domingo, 31 de maio de 2020

O CDC confirma uma taxa de mortalidade Covid-19 notóriamente baixa. Por onde anda a comunicação social ?




Por Guy Bouliane. Em CERN.

Existe uma maior probabilidade de a maioria das pessoas ficar 1,5 metro debaixo do solo, devido a quase qualquer outra coisa por exposição ao sol, do que por COVID-19.

Os Centros para o controlo e a prevenção das doenças (CDC) acabam de publicar um relatório ( ver link -  un rapport) que deveria virar do avesso a narrativa da classe política, mas entrará na pilha espessa de dados e informações vitais sobre o vírus que não são tornados públicos. Pela primeira vez, o CDC tentou oferecer uma estimativa real da taxa de mortalidade geral do COVID-19 e, no seu cenário mais provável, o número é de 0,26%. Os responsáveis estimam uma taxa de mortalidade de 0,4% entre os sintomáticos e projectam uma taxa de 35% de casos assintomáticos entre os infectados, o que eleva a taxa de mortalidade geral por infecção (IFR) para apenas 0,26 % - quase exactamente onde os pesquisadores de Stanford o haviam estabelecido há um mês (ver link - les chercheurs de Stanford l’ont établi).


Até agora, fomos ridicularizados por pensar que a taxa de mortalidade era tão baixa, ao contrário da estimativa da Organização Mundial da Saúde de 3,4% (ver link - estimation de 3,4% de l’Organisation mondiale de la santé  da OMS), que contribuiu para alimentar o pânico e os confinamentos. Agora o CDC aceita a taxa mais baixa.

Além disso, no final das contas, podemos descobrir que a IFR é ainda mais baixa porque muitos estudos e contagens de populações confinadas (ver link -  dénombrements durs de populations confinées) mostraram uma percentagem muito maior de casos assintomáticos. Um simples ajuste a uma taxa assintomática de 50% reduziria a taxa de mortalidade para 0,2% - exactamente a taxa de mortalidade projectada pelo Dr. John Ionnidis, da Universidade de Stanford.

Mais importante ainda, a taxa de mortalidade geral não faz sentido, pois os números estão tão desequilibrados. Dado que pelo menos metade das mortes ocorreu em lares de idosos, uma estimativa no verso do envelope mostraria que a taxa de mortalidade por infecção para residentes de lares sem cuidados de enfermagem  não seria senão de 0,1% ou 1 por 1.000.E isso inclui pessoas de todas as idades e todas as condições de saúde fora dos lares com cuidados de enfermagem. Sendo um dado adquirido que quase todas as mortes são devidas a comorbidades.

O CDC estima que a taxa de mortalidade por COVID-19 para os menores de 50 anos é de 1 em 5.000 para aqueles que apresentam sintomas, o que seria de 1 em 6.725 no geral, mas, uma vez mais, quase todos os que morrem tem comorbidades específicas ou condições subjacentes. Aqueles que não as têm são mais susceptíveis de morrer num acidente de carro (ver link - mourir dans un accident de voiture). E as crianças em idade escolar, cujas vidas, saúde mental e educação nós  destruímos, são mais propensas a serem atingidas por raios (ver link - frappés par la foudre).
Para colocar as coisas em perspectiva, um comentador do Twitter justapôs as taxas de mortalidade ligadas às infecções separadas por idades em Espanha à probabilidade média anual de mortes do que quer que seja para os mesmos grupos etários, com base nos dados da Administração de Segurança Social. Ele usou a Espanha porque não temos uma estimativa detalhada da taxa de mortalidade por infecção para cada grupo etário em nenhuma pesquisa nos Estados Unidos. No entanto, sabemos que a Espanha se saiu pior do que quase qualquer outro país. Esses dados realmente funcionam com um IFR de 1%, cerca de quatro vezes o que o CDC estima para os Estados Unidos; portanto, se houver alguma coisa, os números correspondentes para os Estados Unidos serão mais baixos.

Como podem ver, mesmo em Espanha, as taxas de mortalidade devidas ao COVID-19 para os jovens são muito baixas e muito inferiores à taxa anual de mortalidade para qualquer grupo etário no decurso de um determinado ano. Para as crianças, apesar da sua tenra idade, são 10 a 30 vezes mais propensas a morrer de outras causas num dado ano.

Embora seja evidente que as taxas anuais de mortalidade tenham em conta uma infinidade de causas de morte e que o COVID-19 não seja senão um vírus, ela ainda fornece uma perspectiva muito necessária para uma resposta de política pública que está completamente dissociada do risco para todos, excepto para as pessoas mais velhas e mais doentes do mundo.

Guardem igualmente na vossa mente que  esses números representam as vossas chances de morrer uma vez que já tenham contraído o vírus, ou seja, a taxa de mortalidade por infecção. Uma vez que tenha casado a chance de contrair o vírus em primeiro lugar com a possibilidade de morrer, muitas pessoas mais jovens têm mais chances de morrer devido a um raio.

Quatro médicos especialistas em doenças infecciosas no Canadá estimam que a taxa de mortalidade individual por COVID-19 (ver link -  estiment que le taux individuel de décès par COVID-19) para pessoas com menos de 65 anos é de seis por milhão de pessoas, ou 0,0006% - 1 em 166.666, o que é “aproximadamente o equivalente ao risco de morte por acidente de automóvel durante o mesmo período”. Esses números referem-se ao Canadá, que registou menos mortes per capita que os Estados Unidos; no entanto, se tirarmos Nova York e os seus municípios vizinhos da equação, os dois países serão praticamente os mesmos. Além disso, lembre-se de que grande parte das mortes está vinculada a decisões políticas suicidas em alguns estados e países para colocar pacientes com COVID-19 em asilos. 62% das mortes de COVID-19  ( ver link - Un incroyable 62 pour cent de tous les décès dus à COVID-19) foram confirmadas em todos os seis estados, apesar de representarem apenas 18% da população nacional.



 




Que fazer face ao encerramento de fábricas e empresas?



