valor criado pelo trabalho.
72. A dívida, um indicador da atrofia do sistema económico
O mesmo acontece com a crise da dívida soberana e a crise da dívida privada que estão a paralisar toda a economia mundializada. Apesar de o capital internacional já não ser capaz de aumentar o seu valor, todas estas dívidas continuam a acumular-se sem que o sistema económico e social capitalista entre em colapso. Por outro lado, quando um modo de produção já não consegue reproduzir-se e expandir-se, quando o seu funcionamento “normal” o conduz a uma paralisia degenerativa, a situação de crise endémica assume proporções pandémicas.
No entanto, estas dívidas acumuladas (que nunca serão reembolsadas), estes créditos gigantescos e insolventes, não têm qualquer importância do ponto de vista da reprodução alargada do modo de produção capitalista.
Sem importância no sentido de que essas dívidas não são decisivas. Estes créditos - este nada de valor de uso - são apenas um indicador do nível de paralisia atingido pelo sistema financeiro mundializado que é suposto regular o funcionamento de todo o sistema de reprodução alargada do capital.
Nunca ninguém
identificou um limiar de endividamento a partir do qual o sistema financeiro
capitalista deva entrar em colapso. No entanto, sabemos que um dia o grande
capital internacional irá anular a sua dívida sobre-inflacionada com um golpe
de caneta, como fez o capital alemão em 1923-1924, quando o Império Alemão
desvalorizou o marco (21). O mesmo aconteceu com o franco francês em 1945-1948
e 1949 (três desvalorizações sucessivas) (22).
73. A crise provocará uma insurreição popula
Uma crise
económica é uma condição necessária - embora insuficiente - para provocar uma
insurreição popular. A pequena burguesia tem de deixar de andar à volta da
carruagem proletária como uma mosca na pomada.
A pequena burguesia sempre organizou manifestações para denunciar alguma injustiça social, algum genocídio (como o dos habitantes de Gaza em 2023-2024), para se indignar com uma medida anti-democrática entre milhares de outras, para castigar a teimosa evasão fiscal dos ricos, para se ofender com a concentração da riqueza nas mãos de alguns plutocratas multimilionários, para denunciar a injustiça distributiva do capitalismo (ver : L’État israélien attaque l’Iran et tente d’étendre la guerre au monde entier – les 7 du quebec et https://les7duquebec.net/archives/289445 ).
Deixemos a pequena burguesia conduzir estas cerimónias reformistas para pedir mais justiça ao Estado dos ricos e iníquos. Como dissemos anteriormente, as lutas de resistência proletárias são necessárias desde que a sua perspectiva comum seja a de impedir a valorização e a acumulação do capital e, em última análise, abalar todo o sistema socio-económico.
É certo que a pequena burguesia representa uma sub-classe
numericamente importante no modo de produção capitalista na sua fase
imperialista. Há quem afirme que este estrato social representa 30% da força de
trabalho assalariada nas sociedades altamente industrializadas. Mas esta camada
social instável está condenada ao empobrecimento e à proletarização até ao seu
desaparecimento em resultado do aprofundamento da crise económica sistémica. A
classe proletária recusa-se a seguir os passos da pequena burguesia na sua
resistência desesperada para evitar o desaparecimento.
74. O Estado não é a solução, é o problema
Assim, o modo de produção capitalista, na sua fase imperialista, continua a sua descida aos infernos devido à tendência para a baixa da taxa média de lucro. E, contrariamente à mística propagada pelos especialistas pequeno-burgueses, tanto de esquerda como de direita, o Estado não pode inverter esta tendência, que está nos genes do capital.
O Estado totalitário é o organizador do desenvolvimento anárquico do aparelho produtivo. Por isso, qualquer reforço do papel do Estado burguês só pode acentuar a despossessão dos operários dos seus meios de existência, reforçar a ditadura burguesa, o domínio do capital e dos seus representantes burocráticos, esses fantoches a que Marx chamou “os funcionários do capital”, porque se limitam a aplicar as leis que tornam mais aceitável a exploração e a espoliação. Esta mística utópica funciona em nome da “democracia participativa, cidadã, laica e republicana, e em nome do Estado como defensor dos valores colectivos nacionais civilizacionais” e outros disparates demagógicos.
Esta glorificação
do Estado por parte daqueles que querem liquidar as lutas da classe proletária
não é um acaso. Manifesta uma tendência ao totalitarismo e ao militarismo
inerente ao capitalismo, sobre a qual repousa o destino da pequena burguesia
indefesa e da grande burguesia desesperada, numa altura em que o imperialismo
atingiu a maturidade e a decadência total.
75. Quando tudo o resto falha... há sempre a guerra
Com a contradição fundamental do modo de produção capitalista já plenamente desenvolvida, a classe capitalista mundializada não encontra outro meio de sobrevivência que não seja a intensificação das guerras pela partilha das zonas de influência, a partilha dos sectores de extracção de recursos, a redivisão das zonas de exploração do trabalho e a partilha dos mercados, numa tentativa de relançar o processo de reprodução e acumulação ampliada do capital.
Os capitalistas travam estas guerras de destruição e pilhagem à margem das zonas de influência de cada uma das alianças militares: nos Balcãs, no Cáucaso, na Ucrânia, no Médio Oriente e em África, para uma destas alianças militares; na Nicarágua, na Venezuela, na Colômbia, no Equador, na Bolívia, na Argentina, no Brasil, em África, no Nepal, no Vietname, em Myanmar e na Coreia, para a aliança militar rival.
Guerras locais
sob o capitalismo desde 1945
As pessoas vivem aterrorizadas com guerras locais e/ou regionais de diferentes graus de letalidade, sempre sob o controlo das grandes potências. Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, registaram-se mais de duzentas guerras locais de intensidade variável. Desde 11 de Setembro de 2001, sem que tenha sido declarada uma guerra mundial, mais de 4,5 milhões de pessoas foram mortas em todo o mundo em guerras americanas de intensidade variável. (Quatro milhões e meio de mortos pelas « guerras americanas» depois do 11 de setembro de 2001 – les 7 du quebec . https://les7duquebec.net/archives/290077).
As condições de
reprodução e de valorização do capital deterioram-se ainda mais, uma vez que
estas guerras por procuração em nada contribuem para a valorização do capital mundial
(mesmo que os sectores agro-alimentar e do armamento beneficiem temporariamente).
Perante esta deterioração económica, as diferentes alianças militares acabarão
por se confrontar directamente, à escala mundial. Seria a terceira guerra mundial. Provocaria
uma profunda crise social e política, mergulhando as massas trabalhadoras e a
população em geral na mais profunda desordem. Só a imensa classe proletária tem
a capacidade de inverter esta perspectiva apocalíptica de guerra mundial.
76. A revolução evitará a guerra? A guerra provocará a revolução?
Ao longo dos séculos XIX e XX, os comunistas e a esquerda oportunista esperavam que a revolução proletária pudesse evitar a eclosão de uma guerra mundial genocida. Desiludiram-se duas vezes. É difícil admitir, mas só a angústia gerada por uma guerra total apocalíptica, o empobrecimento da classe operária nos países altamente industrializados e o declínio das massas camponesas nos países “emergentes”, a destruição maciça dos meios de produção e de troca, a deslocação das relações sociais de produção e o declínio da civilização poderão convencer o proletariado internacional a cumprir a sua missão histórica e a impor a sua alternativa revolucionária através da aniquilação do capitalismo e das suas guerras “necessárias” (ver : La guerre mondiale comme aboutissement de la crise économique mondialisée – les 7 du quebec et https://les7duquebec.net/archives/290901 .
Os partidos e
organizações políticas têm pouco controlo sobre o processo insurreccional
espontâneo. A tarefa dos proletários revolucionários, hostis a qualquer forma
de bolchevização das suas organizações,
oponentes ferozes do sectarismo e do dogmatismo, respeitadores dos princípios
do direito de facção dentro da organização, será examinar o processo insurreccional
espontâneo para tentar compreender o seu desenvolvimento desordenado e, quando
chegar o momento, propor uma liderança revolucionária através de palavras de
ordem apropriadas. Desta acumulação experimental e desta lenta maturação
surgirão as condições subjectivas (ideológicas) da revolução proletária. A
revolução proletária não impedirá uma possível guerra reaccionária desencadeada
pelo grande capital... mas a revolução proletária porá certamente fim à guerra
reaccionária anti-popular e possivelmente nuclear.
77. Acções defensivas na frente económica
O proletariado
revolucionário não tem de proscrever todas as reivindicações reformistas do seu
programa revolucionário, na condição de promover estas reivindicações
defensivas como marcos na conquista total do poder burguês, e como faróis de
emancipação que apontam o caminho para a abolição da escravatura assalariada e
para a construção de um novo modo de produção proletário. Assim, a luta
proletária na frente económica para defender as condições de vida e de trabalho
de toda a classe é absolutamente necessária, mas insuficiente, porque nunca
conduzirá à tomada do poder económico, político e ideológico sobre toda a
sociedade. A guerra de classes radical deve ser travada a todos os níveis da
ordem burguesa e nas três instâncias da civilização capitalista (económica,
política, ideológica).
78. A Revolução realizar-se-á nas condições específicas de uma época histórica singular
Lenine resignou-se a propor palavras de ordem reformistas como “Pão, Paz, Terra”, porque o grosso das forças dirigidas pelos bolcheviques era constituído por camponeses (muzhiks-serfs) desejosos de terra, por funcionários públicos czaristas pequeno-burgueses ociosos e desejosos de poder e por soldados amantes da paz que queriam voltar a cultivar as terras dos kulaks. O proletariado russo, que era muito minoritário, carecia de experiência e de maturidade revolucionária. As palavras de ordem oportunistas dos bolcheviques tinham como objectivo selar a aliança entre camponeses, soldados e operários na Rússia feudal arcaica.
O próximo levantamento popular não terá lugar nas condições de uma fase de transição entre o feudalismo e o capitalismo. O próximo levantamento popular espontâneo e anárquico, que conduzirá à Revolução Proletária Organizada - a primeira na história da humanidade - terá lugar nas condições extremas do imperialismo moderno moribundo e da civilização burguesa decadente. O imperialismo moderno é mais assassino do que o imperialismo das civilizações que o precederam porque os seus meios tecnológicos de assassínio em massa são gigantescos.
O imperialismo
moderno é capaz de utilizar armas químicas, biológicas, bacteriológicas,
virais, digitais, hipersónicas e nucleares. Em suma, graças à ciência e aos
avanços tecnológicos, o imperialismo moderno, liderado pelo grande capital
mundial, será capaz de destruir toda a humanidade. É este o sentido da
advertência de Vladimir Putin: “Se a
nação russa puder ser varrida da face da Terra, então a nação russa será capaz
de varrer todas as outras nações da face da Terra”. Esta é a ameaça que a
Terceira Guerra Mundial representa para toda a humanidade. A solução não é
destruir esta ou aquela aliança militar imperial, mas destruir o imperialismo
moderno e a sua civilização decadente.
79.
A revolução
proletária vai emergir das megacidades
A revolução proletária não emergirá dos campos miseráveis que rodeiam os
sinistros bairros de lata dos países subdesenvolvidos em vias de implosão. A
revolta populista haitiana é um exemplo de guerra civil anárquica, mas não é
certamente um arquétipo da guerra revolucionária proletária. A revolução
proletária começará nas imensas megalópoles dos países mais industrializados e
tecnicamente mais avançados, onde o proletariado é o mais desenvolvido, o mais
formado, o mais sofredor, o mais alienado, onde as contradições do modo de
produção capitalista são exacerbadas e a consciência de classe é mais aguda.
80. A emancipação será obra da própria classe
A revolução
proletária internacional será o produto da classe proletária sob a sua própria
liderança colectiva. Do mesmo modo, a construção do modo de produção comunista
será realizada sob a direcção colectiva do próprio proletariado e não sob a
ditadura de um partido político autoritário que concentra o poder nas mãos de
oligarcas e de apparatchiks cooptados. Esta construção terá de ser levada a
cabo simultaneamente num grande número de países altamente industrializados e
durante um longo período de tempo, caso contrário o grande capital mundial
empreenderá guerras de desgaste contra estas entidades comunistas ainda
embrionárias, isoladas e vulneráveis.
81. A revolução proletária não será obra do campesinato ou da pequena burguesia.
Vimos que um
certo cenário revolucionário se concretizou a partir de 1917 e nos anos seguintes
no quadro da Revolução Russa. No entanto, esta revolução não foi uma revolução
proletária internacionalista. A insurreição popular que precedeu a tomada do
poder pelos bolcheviques baseou-se na imensa classe camponesa, faminta e
revoltada. Uma revolução proletária deve ser liderada pelo próprio
proletariado. O Partido Bolchevique tinha de tomar o lugar da embrionária
classe proletária russa e impor a sua ditadura partidária, a fim de levar a
cabo o derrube do modo de produção czarista e do Estado feudal. O Partido
Bolchevique não podia impor uma revolução proletária anti-capitalista a uma
sociedade camponesa e feudal. O mesmo se passa com o Partido Comunista Chinês
na China e com outros partidos “comunistas” noutras partes do mundo.
82. A transição da insurreição para a revolução
A importância económica do proletariado como produtor e consumidor é a garantia de uma sociedade capitalista avançada. Quando pensamos na classe proletária, pensamos no modo de produção capitalista monopolista altamente desenvolvido, mecanizado, digitalizado, informatizado, robotizado, altamente produtivo, globalizado, industrializado, em processo de desenvolvimento desigual (de um país para outro) e combinado (de um sector económico para outro, de uma zona industrial para outra). Em suma, a classe proletária é a classe social cujo desenvolvimento exprime o nível de evolução do capitalismo na sua fase mais avançada.
Marx explicou que, no capitalismo, as duas classes sociais antagónicas - proletariado e burguesia - estavam intimamente ligadas entre si nas fases ascendente e descendente - imperialista - do modo de produção capitalista. Os ideólogos marxistas acrescentavam que só a classe proletária desenvolvida, moderna, educada e formada, consciente e combativa seria a classe social totalmente revolucionária. Os muzhiks russos analfabetos, os camponeses analfabetos nos campos de arroz da China, do Vietname e do Camboja, os servos famintos nos planaltos do Nepal ou do Afeganistão, os fellahs egípcios empobrecidos, os pastores nómadas do Sahel ou da Mongólia, os agricultores indianos empobrecidos, os camponeses sem terra do Brasil, da Amazónia ou da Bolívia, não podem de forma alguma levar a cabo uma revolução proletária internacionalista.
O elevado nível
de desenvolvimento do proletariado em todos os países industrializados
assegurará a transição da insurreição popular espontânea e anárquica para a
revolução proletária globalizada, consciente e planeada.
83. A impossibilidade de viver e a incapacidade de governar
A crise económica
sistémica, as guerras genocidas repetidas e as revoltas populares espontâneas
conduzirão, como escreveu Lenine:
“à impossibilidade de as classes dominantes manterem o seu domínio de forma inalterada [...] o que implica que a base (social) já não quer viver como antes e que a cúpula [burguesa] já não o pode fazer”. Além disso, acrescentou Lenine, “o agravamento, mais do que o habitual, da miséria e da angústia das classes oprimidas conduzirá, mais do que o habitual, a uma série de revoltas populares. Daí a acentuação da actividade popular das massas” e, finalmente, a revolução proletária consciente para a erradicação do modo de produção capitalista e a construção do modo de produção comunista (23).
Note-se que
Lenine se refere às “classes dominantes” e às “classes oprimidas” no plural,
precisamente porque o Partido Bolchevique estava a tentar liderar uma revolução
numa sociedade em transição entre o velho modo de produção feudal arcaico
(nobreza versus servos) e o novo modo de produção capitalista (burguesia versus
proletariado) em processo de desenvolvimento na velha Rússia czarista. A
situação será diferente na primeira revolução proletária moderna, em que a
classe proletária terá de garantir que mantém a hegemonia sobre o processo
revolucionário.
84. Não à “Frente Unida” com a burguesia
A história do movimento operário - particularmente na Europa - está repleta de experiências lamentáveis de conluio e de “frentes unidas” inter-classes entre organizações que representam fracções da chamada burguesia “liberal-democrática” e organizações de esquerda que trabalham entre a classe operária, nomeadamente durante a guerra de Espanha (1936-1939) e durante as lutas contra as organizações fascistas, nazis e militaristas no período entre guerras.
A história ensina-nos a rejeitar estes compromissos oportunistas
através dos quais a classe proletária, ao serviço de um segmento da burguesia,
ajuda a impor a autoridade burguesa oportunista aos outros segmentos da
burguesia. Neste negócio de tolos, a classe proletária sempre serviu como carne
para canhão nas guerras do capital. Qualquer união orgânica entre classes é
proibida.
85. Rejeitar qualquer apelo ao reforço do Estado
A reciprocidade destas premissas é óbvia: quanto mais o proletariado actuar com determinação, auto-confiança e independência, armado com as palavras de ordem apropriadas para a defesa dos seus interesses de classe particulares, mais a classe será capaz de convencer os estratos sociais intermédios a reunirem-se sob a sua liderança, conduzindo, por sua vez, ao isolamento da classe burguesa. É evidente que é necessária a desintegração dos aparelhos de governação capitalista (dos quais o Estado burguês é a peça central). Daí a necessidade de os proletários rejeitarem qualquer apelo para reforçar as leis e a governação do Estado burguês.
Qualquer
apelo para transformar esta ou aquela aliança militar (NATO), aliança económica
(União Europeia), aliança financeira (Euro, FMI, BM) ou aliança política (UE,
ONU, BRICS) é contra-revolucionário. Não estamos a lutar para retirar este ou
aquele país desta ou daquela aliança imperialista. Estamos a lutar para
destruir todas as alianças imperialistas.
É por isso que os proletários revolucionários não se aliam a
organizações que pedem que o Estado burguês deixe a NATO, o euro ou os BRICS. E
não apoiamos as petições que pedem clemência para o Estado burguês e o reforço
das suas medidas de “segurança” ditas “anti-terroristas”. O Estado burguês é
a fonte de toda a insegurança e de todo o terrorismo, grande e pequeno.
86. A organização de classe do proletariado
Segundo os proletários revolucionários, a tarefa da organização de classe é assegurar que o proletariado se organize e tome plena consciência da sua missão histórica, que não é corrigir as injustiças do capitalismo ou travar a destruição do planeta sob o capitalismo. A missão da classe proletária revolucionária é a de criar um novo modo de produção - comunista - que ponha fim à exploração do homem e à alienação do género humano. Em suma, a missão da classe proletária é construir um novo modo de produção que assegure a emancipação do género humano, a satisfação das suas necessidades, a sua reprodução e a sua expansão.
Lenine fez desta questão a
organização de classe da revolução, o ponto de diferenciação entre a revolução
proletária comunista e a crise revolucionária insurreccional sem futuro
“A revolução não surge de
todas as situações revolucionárias, mas apenas no caso em que, a todas as
mudanças objectivas enumeradas, se junta uma mudança subjectiva, a saber: a
capacidade, no que diz respeito à classe revolucionária, de levar a cabo acções
de massas suficientemente vigorosas para esmagar completamente o velho governo,
que nunca cairá, mesmo em tempos de crise, a não ser que seja derrubado.” (24).
O imperialismo é a etapa suprema da evolução de um modo de produção. Sendo
o capitalismo o último modo de produção a surgir, chamaremos à sua fase última
e suprema “imperialismo moderno”,
para o distinguir do imperialismo romano, bizantino, otomano, chinês, mongol,
árabe ou europeu da era mercantil e colonial. No início do século XX, o
imperialismo moderno - produto do capitalismo industrial e financeiro - atingiu
o seu apogeu e entrou na sua fase de decadência degenerativa.
88. A luta de classes
no domínio económico
No imperialismo, a luta entre classes antagónicas
desenrola-se simultaneamente e de forma interdependente em três esferas de actividade.
Em primeiro lugar, esta luta de classes desenrola-se quotidianamente no plano
económico. É a luta dos operários para resistir à degradação das suas condições
de vida e de trabalho, para defender o seu poder de compra, em suma, para
defender as condições de reprodução da sua força de trabalho.
É claro que, nos países capitalistas avançados, uma parte
da pequena burguesia e da classe operária goza por vezes de condições de vida
superiores. No entanto, este privilégio excepcional concedido pelo capital em
troca do aumento da produtividade, e conquistado pelo trabalho através das suas
lutas de resistência, permanece efémero. A crise sistémica do capitalismo
destrói regularmente os sonhos da pequena burguesia, mergulhando-a no
empobrecimento e na proletarização, como aconteceu durante as crises bolsista e
bancária de 1929 e 2008. No espaço de alguns meses, estas crises aniquilaram
todos os benefícios salariais e sociais concedidos aos operários.
89. A luta de classes na frente económica não tem limites
Num regime capitalista, na fase imperialista, a luta de
classes na frente económica nunca está terminada, nunca está definitivamente
ganha. Está constantemente em movimento, pontuada por períodos de fluxo e
refluxo de acordo com a situação económica e o equilíbrio de poder entre
capital e trabalho e entre capitalistas. Se 30.000 mineiros sul-africanos
fizerem greve para exigir salários mais altos, o grande capital internacional -
as empresas mineiras multinacionais e as suas filiais - retirará imediatamente
os salários aos seus operários nos países desenvolvidos onde o minério
(platina, ouro, estanho, cobalto) é processado e transformado. Os concorrentes
do monopólio mineiro sul-africano aproveitar-se-ão deste facto para reduzir os
seus preços e conquistar os mercados.
Deste modo, a luta de classes concorrencial entre facções
da classe capitalista desenrola-se paralelamente à luta travada pelo conjunto
da classe burguesa contra a classe operária. Esta guerra económica é a base de
todas as outras formas de luta de classes. As organizações proletárias
revolucionárias devem estar conscientes destas lutas e informá-las ao conjunto
da classe. As batalhas na frente económica nunca cessarão e devem, portanto,
ser retomadas até que a classe proletária tenha destruído o aparelho de Estado
burguês, confiscado sem compensação todos os meios de produção, de troca e de
comunicação.
Se a guerra de classes na esfera económica se
intensificar em França ou no Canadá, no sector da fundição de alumínio, por
exemplo, as multinacionais do alumínio organizarão imediatamente a
deslocalização da produção francesa (Saint-Jean-de-Maurienne) ou canadiana
(Saguenay, Alma, Shawinigan) para um país com baixos custos salariais e menos
benefícios sociais, a menos que haja uma grande vantagem económica nesta
deslocalização - o preço e a disponibilidade de electricidade, por exemplo.
