segunda-feira, 31 de março de 2014

As Lições Portuguesas do Desastre de François Hollande

bandeira franca 01As eleições municipais de ontem, em França, esmagaram François Hollande e o partido socialista francês.
Com uma abstenção recorde de 38% - mais 4% do que nas municipais de 2008 – e uma altíssima taxa de votos nulos, Hollande e o PS perderam 159 cidades, com mais de 9.000 habitantes cada uma, para a UMP (União para o Movimento Popular), partido de direita populista, de Jean-François Copé, e para a FN (Frente Nacional), partido xenófobo da extrema-direita, de Marine Le Pen.
Entre as cidades perdidas pelos socialistas franceses estão todas as grandes cidades operárias – com excepção de Paris, ganha por Ana Hidalgo, filha de refugiados republicanos da guerra civil de Espanha (1936-39) e que se havia recusado a aceitar uma pasta ministerial no governo francês saído da vitória de Hollande nas presidenciais francesas de 2012.
Bastiões operários do partido socialista francês, tais como Toulouse, Roubaix, Angers, Saint-Etienne, Reims, Marselha e Limoges, esta com câmara municipal socialista desde 1912 (há mais de um século), afundaram-se num abrir e fechar de olhos, desenhando bem a imagem do afundamento de Hollande e do seu partido.
Cor-de-rosa em 2012, a França ficou eleitoralmente pintada de azul, após dois anos de traição da presidência e do governo de François Hollande.
François Hollande é aquele charlatão oportunista que, em 2012, ficou muito conhecido em Portugal por ser o grande amigo de António José Seguro, secretário-geral do partido socialista português.
Durante a campanha para as eleições presidenciais francesas daquele ano, Seguro deslocou-se várias vezes a França para incensar Hollande. E, no dia seguinte à vitória de Hollande por larguíssima maioria, Seguro batia à porta do Eliseu para turibular Hollande como o homem providencial que haveria de salvar a União Europeia e, de passagem, salvar também Portugal...
Porém, no dia seguinte ao da sua eleição, Hollande tomou o avião de Berlim para prestar vassalagem à chancelerina Merkel. Os milhões de franceses que tinham então votado num programa de esquerda, ficaram em pânico, pois a viagem a Berlim mostrava claramente que haviam perdido o seu voto, quando este ainda se achava quente na urna.
Em Janeiro de 2013, logo na elaboração do primeiro orçamento pelo seu primeiro governo – o governo do primeiro-ministro Jean-Marc Ayrault – Hollande abandonou totalmente o discurso e a estratégia que o haviam eleito presidente da república francesa e substituiu-os, sem pudor nem vergonha, pelo discurso e pela estratégia neo-liberais de Merkel: ofereceu ao patronato francês um pacto para o desemprego e redução de salários e um corte nas despesas públicas no montante de 50 mil milhões de euros em três anos. Os impostos sobre os salários e pensões aumentaram dramaticamente. Os salários e os rendimentos disponíveis desapareceram dos bolsos dos trabalhadores. O desemprego trepou a pique.
A França ficou a saber o que era a austeridade imposta pela redução da dívida externa e pelo tratado orçamental, mesmo sem Tróica.
E os franceses ficaram também a saber qual a natureza do verdadeiro bandido que tinham eleito para o Eliseu.
Este bandido foi agora esmagado pelo voto dos franceses. Mas atenção: foi esmagado por um voto da direita e da extrema-direita, não por um voto de esquerda.
A mesma coisa já tinha acontecido com o partido socialista grego.
E a mesma coisa vai acontecer com Portugal, se os portugueses derem o seu voto ao partido socialista de Seguro nas próximas eleições para o Parlamento Europeu e se lhe derem a maioria nas próximas eleições legislativas.
Os portugueses devem dar o seu voto à esquerda, e Seguro não é esquerda; Seguro é o François Hollande português. É também um charlatão como o seu amigo François Hollande, levará ao desespero o povo trabalhador português e poderá criar o ambiente propício à ascensão da direita e da extrema-direita.
Como aconteceu ontem na França!
Como aconteceu há dois anos na Grécia!
Pela vossa saúde, não votem em Seguro nem no PSD/CDS; votem na esquerda e, aí, não esqueçam o PCTP/MRPP! Quem vos avisa, vosso amigo é. Para não virem a arrepender-se, como se arrependeram os franceses que em 2012 deram uma maioria absoluta a Hollande.
                                      
                                                                                                                                                  E.                                                                                                                           
                                          

Retirado de:
http://lutapopularonline.org/index.php/internacional/1025-as-licoes-portuguesas-do-desastre-de-francois-hollande1



domingo, 30 de março de 2014

Privação Material Severa resulta de política de traição nacional!

O governo de serventia aos interesses da tróica germano-imperialista dedicou durante o último ano grande parte do tempo de antena que detém – em regime de quase exclusividade com o seu parceiro de bloco central, o PS – a demonstrar o autêntico milagre económico que resultou das medidas terroristas e fascistas que vem aplicando nos últimos três anos e que promete prosseguir e agravar.

Ao mesmo tempo que anuncia a diminuição do desemprego,  a baixa dos juros e o aumento das exportações, foge que nem o diabo da cruz em falar sobre o aumento da dívida que foi, afinal, a principal, mas não única, razão invocada para PS, PSD e CDS, chamarem a tróica e apelar a que esta pusesse o país na ordem.