Fonte : Nuevo Curso


Uma onda global de encerramento de fábricas e empresas começou. A Boeing anunciou 7.000 despedimentos somente nos Estados Unidos. Na Argentina, já se estão preparar o caminho. Em Espanha, depois de mais de um ano a solicitar subsídios estatais, a Alcoa anunciou o despedimento de 534 trabalhadores. A Nissan, após negociar com o governo, decidiu fechar permanentemente a sua fábrica em Barcelona, ​​deixando 3.000 trabalhadores na rua. No Canadá, a Air Canada, a Bombardier e o Cirque du Soleil estão a implorar por subsídios estatais. Em França, biliões de euros foram prometidos a empresas afectadas pelo confinamento. Estes são exemplos de algo que está a acontecer em todo o mundo. O que fazer quando confrontado com um encerramento?

Não se deixe cair na armadilha da rentabilidade.

Os sindicatos virão inevitavelmente com o discurso de que "a empresa é lucrativa, não deve ser fechada" ou o que dará no mesmo: "o sindicato deve negociar as condições do encerramento, sem lucro a empresa não é viável e se ela não é viável, não há trabalho ”. Uma longa experiência de “reconversões” e crises industriais nos anos 80 e 90 e empregos em fim de vida ensina-nos que, na melhor das hipóteses, isso acaba em aposentadoria precoce para pessoas mais idosas, despedimentos para os outros e se um subsídio estatal é concedido,  uma agonia de licitações de condições de trabalho para o punhado de pessoas que continuam a trabalhar sob o pretexto de manter um mínimo de produção.

É a radicalização do discurso com o qual os sindicatos tentam liquidar todas as greves, sem perigo para eles, e de sujeitar as necessidades humanas à rentabilidade da empresa. Mas a rentabilidade do capital investido na empresa não é problema nosso, proletários da miséria. E, de facto, se os governos fazem tenção de intervir, subsidiar e resgatar, é porque a ideia de que "este é um problema da empresa" é basicamente uma ilusão.

As empresas são actividades do capital. E do ponto de vista do capital, o "tecido industrial e comercial" é um sistema de vasos comunicantes. Um sistema que nivela os resultados do dinheiro investido em função da sua participação no capital nacional total, favorecendo as actividades que exploram os trabalhadores com mais eficiência e penalizando aquelas que os exploram menos (PMEs e fábricas desclassificadas tecnicamente).

Lucros e perdas são os sinais pelos quais o grande capital é orientado para mudar continuamente de um sector de produção para outro. Quando eles nos dizem que uma fábrica ou uma empresa "deve fechar", estão de facto a dizer-nos que, se a fecharem, esperam aumentar a sua atractividade para investimentos que, se não, vão para outro lugar, apoiando a todo o momento as empresas melhor colocadas para gerar lucro.

Eles podem vender-nos a ideia de que a rentabilidade de uma fábrica ou empresa é uma lei de bronze, mas isso não é verdade. É a valorização e a acumulação do capital que é o objectivo último do sistema global.

Que as empresas encerrem ou não, é no fim uma questão de relação de forças.  


Da mesma forma que, depois de negar as reivindicações dos trabalhadores porque elas "tornariam impossível a rentabilidade", eles acabam por ceder, geralmente com a intervenção financeira do Estado. Vimos isso recentemente durante a greve do comboio de alta velocidade francês. Logo que a "relação de forças" favorece os trabalhadores - o que acontece quando se afastam os sindicatos do campo de batalha - como aconteceu em França – as "soluções" aparecem. Que eles o façam com créditos, subsídios ou nacionalizações, como o propõem hoje vários deputados (da esquerda e da direita), também é um problema do capital. A maneira pela qual o capital reparará os seus próprios danos quando é ultrapassado pelos trabalhadores, como é que ele corrige a sua sacrossanta rentabilidade, não é um problema dos trabalhadores.

O que modifica a relação de forças é a tomada de controlo da greve em assembleia e prolongar a greve até à vitória.

Enquanto os problemas se limitarem a uma fábrica ou a uma empresa, o capital não precisa de se preocupar. Esse é um problema local que será resolvido pelas autoridades locais que embolsarão para de seguida mudarem para outras empresas, noutras regiões. Quando as coisas começam a mudar, é quando as greves se propagam, se generalizam. Aí, é o capital como um todo que sofre. Mas há outro para-choques: os sindicatos. Enquanto os sindicatos permanecerem no comando, as lutas serão enclausuradas - liquidadas. Quando não tiverem escolha, eles "ameaçarão" com uma greve sectorial, entenda-se nacional (sic).

A extensão do movimento de greve geral não é isso. É a assembleia de todos os trabalhadores que tomam o comando do movimento, ultrapassando o comité sindical (local, regional ou nacional) e as suas políticas de confinamento e isolamento. Trata-se do agrupar e da luta dos trabalhadores da empresa que pode se tornar num encontro permanente aberto a todos os trabalhadores afectados pelos despedimentos e encerramentos e a todo o pessoal que se junta, pela greve, noutras empresas , pertençam ou não ao mesmo sector, a empresas diferentes.

Trata-se de transformar uma luta de empresa em luta de classe.

Esta é a única forma pela qual o capital é forçado a encaixar o golpe como um todo ... e a recuar.

O bairro também faz parte do combate na fábrica.

O Covid-19 acelerou e consolidou a crise. Milhões de trabalhadores perderam os seus empregos em todo o mundo. Muitos deles são trabalhadores temporários e precários em pequenas empresas. Agora está claro que o trabalhador que passou "toda a sua vida" numa grande empresa não receberá melhor tratamento nem esperará nada melhor do que o "novato” (bleu – NdT) que acaba de ser contratado . O seu trabalho é uma mercadoria e, neste momento de crise, o capital não sabe como usá-lo para produzir mais mais-valia, o que é o objectivo e a razão de existir como capital. Travar lutas na fábrica, na oficina, no estaleiro de obras ou nas empresas é um erro que nos isola e nos enfraquece enormemente. Os interesses do trabalhador, do desempregado precário, do servente que não tem para onde ir trabalhar são idênticos aos do trabalhador industrial, administrativo ou da contabilidade.