Se a crise económica do imperialismo se agravar, o
capital mundializado porá imediatamente em causa as concessões do passado e a
guerra defensiva do proletariado será retomada. Esta guerra de resistência,
esta guerra defensiva, pode por vezes assumir uma dimensão insurreccional que
pode desafiar o poder dos patrões e a ditadura da burguesia sobre o aparelho de
Estado. A classe operária, em virtude da sua posição objectiva no processo de
produção e reprodução do capital, desempenha um papel crucial na guerra de
classes na frente económica.
90. Luta de classes nas frentes económica e sindical
As recentes lutas dos trabalhadores e trabalhadoras na
Europa demonstraram que as reacções dos trabalhadores a nível internacional são
a resposta do proletariado à crise económica e à dinâmica de guerra
generalizada que o capital nos impõe através do desenvolvimento da economia de
guerra, da produção de armamento e da sabotagem das lutas de resistência. A
crise económica e social e a guerra, a primeira fazendo da marcha para a
segunda o factor central da situação histórica, obrigam cada classe dominante
nacional a redobrar os ataques ao seu próprio proletariado nacional. Existe uma
vasta experiência de greves de massas e de lutas sindicais que o campo
proletário deve aproveitar para difundir. Mas enquanto os quadros sindicais
dominarem o movimento de resistência dos trabalhadores, o campo proletário
continuará a sofrer derrota após derrota.
É uma ilusão querer levar os sindicatos a lutar efectivamente
contra os patrões. Os sindicatos são órgãos de mediação, correias de
transmissão, entre o trabalho e o capital. O seu papel é negociar o preço da
força de trabalho com o patronato. Os sindicatos são uma componente política essencial,
anti-trabalho e anti-revolucionária, do Estado burguês. A função dos sindicatos
é enquadrar, controlar e sabotar as lutas espontâneas do movimento operário.
“O partido afirma categoricamente que, na fase actual da dominação totalitária do imperialismo, as organizações sindicais são indispensáveis ao exercício desta dominação, na medida em que prosseguem objectivos que correspondem às necessidades de conservação e de guerra da classe burguesa.” (25).
91. A batalha das pensões em França e os sindicatos
Em 2023, durante a 6ª batalha contra a reforma das
pensões em França (2003, 2010, 2013, 2016 e 2019), o objectivo dos sindicatos,
tanto de esquerda como de direita, era impedir o desenvolvimento de uma
dinâmica de extensão e aprofundamento da luta grevista de massas. Ao imporem
manifestações esporádicas e desmoralizadoras, o mais longe possível dos locais
de trabalho onde se produz a mais-valia e o lucro, os sindicatos sabotaram o estabelecimento
de um verdadeiro equilíbrio económico de forças entre o trabalho e o capital.
Os desfiles sindicais eram o contra-fogo da burguesia face ao perigo de alargar
e radicalizar a luta. Uma luta que exigiu a ocupação de fábricas e o bloqueio
dos transportes para fazer o governo ceder e impedir a votação da reforma das
pensões. Mais uma vez, os sindicatos demonstraram a sua vocação anti-proletária
e contra-revolucionária.
Isto levou a Tendência comunista internacionalista (TCI)
a afirmar:
“Os sindicatos são órgãos de mediação entre o
capital e o trabalho. Apareceram na história como órgãos de negociação do preço
da força de trabalho. Nunca foram instrumentos para derrubar o Estado burguês.
Na era imperialista, os sindicatos - qualquer que seja a sua composição social
- são organizações que trabalham para preservar o capitalismo, especialmente
nos momentos cruciais em que este está ameaçado” (26).
Os sindicatos não traem ninguém, muito menos a si próprios.
Quando sabotam as lutas dos operários, enganam os militantes, e assim se tornam
indispensáveis ao capital como factor de negociação e manutenção da ordem,
estão apenas a agir de forma lógica e coerente com a sua missão inicial, ou
seja, negociar as condições de venda da força de trabalho assalariada aos
capitalistas.
A TCI acrescenta :
“Não encorajamos a construção de novos e
melhores sindicatos que, mais cedo ou mais tarde, conduzirão às mesmas
políticas de representação que os antigos. O papel das organizações económicas
permanentes da classe operária é entrar em negociações com os capitalistas,
aceitando assim as regras e leis do sistema de exploração. Na melhor das
hipóteses, este tipo de experiência “sindical” limita-se a repetir, de forma
acelerada, a história dos últimos 200 anos. O objectivo principal é
compreender, de uma vez por todas, que toda a acção sindical é regulada, fixada
e subsidiada pelo Estado, que esta entidade é alienante, que subordina
permanentemente a resistência e a combatividade dos operários à lei e à ordem
burguesas” (27).
“Os sindicatos como um todo, tanto a direcção
como as secções de base, são órgãos de pleno direito do Estado burguês no meio
operário. O seu objectivo é manter a ordem capitalista dentro das suas
fileiras, enquadrar a classe operária e impedir, contrariar e sabotar qualquer
luta proletária, em particular qualquer extensão, generalização e centralização
das lutas proletárias”. (28).
92. Luta de classe espontânea e movimento popular
É verdade que a classe operária criou organizações para
lutar na frente económica. Mas o grande capital foi capaz de corromper, desviar
e encorajar os quadros sindicais. Hoje, na fase imperialista da evolução da
ordem económica capitalista, os sindicatos dos operários tornaram-se organizações
patronais, lacaios responsáveis por manter a luta de classes dentro dos limites
aceitáveis para o capital. Os sindicatos são também agências de inteligência
responsáveis por identificar militantes radicais e entregá-los ao aparelho
legal (polícia e juízes) ou ilegal (agências mercenárias, organizações
criminosas e agências de segurança) de repressão e execuções sumárias.
A classe proletária faz esta guerra económica
de forma espontânea e desenvolve instintivamente a sua consciência de classe “em si”,
em defesa do seu poder de compra e das condições de reprodução da sua força de
trabalho (pensões, serviços sociais, educação, assistência médica, desporto,
cultura e lazer).
No entanto, a classe considera útil reunir-se
para sistematizar, alargar e radicalizar as suas lutas, para construir
solidariedade e clarificar o significado das lutas de resistência dispersas,
esporádicas, localizadas e espontâneas, a fim de as levar a um nível superior,
ao nível da autoridade política, o nível em que a classe tem consciência da sua
força, da necessidade das suas lutas de resistência, mas também dos seus
limites. O proletariado toma então consciência dos seus interesses
fundamentais, isto é, da necessidade de derrubar a ordem burguesa, de fazer
cair o modo de produção capitalista, que é agora incapaz de assegurar a
sobrevivência do género humano.
As massas populares organizam-se de muitas
formas para defender os seus interesses. As assembleias dos Carrés rouges no Quebeque (2003) e as
assembleias dos Gilets jaunes em
França (2018) oferecem-nos exemplos de organizações populares espontâneas que
iremos analisar.
93. O modo de
organização da luta de classes é o fruto da luta de classes
A evolução do movimento dos Gilets jaunes diz-nos algo sobre
esta organização sem precedentes, ilustrada pela rejeição radical do aparelho
de Estado, dos seus apêndices organizacionais sindicais, das organizações não
governamentais (ONG) e dos partidos políticos de esquerda e de direita. Da experiência
dos Gilets jaunes, devemos deduzir que uma revolta populista espontânea teria
de ser dominada pelo proletariado revolucionário, essa “vanguarda” que terá
germinado no seio de uma guerra de classes prolongada. Como escreveu Kropotkin,
e contrariamente às afirmações de Lenine, o partido revolucionário de classe
não preexiste ao movimento revolucionário; surge espontaneamente como a
cristalização de uma lenta fermentação dos múltiplos grupos e associações
militantes. A acção insurreccional transformará o movimento populista
espontâneo numa organização popular organizada e estruturada, destinada não a
reformar, mas a destruir o sistema, o seu aparelho de Estado burguês, e a
derrubar o modo de produção capitalista, para exigir a construção do novo modo
de produção. Levado pelos acontecimentos - pela luta - o movimento populista
inicial transformar-se-á num movimento revolucionário organizado, sempre
dividido entre as diferentes tendências ideológicas, políticas e económicas,
resultante da divergência de interesses entre classes e entre fragmentos de
classes sociais em luta na, pela e para a revolução. É este o sentido que damos
à ditadura de classe do proletariado.
94. S revolução proletária sob a ditadura de classe do proletariado
A revolução será proletária, não porque uma seita de esquerda se tenha apoderado dela, mas porque o proletariado é a única classe que tem interesses económicos e políticos e a capacidade de os restituir a longo prazo. É então que compreenderemos finalmente o verdadeiro significado da expressão “ditadura de classe do proletariado”, que não será de modo algum uma ditadura torturante, sanguinária e totalitária de uma casta de apparatchiks sectários e dogmáticos recitando salmos para a glória de líderes tirânicos, mas a simples aceitação por todas as tendências e todas as forças revolucionárias de que um regresso à exploração e alienação burguesas não é possível.
Não tem nada em comum com a URSS bolchevique, a China maoísta, a Cuba castrista, os Khmers Vermelhos do Camboja, o Vietminh do Vietname, a Angola do MPLA, a Coreia dos Kims, a Argélia da FLN, a Albânia de Enver Hoxha e os outros países autoritários sob o domínio do capitalismo monopolista de Estado fraudulentamente assimilado ao comunismo proletário.
Reafirmamos deliberadamente esta evidência materialista: a revolução social
proletária não consiste apenas em derrubar o velho governo, o Estado decadente
e o velho modo de produção. Esta etapa é chamada de insurreição popular. A revolução
social proletária inclui também a etapa de construção de um novo modo de
produção, de novas relações sociais de produção. Esta fase implica que a classe
revolucionária forje uma compreensão do futuro modo de produção, cujas sementes
pré-existem no actual modo de produção capitalista.
95. A consciência de classe é uma construção que emerge da luta de classe
A consciência da classe revolucionária, bem como as suas organizações revolucionárias, não são elementos pré-constituídos, encerrados num bolbo que só precisa de ser feito para florescer. A consciência de classe não pode ser trazida de fora da classe como uma verdade revelada contida nas sagradas escrituras marxistas. Esta concepção tomista da consciência de classe é o material do misticismo religioso dogmático, do qual o culto da personalidade é um sintoma.
A consciência de classe é uma construção - uma produção de classe, tal como uma obra de arte, um objecto simultaneamente concreto (a ideia materializada num projecto de sociedade em progresso) e abstracto (as relações sociais de produção, incluindo a ideologia), nascido da actividade da classe que aspira à emancipação, não como um desejo místico - teológico - mas como uma necessidade imperativa para não desaparecer como espécie. É durante o período da insurreição popular, e depois durante o longo período revolucionário, que a consciência da classe que aspira à emancipação atinge a sua plena maturidade.
A consciência social da classe, as teorias e as organizações que a exprimem
e materializam, são produções como qualquer outra produção material ou
intelectual, e estão sujeitas aos princípios e mecanismos da praxis revolucionária: primeiro
económica, depois social e política, e depois ideológica. É o movimento
(praxis, luta perpétua) que consolida a classe e faz progredir a sua
consciência e organização.
96. A luta de classe na instância política
As observações precedentes sobre a
consciência e a organização de classe conduzem-nos ao segundo nível da luta de
classes: o nível político, onde tudo se torna mais complicado. Como acabámos de
explicar, o proletariado dirige espontaneamente - instintivamente - a luta de
classes no plano económico, em particular a luta grevista, porque o “Capital” e o seu Estado atacam as
reformas, aumentam o preço dos bens de primeira necessidade, reduzem os
serviços destinados a manter e a reproduzir a força de trabalho e sobrecarregam
os assalariados. Estes ataques frontais e brutais ameaçam a sobrevivência de
certas camadas de operários assalariados e obrigam outros a combinar dois ou
três empregos precários, a tempo parcial e mal pagos. Nos Estados Unidos, por
exemplo, metade dos sem-abrigo que vivem em tendas nos parques municipais são
proletários com empregos precários. Em França, há 15 milhões de pobres. No
Canadá, 20% da população urbana depende dos balcões de alimentação e das
instituições de caridade.
Apesar disso, a organização da luta política do proletariado nunca deve esquecer que a sua missão histórica é muito mais estratégica do que dirigir greves ou solidarizar-se com as lutas espontâneas dos operários e dos abandonados. A sua missão histórica é promover essas lutas, alimentá-las e canalizá-las para o levantamento insurreccional, colocando a questão da destruição do aparelho de Estado. O Estado e os meios de comunicação a soldo do capital fazem tudo o que podem para separar as lutas travadas no plano económico das lutas travadas no plano político. Uma tarefa que emerge da luta de classes espontânea é a de demonstrar a relação íntima entre as lutas económicas e as lutas sociais, políticas e ideológicas.
97. A luta política contra o Estado burguês
O Estado é frequentemente
apresentado pela pequena burguesia como uma superestrutura imparcial que se
eleva acima das classes sociais e que deve conciliar harmoniosamente os
interesses colectivos e individuais de cada cidadão. Em períodos de crise
económica e social, a pequena burguesia apresenta o Estado como uma
superestrutura momentaneamente comprometida e corrompida por forças políticas
anti-democráticas. Diz-se então que o Estado se desviou da sua missão histórica
de equidade e justiça. Segundo os burgueses, o Estado deve ser conquistado pelo
poder das urnas, esses dois totens erigidos em mascotes sagradas.
Se, inadvertidamente, ocorrer a uma facção da burguesia
nacional, não solicitada e não aprovada pelas altas autoridades do capital
mundial, arvorar-se em árbitro dos interesses do capital nacional,
imediatamente - como provam os sinistros precedentes históricos do Chile de
Allende, da Venezuela de Chavez, da Cuba de Castro, do Congo de Lumumba ou do
Irão de Mossadegh - estes aventureiros “libertadores
nacionalistas” serão expulsos pela força das armas coloniais, pelo poder
das urnas, por embargos comerciais e financeiros ou pela infiltração de ONG que
iniciaram “revoluções coloridas”.
Na frente política da luta de classes, o
importante para a burguesia é que o proletariado nunca seja organizado e levado
a desmantelar o Estado, condição indispensável para a destruição do modo de
produção capitalista e a construção de um novo modo de produção. Esta missão de
desviar o proletariado é confiada aos partidos da “esquerda” plural e popular, progressista e cidadã, aos sindicatos e
às ONGs a soldo.
98. O partido proletário revolucionário
Uma organização política, seja ela qual for e apesar das
suas pretensões universais, é sempre a organização de uma classe ou de um
segmento de uma classe. O partido de classe do proletariado não é uma excepção
à regra. Não é e não pode ser o “partido
de todo o povo”, ou o partido das “massas”
em revolta, ou o partido das classes “populares, cidadãs, republicanas e democráticas”,
como defendem os esquerdistas. Pelo contrário, é o partido da luta
revolucionária do proletariado. É claro que é o partido que milita e luta pelos
interesses do povo, porque os interesses do povo coincidem com os da classe
proletária. O partido revolucionário proletário é essencialmente um partido que
é subserviente aos interesses de todos os segmentos da classe proletária. O
partido revolucionário proletário constrói-se à medida que o movimento de
revolta popular se transforma em insurreição
proletária e depois em revolução
proletária (29).
99. A luta de classe na instância ideológica
Na história moderna, a classe operária tem
tido muito pouca presença no fórum ideológico da luta de classes. Isto deve-se
ao facto de a pequena burguesia, tanto à esquerda como à direita, ter
conseguido enganar uma grande parte do proletariado com ideias nacionalistas
chauvinistas, fascistas, nacional-socialistas, racistas e reaccionárias, que
surgiram com a construção dos Estados-nação europeus, incluindo o Estado
nacional soviético do “Pequeno Pai dos Povos”.
No rescaldo da Segunda Guerra Mundial, a
pequena burguesia intelectual foi recrutada, doutrinada e colocada a soldo para
controlar e dirigir a classe operária, que estava inclinada a revoltar-se em
defesa das suas condições de vida e de trabalho. A pequena burguesia começou
por se infiltrar nos sindicatos, as organizações de resistência operária.
Em seguida, a pequena burguesia, cada vez
mais numerosa nos países capitalistas avançados (cerca de 30% da mão de obra
assalariada), infiltrou-se nas organizações populares de cidadãos e nas ONG de
promoção social, a fim de refrear e paralisar os grupos sociais minoritários, o
lumpen proletariado e os miseráveis que engrossavam as fileiras das paradas
sindicais, das paradas LGBTQ+, dos “Black Lives Matter” e de outras seitas
marginais.
Depois, a pequena burguesia infiltrou-se e
infiltrou organizações políticas de extrema-esquerda e de extrema-direita para
desorientar política e ideologicamente as massas. Por fim, a pequena burguesia,
ao serviço da classe dominante, apoderou-se das redes de ensino, de formação
universitária e de investigação, a partir das quais estes lambe-botas
espalharam o seu veneno anti-proletário, consolidando teoricamente a operação
de infiltração e de limpeza.
Esta colaboração entre vários segmentos da
burguesia (grande, média e pequena) continuou enquanto as condições económicas
se mantiveram favoráveis à exploração feroz da classe operária no Terceiro
Mundo e nos países industrializados avançados.
As sucessivas crises económicas dos anos 80 e 2000 obrigaram o grande capital a impor a austeridade em toda a parte.
100. Um exemplo prático : A crise do COVID
Desde o início do século XXI, a pequena burguesia tem
estado em processo de desqualificação, empobrecimento e proletarização. Durante
a suposta pandemia de coronavírus (2019-2022), a pequena burguesia foi
particularmente afectada pela repressão política draconiana e pelos cortes
económicos que os fantoches políticos impuseram às populações tetanizadas do
mundo. Em consequência desta pandemia viral, a pequena burguesia viu-se
obrigada a colaborar na montagem de um novo tipo de exercício militar.
No maior secretismo, os exércitos das grandes potências
militares estão a utilizar ilegalmente armas químicas, biológicas,
bacteriológicas e virais, que estão a desenvolver em laboratórios de alta
segurança. Ocasionalmente, um laboratório pode vazar deliberadamente ou escapar
involuntariamente uma dessas perigosas armas letais. Em Novembro de 2019, o
laboratório de Wuhan, na China, pode ter libertado acidentalmente o vírus SARS-CoV-2, uma quimera (um vírus híbrido e mutante concebido em laboratório) que
infectou centenas de milhões de pessoas.
Em Março de 2020, a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou que a
epidemia chinesa de COVID-19 se tinha tornado uma pandemia mundial e o
organismo mundialista sugeriu uma série de medidas de controlo e repressão.
E assim começou a saga mais estranha da história. Por um
lado, o capital mundial está a cerrar fileiras. A história oficial silencia a actividade
ilícita - quimérica - destes laboratórios da morte, que se ocupam em criar
armas bacteriológicas letais, cujos efeitos, propagação e erradicação não
controlam. Quase todos os governos do mundo apoiam a história oficial e acusam
de “conspiração” os opositores e os
cépticos. Os “especialistas de estúdio”
começaram a atacar os recalcitrantes, convidando as pessoas a auto-divulgarem
os livros colocados na lista negra da inquisição “Covidiana”.
Entretanto, os governos inventaram uma série de esquemas
para aterrorizar e atordoar a população assustada. Recorrendo às terríveis
armas do confinamento, da restricção
de movimentos, do recolher obrigatório, do rastreio de movimentos, do
encerramento de comércios e fábricas, do confinamento de lares de idosos que se
tornaram armazéns, de urgências médicas que se tornaram corredores da morte, a
burguesia mundial deu-nos uma amostra das condições de vida das populações que
serão vítimas da Terceira Guerra Mundial e das suas armas virais, biológicas,
sísmicas, meteorológicas digitais e atómicas.
Ao fim de algum tempo, tornou-se claro que o vírus
sintético (mutante) SARS-CoV-2 não era tão letal como se previa. É claro que
não tinha sido desenvolvida nenhuma vacina ou antídoto para combater esta
quimera. No entanto, as vacinas experimentais que estavam a ser desenvolvidas
nos laboratórios da « Big pharma » foram imediatamente
aprovadas pelas autoridades sanitárias. Estas “vacinas” de ARNm não validadas foram compradas a
grande custo por governos cúmplices, distribuídas e inoculadas sob coação a
centenas de milhões de indivíduos sem sintomas desta misteriosa arma viral do
COVID.
No entanto, o grande capital mundial não hesitou nem por
um momento em deixar que os seus políticos paralisassem toda a economia
mundial, a fim de tirar todas as lições desta experiência inovadora.
O proletariado revolucionário deve estudar cuidadosamente
a experiência da pandemia de COVID-19, a fim de tirar lições valiosas para a
continuação da nossa luta de classes.
A pandemia de COVID |
Quando recordo os
primeiros dias de confinamento da pandemia de COVID-19, suspeito que a
maioria das pessoas, mesmo muitos conservadores e membros do movimento pela
liberdade, tinham preocupações sanitárias sobre os efeitos do vírus e o
potencial de convulsão estrutural se este se revelasse tão mortal como a Organização
Mundial de Saúde tinha inicialmente anunciado. Se o vírus de COVID-19 tivesse
tido uma taxa de letalidade de 3% ou mais, como anunciado pelas autoridades
sanitárias mundiais, os danos teriam sido suficientemente significativos para
mudar o nosso mundo durante muitos anos.