O governo bem que tenta branquear o facto de que, a condição de protectorado para a qual atiraram o país, se deveu ao facto de o terem arrastado para uma destruição massiva do seu tecido produtivo e amarrado ao pagamento de uma dívida ilegítima, ilegal e odiosa, agravando assim as condições de fome e de miséria a que o povo está sujeito.

Se dúvidas subsistiam quanto ao agravamento das condições de vida do povo e de quem trabalha, virtude dessas políticas terroristas e fascistas levadas a cabo pelo governo de traição nacional protagonizado por Coelho e Portas e tutelado por Cavaco, os dados de um Inquérito às Condições de Vida e Rendimento levado a cabo pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), agora tornados públicos, revelam que a situação de privação material severa, que em 2012 atingia 8,6% da população, em 2013 aumentou para 10,9%!

O estudo, que peca por defeito já que estima que existem 2 milhões de pobres, quando todos os estudos apontam para a cifra de 3 milhões, considera privação material severa o facto de um agregado não ter acesso a pelo menos quatro produtos de uma lista que integra nove relacionados com necessidades económicas e bens duráveis, onde se incluem atrasos no pagamento de rendas e empréstimos ou despesas correntes da casa até à impossibilidade de se conseguir uma refeição de carne ou de peixe de dois em dois dias, não ter viatura, televisão, máquina de lavar roupa ou não poder fazer face a uma despesa inesperada (como aceder a uma urgência hospitalar ou a um medicamento).

O estudo em causa revela, ainda, que no mesmo período, 25,5% do povo português vivia em privação material, contra 21,8% em 2012! Isto é, numa condição que o priva das condições financeiras para aceder a três das nove necessidades da supracitada lista, e que vão desde a incapacidade para pagar uma semana de férias (59,8%), a não poder assegurar o pagamento de uma despesa inesperada num valor próximo dos 400€ (43,2%), até não conseguir manter a casa aquecida de forma confortável e adequada (28%).

Do inquérito infere-se, ainda, que o risco de pobreza ou exclusão é maior em agregados com uma reduzida intensidade laboral per capita, assim como revela que as dificuldades económicas retiram, em 2013,  a 20,5% da população com idade superior a 15 anos a possibilidade de adquiri roupa nova – contra os 17,2% registados em 2009 - , enquanto 15.3% dos inquiridos referiram não ter condições sequer para se encontrar uma vez por mês com amigos ou familiares para uma refeição ou bebida e 21% não conseguirem participar com regularidade numa actividade de lazer ou cultura, enquanto 18,9% não possui sequer verba para despesas pessoais semanais.

Quanto a crianças na faixa etária dos 01 aos 15 anos, o estudo do INE revela que, dos 18 itens de privação que afectam as crianças, pelo menos três deles afectaram 45,7% e a falta de cinco atingiu 27,3% delas.

Estes factos, incontornáveis e indesmentíveis, demonstram bem que o caminho a seguir não é, como faz o PS, pactuar com o governo de traição nacional ou, como fazem PCP e BE, de desarmar perante a arrogância e a chantagem do executivo – como aconteceu no episódio da ponte.

O caminho a seguir é o de  travar uma luta sem hesitações, criando as condições e mobilizando os trabalhadores para todas as greves gerais necessárias, pelo tempo necessário, até que este governo seja derrubado e substituído por um governo democrático e patriótico que prepare a saída do euro, recuse o pagamento da dívida e leve a cabo um plano de investimentos criteriosos que crie emprego, desenvolva o país e assegure a sua soberania nacional.




sábado, 29 de março de 2014

Debates sobre a Colina de Santana:

A montanha pariu um rato!


O bloco central, que teve o seu episódio mais recente no Manifesto dos Setenta (que afinal eram setenta e cinco), teve uma versão autárquica na recente aprovação pela Assembleia Municipal de Lisboa, que teve lugar na passada 3ª feira, dia 25 de Março, de uma proposta sobre a Colina de Santana – a cobiçada Colina de Ouro -, onde se defende que mais nenhum hospital deve ser encerrado antes de estar a funcionar o projectado Hospital de Todos os Santos.

Aparentemente, até poderia parecer que o imperador de Lisboa, António Costa, teria tido um rebate de consciência e decidido fazer frente à especulação imobiliária e ao patobravismo em que tem assente a sua política camarária e a dos presidentes que o precederam – todos eles, pasme-se, do PS e do PSD, a liderar a edilidade da capital há mais de 3 décadas, todos eles, a sós ou coligados, responsáveis pela expulsão de mais de metade da população da cidade (que regista hoje os níveis demográficos de 1931!).