 






sexta-feira, 29 de maio de 2020

A propósito do que monetariza o ouro





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YSENGRIMUSA moeda emana historicamente da troca. Quando Mohamed transportou uma caravana para Khadîdja na Síria romana, ele foi pago, pelo seu trabalho metódico e subtil, em camelos. Durante muito tempo, os povos nórdicos pagaram por certos bens e serviços em peles de castores ou esquilos. No México, desde os primeiros conquistadores, as pessoas pagavam em grãos de cacau. Camelos, peles de animais, cacau permanecem bens altamente susceptíveis ao desgaste, a serem recuperados em termos de valor em uso, sem circulação adicional como objecto de troca. Em tais situações de monetarização de tendências, permanecemos basicamente no nível de troca pontual. Mohamed não trocará os camelos recebidos por pagamento. Ele os usará na sequência do seu trabalho de condutor de caravanas.

Queríamos que a escassez de uma mercadoria fundasse a génese da sua monetarização. Para evitar que essa análise se limitasse ao ouro e à prata, invocámos as especiarias. Sal, pimenta e diversas especiarias há muito são usadas como moeda. Queríamos explicar esse facto pela sua escassez no mercado, por outro lado muito real (especialmente no caso da pimenta e das especiarias, muitas vezes vindas de longe e adquiridas com muito esforço). Ora existe nesta explicação da monetarização das especiarias pela sua raridade uma grande parte de anacronismo. A sensibilidade moderna apercebe o sal, a pimenta e as especiarias como um condimento, uma espécie de produto culinário de luxo, portanto, pouco útil e pouco presente socialmente (como o seriam as jóias de prata e ouro). Portanto, o que deve ser entendido claramente e que não seja esquecida nos dias de hoje é que, no passado, sal, pimenta e especiarias não eram um condimento, mas um tempero, ou seja, literalmente, o que permitiu que a carne atravessar as estações. Na ausência de frigoríferos e congeladores, a única maneira de fazer as carnes durarem era tratá-las, cuidadosa e metodicamente, com especiarias ou sal.

Isso permitiu-lhes  permanecer comestíveis conservando-as ou secando-as adequadamente. Se nos acostumámos, etno-culturalmente, a carnes salgadas, apimentadas e temperadas, é porque, durante séculos, foi assim que preservámos esse tipo de alimento. Assim, uma família comum precisava de uma boa quantidade de sal, pimenta ou temperos para que os seus alimentos de carne não apodrecessem e se perdessem. Havia, pois,  uma questão importante de sobrevida útil que fazia da corrida às especiarias uma questão tão obstinada. Os salários de sal eram tão vitais para o empregado quanto os camelos para Mohamed. Ainda estávamos fundamentalmente numa dinâmica de troca de valores de uso. A ideologia contemporânea das especiarias como condimento e produto de luxo enfraqueceu um pouco a compreensão desse facto histórico. Não foi a escassez deles que monetizou os temperos, mas o facto de atenderem a uma necessidade importante.

Vamos então ao ouro. Muito se tem evocado as suas características supostamente irracionais para explicar a sua monetarização. O ouro é raro, o ouro brilha ao sol, o ouro é um sinal ostentativo de riqueza na forma de jóias, adornos e decorações. De certa forma, tratamos, mais ou menos, o ouro como pérolas. Quando Cleópatra dissolve pérolas no vinagre e as bebe, ela manifesta absoluta ostentação opulenta. Ela apropria-se de um objecto raro, inútil, caro e precioso, sem outra função senão a de adorno, e ingere-o, atribuindo-lhe um valor de uso trivial, fictício e parasita como expressão e demonstração mais explícita e mais conspícua da sua opulente arrogância. Essa é realmente a função político-histórica das pérolas (mas não os diamantes, eh, que, duros e abrasivos, são usados ​​na indústria). Então, não vamos confundir tudo e perguntemos-nos: e o que é feito do ouro?

Queríamos que o ouro fosse um metal inútil, muito macio. Ao contrário dos metais naturais (ferro) ou ligas (bronze), seria difícil usar no fabrico de armas e ferramentas. Esse desenvolvimento deve ser cuidadosamente avaliado. A relativa suavidade do ouro é um defeito se for para fazer um sabre ou uma pá, mas torna-se uma qualidade quando é para fazer uma agulha ou um dedal. Pequenas ferramentas, instrumentos delicados, garfos, pinças, chávenas, copos, talheres (argenterie – NdT), etc. requerem um metal um pouco mais macio para poder ser modelado com toda a precisão necessária. Isto naturalmente postula um tipo de civilização de classes que é mais subtil, mais refinada, mais aperfeiçoada, mais orientada para certos detalhes domésticos particulares. Entre os mongóis, uma vara de madeira era mais preciosa do que um fio de ouro. A madeira, extremamente rara nos países das estepes, foi usada para apoiar a estrutura portátil dos yurts. O ouro não era muito usado, já que os mongóis, nómadas e guerreiros, procuravam sobretudo metais para fabricar armas e ferramentas, e se adornavam principalmente com peles ... as estepes geladas assim o obrigam. Os primeiros mongóis não guardavam o ouro dos saques. Em vez disso, trocavam-no com povos que eram mais pretensiosos (gesteux) do que eles,  por mercadorias que lhes eram mais úteis, sem pôr em risco a sua riqueza ou o seu poder como futuros conquistadores do mundo.

A suavidade (muito relativa) e a maleabilidade do ouro não são o seu defeito, mas a sua qualidade inerente. Quando se tratava de constituir numerário, tivemos que optar por um objecto indestrutível (excluiu-se o sal e os grãos de cacau), mas intimamente maleável à partida. A ourivesaria (orfèvrerie) havia transformado o ouro em algo mais leve que a pedra, mais sólido que o vidro e mais flexível que o bronze ou o ferro. Uma pequena rodela de ouro é forte o suficiente para não se dissolver, mas à partida o suficiente maleável para escrever ou gravar uma face em miniatura nela. Vidro, bronze e ferro não se prestam tanto a isso. Não nos lembramos o suficiente que, desde Nabucodonosor aos Luíses e Napoleões, não esquecendo os Péricles, os Césares e os Meroveas, as autoridades políticas sempre exploraram o dinheiro como timbre de propaganda. Deste ponto de vista, que ninguém se iluda, a moeda de ouro é como uma faixa de pista de hóquei  no gelo ou uma carroçaria de um carro de corridas. Pincelamo-la até à éfige de uma taça com a imagem de um grupo de figuras maléficas que se relacionam entre si, perfeitamente parasitárias e independentes da sua função desportiva... ou comercial.