A maioria das pessoas ficou preocupada. No entanto, após alguns meses
de propagação do vírus SARS-CoV (exfiltrado ou escapado de um laboratório de
investigação de armas bacteriológicas) e após o primeiro conjunto de dados
científicos, vários factos se tornaram claros: Os confinamentos não
fizeram nada para travar a propagação, eles pura e simplesmente destruiram a economia. As máscaras
eram inúteis e não impediam a transmissão do vírus. O IFR do COVID-19
representava um minúsculo 0,23 %, para não falar de todas as mortes devidas a
co-morbilidade que foram falsamente rotuladas como mortes devidas ao
COVID-19. As vacinas experimentais e
dispendiosas não impediram a transmissão para milhões de pessoas. Elas não impediram a infecção em numerosos casos
e numerosas pessoas vacinadas morreram do virus. Além disso, as pessoas não vacinadas com imunidade
natural estavam mais bem protegidas do que as que tinham recebido a vacina e
doses múltiplas de reforço. Os estudos mostram que as vacinas causam
efeitos secundários perigosos, em maior ou menor grau muito mais importantes do que aqueles que os CDC americanos admitem. Tudo o que os responsáveis do governo nos
disseram durante a pandemia era mentira. Não foi um erro, não foi uma
confusão burocrática, foi uma mentira. Prenderam pessoas, mascararam-nas e
até tentaram vacinar à força a população com um produto experimental não
testado e não validado. Alguns políticos republicanos e democratas, incluindo
muitos neo-conservadores, também participaram no pânico. No entanto, a
maioria dos estados republicanos rapidamente pôs fim às restricções quando os
dados contraditórios foram tornados públicos. Entretanto, os Estados azuis
pareciam ridículos e paranóicos ao agarrarem-se desesperadamente a
obrigações, constrangimentos e restricções. Penso que a única razão pela qual Biden, os
democratas e as instituições mundialistas finalmente pararam não foi porque
perceberam que a sua ciência estava errada, mas porque perceberam que milhões
de conservadores e independentes estavam prontos para iniciar uma guerra
letal por causa de obrigações totalitárias e sabiam que iriam perder essa
guerra civil. Mesmo agora, meses depois de Biden ter sido
forçado a pôr fim ao estado de emergência nacional devido ao COVID-19, ainda
há muita gente a andar mascarada, a isolar-se em casa e a queixar-se nas
redes sociais de que o público já ultrapassou a histeria pandémica. De onde
vem este comportamento? E porque é que tantos americanos (sobretudo de
esquerda) aderiram ao autoritarismo quando se tratou de isolar as casas e
obrigar as pessoas a serem vacinadas com vacinas não validadas? Quero explorar aqui a psicologia destas
pessoas, porque penso que há uma tendência natural no público actual para
encobrir o desconforto causado por acontecimentos terríveis e ignorar as
implicações mais profundas. Não podemos seguir em frente, porque o problema
final nunca foi resolvido. Estes mesmos esquerdistas e mundialistas nunca
foram repreendidos pelo seu comportamento, nunca tiveram de admitir que
estavam errados e voltarão a tentar as mesmas medidas draconianas no futuro
se nada for feito. Hoje, os esquerdistas são
rápidos a mudar de assunto ou simplesmente a negar as suas actividades autoritárias
durante o período do COVID. Faz sentido, pois vêem as próximas eleições como
decisivas e querem que as pessoas esqueçam que quase perdemos o que resta dos
nossos direitos constitucionais devido às suas políticas. Mas, mais uma vez,
não podemos deixar que estas coisas passem despercebidas. Eis uma lista das
piores infracções cometidas por esquerdistas e mundialistas durante a
pandemia: ·
Mentiram sobre a eficácia do confinamento. ·
Mentiram sobre a eficácia das máscaras. ·
Mentiram sobre a eficácia das vacinas. ·
Mentiram sobre a extensão dos testes efectuados às vacinas contra o
COVID. ·
Mentiram sobre a “pandemia de pessoas não vacinadas”. ·
Impuseram o confinamento, onde é praticamente impossível contrair um
vírus. ·
Tentaram colocar as pessoas em prisão domiciliária. ·
Introduziram legislação em alguns estados para construir « campos de COVID » nos Estados Unidos. ·
Em certos países, construiram campos COVID, não só para os viajantes, mas para toda a gente. ·
Conspiraram para suprimir as extensas provas que ligam o laboratório de Wuhan, na
China, à epidemia. ·
Eles (o governo e as grandes empresas de tecnologia) conspiraram para
usar as redes sociais como uma ferramenta de censura em massa de dados
contraditórios. ·
Exploraram os algoritmos dos motores de busca para enterrar toda a
informação contrária. Tal como muitos
esquerdistas e direitistas admitiram abertamente, o objetivo era tornar a
vida tão difícil para os não vacinados que estes acabariam por aderir para
sobreviver. Desta forma, as elites do establishment e os esquerdistas podiam
afirmar que as pessoas estavam a “voluntariar-se”
para as vacinas e que ninguém tinha sido coagido. O que eles realmente
queriam dizer era que ninguém foi coagido com uma arma apontada, mas todos
nós sabíamos que essa ameaça estava a chegar. De facto, as sondagens mostravam que uma grande percentagem de democratas estava
preparada para acabar com a Declaração de Direitos e declarar guerra aos não
vacinados. Por fim, a grande maioria dos esquerdistas
apoiou os decretos de passaporte de vacina de Biden para os trabalhadores de
empresas com 100 ou mais funcionários, o que acabaria por levar a passaportes
de vacina para todos. Isto teria destruído a Constituição tal como a
conhecemos e criado uma sociedade em que a participação económica é inteiramente
controlada pelo governo. Não
esqueçamos que tudo isto foi justificado por um vírus com uma taxa de
mortalidade mediana minúscula (0,23%). Estima-se que cerca de 23% da população
americana sofra de pelo menos uma doença mental. Em média, cerca de 3% da
população sofre de episódios psicóticos e 1% da população é totalmente
psicopata (incapaz de empatia e de se regozijar com o sofrimento dos outros).
A América é uma nação doente, cheia de pessoas psicologicamente perturbadas,
e actualmente não há forma de resolver o problema. A esquerda política utiliza os doentes
mentais como uma arma de arremesso, um instrumento facilmente manipulável
para semear o caos. Durante os confinamentos e as restricções, o
establishment e os media alimentaram o fogo da paranoia. Não têm poder por si
sós; precisam da multidão desenfreada como arma para manter o resto do país
no medo e na disciplina. Precisavam de uma boa Stasi, sempre a vigiar, sempre
a corrigir, sempre a gritar com os que não usavam máscaras, a atacar os que
se recusavam a ser vacinados e a gozar com os que denunciavam incoerências
científicas. Há geralmente dois tipos de pessoas no
mundo: as que querem ter poder sobre os outros e as que querem simplesmente
ser deixadas em paz. A ideologia progressista parece ser um terreno fértil
para os “pequenos tiranos”: pessoas
que não têm poder individual, poucas realizações e nenhuma influência de que
se possa falar, mas que, no entanto, estão obcecadas em microgerir o mundo à
sua volta. Estas pessoas vêem as crises e os excessos dos governos como uma
oportunidade e não como uma ameaça. Há também aqueles que vêem a sua existência
como tão desprovida de interesse ou excitação que tendem a viver vicariamente
através de calamidades e conflitos. Para eles, a epidemia de COVID e os
confinamentos deram sentido às suas vidas. Sim, é triste e patético, mas é
assim que muitas pessoas lidam com a escuridão. Estes oportunistas não
queriam que a pandemia acabasse. Queriam que durasse para sempre, porque se
assim fosse, poderiam alimentar-se da mudança de poder do establishment. Tudo isto pode muito bem voltar a
acontecer. Os grandes e os pequenos rufias continuam por aí, à espera da
próxima crise, do próximo evento de pânico que apanhe o público desprevenido.
Outro evento viral é improvável, mas eles parecem ansiosos por usar as alterações climáticas, a guerra e a turbulência económica como
o próximo grande botão de “reinicialização (reset)”. Fontes : Brandon Smith (2023) « Gauchistes et droitistes ont montré leurs visages autoritaires
pendant la « plandémie » du COVID » https://les7duquebec.net/archives/285874 |
101. Sem prática revolucionária não existe teoria revolucionária
É imperativo travar a guerra de classes na
frente ideológica. Porque é nesta frente teórica (científica - cultural - moral
- ideológica) que a burguesia concentra os seus esforços para sufocar a
alternativa revolucionária do proletariado. A classe capitalista monopolista
compreende que tem de travar a luta de classes a montante da frente política,
na arena ideológica, ou seja, ao nível da informação, da comunicação e da
propaganda. E, sobretudo, na frente da teoria revolucionária, porque sem teoria
revolucionária não pode haver partido político revolucionário, e sem partido
revolucionário não pode haver revolução, como dizia Lenine.
Quanto a nós, acreditamos que a teoria revolucionária é um produto, um artefacto, da prática revolucionária. Sem praxis revolucionária não há teoria revolucionária e, portanto, não há partido revolucionário. A dialéctica revolucionária começa com a prática, que alimenta a teoria, que por sua vez orienta a prática. O movimento dialéctico tem a sua fonte na acção (resistência, revolta, reflexão, organização, etc.), que é a base do processo, e encontra a sua realização na concretização da revolução. Há décadas que os intelectuais de esquerda e os progressistas pequeno-burgueses têm vindo a rebaixar o movimento operário para explicar a pouca estima que têm pela teoria e pela ciência materialista dialética da revolução. Estes agentes do capital são sempre rápidos a vilipendiar o militante de “mente estreita”, distribuindo alegremente anátemas de dogmatismo, intransigência e sectarismo a qualquer um que defenda os princípios científicos do materialismo dialético ao serviço da revolução proletária.
102. As eleições democráticas burguesas
Numa época de revolução proletária e de imperialismo decadente, não é apropriado que os militantes revolucionários acreditem na legitimidade das eleições burguesas, participando nestas mascaradas organizadas pelo capital para desarmar o proletariado material, ideológica e politicamente. Em muitos países, os operários compreenderam instintivamente - contra o conselho da pequena burguesia eleitoral - que estas mascaradas eleitorais não passam de truques em que a voz do proletariado nunca foi e nunca será ouvida. E mesmo que um partido dito proletário tomasse o parlamento dos comerciantes, dos industriais, dos financeiros e dos banqueiros, isso não lhe daria qualquer controlo sobre a polícia, o exército, as universidades, os meios de produção, de comercialização e de comunicação, nem sobre a justiça dos ricos. Todos devem recordar o exemplo chileno (1972). O operário que se abstém de participar nas eleições tem toda a razão em afirmar que não é esse o caminho para a classe proletária abolir o Estado, a propriedade, a exploração e a alienação (30).
Cabe aos militantes revolucionários apreender
esta herança e aplicá-la às condições concretas da luta. No entanto, temos de
ter cuidado para não nos deixarmos mistificar por novos princípios teóricos
supostamente criativos e aplicados a situações supostamente únicas e originais
(socialismo de rosto humano, socialismo à chinesa, marxismo-leninismo à
albanesa, etc.) ou para falsificar a ciência materialista dialéctica. Há que
ter o cuidado de não cair nos meandros do oportunismo, do reformismo, do
trotskismo, do revisionismo de velho ou de novo tipo, do nacional-socialismo,
do idealismo, da social-democracia, do social-chauvinismo, do cretinismo
parlamentar, do titismo, do eurocomunismo, do ecologismo, do mundialismo, do altermundialismo
e de toda uma série de contrafacções à esquerda e à direita (31).
103. O « povo »
e a « classe média »
O “povo”
é constituído por uma amálgama de classes e segmentos de classe, como o
campesinato, os artesãos, os pequenos comerciantes não monopolistas, os
operários e a chamada “aristocracia operária”, a média
burguesia nacional e a pequena burguesia local, um
importante segmento de classe num país capitalista desenvolvido, formando uma
mistura a que os ideólogos burgueses chamam “classe média”, uma fonte
inesgotável de ideias, teorias e conceitos idealistas - místicos - metafísicos
- utópicos - reaccionários - chauvinistas e contra-revolucionários, de que
damos uma amostra a seguir.
Classe média, classe dirigente e pequena
burguesia |
Retirado da revista
Contretemps. Alain Bihr publicava em
1989 Entre
bourgeoisie et prolétariat. L’encadrement capitaliste, obra na qual apresentou a tese de que
“a estrutura de classes das formações sociais capitalistas coloca em
confronto não duas, mas três classes fundamentais”. “A classe média
assalariada é mais do que um estrato social definido por níveis salariais
intermédios. Mostrámos que a passagem progressiva dos salários baixos do
proletariado para os salários médios e depois altos dos quadros superiores
não é uma simples transição estatística, mas esconde uma mudança na própria
natureza dos salários. Nem o mercado de trabalho nem as diferenças de valor
da força de trabalho são suficientes para explicar a hierarquia salarial. É
necessário introduzir a noção de sobrepagamento.
Para tal, é necessário analisar a forma como o capital utiliza a mais-valia
social total. A classe média assalariada define-se pelo facto de receber uma
parte desta mais-valia sob a forma de um salário excedentário. O capital aceita este suplemento salarial para pagar a
supervisão da produção e da circulação do valor e para assegurar o zelo e a
lealdade da classe média assalariada (proletarizada). O facto de se definir pela sua funcionalidade e pela especificidade
dos seus rendimentos faz da classe média assalariada uma classe de pleno
direito. Existe o proletariado, definido pelo seu estatuto não
qualificado, os capitalistas, proprietários dos meios de produção, e a classe
média assalariada, caracterizada ao mesmo tempo pelo seu trabalho
(intelectual) e pela função de controlo que exerce por delegação dos
capitalistas. Esta classe defende normalmente os seus interesses nas suas
relações com as outras classes. Estamos perante uma luta de classes a três,
por oposição ao confronto de duas classes (proletariado/capital) que
prevaleceu durante muito tempo”. O objectivo deste tópico é demonstrar que, com base nas
relações de produção capitalistas e no seu processo global de reprodução, não
são geradas duas mas três classes fundamentais por essas relações e pela
divisão social do trabalho daí resultante: entre a burguesia e o proletariado
surge uma terceira classe, no quadro capitalista, tão distinta das duas
primeiras como entre si, constituída por todos os agentes subordinados da
reprodução do capital, os agentes dominados da dominação do capital. Esta demonstração leva Alain Bihr a dar a esta
“terceira classe” uma autonomia no seio da luta de classes e a questionar o
seu papel na história social e política do capitalismo. Esta última
observação não podia deixar de ter eco em França, após a vitória do Partido
Socialista nas eleições presidenciais. Esta força, que acabava de chegar ao
poder, tinha como base social uma grande parte da “classe dirigente” ou
“classe média”. No seu artigo “Entre
o proletariado e a burguesia”, Alain Bihr distinguia três interesses
gerais da “classe dirigente” ou “classe média”: a modernização, ou seja, o
desenvolvimento capitalista do mundo, a racionalização e a democratização. A
classe dirigente mística seria, por definição, portadora de racionalidade, e
as suas funções de direcção seriam funções de racionalização no sentido
weberiano do termo - racionalidade instrumental e racionalidade
ético-política. O ménage à trois da luta de classes https://editionsasymetrie.org/ouvrage/le-menage-a-trois-de-la-lutte-des-classes/ https://www.contretemps.eu/classes-moyennes-classes-dencadrement-alain-bihr/ |
Estes conceitos, que os idealistas chamam
“espontâneos”, “inovadores”, “originais”, “não dogmáticos” e “não
conformistas”, e até “guias para a acção”, emergem dos cérebros contaminados da
grande, média e pequena burguesia. Estes conceitos são retomados e difundidos
pelos meios de comunicação a soldo do capital e contaminam o pensamento dos
militantes proletários. É por isso que a luta de classes nas frentes teórica,
ideológica e mediática é mais incisiva e decisiva do que nunca.
Não existe uma classe média que possa ser
identificada pelo seu salário médio mais elevado. O que determina se um
indivíduo pertence a uma classe social é o seu lugar no processo social de
produção, comercialização e comunicação de bens e serviços. Esta posição, este
papel social, determina o seu pensamento, as suas crenças, a sua praxis social.
O salário do indivíduo é determinado de acordo com vários critérios económicos
e sociais, tanto locais como nacionais. De facto, a “classe média” sempre
existiu na sociedade capitalista; é a chamada classe pequeno-burguesa, cujo
destino flutua com o do capital. Nos períodos de crescimento económico, gozam
de abundância, de bons salários e de privilégios; nos períodos de depressão
económica e de repressão política, enfrentam dificuldades, empobrecimento e
proletarização. A classe pequeno-burguesa é instável e torna-se uma incubadora
de radicais, totalitários, fascistas, militaristas, esquerdistas, terroristas,
teóricos da conspiração e místicos. O proletariado deve ter cuidado com este
fragmento instável da classe burguesa e nunca ligar o seu destino ao destes
oportunistas (32).
Em suma, a luta de classes começa na esfera
económica, estende-se à esfera política e floresce na esfera ideológica, que
por sua vez orienta a práxis de cada classe social. Este processo continua
ininterruptamente, mas assenta sempre em bases económicas, na produção e na
troca dos meios de subsistência para a reprodução da espécie humana numa
situação histórica concreta. A pequena burguesia participa neste ciclo, mas
como não controla nenhum dos grandes vectores - força de trabalho ou capital -
não pode dar origem à revolução proletária.
105. Da
guerra de classe defensiva à guerra ofensiva
Perante a crise do modo de produção
capitalista, que conduz à falência do capital financeiro e ao colapso da
pequena burguesia, do campesinato, dos artesãos e dos pequenos comerciantes,
estas classes e fragmentos de classe surgem na cena histórica para protestar
contra a degradação das suas condições de vida e de trabalho. Os Verdes, os
altermundialistas, os neo-liberais complacentes, os libertários, os militantes
da “sociedade civil” desnorteada, as
ONGs a soldo, os trotskistas agitados, os anarquistas exaltados, os
revisionistas, os socialistas, os maoístas e os pseudo-marxistas-leninistas, os
nacional-socialistas chauvinistas e outros reformistas estão todos a trabalhar
em conjunto para enganar a classe operária, para a desviar para uma luta defensiva
exclusivamente económica. E assim
impedir a classe operária de empreender uma luta política ofensiva contra a
ditadura da burguesia em toda a sociedade globalizada.
106 Desenvolvimento desigual no domínio
ideológic
O desenvolvimento desigual da luta de classes nas esferas
económica, política e ideológica significará que, apesar da tomada do poder
pelo proletariado, a consciência de classe do proletariado, ao nível económico
e político, estará sempre imbuída de ideias, conceitos e teorias idealistas que
são anti-científicas, individualistas, reaccionárias e contra-revolucionárias,
directamente derivadas de centenas de anos de condicionamento socio-económico,
político e ideológico e de “habitus”
burguês (educação, formação, investigação, informação, comunicação, desporto,
artes, lazer e cultura). Estas mentalidades, herdadas do passado, não
desaparecerão ao mesmo tempo que o direito burguês, a propriedade dos recursos
e dos meios de produção, as trocas mercantis e a expropriação da mais-valia
(33).
Será necessário tempo, uma nova praxis social, novas
relações sociais de produção decorrentes do novo modo de produção, antes que as
mentalidades e as consciências (colectivas e individuais) sejam totalmente
transformadas para se adaptarem ao novo modo de produção comunista. Durante
esta lenta transformação colectiva e individual, os restos das relações sociais
burguesas individualistas e venais prevalecerão na consciência dos homens e
mulheres do passado. O poder do proletariado garantirá a democracia, o direito
de falar e de representar a população, com o direito de destituir os eleitos
que não defendem os direitos colectivos.
107. O sobredeterminismo revisionista
Contrariamente a Kautsky, a Antonio Gramsci,
a Louis Althusser e aos lambe-botas da Grande
Revolução Cultural Proletária, não acreditamos que a esfera ideológica
“sobredetermine” a instância económica, ou a instância política da luta de
classes. Também não acreditamos que as esferas ideológica e cultural da luta se
desenvolvam autonomamente. Estas são concepções idealistas anti-materialistas
(34).
108. A revolta estudantil de Maio de 68
Em França e na Europa Ocidental, na sequência
do movimento estudantil de Maio de 1968, muitas organizações oportunistas e
reformistas fizeram a mesma observação revisionista, obscurecendo o facto de
que as revoltas estudantis, no meio de um período de expansão económica, tinham
as suas raízes não em convulsões na superestrutura ideológica e cultural, mas
nas transformações da infraestrutura económica, em particular no
desenvolvimento da contradição específica entre o aumento do número de
licenciados e a diminuição do número de empregos na superestrutura terciária
hipertrofiada e parasitária. Nos anos 60, assistiu-se a um processo económico
de ajustamento da infraestrutura industrial (sectores primário e secundário) e
da superestrutura de serviços (sector terciário), através da deslocalização de
empresas dos países capitalistas avançados para os países capitalistas
emergentes. A reorganização da superestrutura de exploração do trabalho
absorveu temporariamente este fenómeno. Foi para abrir vias de ascensão social
e obter uma parte dos benefícios da pilhagem dos países neo-colonizados que os
estudantes dos países capitalistas avançados fizeram troça dos mais velhos durante
esse encantador mês de Maio (35).
Para as organizações políticas oportunistas e
reformistas, é a superestrutura política que controla a infraestrutura
económica, tal como o cérebro humano controla o corpo do indivíduo. Por outras
palavras, a infraestrutura económica obedece às decisões dos políticos, dos
teóricos e dos teólogos, e aos desejos dos cidadãos. Cidadãos que só precisam
de ser mobilizados em grande número para que, através do poder do seu boletim
de voto “democrático”, possam impor os seus ditames ao Estado burguês. Este
sofisma é utilizado para justificar os discursos dos oportunistas e dos
reformistas que tentam pacientemente convencer a multidão a aderir ao seu
programa político que, a prazo, se revela tão anti-social como o dos partidos dos
governos anteriores. Esquerda ou
direita, é tudo a mesma coisa”, compreende o operário esclarecido (36).
109. A consciência de classe está
atrasada em relação à realidade social
As mudanças de mentalidade, as transformações morais,
intelectuais e sociais têm a sua própria temporalidade e mudam mais lentamente
e de forma mais complexa do que os factores económicos, políticos, jurídicos,
diplomáticos ou militares. A consciência está sempre atrasada em relação à
realidade. A sociedade proletária terá de evoluir - transformar-se ao longo do
tempo - para que surjam novos homens e mulheres proletários, livres dos
artefactos do pensamento idealista burguês. Este processo de descontaminação
das ideias - teorias - da ideologia burguesa será longo, fastidioso e perigoso.
110. O fracasso da “Revolução populista Bolchevique”
Tendo fracassado após anos de ditadura
implacável, o Partido Bolchevique, garante do capitalismo monopolista de
Estado, foi incapaz de impedir o ressurgimento do capitalismo liberal na União
Soviética.
A Revolução Bolchevique foi uma revolução
burguesa que transformou o Império Russo de um modo de produção camponês feudal
(servos e aristocratas) num modo de produção capitalista monopolista de Estado.
A enorme burocracia estatal e os aparelhos do
partido desempenharam o papel da burguesia capitalista no Ocidente. A
construção da infraestrutura económica de produção conduziu, como devia, ao
desenvolvimento da superestrutura política e ideológica burguesa. É por isso
que, em 1991, a revolta e o golpe de Estado dos apparatchiks liberais foram tão
fáceis e não conduziram a qualquer levantamento insurreccional entre o
proletariado explorado e alienado.
A origem de 1991 encontra-se em 1917-1918 e
não numa qualquer traição mística khrushcheviana que caiu do céu após a morte
do déspota Estaline. Desde 1917-1918, a União Soviética era um país sujeito à
ditadura do partido único da classe burguesa russa, que administrava colectivamente
e fazia crescer o capital de um império mais ou menos bem integrado na
sociedade mundial imperialista.
111. A guerra
não dá origem à revolução. A classe revolucionária faz nascer a revolução
A guerra é a cristalização nas frentes
económica, política, diplomática e militar das contradições que abalam um modo
de produção. A guerra é a busca da economia política por outros meios. A guerra provoca a destruição material, o
massacre humano e, frequentemente, a queda de uma facção da classe dominante a
favor de outra. A guerra termina com a assinatura de uma paz efémera. Efémera,
porque a exasperação das contradições e a exacerbação da concorrência entre as
forças imperiais que estruturam o mundo imperialista mundial conduzem
inevitavelmente a novas guerras - locais, regionais e mundiais. Todo este
processo (paz-reconstrução-guerra-destruição-paz) é dinâmico e mecânico, no
sentido em que as classes sociais e os seus dirigentes têm muito pouco controlo
sobre ele, movidos pelas leis inelutáveis da economia política capitalista que
a classe dominante apresenta como inelutáveis.