A montanha pariu um rato! Após cinco diletantes sessões sobre o futuro desta zona da cidade e apesar de intervenções que demonstraram:

·         Que o objectivo do governo, da Estamo que executa o seu plano e de António Costa, é transformar a Colina de Santana numa Quinta da Marinha no centro de Lisboa, provavelmente para dar vazão aos numerosos pedidos de vistos gold
·         Ao mesmo tempo que, de forma impune, a Estamo, para quem o governo de Sócrates, no seu afã de levar a bom porto a sua política de favorecer a privatização da saúde (que o actual prossegue e aprofunda), transferiu a propriedade do edificado e sua gestão patrimonial, continua a cobrar rendas exorbitantes aos hospitais que continuam a funcionar naquela colina
·         Que tal objectivo não se compagina com a preservação de um património arquitectónico único
·         Nem, tão pouco, com as necessidades de acesso a cuidados de saúde por parte de uma população residente, cada vez mais envelhecida
·         Sendo que, para além de não se saber em concreto a localização do futuro Hospital de Todos os Santos, é o próprio secretário de estado da saúde deste governo de traição nacional, a informar que ele será um hospital de média dimensão, que não albergará todas as valências que os resistentes Hospitais de S. José, Santa Marta e Capuchos oferecem.

A proposta é a suspensão?! É a oportunista ideia de oferecer ao condenado à morte a angustia de ver suspensa a execução da pena, mas não a intenção de a levar à prática!

Esta gente não se enxerga. E o tango a dois que sempre liderou a capital e o país – protagonizado pelo PS e pelo PSD e por vezes com o CDS como chaperone – tem agora mais uns apoiantes de ocasião, o MPT (Movimento Partido da Terra, o tal partido que está a servir de barriga de aluguer a Marinho Pinto, ex-bastonário da Ordem dos Advogados), o PNPN (Parque das Nações Por Nós) e a muito consequente, e bastamente oportunista, abstenção do BE ou, melhor dizendo, da sua ala mais à direita, social-democrata e profundamente reaccionária.

O consenso máximo possível de que se vangloriou a presidente da Assembleia Municipal de Lisboa, Helena Roseta, é pois mais um episódio na política de traição aos interesses dos munícipes de Lisboa, é mais um episódio na política de promoção do patobravismo e da especulação imobiliária que levou à expulsão da indústria da cidade de Lisboa, que levou a uma quebra superior a 50% do PIB da capital, que levou a uma constante de falência económica, da qual resulta a expulsão de 10 mil cidadãos por ano!

E é essa política que o imperador Costa quer prosseguir quando, por um lado, anuncia o seu apoio à construção do novo Hospital de Todos os Santos e se compromete, ao mesmo tempo, e para já,  a apresentar um Programa de Acção Territorial (PAT) – que ele próprio reconhece que nunca teve sucesso – e jura a pés juntos que imporá o surgimento de “uma percentagem adequada (25%) de habitação acessível e social nas áreas a construir e a reabilitar na Colina”.
Isto vindo do mesmo personagem que liquidou a EPUL, que era um travão à especulação imobiliário e um regulador de preços à habitação por parte de jovens e famílias mais carenciadas!

Só de um combate sem tréguas e de uma denúncia coerente e persistente desta política poderá resultar uma capital moderna, dinâmica e progressiva, uma capital com uma economia ao serviço do seu povo, acolhedora para os seus cidadãos.




quinta-feira, 27 de março de 2014

As Tropas Ucranianas na Crimeia

tropas ucranianas crimeiaOs jornais, a televisão, a rádio e os jornalistas portugueses, sem nenhuma excepção, continuam a fazer a propaganda da CIA e do imperialismo germânico nos acontecimentos da Ucrânia e da Crimeia. Todos eles apresentam, com imagens e fotos pré-fabricadas, uma visão completamente distorcida e errada desses acontecimentos.
Assim, nos quinze dias que passaram desde a votação do referendo pela independência da Crimeia e da sua adesão à Federação Russa, jornalistas e órgãos de comunicação social portugueses apresentaram como um acto de profunda barbárie a regulação totalmente pacífica do problema dos quartéis, bases e tropas da Ucrânia na península da Crimeia.
A verdade é que dos 18 800 soldados ucranianos na Crimeia, 14 500 (cerca de 80%) aceitaram a proposta do governo da Crimeia para integrarem as tropas do novo país independente, e só 4 300 (cerca de 20%) dessas tropas preferiram voltar para o domínio de Kiev.
A deserção em massa das tropas ucranianas na Crimeia demonstra o isolamento político em que se acham as novas autoridades de Kiev em relação às próprias forças armadas ucranianas.
A fraqueza militar do governo golpista neonazi de Kiev augura novos e decisivos acontecimentos na própria Ucrânia.

E.

Retirado de:
http://lutapopularonline.org/index.php/internacional/1015-as-tropas-ucranianas-na-crimeia