A antiga estabilidade do dinheiro metálico sintetiza-se, portanto, de forma simples e ridícula num conjunto claramente detectável de considerações práticas: sólido o suficiente para durar, inerte o suficiente para não retornar rapidamente ao seu valor de uso (não comestível, por exemplo), macio enquanto outros metais o ultrapassem para forjar as grandes ferramentas, suficientemente maleável ​​ para o poderem cobrir com inscrições finas e detalhadas, razoavelmente discerníveis e reconhecíveis. Não há nada de mágico, sagrado ou atávico nisso. Tanto pelas características qualitativas do ouro. Quanto à dimensão quantitativa crucial dos metais preciosos como medidas de valor, Marx falou-nos sobre isso muito melhor do que ninguém.

Como o próprio tempo de trabalho geral não admite senão diferenças quantitativas, é necessário que o objecto, que deve ser considerado como sua encarnação específica, seja capaz de representar diferenças puramente quantitativas, o que supõe a identidade, a uniformidade da qualidade. Essa é a primeira condição para que uma mercadoria cumpra a função de medir valor. Se, por exemplo, eu avaliar todos os produtos em bois, peles, cereais etc., devo, de facto, medir na carne média ideal, na pele média ideal, uma vez que existem diferenças qualitativas de carne bovina para carne bovina, de cereais para cereais, de pele para pele. O ouro e a prata, pelo contrário, sendo corpos simples, são sempre idênticos a si mesmos, e quantidades iguais desses metais representam valores de igual magnitude. A outra condição a ser cumprida pelas mercadorias destinadas a servir como um equivalente geral, uma condição que decorre directamente da função de representar diferenças puramente quantitativas, é que se pode dividi-lo em quantas fracções se deseja e que essas fracções podem ser reunidas novamente para que o dinheiro de conta também possa ser representado de forma tangível. O ouro e a prata possuem essas qualidades ao mais alto nível.
(Karl Marx, O Capital)

A especialização das peças de ouro em moeda repousa tanto num conglomerado de condições que são práticas e não substancialmente inerentes ao elemento químico Ouro (Au) que a substituição do dinheiro metálico pelo papel moeda foi historicamente realizada, sem sobressalto transaccional particular. O factor quantitativo (tanto em termos de divisão fraccionaria fina quanto de amplificação faraónica das quantidades) prima cada vez mais profundamente, à medida que o dinheiro é hiper-especializado, na sua função de meio de troca. Tanto é que até o papel-moeda está a ser destruído pela roda da história. E, o mais importante, um Luis de ouro hoje não tem qualquer valor monetário. É um objecto grande e curioso para antiquários, que costuma ser mais caro como artefacto histórico do que como uma pequena massa de ouro.

O velho fascínio irracional pelo ouro, perpetuado entre os nossos
contemporâneos, é menos anterior à sua antiga monetarização do que posterior a esta. O ouro é uma matéria comum como tantas outras. Ela permite-nos fazer coisas bonitas que são caras, mas é muito importante entender que as medalhas de ouro olímpicas, os registos de ouro dos cantores pop e o número dourado matemático nunca são mais do que variações metafóricas sobre uma das resultantes históricas da conjuntura do desenvolvimento do ouro como simples objecto cultural e técnico. É por isso que gostaria de dizer a todos os países que têm reservas de ouro e a todos as excentricidades que enxameiam e se lançam para o ouro como, por assim dizer,  o chamado porto seguro: Séraphin Poudrier (Séraphin Poudrierpersonagem popularizado pelo romance de Claude-Henri Grignon, “Um homem e o seu pecado”, publicado em 1933 – NdT), saia deste corpo.




quinta-feira, 28 de maio de 2020

28 de Maio de 1975 – social-fascistas do PCP tentam liquidar o MRPP!



A 17 de Março de 1975, nas vésperas das primeiras eleições ditas livres em Portugal – para a Assembleia Constituinte –,  que tiveram lugar a 25 de Abril de 1975, o então MRPP foi ilegalizado a mando do PCP, do III Governo Provisório e do Conselho da Revolução onde a sua influência era preponderante, precisamente para ser impedido de nelas participar.

O motivo anunciado era o de que o nosso Partido não havia acolhido a ordem de deixar de utilizar o símbolo comunista da foice, do martelo e da estrela, de que os revisionistas – que nunca mais o utilizaram em eleições de qualquer natureza – reclamavam exclusividade.

Porém, a verdadeira razão era outra, muito mais profunda. O MRPP tinha sido o único Partido a não aceitar o famigerado Pacto “MFA/Partidos” que pretendia domesticar todas as formações políticas e partidárias que não alinhassem com os ditames do PCP revisionista e social-fascista. Além disso, a crescente influência do MRPP junto do movimento operário, popular  e estudantil  era uma seta apontada à traição do PCP às lutas operárias e populares.

Foi o MRPP que encabeçou a luta pelas 40 horas – como hoje lidera a luta pelas 35 horas semanais . Foi o MRPP que impôs o primeiro salário mínimo em Portugal. Foi por proposta do MRPP que surgiram as primeiras Comissões de Trabalhadores, embriões dos órgãos de poder dos operários e dos trabalhadores logo que a Revolução saía vencedora.

