Outubro 28, 2024 Olivier Cabanel
OLIVIER CABANEL — A raiva recorrente dos agricultores a despejar toneladas
de litros de leite e a iniciar uma greve na produção deve fazer-nos questionar.
O campesinato francês estava em mau estado: a mecanização excessiva e a
perda de território, em benefício de uma urbanização cada vez mais louca,
prejudicavam cada vez mais o agricultor que queria manter uma quinta de tamanho
razoável.
A recente crise do leite demonstra as insuficiências de um sistema em que
os intermediários estão a enriquecer vergonhosamente, à custa dos
produtores. link
Os preços do mercado do leite entraram em colapso e os agricultores
registaram uma queda de 30% nos seus rendimentos em comparação com 2008.
Os 1000 litros de leite são pagos ao agricultor a pouco mais de 200 euros
(0,20 cêntimos por litro), enquanto em 2008 eram pagos 380 euros.
Hoje, o consumidor paga cerca de 1 euro por litro de leite, num intervalo
entre 70 cêntimos e 1,50 euros pelo leite biológico, dependendo da qualidade do
leite oferecido.
É surpreendente que o consumidor não sofra as repercussões desta redução,
uma vez que, com o leite quase duas vezes mais caro em 2008, o preço do litro
hoje deve ser reduzido para metade.
Nos anos 1900, uma piada de mau gosto afirmava que "que uma vaca valia mais do que
um professor".
Este aumento deve-se ao excesso de produção, que se deve a uma maior
mecanização, e a uma optimização da produção de leite, graças aos insumos
alimentares e a novos métodos, muitas vezes questionáveis.
Em 1900, uma vaca produzia 10 litros de leite por dia, e hoje produz mais do
dobro, chegando a 10.000 litros por ano, ou seja, quase o triplo.
Muitos produtores adicionam (entre outras coisas) alfafa desidratada à
dieta natural das vacas, o que, claro, tem um custo. link
Há, é claro, outra razão para essa justa ira:
Este drama financeiro que está a atingir duramente os agricultores realça a
importância das margens que todos os intermediários incorporam, desde a
cooperativa, ao distribuidor, àquele que embala o leite.
A margem incorporada pela cooperativa que colhe o leite é modesta (0,03%),
mas o passo seguinte aumenta o preço do produto em 40%. É a da embalagem,
seguida da do distribuidor, que também aplica os mesmos 40%. link
Podemos entender a raiva dos produtores, que trabalham todos os dias do
ano, 9 horas por dia, sem tirar férias.
"Trabalhar
mais para ganhar menos", por assim dizer.
Estamos, portanto, no extremo oposto das promessas de Sarkozy.
Como poderiam os produtores lutar?
A agricultura biológica é o início de uma resposta, mas não a única.
De facto, se é verdade que o leite produzido pelos agricultores biológicos
recebe mais 45 euros por mil litros, também é verdade que os métodos diferem.
Na agricultura biológica, as vacas são pastoreadas regularmente e, quando
chega o Inverno, são alimentadas com feno, muito longe da prática do milho de
silagem, que permite uma maior produção para uma menor qualidade.link
No entanto, na década de 70, o leite era pago em relação à sua quantidade
de gordura.
Para aumentar a produção, uma prática é conhecida: se aumentar o número de
ordenhas por dia, aumenta a produção de leite, mas à custa da qualidade do
leite: o seu teor de gordura diminui.
Haveria também outra forma de rentabilizar a exploração leiteira: a
produção de metano.
Em todo o mundo, o metano começa a ser produzido com estrume de estábulos.
Nos Estados Unidos, calcula-se que treze vacas poderiam produzir electricidade
para uma casa inteira. link
Além disso, esse metano faz com que o calor seja produzido, o que pode
aquecer toda a quinta.
Este metano pode ser comprimido, purificado e usado como combustível.
Por que não imaginar que quem conduz com GLP vem encher o tanque na quinta?
Como podemos ver, as soluções existem.
Mas também porque não encurtar as redes de distribuição?
Alguns produtores incentivam-no. link
Tanto mais que poderiam ser feitos progressos consideráveis se estivéssemos
dispostos a deixar de considerar estas actividades agrícolas como
"indústrias", com todas as derrapagens daí resultantes.
Convido-o a assistir a este pequeno desenho animado de três minutos, uma
verdadeira pequena obra-prima, para se convencer disso. link
Porque como dizia o meu velho amigo africano: "quando o rato provoca o gato, significa
que o seu buraco não está longe".
Fonte: C’est moche pour le lait – les 7 du quebec
Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis
Júdice
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