domingo, 23 de março de 2014

A União Europeia, a Ucrânia e o Espaço Vital Alemão

mural 01Os ideólogos do imperialismo europeu sempre apresentaram as suas teorias sobre a necessidade da unidade política e económica da Europa como uma narrativa de paz: a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço, a Comunidade Económica Europeia, a União Económica e Monetária e, por fim, a União Europeia foram sempre apresentadas aos povos da Europa e do mundo como instrumentos políticos de paz, num continente onde, desde o I Milénio antes da nossa era, não houvera um único século sem guerras.
Só no século XX, travaram-se na Europa duas guerras, que imediatamente se transformaram em duas guerras mundiais. Os chamados pais fundadores do movimento que visava a unidade política e económica da Europa propunham-se, com a unidade europeia, pôr definitivamente termo às guerras na Europa e criar entre os povos europeus uma era de paz permanente.
Nada mais hipócrita poderia haver, pois o primeiro passo dado no apregoado sentido da unidade e da paz foi a constituição da Comunidade Económica do Carvão e do Aço, com a qual os vencedores da segunda guerra mundial, com a Inglaterra e a França à cabeça, tomaram conta das reservas estratégicas germânicas do carvão e do ferro, duas matérias-primas vitais para a recuperação económica dos vencedores da guerra de 1939/45.
Por três vezes e em lugares diferentes, Lenine escreveu, contra os primeiros ideólogos imperialistas da unidade europeia em nome da paz, que os então chamados estados unidos da Europa ou seriam impossíveis ou reaccionários.
Reaccionária é precisamente a União Europeia de hoje, constituída sob a égide de um acordo intercapitalista encabeçado, para vergonha do povo português, por um contrato diplomático conhecido como o Tratado de Lisboa.
A União Europeia não é apenas reaccionária; a União Europeia é a guerra! E, desde logo, a guerra na própria Europa.
Com efeito, servindo-se da União Europeia como chamariz atractivo, o imperialismo germânico começou a organizar a Europa à imagem e semelhança da visão hitleriana do III Reich. Aproveitando-se do colapso do imperialismo revisionista soviético, a Alemanha começou a ocupar, sempre contando com as estruturas apelativas da União Europeia, os países do leste da Europa, e foi ao ponto de dividir um país, relativamente próspero como era a Checoslováquia, em dois países distintos – a República Checa e a Eslováquia – recuperando assim, sob a forma de República Checa, o território dos Sudetas, objecto da ocupação militar das tropas hitlerianas no período que antecedeu a segunda guerra mundial.
Completado o quadro da incorporação do leste europeu na União Europeia, a Alemanha e seus lacaios, no grupo dos quais se conta a classe dominante capitalista em Portugal, voltaram-se para os Balcãs, onde impuseram uma longa guerra para a destruição da Jugoslávia, guerra que Hitler no seu tempo não conseguiu ganhar.
Com a ajuda das tropas americanas, da Nato e dos governos seus lacaios na União Europeia, o imperialismo germânico conseguiu destruir a Jugoslávia e dentro desta, destruir a Sérvia, ajustando a chancelerina Merkel as velhas contas que Hitler não conseguiu ajustar com a nobre nação sérvia.
Assim, quarenta e poucos anos depois do termo da II Guerra Mundial, a guerra voltou à Europa pela mão dos mesmos tiranos: os boches.
Na nova guerra balcânica, alemães e americanos cometeram todavia um erro fatal: permitiram que, na província sérvia do Kosovo, a maioria albanesa e muçulmana local estabelecesse a independência, através de um movimento terrorista recrutado na vizinha Albânia e armado pelos Estados Unidos da América e pela Alemanha, ao mesmo tempo que a capital da Sérvia e as suas principais cidades eram destruídas pelos bombardeamentos maciços de aviões da Nato e da Alemanha.
O apoio dado ao Kosovo – hoje um país reconhecidamente inviável - voltou-se contra os governos dos países da União Europeia que têm nações ou minorias nacionais nos seus territórios, desde a Espanha (com a Catalunha, o País Basco e a Galiza), e o Reino Unido (com a Escócia e a Irlanda do Norte) até à Roménia (com a Moldávia), à Itália (com a Lombardia) e à França (com a Córsega e os territórios ultramarinos).
Mas o imperialismo germânico, arrastando a União Europeia como bandeira, não se ficou pela nova guerra dos Balcãs; foi também, levando sempre consigo o pendão da União Europeia, à guerra na Líbia e na Síria, deixando aí dois caroços dos quais ainda hoje não vê como sair.
É verdade que a chancelerina Merkel, muito embora já seja a terceira vendedora mundial de armamento, ainda não dispõe de um Rommel e de um Afrika Korps para tentar dominar o norte de África, mas, tal como o seu émulo Hitler, já anda em guerra na Síria e na Líbia, ali por causa do controlo do Mediterrâneo oriental e do Oriente Médio, e aqui por causa do petróleo.
Será que um dia mais tarde, a chancelerina ou os seus descendentes irão à Noruega tomar-lhe o seu petróleo do Mar do Norte, já que a Noruega se recusou a entrar na União Europeia e, muito menos, a entrar na zona euro?!...
Em todo o caso, é por causa do petróleo e do gás natural (além das monumentais reservas de trigo) que a Alemanha, sempre servindo-se do espantalho da União Europeia, iniciou a ocupação da Ucrânia, visando porém mais longe: visando o Azerbeijão e os países agora independentes da orla do Mar Cáspio, onde também Hitler tentou chegar para abastecer-se de petróleo e de gás.
É, ainda e uma vez mais, a aplicação prática da teoria do espaço vital alemão, já definido no Mein Kampf. A passo e passo, caladinha e quase distraída, Merkel experimenta chegar com o lábaro da União Europeia aonde Hitler não teve força para chegar com os seus Panzer.
O processo da chancelerina Merkel é sempre o mesmo: procura aprisionar os novos países, oferecendo-lhes a entrada na União Europeia e apoios financeiros que se diriam ilimitados; se, nos países alvo, uma parte da população se opõe ao fascínio do canto de sereia germânico, a Alemanha fornece armas e organiza a guerra civil com vista a afastar do poder as forças locais que se opõem à entrada na União Europeia (ou seja, que se opõem à ocupação germânica do seu território).
Na Ucrânia, a milícia nazi organizada e armada pelo governo germânico foi ao ponto matar alguns dos ocupantes da praça Maiden, em Kiev, atribuindo depois ao governo legítimo ucraniano a autoria dessas mortes.
A União Europeia é, de facto, a guerra e a bandeira da guerra.
Só que, desta vez, encontrou na Ucrânia um osso muito duro de roer – o mesmo osso que, afinal, sob a direcção de Estaline, tinha derrotado já Hitler e agora derrotou a chancelerina Merkel, a União Europeia e a Nato – o povo russo!
Claro está que a Federação russa não iria nunca permitir que a Alemanha ocupasse a Crimeia, onde se localiza o único porto de águas quentes (ou seja, único porto russo em que as águas nunca gelam ao longo de todo o ano) à disposição da sua marinha de guerra e da sua frota de comércio.
Por agora, nem a Alemanha, nem a Nato, nem o imperialismo americano tem condições para inverter esta derrota.
E a luta obviamente continuará pelo lado das populações russas, que, tal como sucedeu com os sérvios na Bósnia-Herzegovina, não deixarão de exigir a sua autonomia e independência políticas em determinadas outras regiões da Ucrânia.
Todavia, há, disto tudo e desde já, duas lições a tirar: a primeira, a de que a União Europeia não é uma estrutura europeia de paz, mas, sim de guerra, da qual os povos europeus amantes da paz devem impor a sua própria retirada; a segunda, a de que as forças estratégicas ao nível mundial já se alteraram nos últimos vinte cinco anos, depois do colapso do social-imperialismo revisionista soviético.
As derrotas estratégicas do imperialismo americano no Iraque e no Afeganistão, acompanhadas da derrota da tentativa de ocupação da Ucrânia, mostram que o imperialismo americano, sendo ainda uma potência militar dominante, já não é, no quadro mundial, uma potência militar determinante.
Todavia, a União Europeia é a guerra; o imperialismo germânico é a guerra; o imperialismo ianque é a guerra. Mas são também e cada vez mais tigres de papel. A vitória final será sempre dos proletários e dos povos do mundo. E isso será também o caso da actual luta na Ucrânia.


