
Se, para se desenvolver uma
actividade e abraçar uma uma profissão são impostas regras que vão desde a
certificação das empresas e da formação dos profissionais, até à obtenção de
alvarás, licenças e taxas diversas, porque é que, uma parte dos operadores no
mesmo tipo de negócio não são sujeitos a elas?
Nas últimas horas, alguns
pescadores de águas turvas fazem passar a ideia de que condenar a actividade da
UBER seria o mesmo que proibir o envio de mails, visto que tal prejudicaria o
objecto da actividade dos correios (CTT). Uma autêntica aberração, pois os
correios servem, cada vez mais, para o envio de objectos ou informação não passível
de ser enviada por mail sendo,
portanto, plataformas completamente distintas quanto aos seus objectivos.
O raciocínio falacioso a que esta formulação pretende fazer chegar
levaria, em última análise, a que, para explorar
uma farmácia não seria necessária a exigência de ter na direcção ou propriedade
da mesma um director farmacêutico ou que não houvesse necessidade de um engenheiro ou um arquitecto para licenciar e construir um edifício ou
implementar uma obra de engenharia.
Podemos só imaginar o que, em
nome de uma consigna do tipo deixem que o
consumidor decida, se poderia passar. Critérios objectivos ou subjectivos
redundariam numa situação de salve-se
quem puder, em situações em que cada um decidiria quem e como lhe convinha construir
uma casa ou edifício ou que tipo de medicamento gostaria, e em que dosagens, de
auto-administrar!

Acontece, porém, que a UBER não pode ser classificada
como uma transportadora, pois não passa de uma plataforma informática aplicável
a telemóveis e que tem a pretensão de unir motoristas independentes em todas as
cidades e países onde opera. A ilegalidade do serviço que presta assenta no
facto de que a dita plataforma não incorporar nenhuma das exigências do
transporte rodoviário de automóveis ligeiros por táxi, isto é, não respeita
nenhuma das regras, plasmadas na legislação portuguesa, reguladora desta
actividade.
Como afirma Arnaldo Matos no artigo que assina para o
órgão central do PCTP/MRPP – o Luta Popular Online -, intitulado Apoiemos a Justa Luta dos Taxistas
Portugueses!, “...não há garantia de seguros para os acidentes com o
pessoal transportado, não há controlo sobre a saúde e a aptidão física dos
condutores, não há preparação adequada do condutor para o desempenho da tarefa
específica da condução por táxi na área licenciada, não há fiscalização do
automóvel nos períodos mais curtos exigidos para a fiscalização dos táxis, não
há tarifas estabelecidas, pelo que os preços sobem exorbitantemente em caso de
greves dos outros meios de transporte, em certos período da noite ou do dia, em
caso de acidentes urbanos, em horas de ponta ou de espectáculos culturais e
desportivos. Os carros da Uber não pagam nem os impostos, nem as taxas
nem as actualizações a que estão sujeitos os táxis, os seus donos e os seus
trabalhadores.”
Como a plataforma Uber em Portugal tem
sede na Holanda, os lucros dos proprietários dos carros em causa não são pagos
em Portugal, e os da empresa Uber também não.
Apesar de ter sido fundada
nos Estados Unidos, a plataforma UBER em Portugal tem sede na Holanda. O que
coloca, por acréscimo às razões já invocadas, questões éticas e fiscais. Se, em
qualquer circunstância, é inqualificável o facto de uns terem de pagar impostos
na área geográfica em que operam serviços ou outro tipo de negócios, não é
lícito que os lucros da UBER sejam taxados, não em Portugal, mas na Holanda.
Muito menos num quadro de crise económica como aquele que vive Portugal, quando
a situação ainda se torna mais injusta e criminosa!

Os responsáveis principais para a eventualidade deste clima de violência se produzir são os sucessivos governos que aprovaram ou fecharam os olhos - apesar dos tribunais a considerar ilegal - à actividade da UBER em Portugal.
Não é por acaso que, quer em países considerados mais civilizados e evoluídos economicamente, quer em países mais atrasados como alguns pretendem que seja o nosso, a contestação à UBER é comum. É que ninguém aceita que num mesmo sector de actividade as regras -às quais estão associadas custos de exploração - sejam diferenciadas! Mesmo os que defendem o princípio da livre concorrência, admitem que casos como o da UBER configuram concorrência desleal.
Para além do já citado exemplo do mail e dos CTT,
corre agora um video nas redes sociais–
pela mão de toda a sorte de traidores aos interesses nacionais - tentando
passar a mensagem de que proibir a UBER seria o mesmo que amputar a
possibilidade de progresso. Mas,
esta gente não sabe mesmo do que está a falar?!

Dúvidas houvessem, o patrão do Pingo Doce pode explicar com maior detalhe como é que, não pagando ele o nível de impostos que outros operadores no mercado que nele actuam pagam, consegue as promoções e os preços tão apelativos nas suas superfícies comerciais!
Os promotores do video em questão, que se lamentam com a luta que neste momento os taxistas portugueses, com o apoio de todo o povo português, travam contra a UBER, como sendo um ataque ao progresso, escamoteiam que o progresso de que falam é o progresso dos lucros dos patrões imperialistas e monopolistas que estão por detrás e animam a plataforma UBER.

Os taxistas portugueses devem prosseguir a sua
luta sem criar qualquer tipo de ilusões àcerca da boa vontade anunciada pelo governo de António Costa para a
resolução deste problema. Para que, tal como afirmava o dirigente da ANTRAL à
saída da reunião que mantiveram com um representante do Presidente da
Assembleia da República e alguns deputados no passado dia 29 de Abril, após a
grande concentração de táxis em Lisboa, Porto e Faro, não saiam desta luta com uma mão cheia de nada!
Os taxistas portugueses vencerão a sua luta contra a plataforma UBER porque
O POVO VENCERÁ!