Contrariamente ao que
pretendem as teses oportunistas (de esquerda e de direita), uma guerra não dá
origem a uma revolução social. Uma
classe social revolucionária (consciente) dá origem a uma revolução social com
o objectivo de derrubar a velha economia política e estabelecer uma nova
economia política, um novo modo de produção. Para recuperar este processo
dialéctico em proveito do grande capital imperial, os escribas burgueses de
todos os quadrantes chamaram-lhe fraudulentamente “A Grande Reinicialização (Great
Reset)”, ou o grande regresso do capitalismo nacionalista patriótico
pré-mundialista, a que Liliane Held-Khawan chama pomposamente “O golpe de
Estado planetário” (37).
No seu livro “La guerre n'accouche plus de la révolution”
(« A guerra já não dá origem à revolução »), Jacques Gigoux escreve :
“Carl Schmitt já tinha
conceptualizado esta situação com a ideia de “guerra civil mundial”, que implica a instauração de uma ordem
especial, o estado de excepção (o estado de emergência e a economia de guerra).
Guerra civil mundial, porque nada ficará fora da nova ordem. Hoje, no processo de totalização do capital, o inimigo
já não está tanto fora da nação como dentro dela”. (38).
A próxima revolução
proletária será mundial e internacional. A revolução proletária será a reacção
consciente da classe contra a opressão social e será o fruto de um certo número
de condições concretas, tanto objectivas como subjectivas, que conduzirão à
destruição da economia de guerra e à demolição do Estado totalitário. A
revolução proletária será o fruto de uma revolta e de um empenhamento
progressivo da classe proletária, que nada terá de espontâneo ou instintivo. É
claro que a revolução proletária surgirá após uma longa revolta popular - espontânea
- instintiva - anárquica - que incendeie as megalópoles urbanas onde se
acumulam todas as riquezas e misérias da humanidade, onde se acumulam o grande
capital e as suas instituições de gestão, controlo e repressão, Nelas se
encontram também a classe burguesa totalitária e militarista e a pequena
burguesia empobrecida, tetanizada e fascista (o inimigo interno), bem como o
imenso proletariado multiétnico em revolta. Um proletariado que, no início da
sua revolta, não estará consciente da sua missão histórica de salvar a
humanidade, o planeta e a biosfera, mas que o estará gradualmente à medida que
os acontecimentos se forem desenrolando.
112. Uma revolução de
novo tipo
A revolução proletária
será uma revolução de um novo tipo, na medida em que marcará a superioridade do
espírito, da consciência de classe, sobre o instinto e sobre as contingências
materiais e sociais. A revolução proletária será o fruto de uma decisão da
classe social dos proletários de tomar o seu destino nas suas próprias mãos,
começando por destruir o velho modo de produção (a velha ordem e o seu estado
de ditadura burguesa) para construir um novo modo de produção social, a que
chamaremos modo de produção comunista proletário.
A revolução proletária
não será o resultado do “nascimento de uma guerra regional, de uma guerra civil
mundial, do processo de totalização do capital”. Mesmo que esta revolução,
nascida da consciência colectiva de classe, venha provavelmente depois de uma
longa e terrível guerra mundial genocida, na qual o grande capital desesperado
fará provavelmente uso de todas as armas letais (bacteriológicas, virais,
químicas, meteorológicas, sísmicas, nucleares, digitais e convencionais) que
terá desenvolvido nos laboratórios militares de pesquisa sobre a morte e que
terá experimentado em populações civis aterrorizadas... em Gaza em particular.
114. As armadilhas oportunistas e reformistas
Esta guerra mundial total e apocalíptica não dará origem a uma nova paz efémera, a uma “Nova Ordem Mundial Multipolar” ou a uma “Grande Reinicialização (Great Reset)” que, em todo o caso, não seria mais do que um regresso às normas da “Velha Ordem Capitalista”. O proletariado terá tomado o seu destino nas suas próprias mãos, em benefício de toda a humanidade. O proletariado libertar-se-á da alienação de classe e da opressão de classe, não como cidadão de uma sociedade utópica a construir, mas como classe social revolucionária que deve assegurar a sua própria sobrevivência e, da mesma forma, a sobrevivência do homem como espécie. O objectivo da Revolução Proletária prolongada, que durará décadas, será destruir a superestrutura social burguesa, da qual o Estado totalitário é o eixo principal; destruir também os alicerces fundamentais das classes sociais exploradoras, abolindo assim as classes sociais, os factores de alienação e de opressão, para construir um novo modo de produção, uma sociedade internacionalista sem classes, como ninguém viu até agora, e muito menos nos paraísos ditos “socialistas” dos apparatchiks.
Friedrich Engels escreveu :
“É
a pior coisa que pode acontecer ao líder de um partido extremista ser obrigado
a assumir o poder numa altura em que o movimento ainda não está maduro para o
domínio da classe que ele representa e para a aplicação das medidas que o
domínio desta classe exige. O que ele pode fazer não depende da sua vontade,
mas da fase em que se encontra o antagonismo das diferentes classes e do grau
de desenvolvimento das condições de existência material e das relações de
produção e de troca, que determinam, em cada momento, o grau de desenvolvimento
das oposições de classe. O que ele deve fazer, o que o seu próprio partido lhe
exige, não depende dele, nem do grau de desenvolvimento da luta de classes e
das suas condições. Ele está vinculado às doutrinas que ensinou e às exigências
que fez até agora, doutrinas e exigências que não derivam da posição momentânea
das classes sociais presentes e do estado momentâneo, mais ou menos
contingente, das relações de produção e de troca, mas da sua maior ou menor
compreensão dos resultados gerais do movimento social e político. Ele é assim
necessariamente colocado perante um dilema insolúvel: o que ele pode fazer
contradiz a sua acção passada, os seus princípios e os interesses imediatos do
seu partido, e o que ele deve fazer é impraticável.” (39)
Engels
resumiu assim as armadilhas em que os partidos e organizações políticas
progressistas iriam cair no século XX.
Contrariamente ao que Lenine afirmava, não é
a guerra que dá origem à revolução, nem a revolução que dá origem à guerra. É a
classe social revolucionária que dá origem à revolução social internacional.
Foi o que aconteceu com a burguesia em França em 1789, na Rússia em 1917, na
China em 1949 e em Cuba em 1959.
115. As
classes sociais sob o capitalismo
O estudo das classes sociais permite delimitar a extensão das forças sociais em acção e, para cada uma delas, identificar as suas caraterísticas, forças e fraquezas. Apresentamos aqui as classes sociais que são, simultaneamente, os produtos e os “construtores” da sociedade capitalista, numa relação dialéctica permanente. Explicamos porque é que o proletariado, a pequena burguesia e a grande burguesia capitalista são classes antagónicas e interdependentes. É a ruptura do contrato social que liga estas classes que desencadeia as revoltas sociais, a insurreição popular e até a revolução proletária.
116. O Estado burguês é o garante da desigualdade social
Alguns intelectuais e os seus amigos políticos descrevem a opressão capitalista como o resultado da distribuição desigual da riqueza entre os “cidadãos”. Estes intelectuais transformam assim uma aporia (a impossibilidade intrínseca de igualdade social numa sociedade de classes, ou seja, numa sociedade baseada na exploração e na opressão) numa busca utópica de maior “justiça social”, demonstrando a sua incapacidade de transcender a sua visão idealista, monista e reformista da sociedade (40).
Esta abordagem hipócrita conduz a uma postura de pedinte ao vizinho, consubstanciada nos apelos obsequiosos ao Estado rico para que proporcione mais bem-estar aos menos favorecidos (os de baixo) e introduza impostos adicionais para cobrir estas despesas governamentais.
O mesmo se aplica aos debates sobre o aumento dos subsídios de desemprego para manter vivos os operários temporariamente inactivos. Os esquerdistas, os burocratas sindicais e os activistas da indústria das ONG a soldo pedem aos governos que repatriem a gestão destes fundos para as mãos dos funcionários públicos. Os manifestantes pedem melhores subsídios de desemprego e períodos de subsídio mais longos, pagos directamente a partir dos salários dos operários que já foram esgotados pelos impostos e pela inflação.
Uma ONG canadiana está a fazer campanha para um aumento da assistência social para 23.000 dólares por ano. Não é uma quantia exorbitante, mas quando um operário com salário mínimo ganha apenas 18.837 dólares brutos por ano, é compreensível que milhares de operários mal pagos não possam ser mobilizados para liderar a batalha em nome dos beneficiários da assistência social.
É por isso que os
proletários revolucionários continuam a lembrar-nos que todas estas batalhas
reformistas pela chamada “equidade social” na frente económica da luta de
classes (seguro de emprego, assistência social, salário mínimo, rendas baratas,
redução das propinas, reduções de impostos, defesa dos regimes de pensões e
defesa do poder de compra) são guerras de resistência necessárias, mas
insuficientes, porque estas batalhas nunca levarão a conquistas permanentes. Só
a batalha na frente política da luta de classes pelo derrube total da ordem
capitalista pode pôr um fim definitivo a este braço de ferro entre proletários
e capitalistas.
117. A luta de classe permanente
Marx e Engels explicaram que, para cada uma das sociedades de classes (escravocrata - feudal - capitalista), o modo de produção hegemónico tinha produzido, de cada vez, duas classes sociais antagónicas, intimamente ligadas entre si pelas relações sociais de produção. Uma classe não pode sobreviver ao desaparecimento da sua classe antagónica, à qual está consubstancialmente ligada. Assim, no Quebeque, em 1854, quando o sistema de propriedade senhorial foi abolido por um acto do Parlamento da União (Baixo e Alto Canadá), os servos e os senhorios desapareceram como classes sociais ao mesmo tempo que o sistema de propriedade senhorial (41). A Revolução Francesa de 1789 acelerou o desaparecimento do campesinato e a sua urbanização, iniciada no século anterior, e levou à extinção da aristocracia fundiária e dos feudatários, que se transformaram numa burguesia fundiária com rendimentos.
Marx e Engels acrescentaram que o confronto dialéctico, a luta de opostos entre estas classes antagónicas, é a força motriz da história, daí a expressão: “A história de todas as sociedades até aos nossos dias é a história das lutas de classes”. Note-se que, posteriormente, os marxistas se recusaram a pronunciar a palavra de ordem “Proletários, povos oprimidos e nações colonizadas de todos os países, uni-vos! “ A palavra de ordem puramente proletária diz: “Proletários de todo o mundo, uni-vos!” Esta recusa de cair no reformismo e no oportunismo nacionalista não foi acidental; correspondeu ao estádio de evolução do antagonismo de classe e ao grau de desenvolvimento das condições materiais de existência que determinam as oposições de classe.
118. O « wokismo » como ideologia de esquerda
O “wokismo” como fachada
para o grande capital |
É um exercício
perigoso e complexo, mas essencial para quem quiser compreender o mundo
capitalista envolvido na maior e mais intensa crise sistémica da sua
história. A seguir, o colunista Brandon
Smith faz uma análise mordaz da evolução recente da economia capitalista,
liderada pela esquerda “wokista” plutocrática e decadente
da banca e da bolsa. Não é paradoxal descrever banqueiros, financeiros,
operadores bolsistas, investidores e gestores como esquerdistas? De modo
algum, se compreendermos que as separações entre a esquerda e a direita
burguesas são concebidas para reunir em dois cestos de caranguejos distintos
os mesmos políticos fantoches que servem alternadamente o seu senhor supremo,
o Grande Capital, do lado esquerdo ou direito das suas bocas demagógicas. O
leitor deve abordar este artigo do ponto de vista do proletariado que procura
compreender a guerra de classes que confronta os múltiplos adversários do
Grande Capital “multipolar” e “unipolar”. Fonte : Brandon Smith (2023). O "Wokismo” como cobertura para o
grande capital na era da ”engenharia social” https://les7duquebec.net/archives/284148 A maioria das empresas que abraçaram abertamente a nova era de rebelião
dos consumidores americanos foi massacrada, e o establishment não está
contente. Empresas como a Disney, a Anheuser-Busch e a Target estão a ver os
lucros cair a pique e a perder milhares de milhões em capitalização bolsista
depois de se terem comprometido com a agenda trans (sic). Em particular, o
governo dos Estados Unidos está a tentar dar exemplos de instituições que
apoiam a doutrinação de crianças por cultos transgénero e LGBTQ. Por outras
palavras, foi ultrapassada uma linha vermelha. Com os boicotes conservadores a serem muito mais eficazes do que os
boicotes esquerdistas alguma vez foram, o movimento torna claro que a
esquerda política é um tigre de papel e que os conservadores e os
independentes detêm a verdadeira maioria do poder legislativo nos EUA. Em
resposta, os media afirmam que este movimento é uma forma de « terrorismo económico ». Por outras palavras, se se recusar a apoiar a mente de colmeia dos Wokes
com a sua carteira de acções, deve ser considerado um inimigo interno. Demorou algum tempo, mas os americanos comuns estão finalmente a
envolver-se numa guerra cultural que começou há anos, não tanto pela esquerda
política mas pelas instituições mundialistas que usam activistas à esquerda e
à direita e os da indústria das ONG como executores e sabotadores. A
questão-chave de que muito poucas pessoas falam é que os grupos de activistas
não teriam qualquer poder se não fosse o apoio sem precedentes que recebem de
governos, organizações sem fins lucrativos, grupos de reflexão e empresas. Grande
parte deste apoio tem sido canalizado através de financiamento ESG e de
programas DEI (Diversidade, Equidade e Inclusão). O ESG (Ambiente, Social, Governação) está a tornar-se um termo bem conhecido e é
basicamente uma forma de “investimento
de impacto” - o que significa que os grandes credores, os fundos
financeiros mais poderosos do que os Estados-nação, como a Blackrock
ou o Grupo Carlyle, ou grupos de reflexão como a Fundação Ford, procuram controlar os
resultados sociais utilizando os empréstimos como alavanca. Engenharia social (ESG). No passado, os credores baseavam as suas normas de financiamento em boas
pontuações de crédito e na probabilidade de um retorno do investimento. Se
tivesse uma empresa com um historial de retornos sólidos e garantias válidas,
provavelmente conseguiria todos os empréstimos de que necessitasse. Actualmente,
porém, os credores tentam impor condições políticas e ideológicas às empresas
que procuram financiamento. É preciso ter um sinal de virtude para ter acesso
ao dinheiro, e isso inclui apoiar iniciativas climáticas e de carbono,
reorganizar a sua força de trabalho em torno da diversidade racial e das
regras de inclusão étnica, e até promover o activismo LGBTQ+ pode ser um factor importante na sua próxima injecção de
dinheiro. Quanto mais elevada for a sua pontuação ESG, maior será a probabilidade
de ter acesso a dívida. Esta é parte da razão pela qual tantas empresas estão
a embarcar cada vez mais no “Mês do
Orgulho LGBTQ”. Tudo o que têm de fazer é colocar alguns arco-íris em
determinados produtos ou anúncios, ou defender publicamente a pressão transgénero para as crianças, apenas para se encontrarem subitamente numa posição de
força para mais um ano de fundos subsidiados ilimitados. Mas o que acontece num mundo em que a fidelidade dos consumidores já não
é uma garantia e as audiências deixam de comprar a canais que promovem
conceitos “woke”? O que é que acontece quando a abertura de espírito
significa também a falência? Será que o dinheiro da ESG vale realmente a pena
perder metade dos seus clientes, ou mais? Para já, não vale. À medida que os bancos centrais aumentam as taxas de
juro e reduzem os seus balanços, a festa do dinheiro fácil que começou em
2008 está a chegar ao fim. Após uma década de crescimento exponencial, a GSE
está agora em pronunciado declínio, e isto está directamente relacionado com as políticas
dos bancos centrais, como a Reserva Federal. No último ano, deixou de ser
viável despejar dinheiro em projectos “woke”,
na sua maioria inúteis. No entanto, a tendência “woke” continua. Porquê? Há vinte anos, o nome do jogo no mundo dos negócios era “construção de marca”. Se
conseguíssemos construir a nossa marca e conquistar a lealdade do mercado,
poderíamos manter o nosso modelo de lucro durante décadas. Actualmente, as
empresas estão dispostas a destruir as marcas que gastaram tanto tempo e
dinheiro a construir, tudo em nome da conveniência política. Parece uma loucura, mas e se eles souberem algo que nós não sabemos? E se
estivessem a ultrapassar uma crise económica artificial para serem
recompensados mais tarde com riqueza “demasiado
grande para falir”? A minha teoria é que, se hoje os empréstimos ESG
parecem estar a morrer, amanhã serão a única forma de uma empresa sobreviver.
Temos de começar a olhar para a
possibilidade futura de uma ESG institucionalizada à escala global. A noção
assustadora do financiamento ESG pelos bancos centrais tem circulado desde os
primeiros dias da pandemia COVID.
Começaram a surgir numerosos programas
governamentais com conotações preocupantes. A maior parte deles centrou-se
inicialmente nas alterações climáticas,
com os bancos centrais subitamente interessados em “salvar o planeta” de
uma ameaça inexistente de carbono. Actualmente, são cada vez mais os bancos
centrais que falam da DEI Os bancos internacionais podem ser limitados no seu empenhamento na
concessão de empréstimos ESG, mas e os bancos centrais? E se abandonassem a
sua fachada de “neutralidade política”
e se lançassem de alma e coração no vírus da mente desperta? E se os bancos
centrais se tornassem a base do ESG? Penso que é exactamente isso que deveria acontecer, mas teria de estar
directamente ligado a uma crise económica, bem como à introdução de moedas
digitais (CBDCs). Uma crise da dívida (bem como a estagflação) poderia levar
à falência a maioria das empresas. Com a escassez de fundos, a queda do
consumo e a contracção do mercado de crédito, os bancos centrais e as medidas
de estímulo voltariam a ser o único mecanismo oficial de reconstrução da
economia. Os governos também ficariam dependentes dos bancos centrais para se
manterem à tona, o que significa que os banqueiros teriam uma influência
considerável sobre a forma como o dinheiro é distribuído (e como a riqueza é
recompensada). Ao contrário do crash de 2008, a próxima ronda de estímulos não será um
deboche de moeda fiduciária. Em vez disso, será um plano de resgate muito
limitado, em que o dinheiro digital será injectado em certas instituições.
Por outras palavras, apenas uma parte da economia existente receberá uma
tábua de salvação, e adivinhem quem poderá reclamar um lugar na jangada? As
empresas mais empenhadas em matéria de ESG. Isto explicaria por que razão tantas empresas se recusam a abandonar o
marketing da névoa, mesmo que percam milhões de clientes; sabem o que está
prestes a acontecer e estão a preparar-se para as consequências, bem como
para os inevitáveis resgates digitais. Claro que há quem argumente que isto exigiria um nível de organização e
de “conspiração” que não existe.
Seria “idiota” sugerir que as
empresas se estão a juntar para implementar um plano para alterar
fundamentalmente o paradigma económico capitalista, não seria? Não seria.
Pelo menos em termos de coordenação, a cabala já anunciou abertamente a sua
presença nos EUA e no Ocidente. O conluio entre corporações, think tanks e governos para criar um
monopólio internacional do discurso não é uma teoria, é uma realidade. A
única questão que resta é: quando é que os bancos centrais vão admitir que
fazem parte do sistema? Acredito que os sinais de uma crise bancária
observados no início do ano são apenas a ponta do icebergue. À medida que a Fed e outros continuam a aumentar as taxas de juro face a
uma economia fraca, as tensões no sistema vão aumentar e algo integral
acabará por rebentar. Talvez seja outro momento Lehman, talvez o dólar
americano perca o seu estatuto de reserva ou qualquer outro desastre. Mas não
é por acaso que esta invasão do culto da extrema-esquerda no mundo dos
negócios se intensifica no preciso momento em que os nossos fundamentos
económicos estão em apuros. Uma coisa está ligada à outra, e creio que o colapso
do sistema actual se destina a facilitar a criação de uma “nova economia”
(sic) em perpétua agitação. Os cidadãos ver-se-iam, então, presos a participar no culto por pura
necessidade, a menos que a população se descentralizasse através da produção
e do comércio localizados. Todo o nosso modo de vida teria de mudar
radicalmente, inspirando-se nos ideais de auto-suficiência que estavam na
ordem do dia há cem anos. A distopia ESG não desaparecerá por si só. A ideologia Woke não
desaparecerá por si só. Estas estruturas terão de ser destruídas, mas não se
pode revoltar contra uma estrutura da qual se depende para a sobrevivência
quotidiana. Primeiro, temos de nos libertar dela. |
119. As novas classes sociais
O que é uma classe social? O que é que define uma classe social, o que é que a caracteriza e o que é que permite identificar os seus indivíduos, de modo a que se possa desenvolver um programa político que os mobilize para transformar a sociedade? Há quem diga que as mulheres são a nova classe oprimida. Os “WOKES” afirmam que os gays, lésbicas e transgéneros (LGBTQ+) formam uma nova classe social oprimida. Outros analistas afirmam que os trabalhadores precários são a nova classe proletária. E não esqueçamos as muitas designações que alguns teóricos inventaram, tais como “classe popular”, “classe média”, “classe nacional”, “classe patronal”, “classe pobre”, “classe dos funcionários públicos”, “classe tecnocrática” e “classe dos imigrantes”. Os teóricos, tanto da esquerda como da direita, teriam dificuldade em descrever os fundamentos económicos e sociais específicos destas novas classes sociais. Não faz sentido separar e definir classes sociais com base no género, nos artigos de uma convenção colectiva ou nas condições salariais dos trabalhadores explorados. A mulher de negócios que possui uma pequena empresa tem muito pouco em comum com a mulher da classe operária e muito em comum com o empresário que possui uma grande empresa. É do ponto de vista do papel produtivo de um indivíduo no processo social de produção e troca que se determinam as classes sociais.
Marx define as classes sociais, antes de mais, em termos de um modo de produção, ou seja, em termos do papel social desempenhado por um indivíduo e pelo grupo a que pertence no processo de produção dos meios de subsistência, de troca e de reprodução da vida em sociedade.
Assim, do ponto de vista das classes sociais, o modo de produção capitalista caracteriza-se pela oposição entre a classe capitalista, que detém os meios de produção e de troca, e a classe proletária, que detém apenas a sua própria força de trabalho, que vende a troco de salário (o trabalho necessário à reprodução da força de trabalho social), e da qual a burguesia se esforça por extrair o trabalho excedente (mais-valia), que é redistribuído pelas diversas fracções da burguesia sob a forma de rendas, dividendos, lucros e proveitos de toda a espécie (42).