Retirado de:
http://lutapopularonline.org/index.php/internacional/1012-a-uniao-europeia-a-ucrania-e-o-espaco-vital-alemao

sexta-feira, 21 de março de 2014

Economistas Para Todos Os Tachos

saco de moedas 01Se houvesse porventura alguma dúvida sobre o facto de que a economia política capitalista não é uma ciência mas uma ideologia contra-revolucionária, destilada nas universidades burguesas para explorar e enganar os operários, bastaria observar atentamente como, nesta época de crise económica e financeira interna e internacional, se comporta a corporação dos economistas catedráticos.
Desde que Portugal aproou, no final do último governo de Sócrates, a uma sólida e robusta bancarrota financeira, logo o vespeiro dos nossos economistas, acolitado pela falange dos economistas europeus e americanos seus patronos, se pôs em bicos de pés para aconselhar o nosso País a lidar com a nova ocorrência, ocorrência que só eles, economistas, sempre invocando o santo nome da ciência, haviam criado.
Um novo bando de economistas ocupou então as pantalhas da televisão e as colunas dos jornais, daí insultou os colegas de ofício que tinham estado durante oito anos no turno de Sócrates, afastou-os do Poder e assentou-se nas respectivas cadeiras, ainda quentes e mal cheirosas.
Sob a batuta de Passos Coelho, o turno de economistas dos Gaspares passou a proclamar a sebástica ideia, já pregada por Salazar em 1928, de que no poupar é que está o ganho, e vão de cortar imediatamente em tudo o que sejam despesas sociais, da educação à saúde e à segurança social, das reformas às pensões e aos subsídios, roubando trabalho e salário, aumentando jornadas e o desemprego, a fome, a pobreza, a doença e a miséria.
A tribo dos economistas na Europa e nos Estados Unidos, sob a batuta da Escola de Chicago e da Tróica, apoiou e aplaudiu essa canalha.
Em véspera de eleições europeias e já não muito longe das próximas eleições legislativas internas, o turno dos economistas portugueses de descanso, e que tinha estado no poleiro com o governo de Sócrates, pôs-se agora a insultar o turno de serviço dos Gaspares, apresentou um manifesto de reestruturação da dívida, subscrito por setenta e cinco figurões, e prepara-se, sempre em nome dessa ciência infusa que se apelida de economia política, para voltar às mesmas cadeiras do Poder, solicitando todavia às instituições europeias um corte nos juros, no capital e um aumento nos prazos de pagamento da dívida.
Também aqui, a corporação dos economistas europeus e americanos, agora mais descaídos para a Escola de Keynes, exprime, através de um manifesto igualmente subscrito por setenta e cinco figuras catedráticas, o seu apoio e aplauso aos subscritores do manifesto sobre a reestruturação da dívida externa portuguesa.
Os setenta e cinco catedráticos estrangeiros são todavia muito menos exuberantes que os setenta e cinco portugueses, pois limitam-se a afiançar que apoiam “os esforços dos que em Portugal propõem a reestruturação da dívida pública global, no sentido de se obterem menores taxas de juro e prazos mais amplos, de modo que o esforço de pagamento seja compatível com uma estratégia de crescimento, de investimento e de criação de emprego”.
Tudo intenções piedosas de um segundo turno de serviço europeu e americano de economistas sobre a dramática situação em que se afunda o nosso País.
Como se vê, assim como há pau para toda a colher, também há economistas para todos os tachos. É só pedir...
Mas o que é que está por detrás deste frenesim dos figurões portugueses e estrangeiros da pseudo-ciência da economia política? Bem: o que está por detrás são as eleições para o parlamento europeu. Com efeito, da maneira como os trabalhadores portugueses foram roubados em trabalho, em salários, em pensões, em reformas e em direitos nestes últimos três anos, é natural que aproveitem a data do próximo dia 25 de Maio para se vingarem dos traidores do PSD e do CDS, mas também dos oportunistas do PS, como Seguro, e do presidente da República.
Os dois manifestos – o dos setenta e cinco subscritores portugueses e o dos setenta e cinco economistas estrangeiros – visam branquear as responsabilidades dos partidos do chamado arco-do-poder e do presidente Cavaco, na situação de pobreza, miséria e desemprego que só eles criaram.
Ah! E visam sobretudo afastar a ideia, que ganha cada vez mais adeptos entre a classe operária e o povo trabalhador, de que é urgente sair do euro!
O voto operário pode ser uma arma poderosa, se não favorecer os partidos do bloco central (PSD, CDS e PS). O voto certo é no PCTP/MRPP, por um governo democrático e patriótico, pelo não pagamento da dívida e pela saída do euro.
Sem necessidade de pseudo-cientistas da economia política reaccionária, pois esses, qualquer que seja a escola onde predicam, são os únicos responsáveis pela situação dramática em que se acha Portugal.