Era tudo isto que tornava o MRPP um alvo a abater. E foi precisamente por isso que toda a burguesia se uniu numa tentativa de liquidar o Partido, liquidando fisicamente os seus dirigentes e militantes. Nenhuma voz se levantou, dos partidos do sistema – PS, PSD, CDS e PCP – para se opor ou condenar as tropas do COPCON de Otelo Saraiva de Carvalho que, a mando do PCP, do III Governo Provisório e do Conselho da Revolução, armados de G3, chegaram em chaimites e entraram pelas sedes do MRPP aos tiros, empurrando à força os dirigentes, militantes e simpatizantes que aí se encontravam para dentro das viaturas e agredindo quem se atrevesse a resistir-lhes.

Um a operação absolutamente fascista que, ademais, teve lugar precisamente no mesmo dia em que, quase meio século antes, havia ocorrido o golpe militar que iria colocar no poder, a 28 de Maio de 1926 (49 anos antes), o ditador fascista Salazar.


Por ordem do III Governo Provisório e do MFA (Movimento das Forças Armadas), o COPCON – braço armado do regime – prendeu 432 militantes do MRPP, entre os quais o seu Secretário-Geral, o nosso querido e saudoso camarada Arnaldo Matos e o director do Luta Popular de então.

Foi de estupefacção a reacção dos democratas e anti-fascistas a estas prisões. Para o Partido, os sinais já há muito que indicavam este desfecho. Mas, como sempre o dita a história, todo aquele que ruma contra a corrente da história acaba por nela se afogar. E foi o que aconteceu ao PCP revisionista e social-fascista. Este golpe assinalou o princípio da sua perda de influência no movimento sindical e operário que nunca mais deixou de diminuir.

Quarenta e cinco anos volvidos sobre estes acontecimentos é tempo de os verdadeiros democratas e anti-fascistas exigirem a punição de todos os que estiveram envolvidos na chamada “Operação Turbilhão” que foi aprovada na Coordenadora do MFA, na Assembleia Geral do MFA e no III Governo Provisório, operação comandada pelo PCP revisionista e social-fascista.

É tempo de não permitir que se lance um manto de silêncio sobre os acontecimentos de 28 de Maio de 1975. A história não pode deixar que se esqueça o maior ataque à liberdade de opinião, de organização, de convicção política, de que há memória no panorama político português depois do 25 de Abril de 1974!


A opinião pública mobilizou-se e veio para a rua exigir a “libertação imediata dos presos anti-fascistas”. Rapidamente o Partido organizou a resistência, com manifestações à porta das prisões – mormente a de Caxias para onde foi conduzido o maior grupo de militantes e simpatizantes, incluindo o camarada Arnaldo Matos.

Todas essas manifestações foram reprimidas a tiro. O camarada Camacho, responsável pelo sector editorial do Partido, foi atingido a tiro, na cabeça, tendo a bala permanecido alojada no seu cérebro atá ao dia do seu falecimento, em Fevereiro de 2018.


Apesar de não terem conhecimento do crescendo de manifestações de apoio que ocorriam no exterior das prisões, os militantes e simpatizantes do MRPP presos resistiam de forma organizada, que nem o isolamento nas celas, e as manobras de divisão que os carcereiros impunham, lograram impedir.

Entoavam canções revolucionárias para animar o espírito, ao mesmo tempo que continuavam a organizar reuniões, cada qual encostado às grades das suas celas, a falar alto para o corredor e dirigindo-se aos seus camaradas tratando-os pelo seu pseudónimo.

Nem o facto de os seus carcereiros os terem impedido de tomar banho durante um mês, os desmotivou. Estavam todos motivados quando chegou a directiva do camarada Arnaldo Matos, de dentro da própria cadeia de Caxias, para que todos entrassem em greve da fome. Directiva que acataram sem hesitações, dispostos a levá-la até à últimas consequências.

Para além dos advogados – que independentemente da sua filiação política – se lançaram na defesa dos presos, prestigiados intelectuais europeus, como é o caso de Sartre, subscreveram abaixo-assinados a exigir a libertação dos presos, no que foram acompanhados por protestos de gente conhecida na altura, como Natália Correia, Ruy de Carvalho, Sophia de Mello Breyner, David Mourão-Ferreira e Mário Cesariny, entre muitos outros. O actor Jacinto Ramos, ao lado da sua assinatura fez saber do seu “repúdio por toda a violência, venha de onde vier”.

A greve da fome, que durou 18 dias, permitiu a satisfação de todas as reivindicações que os camaradas presos haviam formulado: direito a receber visitas de familiares, de advogados e médicos – e permitiu o início das negociações para o fim das prisões a que os militantes e simpatizantes do MRPP tinham sido sujeitos de forma arbitrária e fascista.
O estado de saúde do camarada Arnaldo Matos agravou-se como resultado desta greve da fome que exponenciou uma úlcera de que padecia. Teve de ser hospitalizado no Hospital Militar da Estrela, em Lisboa, de onde acabou por ser libertado, conforme ele próprio descreveu :"Fui de Caxias para o hospital militar com um buraco no estômago, às portas da morte. Um belo dia a polícia militar que me estava a guardar meteu-me dentro de um jipe e levou-me onde eu precisava de ir. No dia seguinte já estava a fazer um comício". ( o comício de 18 de Julho de 1975 que encheu literalmente a Praça do Campo Pequeno, em Lisboa).
Resultado desta luta sem tréguas, finalmente a 18 de Julho de 1975 a burguesia e os social-fascistas do PCP que representa os seus interesses, viram-se forçados a libertar todos os camaradas que se encontravam presos. Não sem antes tentarem uma vez mais a divisão, anunciando a libertação de apenas alguns. De imediato, aqueles a quem fora anunciada a libertação recusaram-se a que tal sucedesse sem que fossem todos libertados.

Há, ainda hoje, grandes ensinamentos a retirar desta luta. Desde logo o de que, mesmo que se trate de um partido pequeno, como era o caso do MRPP – hoje PCTP/MRPP-, desde que este possua uma direcção à prova de bala, pode vencer um inimigo aparentemente mais forte.

Mas, há um outro ensinamento a retirar. O de que o PCP revisionista e social-fascista, acreditando que tinha uma influência e força desmedidas, afinal não passava de um gigante com pés de barro. Esta sua aventura reaccionária isolou-o ao ponto de perder continuamente influência em todas as frentes, mormente na cena política, partidária e sindical.