Em torno destas classes antagónicas principais, encontramos outras fracções ou segmentos de classe constituídos por assalariados, trabalhadores independentes (que excluem qualquer relação de assalariamento), pessoas que gerem uma empresa, ou que oferecem um serviço singular destinado a empresas, comunidades (serviços municipais, governamentais e paragovernamentais, etc.) e indivíduos (empregadores, empregados, cidadãos). É o vasto campo das actividades terciárias, onde o empresário, por vezes, não tem empregados, mas oferece os seus serviços a um preço fixo, à peça, ao tempo ou por mandato, com diferentes formas de remuneração que são todas formas de inclusão nas relações sociais de produção. A crise da pandemia COVID (2020-2022) provocou uma explosão da pequena burguesia frágil, que procura uma saída entre o proletariado e o patronato.
120. A classe proletária como produtora de mais-valia
A classe trabalhadora, ou classe laboriosa, ou classe operária, ou proletariado, é o conjunto de indivíduos que vendem a sua força de trabalho a troco de um salário. É a classe proletária da qual os capitalistas, proprietários dos meios de produção, de troca e de comunicação, extraem a mais-valia. O capitalista é o proprietário, em virtude do direito burguês, das mercadorias produzidas nas suas fábricas e oficinas por estes assalariados. É através desta apropriação privada - juridicamente falando - que o capitalista extrai mais-valia. Será que um alto funcionário público (tecnocrata) ou um director de uma empresa (grande ou pequena) se apropria de uma parte desta mais-valia? Na maior parte das vezes, a resposta é negativa, o que suscita a questão de saber se pertencem à classe capitalista. Alguns quadros superiores são pagos em acções da empresa, pelo que se tornam accionistas diretos da empresa que gerem, pertencendo assim à classe capitalista.
121. O Estado como instrumento de valorização do capital
Na sociedade capitalista moderna, particularmente na última e suprema fase imperialista (que não constitui um novo modo de produção, mas a fase final do capitalismo), o facto de o empregador capitalista estar no sector privado ou no sector público não muda nada no modo de circulação da mais-valia, nem nos modos de valorização e acumulação do capital, nem no estatuto de classe dos assalariados. A única coisa que muda no caso de uma empresa capitalista monopolista estatal é a forma como a mais-valia é expropriada e reintegrada no circuito da reprodução alargada do capital, aquilo a que chamamos acumulação. O facto de um trabalhador ser contratado por uma empresa pertencente ao Estado capitalista não transforma de modo algum o seu estatuto de trabalhador assalariado. Um electricista da Hydro-Québec (empresa estatal) é um proletário da mesma forma que um trabalhador contratado pela Gaz Métro, uma empresa cotada na Bolsa de Valores de Toronto. Assim, a forma de uma empresa do sector público da economia capitalista atribuir aos capitalistas a mais-valia expropriada aos operários consiste em vender as mercadorias produzidas às empresas a um preço inferior ao preço de custo e transferir os seus lucros empresariais para o Estado capitalista, que redistribui esse capital valorizado no circuito económico sob a forma de assistência à reprodução da força de trabalho (serviços de saúde, creches, educação, etc.), (serviços de saúde, de guarda de crianças, de educação, culturais e desportivos, pelos quais o Estado é colectivamente responsável), ou sob a forma de uma redução da carga fiscal imposta às empresas capitalistas. Desde há vários anos, a carga fiscal sobre as empresas não pára de diminuir, enquanto a carga fiscal sobre os assalariados (impostos, taxas e deduções, taxas de serviço público) aumenta. Esta é uma das formas pelas quais o Estado dos ricos transfere o peso da crise económica sistémica para os ombros do proletariado (43).
122. Inflação, aumento dos preços e diminuição dos salários
O aumento dos preços - ou inflação - é outro processo pelo qual o “Capital” deprecia o poder de compra dos trabalhadores ou, se preferirmos, desvaloriza o valor comercial da mercadoria “força de trabalho”, diminuindo assim o valor do trabalho necessário, mas também o do trabalho excedente (sobretrabalho) expropriado pelo capital (44).
A actividade produtiva que gera o salário e a mais-valia não tem poder de decisão, tem poucas responsabilidades e pouca actividade intelectual por parte do operário, que é visto como uma extensão de máquinas-ferramentas cada vez mais sofisticadas (robóticas, digitais, cibernéticas, químicas, bacteriológicas) e, sobretudo, cada vez mais caras de adquirir. Este equipamento representa um investimento importante de capital constante (Cc) que o tempo de trabalho do proletário (Cv) será utilizado para remunerar, a fim de produzir nova mais-valia a reinjectar no circuito da reprodução ampliada do capital.
123. Regimes de pensões dos trabalhadores por conta de outrem
A única responsabilidade que o trabalhador alienado é convidado a assumir é
a de reproduzir a classe dos oprimidos. A classe proletária conta com mais de
três milhões de pessoas no Quebec (de uma população total de mais de oito
milhões). Além disso, se acrescentarmos a estes assalariados os empregados
assalariados das instituições públicas e parapúblicas, o Québec tem 4 milhões
de assalariados que contribuem para o Plano de Pensões do Québec, dos quais 1,9
milhões (47%) não participam em nenhum programa de pensões de empresas ou
planos pessoais. Além disso, 1,4 milhões de trabalhadores (cerca de 33%) são
membros de um ou outro dos 750 planos de previdência complementar: 513.000
trabalhadores do sector privado e 866.000 do sector público. Em 2012, 1,5
milhões de pessoas no Quebeque recebiam uma pensão de reforma na qualidade de
antigos trabalhadores. No Canadá, a classe proletária activa é de cerca de
catorze milhões de pessoas, numa população total de quarenta milhões. A classe
activa não inclui as pessoas que dependem dos proletários (cônjuges, filhos).
Em contrapartida, inclui aqueles que estão temporariamente privados de trabalho
remunerado, como os desempregados (1 325 000 indivíduos, quer beneficiem ou não
de programas de seguro de emprego), e aqueles que o fizeram no passado
(reformados), e que correm o risco de serem integrados no mercado de trabalho a
qualquer momento (45).
A batalha das pensões...
vitória ou derrota dos trabalhadores franceses? |
Analisemos a guerra de classes que o proletariado francês travou
corajosamente no início de 2023 contra o grande capital francês e o seu
Estado. A primeira questão a ser respondida é: porque é que o governo dos ricos
está interessado nos regimes de pensões dos 27 milhões de trabalhadores
franceses? A resposta é óbvia, porque o Estado burguês é o maior empregador em
França e, portanto, o maior contribuinte para os regimes de pensões e, acima
de tudo, porque o Estado burguês tem o dever de assegurar as condições
económicas e sociais para a reprodução dos escravos assalariados. O Estado
burguês tem também a tarefa de assegurar as condições de valorização e de
acumulação do capital. Para cumprir as suas diferentes funções, o Estado dos ricos tem de assegurar
a disponibilidade de uma oferta abundante de mão de obra qualificada e dócil,
explorável e contratada à vontade, que produza mais-valia e dispense trabalho
excedentário não pago, do qual o capitalista extrai o lucro que é a fonte da
acumulação de capital. Nas sociedades industriais avançadas, como a França, o nível de
produtividade do trabalho assalariado mecanizado-robotizado-digitalizado é
tão elevado que foi possível ao capital, ao seu Estado e aos sindicatos
(esses apêndices do Estado burguês) reservar uma parte do salário dos
assalariados para assegurar o seu consumo, uma vez terminada a sua fase activa. O capital e o seu Estado constituíram assim enormes reservas monetárias,
chamadas fundos de pensões, que os cartéis fiduciários como a BlackRock administram
e investem na bolsa. A bolsa está em má situação, com ventos especulativos que a arrastam e a
ameaçam de colapso, enquanto a inflacção dos preços no consumidor dispara, o
que os bancos centrais tentam travar aumentando as suas taxas de juro
directoras. Mas não vale a pena: após vinte anos de generosidade monetária
aleatória (quantitative easing) e de emissão de moeda gratuita sem valor, a
dívida pública francesa está fora de controlo (3500 mil milhões de euros, ou
seja, 150% do PIB). Pior ainda, os empréstimos públicos são cada vez mais
caros e a dívida pública está a aumentar, ao ponto de a notação de crédito da
França estar ameaçada de novos retrocessos. Depois de ter confiscado todos os recursos do país, o Estado burguês
recorre, como último recurso, aos fundos de pensões, que (em 2023) terão 150
mil milhões de euros de poupanças populares, segundo o professor Gilles
Rabaud. https://twitter.com/Dr_Steph_GAYET/status/1640352805432041472 O Professor Rabaud afirma: “Não há qualquer problema com os regimes de
pensões em França; o sistema de pensões é um dos maiores êxitos da
República”. O presidente da CADES acrescenta: “Nunca
antes o Estado teve de arbitrar uma tal sorte: 150 mil milhões de euros de
poupanças acumuladas”. O Professor Rabaud prossegue: “A França já reformou o seu sistema de
pensões. As pensões dos reformados baixaram drasticamente nos últimos anos. O
verdadeiro problema das pensões em França é a pobreza dos reformados que não
conseguem fazer face às despesas...”. O aumento da idade da reforma para
os 64 anos não passa de uma manobra de diversão. Muitos reformados, mesmo
muito idosos, são obrigados a trabalhar a tempo parcial muito para além dos
64 anos para poderem sobreviver - é o drama dos reformados. Em suma, a reforma das pensões em França, tal como noutros países
ocidentais, foi um enorme golpe do Estado rico para expropriar os fundos de
pensões (poupanças) dos trabalhadores, a fim de adiar a falência nacional e a
desvalorização drástica do euro, uma vez que todos os países da UE estão no
mesmo comprimento de onda. Com o seu “esquema de reformas”, Macron está a
colocar o Estado francês de novo no caminho da União Europeia. L’arnaque
de la réforme des retraites en France…Macron touche pas à la caisse! – les 7
du quebec A esquerda oportunista e a direita nacionalista gritarão “haro sur le
baudet de l'Union européenne!” Futilidade, como dissemos anteriormente, todos
os países capitalistas ocidentais e orientais começaram a confiscar os
regimes de pensões dos seus trabalhadores. O dilema é saber se o proletariado
francês tem capacidade para travar o ataque mundial do grande capital. O que nos leva à nossa segunda questão: poderá o proletariado francês ganhar a batalha das
pensões e dos fundos de pensões? O proletariado francês, fechado no capitalismo de Estado totalitário, não
conseguiu vencer a guerra das pensões, que o grande capital transformou num
ponto alto para o governo Macron. Mais uma vez, o proletariado teve de
escolher entre uma retirada ordeira e a insurreição popular. Pensamos que a sua
escolha foi sensata. É injusto e inútil atacar a classe proletária com admoestações como: “É
bem feito! Não deviam ter confiado nos sindicatos! Não deviam ter feito greve por procuração!
Não deviam ter feito acções de salto!
Não devíamos ter falado mal do Black Bloc! Tínhamos de fazer
imediatamente uma greve geral selvagem e indefinida! Teríamos ganho numa semana! Mas fizeste tudo o que podias para perder e
perdeste. Agora não se queixem: vão trabalhar como idiotas e agradeçam ao
patrão que teve a bondade de vos dar emprego até morrerem. Não é com os
patrões que estou zangado, é convosco, trabalhadores!” http://mai68.org/spip2/spip.php?article14931 Temos de compreender por que razão o proletariado francês não fez o que
este militante teria desejado. Porque é que o proletariado francês não
transformou esta batalha na frente económica num confronto na frente política
- uma insurreição - numa guerra de classes a que se deve pôr fim? Este ataque
do grande capital era, no entanto, extremamente grave e o movimento popular
contra esta reforma mostra claramente que o proletariado francês compreendeu
a gravidade do momento e a importância da batalha. Olhando para além da ponta do seu nariz, o proletariado francês
compreendeu que as condições
objectivas (o colapso da economia capitalista e do seu aparelho de
Estado), as condições subjectivas
(consciência de classe e, consequentemente, organização política
revolucionária) e as condições
internacionais (o apoio da classe trabalhadora mundial) para a
insurreição proletária faltavam - ainda não estavam maduras. Nestas
condições, era impossível arrancar a liderança do movimento popular das mãos
da burocracia sindical e da pequena burguesia empobrecida. Era melhor deixar
estes capangas completarem a liquidação do movimento e retirarem-se em boa
ordem, conservando as suas forças para a próxima batalha, que não deveria
tardar. Pergunta subsidiária: a batalha contra a reforma das pensões valeu a
pena? Claro que valeu! O proletariado deve sempre travar a luta de resistência
na frente económica da luta. Desta forma, aprende a luta de classes
fazendo-a. Com a sua resistência feroz, o proletariado francês tomou a medida
da cólera e do desespero do capital e mostrou o caminho aos contingentes
operários de outros países. E como escrevemos: “Esta guerra de classes revela o
carácter ilusório da democracia burguesa. A democracia é a folha de figueira
atrás da qual se esconde a ditadura do capital. Ao longo da história, a
Democracia e a Ditadura, dois modos siameses de regulação política dentro do
mesmo modo de produção capitalista, alternam-se dentro do mesmo Estado
burguês, de acordo com as circunstâncias económicas e sociais, mas sobretudo,
de acordo com o progresso ou exacerbação da luta de classes”. Le Conseil
constitutionnel français veille sagement sur les intérêts de la bourgeoisie –
les 7 du quebec
https://les7duquebec.net/archives/282106.
Após esta batalha épica entre o proletariado e o grande capital francês,
a burguesia pensaria duas vezes antes de impor uma ditadura fascista e
militarista ao proletariado francês (46). Fonte : https://les7duquebec.net/archives/282134 |
124. Retrato das classes sociais em França no século XXI
O grupo Robin Goodfellow apresentou um retrato da composição de classe do movimento dos “Gilets jaunes” em França, que dá uma boa ideia da composição global das classes. Escrevem:
“O movimento dos
Coletes Amarelos nasceu da iniciativa de representantes da pequena burguesia (classe média) das regiões ditas “suburbanas”,
apaixonados por automóveis! A classe média, no sentido marxista do termo,
predomina na liderança do movimento. Mais importante ainda, o mesmo se aplica
ao alinhamento político. Para além da composição social da direção do
movimento, o proletariado coloca-se
sob a direcção política da pequena burguesia no sentido genérico do termo
(classe média e pequena burguesia capitalista). [...] Mas é o proletariado, a
classe dos trabalhadores assalariados sujeitos ao capital, que tem uma grande
maioria no movimento. As classes médias
tradicionais (artesãos, pequenos comerciantes que não empregam
trabalhadores assalariados) e a pequena
burguesia (capitalista) estão sobre-representadas nos coletes amarelos,
apesar de representarem apenas 10% da força de trabalho social. [...], a massa
de operários (14%), de assalariados (33%; estão
sobre-representados) - o que mostra também a importância das mulheres no
movimento, uma vez que se encontram frequentemente na categoria de assalariadas
- e de quadros (5%), a que devemos
acrescentar uma maioria de trabalhadores reformados
e desempregados que constituem um quarto da força de trabalho social, é um
elemento decisivo neste movimento e foi a sua acção que o fez evoluir,
apresentando reivindicações de classe. O que não é bem conhecido é a proporção
de trabalhadores assalariados que
vivem de rendimentos (impostos, despesas de rendimentos de outras classes) e
que, portanto, não estão sujeitos ao capital (as novas classes médias
assalariadas), tal como a proporção de trabalhadores
independentes que fazem parte do desenvolvimento contraditório da produção
capitalista”. (47).
Os operários possuem apenas a sua força de trabalho para sobreviverem e se reproduzirem enquanto classe social. Não possuem individualmente nenhum meio de produção (para além da sua força de trabalho). O facto de o Fonds syndical de Solidarité da Fédération des travailleurs du Québec recolher as poupanças de milhares de trabalhadores para investir na compra de empresas capitalistas falidas não faz destes trabalhadores - accionistas - capitalistas; tal como um trabalhador que participa no conselho de administração da sua cooperativa de crédito não se torna um capitalista financeiro. Pelo menos, não enquanto o proletário mantiver o seu emprego de assalariado, roubado do seu trabalho excedente, da sua mais-valia. Se um dia o operário se tornar gerente da cooperativa de crédito bem remunerada, perderá o seu estatuto de proletário, não por causa do aumento do seu salário, mas por causa da mudança do seu estatuto social que levou ao aumento do salário.
126. Desvalorização do trabalho e desvalorização do capital
À força de melhorar a eficiência das máquinas, a produtividade das ferramentas e os meios de produção, o capital reduz a quantidade de trabalho vivo contido em cada mercadoria, ou seja, o capital reduz o valor das mercadorias. Ora, o capital não pode existir e reproduzir-se sem se alimentar de “sobrevalor” (mais-valia), que acaba por diminuir na medida em que diminui o valor que a contém. Cada capitalista, ao reduzir a quantidade de trabalho assalariado vivo contido em cada unidade vendida, acaba por reduzir também a quantidade total de trabalho assalariado vivo, até ao ponto em que o trabalho excedente não pago também diminui, apesar do aumento da taxa de exploração dos trabalhadores (pl/Cv). Este processo é designado por baixa tendencial da taxa de lucro. Voltaremos a ele mais tarde, porque este conceito é necessário para compreender a contradição entre as duas classes antagónicas.
127. Classe capitalista monopolista e média burguesia
A classe proletária internacional enfrenta a antagónica e fragmentada classe capitalista monopolista mundializada (Grande Capital), ela própria sub-dividida em diferentes segmentos e facções. A grande burguesia das finanças, da indústria, das matérias-primas e da energia, dos transportes e da distribuição, do agro-alimentar e do comércio, das comunicações e dos serviços. Esta classe social hegemónica controla o desenvolvimento da economia política capitalista globalizada.
A classe média nacional desenvolve
tecnologias inovadoras, novas oportunidades de negócio e novos mercados. Sub-contrata
as grandes empresas monopolistas e trabalha principalmente à escala nacional
até ao dia em que estas empresas e corporações são engolidas pelos cartéis
financeiros mundializados. A média burguesia é a classe capitalista
não-monopolista, sob a hegemonia da grande finança. Apesar dos seus conflitos
esporádicos com o grande capital, a média burguesia nacional não é de modo
algum uma aliada do proletariado. O proletariado nunca deve colocar-se sob a
direcção política e ideológica da burguesia reaccionária, seja ela grande,
média ou pequena, incluindo a mística “classe
média” tão cara aos analistas geoestratégicos. (ver La petite bourgeoisie n’est pas
une « classe moyenne »! – les 7 du quebec. https://les7duquebec.net/archives/272943).
128. Os pequenos capitalistas « independentes »
Os agricultores proprietários de terras, os agricultores especializados, os empreiteiros de construção, os artesãos, os empreiteiros florestais, os pescadores proprietários das suas redes de arrasto, os piscicultores e os prestadores de serviços de todos os tipos (profissionais, engenheiros, arquitectos, etc.), os pequenos comerciantes são pequenos capitalistas que possuem (a crédito) os meios de produção, de troca ou de comunicação e que empregam regularmente uma mão de obra proletária supranumerária precária e mal paga. São classificados como pequenos capitalistas independentes, embora não sejam de modo algum independentes e estejam totalmente sob o jugo financeiro do seu banqueiro. Além disso, nos países altamente desenvolvidos e industrializados, a classe camponesa já não existe. Esta classe social sobrevive apenas em zonas de sub-desenvolvimento crónico, onde o capital local está a ser absorvido ou eliminado pelo capital mundializado, muitas vezes por intermédio de subalternos locais.
Nestes tempos de crise económica sistémica, os
pequenos capitalistas independentes estão a ser forçados à falência por grandes
capitalistas como a Monsanto e a Cargill na agricultura, a Clover Leaf e a High Liner na pesca, a Résolu,
a Kruger e a Cascades na silvicultura e no papel, etc.
129. A mundialização está nos genes do capitalismo
O interesse da classe operária explorada por
estes pequenos, médios e grandes capitalistas, multinacionais ou nacionais, não
é aliar-se aos pequenos predadores contra os grandes tubarões, como sugerem há
um século os partidos políticos reformistas e oportunistas (de esquerda e de
direita), mas sim subverter todo este modo de exploração que, de qualquer modo,
leva sempre a que o pequeno explorador seja absorvido pelo grande explorador.
Com o crescimento da sub-contratação e a sua submissão aos comitentes cotados
nos índices bolsistas S&P/TSX, estes pequenos patrões vivem muitas vezes na
miséria e estão longe de atingir o nível de rendimentos dos “quadros superiores”. Não podem fazer
nada para travar a marcha forçada do capital para a mundialização, mas devem
contribuir para ela ou desaparecer.
130. O salário de um proletário e a fortuna de um bilionário
Entre 1973 e 1995, os salários reais dos trabalhadores canadianos diminuíram 18%, enquanto os salários reais (excluindo a inflação) dos executivos das empresas aumentaram 66% depois de impostos e 19% antes de impostos. Entre 1993 e 1996, os salários dos directores executivos aumentaram 32% e os prémios de desempenho 61%, enquanto os salários dos trabalhadores estagnaram. Durante as décadas de 2000-2010 e 2020, assistimos ao mesmo aumento do fosso salarial entre proletários e patrões (48).
Na 36.ª edição do ranking anual da Forbes das pessoas mais ricas do mundo,
os patrões são 2 781, mais 141 do que há um ano. https://www.forbes.com/billionaires/ . Valem colectivamente
12,7 triliões de dólares, menos 400 mil milhões de dólares do que em 2021. As
quedas mais dramáticas registaram-se na Rússia, onde há menos 34 bilionários do
que no ano passado, e na China, onde uma repressão governamental eliminou 87
bilionários chineses. No entanto, a Forbes contabilizou mais de 1000
bilionários mais ricos do que no ano anterior. E 236 recém-chegados tornaram-se
bilionários. Os Estados Unidos continuam a liderar, com 735 bilionários que
valem colectivamente 4,7 mil milhões de dólares. A China (incluindo Macau e
Hong Kong) continua em segundo lugar, com 607 bilionários com um valor colectivo
de 2,3 triliões de dólares (49). É preciso não esquecer que esta riqueza
“virtual” é expressa em moedas fiduciárias, especulativas e voláteis, que podem
desaparecer amanhã, como em 2008 ou 2022... https://www.forbes.com/billionaires/.