Retirado de:
http://lutapopularonline.org/index.php/pais/104-politica-geral/1013-economistas-para-todos-os-tachos

quinta-feira, 20 de março de 2014

O Manifesto dos Setenta - Parte IV

7. É possível que alguns operários todavia se perguntem: mas se a dívida é impagável, por que é que não é correcto pedir e lutar por um haircut (corte parcial) da dívida e dos respectivos juros? Não terão neste ponto razão os subscritores do manifesto sobre a reestruturação da dívida?
Não, não é correcto, e não têm razão!
Em primeiro lugar, os subscritores do manifesto parece ignorarem o que se passa com a dívida pública no interior da zona euro. Ora, 15 dos 18 países que adoptaram o euro como moeda única têm uma dívida pública que excede largamente o rácio dos 60% imposto por Maastricht. O rácio da própria Alemanha é de 80% (!...), o da Bélgica é de 100%, e o da Itália – o maior de todos – é de 130 %. No seu conjunto, a dívida pública dos 18 países que integram a zona euro é superior ao PIB global gerado dentro da mesma zona.
Mas, com excepção do que foi exigido a Portugal, à Irlanda e à Grécia, ninguém exigiu aos restantes países do euro, titulares de dívidas superiores a 60% dos respectivos PIBs, entre os quais está incluída, como se viu, a própria Alemanha, que reestruturassem as respectivas dívidas e recebessem a supervisão da Tróica.
Quanto à dívida pública dos países integrantes da Comunidade Económica e Monetária – zona euro -, a situação é de tal modo dramática que as entidades europeias dirigentes acabam de estabelecer um Mecanismo Europeu de Estabilidade, dotado de um fundo de 500 mil milhões de euros para fazer face aos problemas da dívida, não mediante haircuts (perdões parciais) sobre a dívida de cada país, mas mediante empréstimos a juros, com supervisão do Banco Central Europeu, da Comissão Europeia e, quiçá, do Fundo Monetário Internacional, ou seja, de uma nova Tróica para toda a Zona Euro.
Não só não haverá, pois, perdões parciais de dívidas e de juros, como passará a haver controlo e austeridade cada vez mais apertados.
Mas, em segundo lugar, e mesmo nos casos em que porém se adoptou a política dos haircuts (perdões parciais) da dívida e dos juros e a prorrogação dos prazos de pagamento, não só não se resolveram os problemas da dívida, como não se libertaram fundos para promover um desenvolvimento económico robusto e sustentado.
Na verdade, a segunda reestruturação da dívida grega determinou o perdão de cerca de 50% da dívida pública e dos respectivos juros, mas a dívida actual da Grécia é agora ainda maior do que era a dívida existente no termo da primeira reestruturação orientada pela Tróica, e o actual serviço da dívida, com o pagamento de amortizações e juros, é também maior e mais pesado do que o serviço da dívida existente à saída da primeira reestruturação.
Os perdões totais ou parciais da dívida e dos juros, tal como os fundos estruturais concedidos aos países periféricos na forma de ajudas de adesão e de pré-adesão, não só não alteraram como perpetuaram o subdesenvolvimento económico desses países, transformando-os em sub-colónias do imperialismo alemão.
Este sistema de exploração capitalista financeira é tão incontornável que actuou e actua dentro da própria Alemanha. Com efeito, mesmo apesar dos milhares de milhões de euros de subsídios que a Alemanha de Leste recebeu do governo federal alemão e dos fundos estruturais concedidos pela União Europeia, a Alemanha oriental, ao fim de vinte anos de incorporação, continua a ser uma região extremamente pobre, com altos índices de desemprego e baixos índices de produtividade, em relação à Alemanha ocidental.
E porque é que isto é assim?
Isto é assim porque a causa de ser do crescimento da dívida nos países periféricos, fracamente desenvolvidos sob o ponto de vista económico, e o atraso perpétuo das regiões menos desenvolvidas, está no próprio euro, moeda demasiado forte para essas débeis economias e que traz como consequência a cada vez menor produção de bens transaccionáveis e o cada vez maior défice na balança do comércio externo e das transacções correntes, impondo uma distorção permanente de todo o sistema económico do país em causa.
O euro, moeda tão forte que o valor cambial de um euro anda à roda de 1,40 dólares, é, para os países economicamente débeis da União Económica e Monetária e respectivas regiões atrasadas, a causa de ser da restrição das exportações e do incremento das importações e, por conseguinte, a causa dos crescentes défices externos desses pequenos países e regiões e, em última análise, a causa do crescimento incontrolável da dívida pública de tais países.
Há catorze anos aderimos ao euro.
Veja-se a evolução da dívida pública portuguesa no decurso dos últimos vinte anos, entre os quais se incluem os catorze da adesão ao euro: 