 Outro precioso ensinamento que esta luta nos proporcionou é o de que NINGUÉM CALARÁ A VOZ DA CLASSE OPERÁRIA! E, quem o tentar, para além de contar com a forte e resoluta oposição e resistência dos comunistas portugueses, ficará definitivamente isolado face a todos os que prezam a liberdade e são manifestamente contra o fascismo e o social-fascismo!

Finalmente, e não menos importante, o ensinamento para aqueles que julgam poder silenciar o tipo de crimes de que os dirigentes, militantes e simpatizantes do MRPP foram alvo. Devem preparar-se para morrer às mãos destes algozes!


Retirado de: http://www.lutapopularonline.org/index.php/partido/2727-28-de-maio-de-1975-social-fascistas-do-pcp-tentam-liquidar-o-mrpp



quarta-feira, 27 de maio de 2020

A 4ª guerra mundial já começou ? (2ª parte)



por Robert Bibeau

Na semana passada demonstrámos, com o apoio de números, que o império Americano-Atlântico se estava a afundar económicamente criando as condições objectivas para a sua subjugação através de uma quarta Guerra mundial inevitável: https://queosilenciodosjustosnaomateinocentes.blogspot.com/2020/05/a-4-guerra-mundial-esta-em-marcha.html?fbclid=IwAR2CwKNuac0KAO9c56Q7wnXkIUe1USS5UlqTYvndIX-UZn37ieq48nq0W08

A ex-hegemónica superpotência americana e os seus aliados enfraquecidos travam uma guerra a prazo, uma guerra perdida antecipadamente, contra o desafiante - a Aliança de Xangai, liderada pela China. À “autoestrada da seda” chinesa, projecto de investimento multimilionário (milhares de biliões de dólares em trinta anos),  a América opõem as plataformas digitais da Gafam (Google, Amazon, Facebook, Apple, Microsoft), que representam 50% do valor acumulado das grandes corporações do Dow Jones na Wall Street. O que o Tio Sam não imagina ainda é que os seus gladiadores se associarão ao vencedor no decurso da batalha que ele não pode ganhar, como não puderam ganhar as potências do Eixo ou o Império Soviético à potência americana ascendente que produzia naquela época metade dos produtos industriais do planeta.

Internautas um pouco ingénuos argumentaram que ainda não haviam visto passar a terceira Guerra mundial e que, até à data, nenhuma bomba nuclear havia destruído o Capitólio, o Eliseu, o Kremlin ou Pequim, o que, para eles marcaria o início de uma nova guerra mundial ...

A Cortina de ferro e a Guerra Fria

O mundo está a mudar como o demonstram os eventos do 11 de Setembro, e como o ilustra a pandemia viral e o confinamento policial mortal. A Terceira Guerra Mundial foi anunciada num discurso histórico em 1946 pelo criminoso de guerra Winston Churchill. Nesse discurso, uma verdadeira declaração de guerra, Churchill anunciou que o Ocidente imperialista iria erguer uma Cortina de ferro e organizar o bloqueio económico total contra o império soviético. Deve-se lembrar que em Yalta (1945) os dois campos vitoriosos imperialistas da Segunda Guerra Mundial colocaram a mesa para a Terceira Grande Guerra para partilhar o mundo, incluindo os impérios alemão e japonês derrotados, e os restos dos impérios francês e britânico decrépitos. A partir daquele dia macabro, os dois campos imperialistas entraram em conflito sob a terra, no mar, no ar e no espaço. O confronto foi total e global: militarmente, às vezes directamente (mísseis cubanos, Coreia), às vezes através de exércitos afiliados e mercenários patrocinados por ambos os lados (Al-Qaeda vs Mujahideen).

Essa guerra militar, de "baixas intensidades" (sic), foi duplicada com uma feroz guerra comercial, tecnológica, jurídica, diplomática, social e política de que a humanidade conheceu o resultado em 26 de Dezembro de 1991 pelo colapso do império soviético e o desmantelamento da URSS. Os historiadores burgueses, humoristas antes da época, designaram essa guerra mundial mortal, da qual os países do terceiro mundo pagaram os custos sacrificando milhões de combatentes e milhões de civis inocentes (Coreia, Vietname, Cambodja, Laos, Índia, China, Bangladesh, Paquistão, Médio Oriente, Angola, Moçambique, Argélia, Cuba, Nicarágua, Chile, América Latina, etc.) por Guerra Fria (sic).

Após o colapso de um dos beligerantes, especialistas, apologistas, cientistas geopolíticos e outros escribas encartados proclamaram que a partir de agora: "o mundo nunca mais será o mesmo. Entrámos no mundo unipolar do caos (sic). A humanidade será governada por um novo paradigma (resic) "e outros disparates bizarros. Seguiu-se um período de transição. O Império Americano bombeou o torso e continuou a sua descida aos infernos da deslocalização industrial, ao inflacionar dos seus défices catastróficos, concomitantemente com a desvalorização da sua moeda fetiche, ilustração da sua falência económica sob o "paradigma" capitalista globalizado. Ilustrámos abundantemente essa falência económica no nosso editorial anterior: "A 4ª Guerra Mundial começou? (1ª parte)”

Assim vai a economia, assim vão os serviços de saúde

Devemos lembrar que assim vai a economia – assim vai a política, a ideologia, a sociedade, o sistema de saúde, o sistema jurídico, a diplomacia e a guerra. Sob o modo de produção capitalista, o capital nunca sacrificará o lucro – o seu sangue e a sua vida - para privilegiar a vida e a saúde dos cidadãos, seja o que for o que pensa a pequena burguesia infectada. Se você espalhar essa ilusão, é porque o sistema o enganou.