131. Pobre e lumpen proletariado
Os institutos de estatística utilizam o rendimento individual e familiar para identificar os pobres e o lumpen-proletariado, quer estejam ou não a beneficiar de assistência social. Nas sociedades capitalistas avançadas, esta fracção de classe tem vindo a crescer continuamente desde a intensificação da crise económica sistémica. Esta fracção de classe participa, em maior ou menor grau, na produção social. Nos países onde existem tais programas, ela vive em parte dos benefícios sociais fornecidos pelo Estado rico. Há mais de 500.000 pobres e lumpen-proletários no Quebeque e 15 milhões em França.
No Canadá, há três milhões e meio de pessoas
pobres (que vivem com menos de 11.000 dólares por ano para uma pessoa que vive
sozinha), ou seja, 14% da população canadiana total em 2024. Destes, 1,7
milhões de canadianos recebem prestações sociais (assistência de último recurso
fornecida pelos governos provinciais). Desde 2008, a situação só tem piorado
para este segmento da população. Todos estes indivíduos fazem parte dos 15% da
população que, em conjunto, detêm menos de 1% da riqueza nacional do Canadá
(50).
132. O mito do “Estado-providência” e a luta social
Desde a Segunda Guerra Mundial, em vários países ocidentais desenvolvidos, a burguesia garantiu o rendimento dos mais desfavorecidos, no âmbito do “Estado-providência”, para assegurar e estimular o consumo e a circulação de mercadorias e, por conseguinte, o desenvolvimento do capital no seu território. Além disso, esta assistência contribuiu para a paz social, um antídoto contra a explosão de bairros degradados e de subúrbios.
O aprofundamento da crise sistémica do capitalismo está a pôr em causa este compromisso histórico. Isto explica a nova política anti-social e o endurecimento autoritário do Estado totalitário. A partir de agora, o Estado policial totalitário está reduzido a atacar frontalmente os segmentos da classe que protestam para exigir a manutenção dos seus benefícios sociais e do seu poder de compra. A burguesia e os seus capangas, depois de terem usado os pobres para manter o consumo e os lucros, estão agora a escolhê-los para reivindicação popular, apesar de ter sido a própria burguesia a mantê-los numa situação precária durante gerações. O lumpen proletariado é uma fonte de recrutamento para o exército de mercenários da Máfia, de pequenos criminosos de todos os géneros e de traficantes de droga. Tal como os bandidos, os negros étnicos e comunitários recrutam aí os seus capangas. As organizações anarquistas, os esquerdistas e os direitistas também recrutam activistas de base, sempre prontos a atirar pedras para exigir que o “Estado-providência” mantenha a sua ajuda à reprodução dos indigentes.
O proletariado revolucionário só mobiliza e organiza esta franja de desfavorecidos para lhes fazer compreender que o seu calvário social é uma consequência da decadência imanente do sistema económico capitalista, do qual devem sair definitivamente para reintegrar a classe dos trabalhadores úteis, activos e produtivos, o contrário da política da esquerda e da direita oportunistas.
No entanto, a desintegração avançada da sociedade capitalista levou ao aparecimento de trabalhadores produtivos, nomeadamente entre os imigrantes, nos serviços de proximidade, que trabalham em “sweatshops” (locais de suor) urbanos clandestinos, com salários inferiores ao mínimo vital. Para piorar a situação, estes trabalhadores pobres não são registados em nenhum dos dados oficiais compilados pelos institutos de estatística burgueses. Estes trabalhadores sobre-explorados são proletários e não lumpen-proletários.
Cada vez mais pessoas escapam a qualquer
recenseamento, tal como certos sectores e bairros das megalópoles urbanas
escapam completamente à governação municipal e ao controlo da polícia
repressiva. Nos Estados Unidos, a classe capitalista monopolista prefere usar a
repressão do estado policial totalitário para esmagar este segmento da classe e
forçá-lo a permanecer em áreas de gueto, abandonadas pela polícia e
negligenciadas pelos serviços municipais. São literalmente “terras de ninguém”
urbanas que, no dia do levantamento popular espontâneo e caótico, serão
refúgios para os apoiantes anticapitalistas que devem conhecer e organizar
estas zonas periurbanas, bem como os centros urbanos “favelados”, e as
populações que os frequentam e assombram, a fim de os colocar ao serviço da
insurreição e da revolução proletária.
133. Quebrar o contrato social burguês
Por fim, alguns pobres podem regressar ao trabalho assalariado, ou permanecer pobres a tempo parcial, com um salário mínimo (SMIC) e continuar a ser miseráveis. E como o desemprego não poupa nenhuma categoria, essas pessoas tornam-se novamente indigentes. Os pobres e o lumpen-proletariado não são duas categorias hermeticamente fechadas, isoladas e separadas do proletariado. Numa cidade como Winnipeg, no Canadá, por exemplo, 40% dos sem-abrigo são trabalhadores assalariados. As proporções são semelhantes em várias cidades americanas e canadianas. Um sociólogo concluiu que “entre o desemprego, o sub-emprego, a incerteza do emprego e a insegurança financeira dos ‘trabalhadores pobres’, é muito provável que entre um quarto e um terço da população (...) esteja a viver em condições de extrema dificuldade a longo prazo” (51). Tudo isto significa que a classe capitalista monopolista e o seu Estado burguês resolveram, para manter as taxas de lucro, espremer todos estes segmentos de classe até ao ponto de os sangrar e pôr em perigo a sua posteridade. É o que chamamos de “ruptura do contrato social burguês”, um prenúncio da implosão da estrutura social do capital.
134. Assalariados temporariamente mais bem pagos
No Canadá, em França e nos Estados Unidos, os assalariados representam 90% da população activa. A este contingente juntam-se os jovens estudantes, que são futuros assalariados; os desempregados, que são assalariados privados de emprego; e os reformados, que são antigos assalariados que vivem das quotizações para a reforma. É a força de trabalho assalariada que reina em todo o lado e que domina sociologicamente os países do mundo capitalista.
No Canadá, no início dos anos 2000, os salários
variavam entre $385/semana (salário mínimo de $15,00/hora no Quebeque) e mais
de $2.500/semana, com uma média de $1.000/semana e uma mediana de cerca de
$600/semana (em 2015, cerca de 3,5 milhões de trabalhadores canadianos ganhavam
cerca desta mediana). As proporções continuam a ser as mesmas actualmente na
maioria dos países. (ver : https://les7duquebec.net/?s=pauvres)
135. Quadros grandes e pequenos
A maioria dos profissionais e quadros superiores são trabalhadores por conta de outrem. Com a degradação do seu estatuto e das suas condições de trabalho, não são excepção ao destino comum. As grelhas de classificação e os parâmetros personalizados alimentam um sistema de “bónus individual”, uma fórmula pouco diferente da remuneração à peça de muitos operários. O pessoal das profissões liberais e dos quadros tem o mesmo horário de trabalho legal que o resto dos trabalhadores, embora as leis que o regem sejam, na maior parte das vezes, violadas ou contornadas. Mais de 40% dos profissionais e gestores ganham menos do que o tecto da Segurança Social e pagam a totalidade das contribuições ao Estado.
Nos países capitalistas avançados, a diferença entre os rendimentos médios dos profissionais assalariados e os dos operários e empregados passou de 3,9% em 1955 para 2,3% em 1998. Se os empregadores se orgulham de individualizar os salários, na realidade estão a comprimi-los, fazendo-os descer na escala salarial (em termos relativos e absolutos). Em contrapartida, entre os quadros superiores remunerados em dividendos e acções, nomeadamente nos Estados Unidos, a diferença de remuneração entre os directores executivos e os operários passou de um factor de 40 em 1970 para um fator de 1000 em 2012, enquanto no Canadá se situa entre 189 e 200 (52).
Numa sociedade imperialista em declínio, as funções de direcção foram consideravelmente reduzidas a favor das tarefas de produção. Isto porque, ao contrário do que acontecia no passado, a linha divisória entre trabalhadores de “colarinho branco” e de “colarinho azul” está a tornar-se cada vez mais ténue. Em suma, na sua guerra total para manter os níveis de lucro, o capital está a atacar duramente os seus colaboradores mais próximos e os seus piores inimigos, os trabalhadores. No entanto, este facto não faz dos gestores assalariados aliados dos trabalhadores.
Este paradoxo aponta para uma “desqualificação” dos licenciados que, com um determinado nível de qualificação, ocupam empregos cada vez menos qualificados e cada vez menos bem pagos. Este facto explica em parte o recente ressurgimento das revoltas estudantis em muitos países ocidentais e na América Latina. Os potenciais quadros jovens já estão a antecipar a sua morte mesmo antes de terminarem a universidade.
Os gestores têm períodos de desemprego mais
longos; a espada de Dâmocles do centro de emprego paira sobre eles, tal como
sobre os outros trabalhadores. A chantagem laboral está generalizada a todos os
trabalhadores. As condições de trabalho deterioram-se em todos os sectores e a
urgência da situação reduz a previsibilidade das tarefas e a margem de manobra
para as realizar. A carga mental está a aumentar, tal como a dificuldade do
trabalho. Para uma maioria crescente de trabalhadores, as pressões são cada vez
maiores: aumento do ritmo de trabalho, multiplicação dos constrangimentos,
mecanização mais intensa, digitalização acelerada, velocidade infernal de
execução, exigências múltiplas, vigilância acrescida, controlo hierárquico permanente.
Este é o quotidiano dos trabalhadores e dos gestores das empresas e das
instituições.
136. A « classe média »
Há anos que, na sociologia, na economia e na ciência política, a “classe média” é o único foco, pelo menos na literatura burguesa. Desapareceram a classe operária, o proletariado e a pequena burguesia. Os investigadores académicos imaginaram esta nova categoria de assalariados, a “classe média”, semelhante a uma extensa e elástica “pequena burguesia”, composta por funcionários públicos-tecnocratas, burocratas, vendedores e empregados (temporariamente) com altos rendimentos, quadros subalternos mal pagos, engenheiros, técnicos, professores, artistas e jornalistas, e uma infinidade de empregados das profissões liberais, todos eles a trabalhar no hipertrofiado sector “terciário”.
Os intelectuais definem a classe média pelos seus rendimentos e estilo de vida. Os papéis diferenciados deste estrato social no processo de produção e de troca são irrelevantes. Os rendimentos deste estrato social alargado estão acima da média dos assalariados, o que lhes dá acesso ao crédito bancário e a um endividamento praticamente ilimitado. Os assalariados da classe média são grandes consumidores e grandes devedores. A sociedade de consumo e as suas ilusões mantêm-nos sob pressão.
Dada a imensa diversidade das suas actividades, a variedade das suas ocupações, a disparidade das suas condições de vida e de trabalho, a “classe média” é circunscrita pelo rendimento dos seus constituintes. Numa economia imperialista de desenvolvimento desigual e combinado, o salário médio num país como o Canadá não tem nada a ver com o salário médio no Uganda ou no Botswana. A categoria sociológica “classe média” é, portanto, circunscrita por contornos salariais informais, o que torna impossível definir política, cultural e sociologicamente esta pretensa classe social.
Os apologistas do sistema capitalista querem
fazer-nos acreditar numa “grande camada
social média e central” que, trabalhando serenamente, colheria os
benefícios do sistema e só aspiraria a beneficiar ainda mais dele. Há milhões
deles a trabalhar nas economias americana e canadiana. Perfeitamente integrados
no mercado de trabalho, estes assalariados médios não seriam hostis ao sistema
e, pelo contrário, desejariam que este se tornasse mais flexível e mais
rentável para eles. Para eles, o sistema capitalista é um horizonte
indestrutível, pelo que basta tentar melhorá-lo, reformá-lo e fazer com que a indústria, o comércio, as trocas, a
inovação, a produção, a concorrência e o consumo funcionem melhor, para
satisfazer os desejos desta “grande
camada social média e central” sob o olhar benevolente do “Estado-providência” dos ricos!
137. O reformismo pequeno-burguês e a marcha para o fascismo
Um apelo à colaboração de classe e ao reformismo
mergulha-nos no coração do corporativismo fascista. O reformismo é a estrada
real para o fascismo, e a pequena burguesia é o seu portador designado. A
grande camada social média e central floresceu durante o efémero florescimento
da economia imperialista, desde o fim da Segunda Guerra Mundial até ao início
da década de 1980. Actualmente, este período de prosperidade burguesa terminou,
como iremos demonstrar.
138. Terciarização da economia e estagflação
Em 2012, o sector dos serviços representava 60% do PIB mundial e cerca de 70% da força de trabalho activa nas sociedades imperialistas avançadas. A mão de obra do sector dos serviços é maioritariamente, mas não exclusivamente, constituída por pequenos burgueses da classe média. Esta força de trabalho inclui todos os trabalhadores precários do comércio a retalho, da restauração rápida, da hotelaria e dos serviços (ou seja, aqueles que foram tão duramente atingidos por lock-outs, toques de recolher, desemprego e perda de rendimentos durante a crise COVID). Esta explosão do emprego no sector terciário não constitui uma alteração fundamental do modo de produção capitalista. Esta terciarização do emprego é a consequência da divisão internacional imperialista do trabalho entre países que são reservatórios de matérias-primas e de energia, países que são oficinas de fabrico e países capitalistas financeiros dominantes que são consumidores. Este desenvolvimento “terciário” é também o resultado de estratégias desesperadas dos governos dos países desenvolvidos para ocupar o trabalho excedentário, manter o consumo e aliviar as tensões sociais.
A chamada “classe média” não existe e não tardará muito para que a crise económica sistémica aniquile esta camada social com os seus rendimentos temporariamente inflaccionados graças à captura em grande escala de lucros imensos nos países neo-colonizados pelas empresas imperialistas dos países avançados e, sobretudo, pelo confisco dos aumentos de produtividade nos países desenvolvidos. Além disso, a emergência de uma camada média na China, na Índia, no Brasil e na Turquia só é mencionada desde que estes países entraram na fase imperialista ascendente, enquanto a mesma “classe média” é maltratada e empobrecida nas sociedades do campo imperialista em declínio (Estados Unidos, Canadá, Austrália, União Europeia, Japão, etc.).
Acreditamos que o conceito de “classe média” desaparecerá com a estagflação generalizada, quando se evaporarem 600 mil milhões de dólares de acções falsas e de acções derivadas, levando consigo as poupanças e os empregos da chamada classe média. A estagflação é a inflacção dos preços combinada com a estagnação e o declínio do emprego, da produção e da acumulação de capital (ver : https://les7duquebec.net/archives/290554).
A riqueza não é um factor decisivo para determinar o estatuto de classe de um indivíduo. Uma classe social não é definida pelo seu nível de rendimento, ainda que exista frequentemente uma forte correlação entre o estatuto social e o rendimento familiar. O capitalista monopolista será, na maior parte das vezes, rico (até à falência e à expulsão do seu clube privado). E o operário terá, na maior parte das vezes, um rendimento modesto e nenhum património que lhe seja legado, embora, por vezes, durante um determinado período de tempo, tenha um salário decente.
Esta vantagem salarial de que goza uma parte da
classe operária ocidental é ameaçada pelas tempestades económicas. Pior ainda,
o operário não é simplesmente despromovido e vê o seu salário reduzido; o operário
bem pago é muitas vezes expulso definitivamente e privado do trabalho numa
idade precoce, muito antes da reforma. Os dirigentes são muitas vezes
despedidos ao mesmo tempo que os operários. A cidade de Detroit, capital dos operários
bem pagos do sector automóvel, é hoje uma cidade falida, tendo perdido metade
dos seus habitantes, e foi colocada sob tutela do Estado do Michigan.
139 Os três sectores da economia capitalista
Na economia burguesa, o sector terciário, um dos três sectores económicos da contabilidade nacional, é definido excluindo os outros dois sectores: inclui todas as actividades económicas que não fazem parte dos sectores primário ou secundário. É o sector que produz serviços.
O sector primário
inclui as actividades relacionadas com a extracção de recursos naturais ou a
exploração directa do solo, do subsolo e da água, ou seja, a agricultura em
sentido lato, a extracção mineira e a extracção de combustíveis fósseis (sem
transformação secundária), a pesca (sem transformação do recurso), a
silvicultura ou a exploração florestal (sem incluir a transformação do recurso
num produto acabado), a caça e a armadilhagem. O sector secundário inclui todas as actividades de transformação de
matérias-primas, como a indústria transformadora, a construção e os transportes
de todos os tipos (53).
140. Nível de rendimento e classe social
Não é o nível de rendimento que determina o estatuto de classe de um indivíduo. Por exemplo, um pequeno agricultor ganha muitas vezes menos do que um trabalhador especializado, mas o agricultor, mesmo que não seja muito rico, é o proprietário dos seus meios de produção e não é um assalariado. Este facto não o impede de ser explorado pelos seus credores. Quanto ao trabalhador agrícola assalariado, ele pertence à classe proletária. O agricultor moderno, que explora mecanicamente grandes parcelas de terra, não pode ser considerado um “camponês”. As revoltas agrícolas que incendiaram a Europa e a América em 2023 e 2024 foram as revoltas de agricultores proprietários de terras com activos de milhões de dólares. São revoltas de pequenos capitalistas em processo de empobrecimento acelerado (ver : A revolta dos agricultores na Europa https://les7duquebec.net/archives/289535).
O agricultor, o silvicultor e o pescador podem decidir contratar ou despedir assalariados, mexer na sua contabilidade, assim como podem decidir vender as suas propriedades e embolsar as rendas depois de terem colhido os seus lucros comerciais e reorientado a sua produção em novas direcções. Nenhuma destas autonomias e manobras está ao alcance do operário agrícola ou do assalariado, porque ele só tem a sua força de trabalho para vender e ganhar a vida.
O lugar do indivíduo no
processo de produção e reprodução do capital determina as suas relações sociais
e a sua “praxis”. Estes factores são decisivos para identificar a classe a que
um indivíduo pertence. Estas características sociais determinam o seu
comportamento económico, político e ideológico.
Por esta razão, rejeitamos o conceito de “classe média”, que é apenas a média das insuficiências
epistemológicas e teóricas dos intelectuais burgueses.
141. A pequena burguesia
A pequena burguesia compreende entre 20% e 30%
da população assalariada no Canadá, e provavelmente a mesma proporção no
Quebeque, em França e na maioria dos países capitalistas avançados. A pequena
burguesia é um segmento da classe burguesa, mas não é proprietária dos meios de
produção que utiliza. A maioria dos pequenos burgueses trabalha nos serviços
que sustentam a reprodução da força de trabalho. E este segmento da classe está
no centro da luta de classes, onde serve de cão de guarda e correia de
transmissão entre os capitalistas desonestos e os proletários rebeldes.
A pequena burguesia é um segmento de classe
relativamente grande, estatisticamente falando, especialmente após a Segunda
Guerra Mundial e a expansão desenfreada do imperialismo. A pequena burguesia é
um segmento relativamente grande da classe, especialmente desde a Segunda
Guerra Mundial e a expansão desenfreada do imperialismo. Inclui também os
gestores de nível inferior, os trabalhadores intermédios não remunerados em
capital social (stock options). As fileiras incluem ainda uma infinidade de
profissionais liberais, incluindo advogados, notários, farmacêuticos não
proprietários, médicos de clínica geral e paramédicos, bem como uma variedade
bastante ampla de profissionais assalariados que trabalham em serviços
privados, públicos e parapúblicos, tais como professores universitários,
professores, enfermeiros, polícias, oficiais do exército, arquitectos e
engenheiros, profissionais do governo e paragovernamentais, burocratas
sindicais, conselheiros políticos e lobistas, artistas e intelectuais,
jornalistas, apresentadores de rádio e televisão. Em suma, todos estes
“coolies” formadores de opinião, muitas vezes assalariados, com um bom nível de
formação e que exigem autonomia no exercício da sua profissão.
A pequena burguesia propagou a ideia de que os
proletários estavam dispostos a sacrificar-se para obterem maior autonomia no
seu trabalho de escravos assalariados e maior equidade na sociedade
capitalista. Melhor ainda, os pequenos burgueses estão a fazer campanha pela “inclusão social”, LGBTQ, “justiça climática”, redução da pegada
ecológica e transição energética. Na realidade, trata-se de uma projecção: a
pequena burguesia atribui as suas próprias fantasias ideológicas à classe operária.
Segue-se um compêndio da cortina de fumo da emergência climática apresentada pela esquerda e pela direita
reformistas.
A emergência climática |
Dois pontos de vista opostos: os CRENTES DO CLIMA e os CÉPTICOS DO CLIMA A atmosfera é constituída por cerca de 79,04% de azoto (N), cerca de
20,93% de oxigénio (O2), cerca de 0,038%
de dióxido de carbono (CO2) e vestígios de gases raros (árgon,
néon). Para quem quiser continuar a
calcular : Temos 0,038% de CO2 no ar. A
própria natureza produz cerca de 96%.
Os restantes 4% são produzidos
pelo homem. Ou seja, 4% de 0,038%, ou seja, 0,00152%. A quota da Alemanha é de 3,1%.
Assim, a Alemanha altamente industrializada influencia a produção de
CO2 na atmosfera em 0,0004712% por ano. Nos últimos 600 milhões de anos, estima-se que a quantidade de CO2 na atmosfera
tenha variado entre 0,5 e 20 vezes o nível actual. De acordo com os peritos do IPCC : 1/ há uma mudança climática observável, 2/ As actividades humanas são responsáveis por 4% do total, ou seja,
0,00152% do total da Terra, através da produção de gases com efeito de estufa
(CO2 e +), 3/ Só uma mudança drástica no nosso
comportamento pode evitar as catástrofes que nos esperam num futuro não muito
distante. Esta teoria apresenta alguns pontos interessantes, com a única conclusão
de que as variações climáticas observadas constituem alterações climáticas mundiais
causadas pela actividade humana. Na sequência das publicações do IPCC, esta
visão apocalíptica foi adoptada pela maioria dos governos dos países
ocidentais ricos e industrializados. Os meios de comunicação social
aproveitam todas as oportunidades para nos recordar a palavra destes peritos,
que se tornou a palavra oficial. Aqueles que questionam esta linha oficial são deixados a pensar e a
duvidar, mas ouvimos muito pouco sobre eles
nos meios de comunicação social a soldo. Não existe emergência climática…mas existe emergência
económica (cidadão climatocéptico) – les 7 du quebec https://les7duquebec.net/archives/285351 É justo dizer que, quando se levantam vozes discordantes que não vão ao
encontro da linha oficial, seja qual for o assunto, o sistema consegue
dar-lhes o mínimo de visibilidade possível para não provocar maus pensamentos
no público consumidor. Uma entrevista com Christian Gerondeau na TV Liberté intitula-se”IPCC: 30 anos de mentiras, por Christian
Gerondeau TVL (1 de Junho de 2023). https://www.youtube.com/watch?v=HkuCBxIbZ_g&t=61s O livro de
Christian Gerondeau “Le climat par les
chiffres, Sortir de la Science-fiction du GIEC (IPCC), Trente ans de
mensonges” (Édition l'Artilleur). Christian Gerondeau analisa os dados oficiais publicados pelo IPCC e explica: “Existem 3 200
mil milhões de toneladas de CO2 na atmosfera (há uma confusão entre o stock e
o fluxo de CO2). Produção anual de CO2 pelas actividades humanas: 32 mil
milhões de toneladas, metade das quais são absorvidas pelos oceanos e pelas
plantas. Os restantes 16 mil milhões
de toneladas são produzidos pela actividade humana: 5,6 milhões pelos países desenvolvidos, ou seja, 1/600 1,6 milhões na Europa, ou seja, 1/2.000 160 milhões em França, ou seja, 1/20.000 Os restantes 2/3 destes 16 mil milhões de toneladas são produzidos pelos
países em desenvolvimento. Acreditar que as acções dos fanáticos da emergência climática irão
reduzir o CO2 na atmosfera “é querer esvaziar o oceano com uma colher de pau”. Por último, contrariamente às falsas afirmações oficiais, a temperatura
da Terra não aumentou mais rapidamente desde os acordos de Paris em 2015, mas
sim diminuiu. As sociedades precisam de energia constantemente: em França, os
reactores nucleares fornecem electricidade suficiente quando não há vento ou
sol. Quando, de repente, não há vento e/ou sol, somos obrigados a exportar (a
baixo custo) 80% da electricidade renovável produzida, ou mesmo a abrandar a
produção nas centrais nucleares. Os alemães estão muito à frente no que respeita às energias renováveis.