Nos anos que vão de 1994 a 2000, a dívida pública portuguesa, então expressa em escudos, desceu de 57,3% para 48,4 % do PIB. E desde que adoptámos o euro, a dívida pública portuguesa subiu de 48,4%, em 2000, até 128,7%, em Dezembro de 2013, e chegará aos 140% do PIB no próximo mês de Setembro.
Com o euro, não houve um só ano em que não subisse, quase exponencialmente, a dívida pública.
O euro acarretou, em Portugal mas também na União Europeia, a falência, encerramento e deslocalização de milhares de empresas produtoras de bens transaccionáveis, e impôs uma distorção completa do regime económico português, com um crescimento galopante do desemprego, sobretudo do desemprego jovem.
Na ocasião do 25 de Abril, 40% do PIB português era gerado na indústria. Hoje, por virtude da adesão ao euro, apenas 13% do PIB é gerado no sector industrial. E para que a desgraça fosse ainda maior, apenas 2% do PIB tem hoje origem no sector primário (agricultura e pescas).
Portugal tornou-se, assim, um país economicamente inviável, desindustrializado, sem agricultura e sem pescas.
Este quadro, triste e negro, precisa de uma alteração urgente, radical e completa. O país tem que ser, sem demora, re-industrializado, incluindo nessa re- -industrialização a industrialização de todo o sector primário, da agricultura às minas e ao cluster das indústrias do mar e das plataformas continentais e insulares.
Nada disto – que é um verdadeiro desígnio nacional – se poderá fazer, como pretendem os setenta e cinco marmanjos subscritores do manifesto da reestruturação, no interior da zona euro, com haircuts (perdões) da dívida e dos juros, nem com todos os subsídios que possam ser imaginados.
Para poder ultrapassar a situação catastrófica em que se encontra e a que foi conduzido pelo euro germânico, Portugal não chegará nunca lá através de uma reestruturação da dívida, mas sim mediante uma reestruturação económica que terá de assentar na saída do euro e na introdução do escudo, inicialmente à paridade cambial com o euro.



Retirado de:
http://lutapopularonline.org/index.php/pais/104-politica-geral/1008-o-manifesto-dos-setenta?showall=&start=3

quarta-feira, 19 de março de 2014

O Manifesto dos Setenta - Parte III

5. Os setenta e cinco subscritores do manifesto propõem-se como objectivo uma reestruturação responsável e honrada da dívida no âmbito do funcionamento da União Económica e Monetária. Esta é a declaração de princípio com que abrem o manifesto.
E o que significa esta declaração de princípio? Significa duas coisas ao mesmo tempo: significa que os subscritores do manifesto, por um lado, rejeitam a saída da zona euro e que, por outro lado, todas as propostas de solução, que não a sua, são irresponsáveis e desonradas.
Ora, tendo em conta o critério de Maastricht, o tratado que instituiu o euro como moeda única restringe a 60% o rácio da dívida pública em relação ao produto interno bruto (PIB) de cada um dos países aderentes ao tratado. E, pelo recente Tratado Orçamental, ficaram proibidos os défices orçamentais aos países da moeda única.
Em Janeiro de 2010, a dívida portuguesa alcançou o montante de 208,6 mil milhões de euros, equivalente a 128% do PIB. Quando a Tróica estabelecer o saldo final em Setembro de 2014, a dívida portuguesa atingirá, no mínimo, 140% do PIB. Nos dias de hoje, pagamos, só em juros, 7 mil milhões de euros, equivalente a 4,5% do PIB. A partir de Setembro de 2014, os juros dispararão para 9 mil milhões de euros, cerca de 6% do PIB, só em juros, e os défices orçamentais continuarão a não ser permitidos.
A conclusão é simples: a dívida não pode ser paga! Só uma canalha irresponsável e sem honra, como é a camarilha subscritora do manifesto, pode pretender um regime de pagamento desta dívida. Para pagar esta dívida no quadro de funcionamento da União Económica e Monetária, os salários de todos os trabalhadores, e sobretudo dos operários, teriam de descer, mais ou menos bruscamente, ao nível real dos salários praticados na época das eleições de Delgado (1958).
Os subscritores, sobretudo os que são economistas, sabem perfeitamente disto, mas escondem-no no manifesto. E, todavia, não escondem tanto quanto desejariam. Na verdade, eles sabem muito bem que a política do manifesto não visa pôr termo à austeridade do actual governo de vende-pátrias, consistente em roubar quem trabalha, em cortar salários e em eliminar reformas e pensões. E, por isso, aquilo que referem como uma conduta responsável e honrada não é outra coisa senão o apelo encoberto que fazem aos sindicatos e trabalhadores para colaboração com os capitalistas num “quadro de coesão de efectiva solidariedade nacional”.
Fica portanto claro que a canalha dos subscritores do manifesto não abandonaria nunca, se chegasse ao governo, a política de austeridade e empobrecimento dos trabalhadores.
Muito embora a comunicação social se tenha feito eco de uma pretensa política de cortes da dívida e dos juros, os subscritores, com Cravinho à cabeça, deixaram bem claro que não pretendem pedir cortes aos credores. O que eles propõem é mais cortes nos salários, nas pensões, nas reformas, no serviço de saúde, no ensino, no apoio à inclusão social.
 