Existe, portanto, uma enguia sob o rochedo quanto ao início desta 4ª Guerra mundializada - inter-imperialista – comunicação social vendida e plutocratas desvairados que agitam este slogan: "É melhor paralisar a economia, perder lucros, atirar milhões de trabalhadores - produtores de mais-valia para a rua; é melhor fazer passar fome milhões de trabalhadores do que deixar morrer um paciente com coronavírus! ” Não são esses desajeitados, ricos com biliões de dólares, que atiçaram as guerras locais e que encheram as nossas vidas diárias desde o crash de 2008 e a eleição de Donald Trump que estão à frente do império moribundo? Não foram esses plutocratas que impuseram as políticas de austeridade que desmembraram os serviços hospitalares? Não há diferença entre o mundo de ontem e o mundo de hoje ... entre o "paradigma do caos" de ontem e o de hoje. Como esse mundo pós-Guerra Fria e 11 de Setembro parece confundir-se com o seu antecessor! Podemos apostar sem o risco de nos enganarmos que o mundo que se seguirá a este confinamento policial mortal será como o que existia antes da pandemia.

Quem beneficia com o crime?

Para entender esse paradoxo em que criminosos de guerra fingem sacrificar os seus lucros para salvar vidas, sugerem-me que tente resolver o dilema: "Quem beneficia com o crime?" Desconfio desta questão, porque ela insinua que tudo isso procede de uma vontade maléfica - reflectida - planeada - conspiratória, manipulada por uma seita de plutocratas que conduziriam a dança desde o seu início, não sendo esse começo a aparição do Covid-19 (escapado ou disseminado por laboratórios de pesquisa militar de novas armas). A 4ª Guerra Mundial começou com a crise financeira de 2008 - seguida pela eleição de Donald Trump à cabeça do decadente Império Atlântico. Donald Trump foi impulsionado para este posto como a resposta do grande capital americano a sua debandada instável. Explicámos isso no livro “Democracia nos Estados Unidos. Mascaradas eleitorais ”(2018)( La démocratie aux États-Unis. Les mascarades électorales» https://les7duquebec.net/archives/231044), por que e como Trump, o fantoche, foi a última esperança para impedir o desenvolvimento mecânico das contradições antagónicas no modo de produção capitalista moribundo.

É necessário relembrar que o principal mecanismo de um modo de produção é a contradição antagónica que opõe o desenvolvimento dos meios de produção (incluindo as forças produtivas assalariadas) e as relações sociais de produção, que num dado momento também são muito estreitas, demasiado restritas e incapazes de conter e de permitir que floresçam os meios de produção e as forças produtivas modernas, digitalizadas e robotizadas.

É neste contexto, transcendendo as conspirações e os conspiradores, liderados por contingências económicas - políticas - sociais que essa pandemia voluntária ou acidental ocorreu - não é importante do ponto de vista da luta de classes e da análise histórica das classes, uma vez que, sob um modo de produção dominante, é a classe dominante que assume a responsabilidade pelo desenvolvimento das relações sociais de produção. Assim, se durante esta pandemia foi necessário impor confinamento policial, foi para reduzir a pressão sobre o sistema hospitalar vítima da austeridade imposta pelo sistema económico e transmitida pelos capitalistas falidos, e toda a compaixão do mundo não vai mudar nada.

Compreender e explicar esta 4ª Guerra mundializada

Como explicar esta 4ª Guerra mundializada? Ela apresenta-se de formas diferentes: militar convencional em muitos lugares - guerras contra auto-proclamados jihadistas, guerras diplomáticas, guerras comerciais e bloqueio financeiro, guerras jurídicas para ratificar ou revogar tratados, guerras sociais para subjugar os revoltados, guerras políticas para eleger políticos corruptos, guerras monetárias para salvar o dólar desvalorizado ou para o substituir pelo cobiçado padrão ouro, guerra bolsista e financeira, guerra virológica e bacteriológica, guerra digital para impor o 5G e retorno à ameaça de guerra nuclear. https://www.msn.com/fr-ca/actualites/monde/washington-%c3%a9voque-un-projet-d-essai-nucl%c3%a9aire-le-premier-en-28-ans/ar-BB14uY9r?ocid=msedgdhp

Nesta fase, o que é que empurra o sistema económico para um confinamento policial assassino e eu ousaria dizer suicida, pelo menos na aparência? O que precipita o sistema em direcção ao seu colapso não é esta pandemia limitada (5 milhões de infectados em 6 meses de contágio em 7,7 biliões de indivíduos). Vítimas com as quais gozam os bilionários e os seus representantes políticos. O que levou à intensificação desta guerra imperialista que não revela o seu nome é o uso de uma arma virológica letal (insidiosa e invisível) e, acima de tudo, do confinamento policial - drástico ao qual a população se submeteu com complacência (!), tolerando mesmo ser registada, espionada, denunciada, verbalizada, reprimida e presa.

É fácil entender a submissão das populações paralisadas - programadas - às tácticas de confinamento policial - dada a propaganda histérica sofrida e a iminência da ameaça viral invisível. Essa adesão durará enquanto o desemprego em massa, os despejos, as falências pessoais e a fome em massa não tiverem sido muito duras em todos os continentes e não apenas na Índia, na Ásia e em África como de costume. Caberá a nós expor ao proletariado subjugado que essa miséria global, mundial e generalizada, não é fruto do destino, mas a consequência fatal do fracasso de um sistema económico inadequado - irrecuperável - não reformável - que o homem deve abolir para construir um novo, adaptado aos imensos meios de produção que edificámos colectivamente.

Por outro lado, é difícil entender e explicar o silêncio de sectores económicos inteiros, que terão dificuldade em recuperar desse confinamento mortal, como o turismo, a restauração, os hotéis, as linhas de cruzeiro, os operadores turísticos, o transporte aéreo, os imóveis, os seguros, o automóvel (1/4 da economia global), a aeronáutica, a aeroportuária, os portos, a confecção têxtil, etc., etc. para não mencionar a terrível recessão económica que atingirá todos os sectores de actividade e todas as classes sociais, os proletários e seus patrões.