Depois de terem abolido a energia nuclear, tiveram de reabrir as minas de
carvão e as centrais eléctricas (com uma pegada de carbono desastrosa). -6 milhões de crianças morrem todos os anos nos países em desenvolvimento
por não terem acesso à energia e à electricidade. -As mudanças de temperatura e de clima são normais e sempre existiram na
história do planeta. O CO2 é essencial à vida; durante o período dos dinossauros, o CO2 era
mais abundante na atmosfera e a terra era exuberante; a decomposição desta
flora deu-nos os combustíveis fósseis. O facto de dispormos de energia barata permitiu que as nossas sociedades
se desenvolvessem em muitos domínios, por que razão haveríamos de querer
privar disso os países em desenvolvimento, que enfrentam muitos desafios? Porque é que o
capital mundializado propaga estas teorias delirantes sobre a emergência
climática, a necessidade de descarbonização, a electrificação dos
transportes, o abandono dos combustíveis fósseis e outros disparates
ambientais? Fonte : Sylvain Tréton, (2023) https ://les7duquebec.net/archives/285457 |
142. A pequena burguesia e a revolução social
Os pequenos burgueses não produzem mais-valia. Mas eles monopolizam parte da mais-valia produzida pelos trabalhadores e pelo proletariado. O capital transfere essa mais-valia para os pequenos burgueses para os alistar nas funções de gestão e controlo da força de trabalho, de condicionamento ideológico e arregimentação política, e nas tarefas de repressão policial e simbólica (educativa e mediática).
À medida que a crise sistémica se agrava, o Estado reduz drasticamente a carga fiscal sobre as empresas. Para compensar este défice orçamental orquestrado, o Estado rico aumenta os impostos sobre os assalariados e aumenta os impostos sobre toda a população, incluindo os desempregados, os reformados e as mães solteiras. Assim, o orçamento de Estado é inteiramente financiado pelos assalariados e pelos empregados das empresas públicas, semi-públicas e privadas. Estas deduções fiscais pesam também sobre as classes médias empobrecidas. Este fenómeno leva segmentos da pequena burguesia a juntarem-se aos operários na sua luta de resistência na frente económica da luta de classes.
A diferença entre os operários e os pequenos burgueses empobrecidos reside no facto de o operário saber intuitivamente que só a destruição do sistema político-económico capitalista pode emancipar o proletariado e salvar o planeta e a raça humana da extinção. O pequeno-burguês, impostor e utópico inveterado, está convencido de que só através da aprovação de reformas no parlamento dos ricos é que o modo de produção capitalista pode ser melhorado, a democracia moribunda revitalizada e a economia tornada mais rentável.
Devido ao seu estilo de vida narcisista e venal, os pequenos burgueses estão instintivamente do lado da burguesia, a quem servem com docilidade e auto-sacrifício. São tão subservientes, de corpo e alma, à alta burguesia que idolatram que, mesmo quando confrontados com a “despromoção” infligida por essa mesma burguesia, continuam a ser-lhe devotados, agarrados ao seu dono como um cão fiel. Congruente com a ideologia dominante que castiga a classe operária, o pequeno burguês despeja os seus ressentimentos, incriminações e discriminações contra os operários, a quem culpa pelo seu declínio social.
Na visão de Marx, a pequena burguesia tem pouco poder para transformar a sociedade, porque dificilmente se consegue organizar, a concorrência de mercado coloca os seus membros “uns contra os outros”. O pequeno burguês é o cão de guarda da grande burguesia. Representa um segmento de classe intermédio que compromete a sua existência ao serviço da grande burguesia contra a classe proletária.
Uma coisa é certa: a classe proletária nunca deve deixar a direcção das suas lutas de resistência nas mãos de pequenos burgueses oportunistas, que são sempre rápidos a trair. É porque os diferentes partidos eurocomunistas (franceses, italianos, belgas, britânicos, alemães, espanhóis, portugueses), canadianos, americanos, cubanos e chineses esqueceram esta recomendação de nunca deixar a direcção do partido nas mãos da pequena burguesia reaccionária que o movimento operário tem sido desviado internacionalmente.
A fim de se proteger contra a
influência deletéria da pequena burguesia, a classe operária deve permanecer
desconfiada deste estrato social parasitário, que não é certamente o principal
adversário do proletariado, mas é, no entanto, o braço político e ideológico da
burguesia. A vanguarda da classe proletária deve manter este segmento da classe
sob controlo e impedir que se infiltre e se ramifique nas organizações
revolucionárias.
143. A supremacia do proletariado revolucionário
Outros estratos sociais estão activos ao lado destas duas classes sociais antagónicas. Mas nenhum deles pode tomar o lugar da classe proletária revolucionária, porque nenhum desses estratos sociais é irremediavelmente obrigado a resistir e derrubar o modo de produção capitalista e as relações de produção para sobreviver e se reproduzir. Só a classe proletária é obrigada a fazê-lo para assegurar a sua posteridade.
Assim, os camponeses sem terra, os fellahs, os meeiros e os trabalhadores agrícolas sem terra, ainda numerosos em certos países da Ásia, da África e da América Latina, esses estratos sociais de outros tempos, a que os esquerdistas chamam a periferia rural que rodeia os centros urbanos metropolitanos onde residem os proletários gentrificados (sic), não podem constituir a força dirigente do movimento revolucionário proletário, uma vez que o interesse do camponês é possuir uma parcela de terra e utensílios agrícolas e produzir para vender e receber a renda. Num país onde ainda subsistem resquícios do modo de produção agrário feudal, a classe camponesa poderá apoiar a revolução, mas chegará o dia em que a socialização, a mecanização e a robotização da produção agrícola se chocarão com as suas ambições de pequenos proprietários.
Não é a pobreza, nem a intensidade dos sofrimentos ou dos sacrifícios de uma classe ou de um fragmento de classe que determina o seu papel histórico no movimento insurrecional, mas a sua situação intrínseca no processo social de produção e de reprodução colectiva. Quanto mais as condições económicas e sociológicas de exploração de uma classe ou de um segmento de uma classe se assemelharem às da classe explorada, oprimida e alienada, maior será a sua pugnacidade pela mudança revolucionária.
Assim, apesar do carácter árduo das tarefas agrícolas, que são idênticas dos dois lados do Atlântico, os horticultores importados do México ou de Marrocos para trabalharem como escravos assalariados para as multinacionais agro-alimentares estão socialmente mais próximos dos proletários dos países industrializados do que dos camponeses sem terra que aspiram a tornar-se proprietários no México, em Marrocos e no Brasil.
Lenine escreveu:
“A revolução socialista na Europa não pode ser outra coisa senão a explosão da luta de massas dos oprimidos e descontentes de todo o género. Elementos da pequena burguesia e dos trabalhadores mais atrasados tomarão inevitavelmente parte nela - sem essa participação, a luta de massas não é possível, nenhuma revolução é possível - e, de forma igualmente inevitável, trarão para o movimento os seus preconceitos, as suas fantasias reaccionárias, as suas fraquezas e os seus erros. Mas, objetivamente, atacarão o capital, e a vanguarda consciente da revolução, o proletariado avançado, que expressará esta verdade objetiva de uma luta de massas díspar, discordante, heterogénea, à primeira vista sem unidade, será capaz de a unir e dirigir, conquistar o poder, tomar os bancos, expropriar os trusts odiados por todos (embora por razões diferentes! ) e levar a cabo outras medidas ditatoriais, tudo isto resultará no derrube da burguesia e na vitória do socialismo, que não será imediatamente limpo da escória pequeno-burguesa. (54).
Lenine tinha razão: a revolta populista espontânea, díspar, discordante e, à primeira vista, caótica e anárquica, será obra de classes e fracções de classes, que a eventual hegemonia da classe proletária sobre a revolta populista transformará numa insurreição popular e, depois, numa revolução proletária.
No entanto, Lenine salienta que:
“Quanto mais jovem for o proletariado, quanto mais íntimo e recente for o seu parentesco com os camponeses, quanto mais elevada for a percentagem destes últimos no conjunto da população, e quanto mais importante for a luta contra qualquer alquimia política das 'duas classes'.” No Ocidente, a ideia de um partido operário e camponês é simplesmente ridícula. No Oriente, é desastrosa. Na China, na Índia e no Japão, é o inimigo mortal não só da hegemonia do proletariado na revolução, mas até da mais elementar autonomia da vanguarda proletária. O partido operário e camponês só pode ser uma base, uma máscara, um trampolim para a burguesia”. Lenine repetiu tenazmente na altura da revolução de 1905: “Desconfiai dos camponeses, organizai-vos independentemente deles, estai prontos a combatê-los logo que actuem de forma reaccionária ou anti-proletária”. O mesmo se deve aplicar hoje perante a pseudo pequena burguesia de “classe média”.
Em 1906, Lenine acrescentou:
“Um último conselho: proletários e semi-proletários das cidades e dos
campos, organizem-se de forma autónoma. Não se apoiem nos pequenos
proprietários, mesmo nos muito pequenos, mesmo que 'trabalhem' (...) Apoiamos
totalmente o movimento camponês, mas devemos lembrar-nos que é o movimento de
outra classe, não a que deve e fará a revolução... proletária”.
Finalmente, em 1908, completou o seu pensamento nos seguintes termos:
« A aliança do proletariado e dos camponeses não pode de forma alguma ser concebida como a fusão de diferentes classes ou dos partidos do proletariado e dos camponeses. Não só uma fusão, mas mesmo qualquer acordo permanente seria fatal para o partido socialista da classe operária e enfraqueceria a luta democrática revolucionária.» (55).
O mesmo acontece hoje com a pequena burguesia empobrecida, zangada e
frustrada com a ingratidão dos seus patrões do grande capital.
« Um último conselho: proletários e semi-proletários das cidades e dos
campos, organizem-se de forma autónoma. Não se apoiem em pequenos
proprietários, mesmo muito pequenos, mesmo que “trabalhem” (...) Apoiamos
totalmente o movimento camponês, mas devemos lembrar-nos que é o movimento de
outra classe, não a que deve e vai fazer a revolução... proletária.».
Notas
(1) Revoltas populares no Egipto
Revoltas populares no Egipto Analisemos
o desenvolvimento da luta de classes, do económico ao ideológico e político,
na revolta da classe trabalhadora egípcia entre 2005 e 2013. A luta de
classes dos trabalhadores egípcios ficou atolada no pântano da luta intercapitalista
entre as facções de Mubarak e pós-Mubarak, aliadas ao exército nacional
chauvinista e apoiadas pelo imperialismo norte-americano, e as facções que, à
falta de um termo melhor, identificaremos como islamistas, patrocinadas pelo
Emirado Árabe do Qatar e pelo Reino Wahhabi da Arábia Saudita. A pequena
burguesia egípcia, apoiada pelas redes sociais e pelas ONG de base,
apressou-se a dar o seu apoio. Foram eles que espalharam o tumulto de um
duelo religioso arcaico entre a Irmandade
Muçulmana, os jihadistas-islamistas
e os salafistas mumificados, contra os subalternos “socialistas”, laicos e
revolucionários. O duelo culminou com um golpe de Estado que levou ao poder o
fantoche do exército, o marechal de campo Al Sissi. Foi a
pequena burguesia, através das suas organizações políticas socialistas, de
esquerda ou islamistas, apoiadas pelos grandes meios de comunicação social,
que levou a cabo a missão de sequestrar o movimento operário e popular
egípcio para confiscar a direcção da sua luta de classes. Uma luta que,
inicialmente, se tinha desenvolvido na frente económica através de greves
contra a depreciação dos salários e os despedimentos, manifestações contra o
aumento dos preços e a deterioração das condições de vida, concentrações
contra o desmantelamento dos serviços públicos, a explosão do desemprego e
contra a fome e a falta de habitação. Depois, pouco a pouco, a luta
estendeu-se à frente política, desafiando o poder burguês nacionalista e o
aparelho de Estado. “Mubarak fora” em vez de ‘capitalismo
fora’. Foi aqui
que a burguesia interveio de forma mais violenta e eficaz, agitando a palavra
de ordem “Mubarak fora!”, transformando ideológica e politicamente uma
revolta que ameaçava derrubar toda a superestrutura do Estado numa exigência
de eleições burguesas para que a população pudesse escolher um tirano de
entre um punhado de candidatos pré-seleccionados e supervisionados pelos
bilionários nacionalistas e capitalistas compradores do Egipto. Foi a
Secretária de Estado dos EUA que, em nome da classe capitalista mundial, deu
luz verde para que Mubarak fosse demitido e substituído por eleições
democráticas burguesas “livres”. A Secretária de Estado não tinha dúvidas
quanto ao resultado destas eleições, uma vez que as empresas norte-americanas
que as organizam conseguem sempre orientar o voto popular para o candidato da
sua escolha: o candidato acreditado pelo establishment. O exército egípcio
apoiou esta manobra e fez todos os esforços para a levar a cabo. Foi então
que as falanges pequeno-burguesas das frentes plurais de esquerda se puseram
a trabalhar e, através da sua agitação na arena ideológica e política (meios
de comunicação, assembleias, manifestações, ocupações, agiotagem eleitoral,
redes sociais), desviaram a revolta dos trabalhadores para o pântano
eleitoralista e o cretinismo parlamentar. Tudo foi feito para que, em nenhum
momento, a consciência de classe “em si” e a sua luta espontânea na frente
económica conduzissem à consciência de classe “para si” e a uma insurreição
para derrubar o Estado burguês. O plano dos EUA para o
Egito em revolta O plano americano era
simples. Os melhores organizadores de eleições forjadas (empresas americanas
de renome) espalharam-se por todo o Egipto e, com o dinheiro fornecido e a
publicidade amplamente assegurada, conduziram uma campanha a favor de alguns
candidatos a seu soldo. O seu antigo agente egípcio, membro dos serviços
secretos da Agência Internacional da Energia Atómica (AIEA), Mestre El
Baradaï, fazia parte do círculo restrito. No entanto, estes “fazedores” de
eleições não faziam ideia de como votaria este povo imprevisível. Os egípcios
rejeitaram esta farsa eleitoral, desiludidos por terem sido enganados nas
suas reivindicações de pão, água, trabalho, salários razoáveis, habitação
saudável e serviços municipais decentes. As verdadeiras reivindicações da “primavera Árabe” nada têm a ver com o
mito democrático burguês. Como era fácil de prever, as maquinações do
exército profissional, da secção compradora da grande burguesia egípcia e da
Secretária de Estado norte-americana não deram em nada e nenhum dos seus
candidatos rompeu o muro de rejeição que o povo egípcio ergueu contra estes
traficantes eleitorais. Os americanos tiraram o melhor partido de uma
situação má e conspiraram com os novos senhores do Majlis Al-Chaab. A participação nas
eleições fraudulentas foi modesta. Uma grande parte dos operários egípcios
compreendeu que tinha sido enganada. A sua revolta tinha sido confiscada e as
suas reivindicações desviadas. Apesar do sangue derramado pelos seus
camaradas nas barricadas, os operários acabaram por não conseguir nada a não
ser boletins de voto para inserir nas urnas, assim designadas porque contêm
as cinzas das suas esperanças de emancipação. Graças ao dinheiro da Arábia Saudita e do Qatar, os islamitas de todos os
quadrantes, que tinham ficado à margem da primavera egípcia, colheram os
frutos da sua resistência. Os islamitas ganharam as eleições com 75% dos
votos expressos. O exército (40% do PIB nacional), a burguesia faraónica
(secções nacionalistas e compradoras) e a secretária de Estado
norte-americana tiveram de se retirar. E esperar, à espreita na antecâmara, a
sua vingança eleitoral, após esta primeira liquidação da “Revolução” herdada pelos Irmãos
Muçulmanos, os representantes da outra facção da burguesia egípcia. Tensões no campo ocidental e guerra de sucessão Há que dar uma
explicação. Os altermundialistas, os esquerdistas, os socialistas, os peritos
universitários e vários especialistas patenteados, à esquerda e à direita,
dir-vos-ão que a Arábia Saudita e
os Emirados Árabes Unidos são os
bastardos do imperialismo americano. E estes cães que ladram não mordem a mão
que os protege. Isso é um erro. O capitalismo monopolista nunca significa o
desaparecimento da concorrência entre países cúmplices, entre facções
burguesas aliadas. Pelo contrário, a exacerbação da concorrência com a
aliança inimiga (a Aliança do Pacífico emergente -
BRICS - ACS - CIS), mas também no seio da Aliança Atlântica
(NATO), é levada ao clímax. Embora a Arábia
Saudita e o Qatar fizessem
então parte do campo atlântico, liderado pelos Estados Unidos da América, isso não impediu estes países de
promoverem as suas ambições regionais através dos salafistas e wahhabis nesta
região sujeita à agressão imperial mundial, em particular pelo controlo do
petróleo e do gás. Tanto mais que o padrinho americano está a desaparecer. E
este velho imperialismo decadente já não é capaz de impor a sua autoridade
aos seus acólitos desejosos de conquistar o poder geopolítico. O Egipto durante o reinado do irmão Morsi O irmão Morsi
instalou-se no poder em nome da sua irmandade e da sua facção da burguesia do
país. Entretanto, a Esfinge militar estava adormecida. Esperava, à espreita
nas alas do palácio imperial, a oportunidade de destronar a Irmandade
islamista e decapitar o seu chefe no poder. O que tinha de acontecer,
aconteceu. E o exército ficou feliz por alimentar o inferno dos famintos
urbanos e dos operários ociosos ou mal pagos, que nada ganharam com o sangue
derramado nas lutas. O proletariado voltou à Praça Tahrir para exigir pão,
água, emprego, salários dignos, serviços municipais e habitação. Os pequenos
burgueses gostam de pontificar sobre a luta pela dignidade, a justiça social
e a liberdade. Mas de que justiça social, de que liberdade e de que dignidade
estamos a falar quando o pai não pode sustentar a sua família? O filho não se
pode casar porque não tem casa nem emprego.
A mãe não pode fazer o jantar porque não há água na sua casa insalubre.
A criança não pode ir à escola por falta de sapatos e de material escolar. Em
todo o caso, mesmo depois de terminar o curso, o seu futuro estará
hermeticamente fechado. Todos os operários
egípcios sabem que uma mesquita não alimenta ninguém. O exército também o
sabe e mantém a agitação, muito satisfeito por pescar em águas turvas. Os
seus capangas não conseguiram manipular as eleições presidenciais, mas
tencionam voltar a fazê-lo com uma segunda farsa eleitoral. Entretanto, a
capital, Cairo, está em alvoroço. Alexandria está em tumulto. O
descontentamento popular e dos operários continua inabalável, pronto a
invadir o parlamento, o governo e a presidência. Quanto ao exército,
omnipresente na vida política, económica, jurídica, diplomática e militar do
país, posiciona os seus peões, mantendo o Ministério da Defesa (da repressão
operária, digamos). Deliberadamente, permite que a situação social se
deteriore, mas não sem dar o seu contributo para o “islamismo ultrajante”
deste presidente, que representa a facção rival da burguesia egípcia e
ocidental. Golpe de Estado e
mudança de guarda no Cairo Depois de uma série de
escaramuças, em parte alimentadas pelo exército, em 3 de Julho de 2013 o
Estado-Maior das Forças Armadas prendeu o Presidente Morsi, tomou o poder
supremo e transferiu o comando para o tirano de opereta Marechal Sissi.
Seguiu-se um novo golpe de Estado, como as potências imperialistas se
habituaram a observar nos países neo-colonizados, desta vez em nome do
laicismo e da “desprezada” democracia burguesa. Anteriormente, no Iraque, foi
pela posse de armas de destruição maciça. Armas que não se encontravam em
Bagdade, mas sim nos porta-aviões americanos atracados no Golfo Pérsico.
Anteriormente, era para conter a Al-Qaeda, uma criança da CIA nascida no
Afeganistão. Amanhã, será para destruir um reactor nuclear do outro lado do
Golfo Pérsico, que a 7ª Frota pretende fechar à navegação. Uma parte da
população egípcia, enganada e ludibriada pela Irmandade Muçulmana e pelo seu campo, saiu em defesa, de boa fé,
do Presidente legalmente eleito e ilegalmente deposto por um golpe de Estado
sangrento. A esquerda e a direita
democrática burguesa Seguindo as pisadas do
exército e da sua facção dita de oposição democrática, a esquerda e a direita
sem princípios alinham-se atrás do exército egípcio, que ontem metralhou os operários
e que amanhã não hesitará em assassiná-los se estes saírem à rua para exigir
melhores condições de vida e de trabalho.
Lá estão eles outra vez, os canalizadores da esquerda e da direita a
aplaudir descaradamente o exército vilão, a uivar a sua lealdade ao laicismo
democrático e às falanges fascistas deste exército de assassinos e dos seus
mercenários recrutados entre os jihadistas, como fazem todos os capitalistas
desta terra. Uma coisa é certa, depois de ter esmagado a facção da Irmandade Muçulmana, as armas do
exército, dos serviços secretos, da polícia e dos mercenários estão apontadas
para os trabalhadores, os proletários, o povo faminto. Este proletariado,
desanimado e enganado, que nenhum chefe de Estado egípcio poderá satisfazer,
já não pensa em derrubar o capitalismo. Compreendemos que é
evidente que a insurreição popular começa sempre com revoltas e manifestações
por reivindicações económicas e sociais. No entanto, se o proletariado não
assumir a liderança do movimento insurreccional e se não o orientar para
reivindicações políticas de massas, e mais, se o movimento insurreccional
ficar confinado a um único país e não conseguir incendiar continentes
inteiros, a revolta proletária será esmagada com derramamento de sangue. Fontes : René Naba (2023) [http://www.les7duquebec.com/7-au-front/les-revoltes-egyptiennes-suites-ou-fin-2005-2013/]. René Naba (2023) https://les7duquebec.net/archives/285001 L’Égypte dix
ans après 1/3 – les 7 du quebec e L’Égypte, dix ans après 2/3 – les 7
du quebec |
(2)
Robert Bibeau (2017) QUESTION
NATIONALE ET RÉVOLUTION PROLÉTARIENNE SOUS L’IMPÉRIALISME (Livre gratuit) – les
7 du quebec. https://les7duquebec.net/archives/225366
(3) Onorato Damen (2011) « Bordiga au-delà du mythe ».