6. Mas assim como até um relógio parado duas vezes ao dia está certo, os subscritores do manifesto não deixam de reconhecer que, tendo ascendido a 225% do PIB o endividamento público e privado, a dívida tornou-se insustentável, se o seu pagamento se basear apenas na austeridade e empobrecimento dos trabalhadores, como tem feito o governo de traição nacional Coelho/Portas. E por isso acenam – mas só acenam, mais nada!... – com um robusto e sustentado crescimento económico duradouro.
Robusto e sustentado crescimento económico duradouro era o que proclamavam Gaspar e Álvaro, à medida que nos iam mais fundo à carteira, até fugirem como dois cães com o rabo entre as pernas e terem passado a ocupar, cada um deles, a sua sinecura robusta e sustentada com que a Tróica paga aos traidores.
Os economistas de meia-leca que assinam o manifesto sabem com certeza que, nos termos dos ensinamentos de Reinhart e Rogoff, existe um momento a partir do qual o crescimento económico é impossível devido ao peso da dívida pública, e esse momento já foi ultrapassado no orçamento para 2012.
E assim como não é possível reestruturar a dívida portuguesa e fazê-lo no âmbito de funcionamento da União Económica e Monetária, também não é possível, para um país endividado como Portugal, e no mesmo âmbito de funcionamento da União Económica e Monetária, libertar e canalizar recursos minimamente suficientes para um crescimento económico robusto e sustentado.
Já vimos que o que caracteriza o manifesto dos setenta e cinco é o oportunismo político mais nauseabundo. Toda a gente entendeu, incluindo a maioria dos subscritores, que o manifesto tentava abrir a via do perdão, ainda que parcial, da dívida e dos juros, mas logo Cravinho, redactor do texto com Bagão Félix, veio garantir urbi et orbi que os subscritores não tinham em vista perdão nenhum.
Todavia, para manter obrigatoriamente um orçamento sem défice, amortizar e pagar juros da dívida mesmo que só no montante inferior ao limite dos 60% imposto por Maastricht e granjear uma taxa nominal não inferior a 4%para um crescimento económico robusto e sustentado, tudo no âmbito da União Económica e Monetária, tal só é possível ou com a contínua e continuada desvalorização dos salários e a fome e doença generalizadas da população (política do governo de traição nacional Coelho/Portas/Cavaco) ou com a saída do euro, regresso ao escudo e desvalorização controlada da inflação (política da classe operária, dos trabalhadores, dos reformados e idosos, dos jovens, sob um governo democrático e patriótico).
Ora, o manifesto, recusando a política de um governo democrático e patriótico, adopta a política geral do governo de traição nacional Coelho/Portas/Cavaco, temperada com disfarçados cortes (perdões) na dívida e nos respectivos juros.
Assim, para fazer face aos 4,5 % do PIB que são todos os anos (no futuro serão ainda mais) absorvidos pelo pagamento dos juros, os setenta e cinco propõem um abaixamento da taxa média do juro, abaixamento que mendigam, sem sequer indicar qual é o valor do abaixamento.
Isto, chame-lhe Cravinho o que quiser, é um pedido de perdão de juros!
Pedem também os subscritores do manifesto um alargamento dos prazos da dívida para 40 ou mais anos.
Se isto não é um perdão do prazo, então o que é? E onde estarão Cravinho, Bagão Félix, Victor Ramalho e todos os trânsfugas que assinaram agora o manifesto, quando a geração dos seus netos for chamada a pagar a dívida que os energúmenos dos seus avós lhe deixaram em herança?
E, por fim, pedem os subscritores do manifesto que seja reestruturada a dívida no montante acima dos 60% do PIB. O que é isto senão mendigar um perdão, ainda que só parcial, de 40% da dívida? Só que aqui, neste ponto concreto, já não dizem que pretendem uma reestruturação responsável e honrada da dívida!... Aqui, pura e simplesmente entendem que a dívida deve ser perdoada tal como a dívida externa alemã nazi foi perdoada à Alemanha pelo Acordo de Londres de 1953.



(continua)


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