Deve-se admitir,  no entanto, que cada grande guerra mundial aporta as suas consequências, as suas restrições, as suas depreciações e as suas depredações que toleram os sectores económicos capitalistas, e que suporta a carne para canhão proletária. Novas armas virológicas letais matam o excesso de capital variável (funcionários) sem destruir o capital constante necessário (máquinas caras e robôs digitais). Em cada guerra, essa destruição provocou a reconversão e reconstrução do modo de produção capitalista em torno de um novo eixo de produtividade e lucratividade, o que a esquerda-esquerda chama pomposamente de um novo "paradigma" (sic). A história repete-se, às vezes por meandros estranhos.

Finalmente, "Quem beneficia com o crime?" O regime económico capitalista como um modo de produção que, por destruições inimagináveis - terá restaurado a virgindade para relançar a exploração e a alienação do trabalho assalariado, a única fonte de mais-valia, o sangue  vivificante do capital vampírico.

 Que fazer então ?
Devemos interrogar-nos sobre a origem chinesa ou americana do Covid-19? Devemos procurar um bode expiatório: Macron, Trump, Xi Jin Ping, Merkel ou Trudeau? Seguramente que não! Se fosse tão fácil sair dessas crises económicas endémicas e guerras sem fim quanto votar num novo pateta, saberíamos há muito tempo, já que nos pediram para votar fútil durante anos. Esta nova guerra mundializada oferece aos proletários a oportunidade de se distanciarem do estado fetichista adulado pela pequena burguesia empobrecida. Devemos parar de confiar no estado fetiche dos ricos. Ele deve ser desconstruído e, assim, desarmar os plutocratas e os seus lacaios, abolir as suas atribuições e destruir as suas funções. Depois disso, um mundo inteiro terá que ser construído, não uma pseudo-Nova Ordem Mundial baseada nas mesmas leis do capital ... mas um Novo Mundo sem capital. https://les7duquebec.net/archives/254560



terça-feira, 26 de maio de 2020

Porque é que as bolsas mundiais estão a jogar às roletas russas?


 Por Marc Rousset.


A Bolsa de Valores de Paris recuperou 5,16%, segunda-feira, 18 de maio, após o anúncio de uma nova vacina americana que gerou esperanças irreais e desproporcionadas. O mercado de Nova York também terminou cada dia com uma direcção diferente, desde o início da semana, um sinal de alta volatilidade. De facto, as bolsas estão assentes num vulcão porque se recusam a ver o elefante da crise económica à espreita no corredor.

Será a própria União Europeia que emprestará 500 biliões de euros com a garantia de todos os Estados da UE, mas a UE só pode reembolsar esses empréstimos com um novo imposto europeu ou pedindo aos estados para reembolsar em função das suas respectivas percentagens no PIB da UE. Os subsídios seriam concedidos a certos países ou sectores económicos de acordo com as suas necessidades e, portanto, haveria mutualização a nível da UE com uma menor taxa de empréstimos e redistribuição de recursos para os mais pobres. Mas a chanceler Merkel não teve mais do que um gesto político: a Alemanha, a grande vencedora do sistema actual, seguindo a frouxidão dos países do sul, apenas lhes ofereceu um osso para mastigar.

Os países sérios e frugais, como a Áustria, a Holanda, a Suécia, a Dinamarca e a maioria dos alemães ainda não disseram a sua última palavra e podem contra-atacar pedindo empréstimos e não subvenções, tudo isso acabando provavelmente num mix de empréstimo / concessão. Além disso, esses 500 biliões representam apenas 3,6% do PIB da zona do euro (14.000 biliões de euros), uma gota de água em comparação com o hiper-endividamento existente (95% do PIB) e o oceano de necessidades. A Alemanha gastará 900 biliões de euros nos seus próprios problemas, a França 500 biliões de euros.

A realidade é que sempre existiram duas forças para acabar com o euro: a Alemanha, que não quer pagar pelo "Clube Mediterrâneo dos países do sul", que se esconde por trás dos tratados do União Europeia e o Tribunal de Karlsruhe; e, por outro lado, a Itália, com a França no seu encalço, que irá rapidamente encontra-se numa situação impossível, não tendo mais do que a desvalorização de uma nova moeda nacional para fazer face às suas obrigações.

A esperança da retoma económica em V é risível. A dívida dos países da União Europeia poderia passar para 120% do PIB até ao final de 2020. Para todos os economistas, o pior está para vir, a sendo crise do coronavírus apenas o copo de água que faz transbordar o vaso já cheio em Janeiro de 2020. A MEDEF ( rede de empresários de França – NdT) propõe estender o prémio de carros eléctricos rejeitados pelos franceses para 700.000 carros térmicos que os fabricantes têm em stock e que não sabem o que fazer com eles.

O plano franco-alemão reduziu a taxa de endividamento italiano, que subiu para 2,228%, para 1,601%, mas a dívida italiana deve passar de 135% do PIB para 155% do PIB até o final de 2020, ou 2.400 biliões de euros. Novos atritos com os países "frugais" podem fazer elevar as taxas italianas na vertical.
A tendência do ouro, se considerarmos um simples gráfico desde 1971, está claramente em ascensão, com o actual índice técnico do RSI (índice de força relativa) de 70, o que reforça a probabilidade. A bolsa americana ainda está sobre-valorizada com um rácio P/E (preço / lucro) que é actualmente da ordem dos 30. O metal precioso pode chegar a 3.500-4.000 dólares a onça nos próximos três anos. Não é de admirar, já que o balanço do Fed está em vias de explodir, no final de Maio, para mais de 7 triliões de dólares, enquanto era de apenas 4,2 triliões de dólares no final de Fevereiro de 2020.

Se avaliarmos o custo da factura das despesas do governo federal para evitar o custo da Grande Depressão nos Estados Unidos, pode ir até aos 10 triliões de dólares, um aumento de 50% na dívida pública americana, enquanto que,   até à data, estamos em 2 biliões de dólares, com um exigência suplementar dos democratas de 3 biliões de dólares. É a mesma música em todo o mundo: sempre mais gastos públicos e mais dívidas!

Tudo isso só pode terminar com uma enorme explosão que está para vir e uma nova ordem monetária internacional baseada exclusivamente sobre o ouro, ao contrário do que foi decidido em 1945 em Bretton Woods (Gold Exchange Standard).