Éditions Prometeo, avril 2011. 214 pages.
(4) Lénine, Œuvres, tome I, Edições Moscovo, p. 175. http://danielbensaid.org/Une-introduction-revisitee.
Daniel Bensaïd, « Mémoire de maîtrise, La notion de crise révolutionnaire chez Lénine », 1968, que se pode encontrar neste site : http://danielbensaid.org/La-notion-de-crise-revolutionnaire
(5) http://danielbensaid.org/La-notion-de-crise-revolutionnaire
Grupo
Internacional da Esquerda Comunista. “Contribuição
para uma história do movimento revolucionário. A degenerescência da IC: o caso
do Partido Comunista Francês (1924-1927).” Página 33. http://igcl.org/La-degenerescence-de-l-IC-43
Grupo Internacional da Esquerda Comunista. Contribuição para uma história do
movimento revolucionário. A degenerescência da IC: o caso do Partido Comunista
Francês (1924-1927). Página 36. http://igcl.org/La-degenerescence-de-l-IC-43 .
“Sobre a natureza e a função política do partido político do
proletariado”. In Internationalisme. Nº 38. Gauche communiste de France.
1948. Reimpresso em 2012.
(6) Conferências de Yalta e de Potsdam http://fr.wikipedia.org/wiki/Conf%C3%A9rence_de_Yalta e http://fr.wikipedia.org/wiki/Conf%C3%A9rence_de_Potsdam
. Guerre d’Espagne http://fr.wikipedia.org/wiki/Guerre_d%27Espagne
http://www.monde-diplomatique.fr/cartes/kouriles
(7) Tom Thomas (2011) « Étatisme contre libéralisme ? C’est toujours le capitalisme. » Edições Démystification. Paris. Publicado em: https://les7duquebec.net/archives/286083 ÉTATISME CONTRE LIBÉRALISME ? C’EST TOUJOURS LE CAPITALISME (T.Thomas) – les 7 du quebec
(8) Brigitte Bouzonnie. Apresentação do livro de Lucien Cerise « Gouverner par le chaos ». https://les7duquebec.net/archives/284420 , Analyse du livre intitulé : « Gouverner par le Chaos. Ingénierie sociale et mondialisation » (Lucien Cerise) – les 7 du quebec. http://www.les7duquebec.com/actualites-des-7/la-finalite-le-chaos-pas-la-victoire/.
(9) Referências sobre a pandemia de COVID https://les7duquebec.net/?s=covid , Résultats de recherche pour « covid » – les 7 du quebec et L’incroyable vérité que l’on vous a cachée sur le COVID, le laboratoire de Wuhan, les expérimentations d’armes biologiques – les 7 du quebec https://les7duquebec.net/archives/284580
(10) Corrente Comunista Internacional. Setembro 1998. « A esquerda comunista e a continuidade do marxismo. » 24 pages, reeditado pelo CIM em Maio de 2010. Montréal. http://www.fractioncommuniste.org/ e « Plataforma da Corrente Comunista Internacional (CCI) adoptada pelo Primeiro congresso. (1975) » http://fr.wikipedia.org/wiki/Courant_communiste_international.
(11) Karl Marx. « Grundrisse » (1857). Capítulo 3, O Capital, Edição 10/18, p.328.
(12) The Wall Street Journal (2013) "Crise financeira : lição de um resgate, um drama em cinco actos ".
(13) Robert Bibeau (2013) Les BRICS préconisent la « multipolarité unificatrice (!) » Oui ou non ? – les 7 du quebec.
(14) Pirâmide de Ponzi https://fr.wikipedia.org/wiki/Syst%C3%A8me_de_Ponzi
(15) Vincent Gouysse (2013) « As classes sociais sob o imperialismo. » http://marxisme.fr/imperialisme_et_classes_sociales.htm e L’avenir de l’automatisation: Une critique de Benanav et de Smith – les 7 du quebec
Lenine sugere que estas
caraterísticas do imperialismo são sintomas que permitem diagnosticar a fase
de desenvolvimento o estágio de desenvolvimento do cancro imperialista na
infraestrutura e superestrutura como um todo superestrutura. Estas caraterísticas do modo
de produção capitalista não podem ser utilizadas para diagnosticar o grau de
grau de “contaminação imperialista” de um determinado Estado ou entidade
geográfica em particular (Rússia, China, Estados Unidos, etc.). A ciência
dialética materialista. A ciência dialética analisa a evolução de um modo de
produção como um todo, um todo global (integrado), e não como a adição de
partículas nacionais (estados-nação), partículas étnicas, raciais, culturais,
linguísticas, religiosas, etc. De acordo com o materialismo dialético marxista,
a instância económica da luta de classes é dominante e decisiva. O economista
Kautsky foi um dos primeiros a confundir o conceito de modo de
produção capitalista capitalista e o conceito de Estado-nação capitalista. Kautsky,
o pai do “sobredeterminismo ideológico escreveu: ”O imperialismo é um
produto de um capitalismo industrial altamente evoluído. Consiste na
tendência de cada nação capitalista industrial de anexar ou subjugar a
si própria regiões agrárias cada vez maiores, independentemente das nações
que as habitam”. Os exegetas de Kautsky, de
Gramsci e de . |
Tal
significa que « tanto quanto o imperialismo disponha de uma
reserva de acumulação nos países economicamente mais retardados onde uma grande
parte da população vive ainda de uma agricultura de subsistência à margem da
grande indústria, o modo de produção capitalista [no seu estadio supremo
moderno] disporá de uma reserva de crescimento potencial para a extensão das
suas forças produtivas, dos seus meios de produção, para a acumulação de
mais-valia e lucros para reinvestir para a sua reprodução alargada»?
(18) Nicos Poulantzas, (1968). « Pouvoir politique et classes sociales de l'État capitaliste », Paris, Maspéro, coll. « Textes à l'appui », 1968, 399. Et https://fr.wikipedia.org/wiki/Nicos_Poulantzas#Bibliographie
(19) BlackRock, la troisième puissance économique mondiale, fait main basse sur l’Ukraine – les 7 du quebec Khider Mesloub (2023) Macron et Poutine se positionnent cyniquement comme des anti-impérialistes (sic) – les 7 du quebec
(20) Robert Bibeau (2023) Les BRICS préconisent la « multipolarité unificatrice(!) » Oui ou non ? – les 7 du quebec. L’AUKUS et le QUAD se transforment en une sorte d’alliance…impérialiste sur le front du Pacifique – les 7 du quebec. https://les7duquebec.net/archives/285628
(21) Marcas alemãs http://fr.wikipedia.org/wiki/Hyperinflation_de_la_R%C3%A9publique_de_Weimar et http://fr.wikipedia.org/wiki/Reichsmark
(22) Franco francês http://fr.wikipedia.org/wiki/Franc_fran%C3%A7ais#IVe_R.C3.A9publique
(24) Emancipação (2023) http://emancipacion.info/#/emancipacion. Lénine – « L’impérialisme, stade suprême du capitalisme ». Résumé par choix de citations, par Med. Bouhamidi. – École populaire de philosophie et des sciences sociales المدرسة الشعبية للفلسفة والعلوم الاجتماعية.
(25) PCInt. Les luttes ouvrières en France et les syndicats – les 7 du quebec https://les7duquebec.net/archives/283096 https://les7duquebec.net/archives/280018
(26) GIGC. (2023) « Les luttes ouvrières en France et les syndicats. » https://les7duquebec.net/archives/283096 et https://les7duquebec.net/archives/280018
(27) GIGC. (2023) « Les luttes ouvrières en France et les syndicats. » https://les7duquebec.net/archives/283096 et https://les7duquebec.net/archives/280018
(28) GIGC. (2023) Les luttes ouvrières en France et les syndicats. https://les7duquebec.net/archives/283096 et https://les7duquebec.net/archives/280018
(29) Robert
Bibeau (2014) Manifeste du
Parti Ouvrier (réédition-2020) – les 7 du quebec https://les7duquebec.net/archives/258677 e Arnaldo Matos Manifeste
du parti communiste (Notes d’étude de Arnaldo Matos) – les 7 du quebec https://les7duquebec.net/archives/24224
(30) Robert Bibeau (2018) LA DÉMOCRATIE AUX ÉTATS-UNIS (Les mascarades électorales) – les 7 du quebec , https://les7duquebec.net/archives/231044
(31) [http://www.lesaffaires.com/classements/les-500/liste].
(32) http://fr.wikipedia.org/wiki/Secteur_tertiaire
(33) Jeffrey Sachs (2023) « La destruction du gazoduc Nord Stream constitue un acte de terrorisme international » (Jeffrey Sachs) – les 7 du quebec https://les7duquebec.net/archives/280894 https://les7duquebec.net/archives/280482
(34) Robert Bibeau, Khider Mesloub (2023) DE L’INSURRECTION
POPULAIRE À LA RÉVOLUTION PROLÉTARIENNE (4/5) – les 7 du quebec L’impérialisme
moderne https://les7duquebec.net/archives/284747 .
(35) Vincent Gouysse (2013) « Les classes sociales sous l’impérialisme. » http://marxisme.fr/imperialisme_et_classes_sociales.htm
(36) G. Filoche (Février 2012) Les soi-disant classes moyennes. http://www.marianne.net/gerardfiloche/Il-n-y-a-pas-de-classe-moyenne-ni-des-classes-moyennes_a33.html
(37) PCC (ML) “Relatório político”. 1970. P. 18. Lenine (1916). “Avaliação de uma discussão sobre o direito das nações à
autodeterminação”. Obras
Completas. T.22, p.383-384.
(38) Rosa Luxemburg « Impérialisme, décadence, révolution. L’impérialisme selon Rosa Luxemburg » Impérialisme, décadence, révolution. L’impérialisme selon Rosa Luxemburg – les 7 du quebec https://les7duquebec.net/archives/273600
(39) Robert Bibeau. (2023). L’impérialisme stade suprême du mode de production capitaliste (MPC) – les 7 du quebec https://les7duquebec.net/archives/286047
(40) Brigitte Bouzonnie (2023) Mai-68 Comment l’historiographie officielle de Mai-68 occulte sciemment le Mai ouvrier (Dossier) – les 7 du quebec https://les7duquebec.net/archives/282713 Sur le mouvement de Mai-68 en France : Résultats de recherche pour « mai 68 » – les 7 du quebec https://les7duquebec.net/?s=mai+68
(41) GIGC. (2023) Un Front des Travailleurs, Pas un Front des Syndicats – les 7 du quebec https://les7duquebec.net/archives/286064
(42) The Great reset https://les7duquebec.net/archives/278185 Coup d’État planétaire, le livre qui annonçait le Great Reset en 2019, en lecture libre – les 7 du quebec Robert Bibeau (2023) « Crise économique et austérité » CRISE ÉCONOMIQUE ET AUSTÉRITÉ (R. Bibeau)- Livre gratuit – les 7 du quebec Télécharger le volume livreLA-CRISE-ECONOMIQUE-RobertBibeau-1.pdf (les7duquebec.net)
(43) Tom Thomas (2011) « Étatisme contre libéralisme ? C’est toujours le capitalisme. » Éditions Démystification. Paris. Publié sur : https://les7duquebec.net/archives/286083 ÉTATISME CONTRE LIBÉRALISME ? C’EST TOUJOURS LE CAPITALISME (T.Thomas) – les 7 du quebec). https://www.agoravox.fr/tribune-libre/article/la-guerre-n-accouche-pas-de-la-233689
(44) F. Engels « VI. La guerre des paysans en Thuringe, en Alsace et en Autriche » Arquivos marxistas p. 31/36.
(45) K. Marx (1847) « Miséria da Filosofia. » [http://www.marxists.org/francais/marx/works/1847/06/km18470615.htm]
(46) Posse senhorial.
[http://www.francoidentitaire.ca/ quebec/texte/T3230.htm].
(47) Robin Goodfellow (2019) « Composition sociale du mouvement des Gilets jaunes », pages 18-19. In Robert Bibeau, Khider Mesloub. (2019) « Autopsie du mouvement des Gilets jaunes. » L’Harmattan. Paris. https://les7duquebec.net/archives/253109.
(48) Angry Workers of the World ! (2023) Une vidéo de présentation du groupe Angry Workers of the world! – les 7 du quebec Accueil - Travailleurs en colère (angryworkers.org)
(49) « La
pauvreté au Canada » (2023) [http://www.ccsd.ca/francais/statistiques/economique/pauvrete/].
Forbes (2023) « Les milliardaires » https://www.forbes.com/billionaires/.
(50) Uma anuidade é
o rendimento de um activo, ou seja, o rendimento de um investimento. Um dividendo é a parte do lucro
distribuída entre os vários accionistas de uma empresa. O benefício
é o ganho embolsado pelo comerciante. Segundo os economistas burgueses, o lucro é um rendimento variável, incerto
mas esperado, do risco assumido pelo detentor do capital investido. O lucro provém da mais-valia, a parte do
dia de trabalho do trabalhador que é expropriada pelo capitalista que detém os
meios de produção, de troca ou de comunicação.
Definição dos termos: trabalho necessário,
trabalho excedente, mais-valia, valor acrescentado, capital constante, capital
variável, inflação e estagflação em
http://diccionario.marxismo.school/#page-top
(51) http://www.mondialisation.ca/usa-10-chiffres-qui-disent-tout/5310915 e http://www.congresdutravail.ca/centre-daction/ensemble-pour-un-monde-plus-juste/salaires-d-cents
(52) Os regimes de pensão no Quebec e no
Canadá. http://www.ledevoir.com/economie/actualites-economiques/375995/4-milliards-par-annee-pour-une-rente-longevite?utm_source=infolettre-2013-04-18&utm_medium=email&utm_campaign=infolettre-quotidienne e http://www.politicoglobe.com/2012/11/amelioration-des-regimes-de-retraite/
(53) Robert
Bibeau (2023) « La bataille des retraites…victoire ou défaite pour les
salariés français? » https://les7duquebec.net/archives/282134 https://www.capital.fr/entreprises-marches/combien-blackrock-pourrait-gagner-avec-la-reforme-des-retraites-les-faits-rien-que-les-faits-1358844
https://twitter.com/Dr_Steph_GAYET/status/1640352805432041472. Robert Bibeau
(2023) « L’arnaque de la réforme des retraites en France…Macron touche
pas à la caisse! » https://les7duquebec.net/archives/281529
Khider Mesloub (2023) « Le Conseil
constitutionnel français veille sagement sur les intérêts de la bourgeoisie » https://les7duquebec.net/archives/282106
(54) Lenine (1916). “Balanço de uma discussão sobre o direito das nações à autodeterminação”. Obras Completas. T.22, p.383-384.
(55) Lenine (1928) “Crítica
das teses fundamentais do projeto de programa da I I.C..”, Junho de 1928,
cap. III. P.7.
Índice
Prólogo
Prefácio
1.
Guerras e revoluções no século XX
2.
O exemplo da « Primavera árabe »
3.
Ditadura de classe do proletariado
4.
Socialismo totalitário
5.
A insurreição popular
6.
Os comités de operários e sovietes de classe
7.
Primeira condição para uma revolução social, uma classe revolucionária
consciente
8.
As outras classes sociais sob o capitalismo
9.
Revoluções nacionais, anti-coloniais, democráticas
10.
Revolução nacional não é revolução proletária
11.
A Revolução burguesa anti-feudal de 1917-1918 na Russia
12.
A sociedade feudal não pode passar directamente do feudalismo para o
comunismo
13.
A luta de libertação nacional não liberta o proletariado
14.
O modo de produção socialista
num país
15.
A Segunda Guerra imperialista
Mundial
16.
A Revolução proletária
internacional está a chegar
17.
As dimensões económica, política e ideológica da luta de classes
18.
Fluxo e refluxo da luta de classe na frente económica
19. A bolchevização das
organizações comunistas
20.
Os opositores oportunistas do Partido Bolchevique
21.
A vitória da corrente oportunista estalinista
22.
O « Estalinismo » como corrente oportunista
23.
A revolução proletária não foi traída,
ela nunca aconteceu
24.
A « Pátria do proletariado internacional » cercada
25.
As vagas oportunistas dos anos setenta
26. A organização proletária
revolucionária
27.
A Grande Guerra Patriótica capitalista
28. Mudança de alianças (1936-1945)
29.
A guerra como resultado da crise económica
30.
A crise económica leva à guerra
31.
A guerra « patriótica » engendra a guerra mundial
32. A estratégia do « caos »
33.
Da Grande Guerra Patriótica à guerra do Donbass
34.
O verso e o reverso do campo do capital
35.
O Estado burguês está na origem do fascismo
36.
O fascismo como modo de governação
37.
O nível de desenvolvimento económico
38.
A « Guerra fria » e o fim do campo soviético
39.
Confronto entre duas alianças imperialistas
40.
Dois campos antagónicos confrontam-se
41.
O programa da Esquerda Comunista Italiana
42.
A fonte fundamental da crise económica
43. A financeirização da
economia
44.
A produtividade do trabalho afecta o seu valor
45.
O capital serra o ramo em que está empoleirado
46.
A contradição entre trabalho e capital
capital
aprofunda-se
47.
A financeirização do processo de desvalorização do capital
48.
“Vamos fazer mais do que não funciona”.
49. A cavalgada da finança
mundial
50.
Guerra imperialista e revolta popular
51.
Quatro modos de produção sucessivos
52.
Diferentes modos de produção, diferentes imperialismos
53.
O capitalismo na sua fase imperialista
54.
A remodelação da cadeia de produção, a divisão internacional do trabalho
e a distribuição do capital
55.
Aumento da produtividade e dos benefícios
56.
Uma formação social não pode sobreviver depois de ter desenvolvido todas
as suas capacidades produtivas
57. A crise final
58.
A classe portadora das novas relações de produção
59. Características da revolução proletária
60.
Insurreição popular e revolução proletária
61.
A necessidade de uma direção proletária
62.
A instância económica da luta é dominante
63.
Uma civilização produz as condições
da sua destruição
64.
A classe social dominante e os seus arautos
65.
Imperialismo - a fase final do capitalismo
66.
As marionetas políticas estão em marcha
67.
A crise está inscrita nos génes do capital
68.
Expedientes financeiros para relançar a economia
69.
O orçamento de Estado contribui para valorizar o capital
70.
A resistência popular necessária, mas insuficiente
71.
O capital saqueia os salários através da inflação
72.
A dívida, um indicador da atrofia do sistema económico
73.
A crise provocará a insurreição popular
74.
O Estado não é a solução, é o problema
75.
Quando nada mais funciona… nada resta senão a guerra…
76.
A revolução impedirá a guerra?
A guerra provocará a revolução ?
77.
A luta defensiva sobre a frente económica
78.
A Revolução realizar-se-á nas condições particulares de uma época
histórica singular
79.
A revolução proletária surgirá das megalópoles
80.
A emancipação será obra da própria classe
81.
A revolução proletária não será obra do campesinato ou da pequena
burguesia.
82.
A transição da insurreição para a revolução
83.
A impossibilidade de viver e a incapacidade de governar
84.
Não há “Frente Unida” com a burguesia
85.
Rejeitar qualquer apelo ao reforço do Estado
86.
A organização de classe do proletariado
87. O imperialismo moderno
88.
A luta de classes na instância económica
89. A luta de classes
na frente económica
90. é ilimitada
91.
Luta de classes nas frentes económica e sindical
92.
A batalha das pensões em França e os sindicatos
93.
Luta de classes espontânea e movimento popular
94.
O modo de organização da luta de classes é o fruto
da luta de classes
95.
A revolução proletária sob a ditadura
de classe do proletariado
96. A consciência de
classe é uma construção que
emerge da luta de classes.
97.
A luta de classe na instância política
98.
A luta política contra o Estado burguês
99. O partido proletário
revolucionário
100. A luta de classe na instância ideológica
101. Um exemplo prático : A crise COVID
102. Sem praxis
revolucionária não pode haver teoria revolucionária
103. As eleições democráticas
burguesas
104. O « povo » e a « classe média »
105. A « praxis » de classe
106. Da guerra de classe defensiva à guerra
ofensiva
107. Desenvolvimento
desigual na instância ideológica
108. O sobredeterminismo
revisionista
109. A revolta
estudantil de Maio-68
110. A consciência de classe está
atrasada em relação à realidade social
111. O fracasso da
“Revolução Bolchevique” Populista
112.
A guerra não dá origem à revolução.
A
classe revolucionária é que dá origem à revolução
113. Um novo tipo de
revolução
114. A revolução proletária
115. As armadilhas oportunistas e reformistas
116. As classes sociais
sob o capitalismo
117. O Estado burguês é o garante da
desigualdade social
118.
A luta de classe permanente
119.
O « wokismo » como ideologia de
esquerda
120. As novas classes sociais
121. A
classe proletária produtora de mais-valia
122. O Estado, um instrumento de valorização
do capital
123. Inflação, aumento dos preços et
baixa dos salários
124.
Regimes de pensões dos trabalhadores assalariados
125. Retrato das classes
sociais em França no século XXI
126. A pertença a uma categoria não
é determinada pelo salário. A pertença a uma classe determina a remuneração
127. Desvalorização
da força de trabalho e desvalorização do capital
128. Classe capitalista monopolista e média burguesia
129. Os pequenos capitalistas « independentes »
130. A
mundialização está inscrita nos génes do capitalismo
131. O
salário de um proletário e a fortuna de um bilionário
132. Os pobres e o lumpenproletariado
133. O
mito do « Estado providência » e luta social
134. Quebrar o contrato social burguês
135. Os assalariados
mais bem pagos... temporariamente
136. Os
quadros grandes e pequenos
137. A « classe média »
138. Reformismo
pequeno-burguês e marcha
para o fascismo
139. Terciarização da economia e estagflação
140. Os
três sectores da economia capitalista
141. Nível de rendimento e classe
142. A pequena-burguesia
143. A pequena-burguesia e a
revolução social
144. A supremacia do proletariado revolucionário
Este texto foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice
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