terça-feira, 31 de dezembro de 2019

Um panorama de sublevação operária e popular percorre o mundo!




Sempre que eclode uma sublevação popular e a classe operária assume uma postura e uma energia revolucionária perante as exigências que ela reclama, a burguesia, o imperialismo, colocam-se em sentido, porque sabem que, desta vez, as lutas são para serem levadas muito a sério por ela.

O problema tem sido sempre a canga que é colocada ao movimento operário por sindicatos, partidos e associações que, reclamando-se de esquerda, representam de facto os interesses da pequena burguesia.

Organizações oportunistas, revisionistas, traidoras dos interesses, quer da classe operária, quer de outros trabalhadores, cujo papel  é o de apontar saídas sem solução – traduzidas em manifestações do tipo procissão religiosa, referendos, abaixo-assinados, participação em eleições para órgãos do poder da burguesia, etc – que acabam por levar ao cansaço e, pior, à frustração e desmobilização.

Quando os operários entram em cena, a pequena-burguesia  aplaude e protege-se por debaixo das asas da sua combatividade e arrojo. Porém, quando finalmente sente que a situação passou a ser-lhe favorável  e o jogo das relações de força fazem supor que aquilo que reclamam será satisfeito pela burguesia, traem
e abandonam os operários que os haviam protegido e dirigido.

Acontece por todo o mundo, do Chile à Bolívia, da América à Ásia, por essa Europa fora – o Movimento dos Coletes Amarelos e a Greve Geral que teve hoje início em França assim o demonstram . Quando a luta aperta e exige consistência combativa, foco, coerência revolucionária, lá está a classe operária na frente.

Mas, a classe operária tem de se capacitar, de uma vez por todas, que o seu papel  histórico é o de acabar com a escravatura assalariada e o modo de produção capitalista e imperialista que a anima e não o de servir de bengala e amuleto a uma pequena burguesia historicamente cobarde e poltrona, quer do ponto de vista social, quer do ponto de vista político.

Dizia Marx que a classe operária em Partido é o único caminho revolucionário a seguir para que a responsabilidade histórica que cabe, unicamente, à sua classe, tenha sucesso. Isto é, destruir o modo de produção capitalista e, sob os seus escombros, erguer o modo de produção comunista.

sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

Brexit: renascer das cinzas para morrer de vez!


Tal como havíamos previsto no artigo que publicámos nestas páginas em 16.05 do corrente      - http://www.lutapopularonline.org/index.php/component/content/article/125-europeias-2019/2511-brexit-o-exagero-de-uma-morte-anunciada -  morte, política, económica, financeira e social do Reino Unido foi um exagero. Um exagero que, pelos vistos saiu caro a Corbyn e ao Partido Trabalhista, mas não só.

Não só a direita conservadora ganhou as eleições como, à medida que se anunciavam os resultados que viriam a dar a vitória a Boris Jonhson, a libra valorizava em relação ao dólar. Ou seja, uma forma do imperialismo americano assinalar o seu agrado pelo resultado, sobretudo quando ele envolve a vitória da estratégia americana de congelar os apetites de protagonismo do imperialismo europeu na cena mundial.

Tal como o dissemos na altura, o Brexit só pode ser entendido no quadro da guerra inter-imperialista em preparação que, apesar de se encontrar, ainda, em estado larvar, já está em curso, sendo a presente guerra comercial protagonizada pela China e os EUA, um sinal disso mesmo.


Confirmou-se, ontem, o que então assinalamos. Que não era por acaso que o processo da saída do Reino Unido da UE – que ocorrerá, segundo o discurso de vitória de Boris Jonhson até 31 de Janeiro de 2020 – foi liderado por várias forças de direita e de extrema-direita daquele reino. São, claramente, as forças que melhor representam os interesses dos grandes monopólios e do imperialismo britânico.

São, claramente, as forças que dominam melhor os meios de propaganda que iludem os operários e os trabalhadores britânicos e os levam a votar, de forma expressiva, no seu objectivo de fazer vingar a sua posição na mesa dos despojos dessa guerra imperialista em curso.

Claro que, a exigência da saída da UE e do euro, que tem sido uma das principais linhas programáticas do PCTP/MRPP, em nada é comparável com o Get Brexit Done de Boris Jonhson. Quer quanto à natureza de classe, quer quanto aos objectivos que cada realidade política apresenta. Enquanto nós defendemos que a saída de Portugal da UE e do euro, ademais, nos retira do cenário de guerra inter-imperialista a que o directório alemão quer associar o nosso país, o Reino Unido, com o Brexit, pretende precisamente o contrário. Reorganizar as suas forças, de forma autónoma, a fim de estar em melhores condições no eventual processo de partilha dos despojos do pós-guerra.


Além do mais, com o Brexit, o Reino Unido deixou claro que  não está mais interessado em partilhar o poder e as decisões quanto à geoestratégia mundial  a prosseguir, sobretudo com o chamado eixo franco-alemão que nunca deixou de ser um dos seus principais concorrentes no teatro mundial.

Ademais, o Reino Unido imperialista tem um trunfo que não está disposto a partilhar com quem domina a UE. Um trunfo que se chama Commonwealth, um mercado ao qual se associaram 53 países, num total de 2,4 mil milhões de habitantes, com um Produto Interno Bruto de 10 mil milhões de dólares. Neste grande mercado pontificam, para além do próprio Reino Unido– que o lidera através da sua casa real – países como a Índia, a Austrália, o Canadá e a África do Sul, entre muitos outros (ver quadro anexo).

Disse-mo-lo na altura o que agora se confirma. Os acontecimentos iriam gelar o riso dos palhaços que, ainda há poucos dias, nos tentavam convencer da falência do projecto Brexit. Os números estiveram sempre lá para demonstrar que o desfecho seria o que se deu na noite de ontem com a vitória da pretensão da grande burguesia capitalista e imperialista britânica em sacudir a canga de um União que lhe toldava os movimentos e, sobretudo, o desejo de abocanhar uma fatia ainda maior do saque mundial do que aquela que a UE estava disposta a proporcionar-lhe. Tal como o algodão, os números, bastante significativos e paradigmáticos, relativos ao PIB de 2018 não enganam:


1.     O PIB da UE a 28 (que inclui, ainda, o Reino Unido) foi de 15.300 mil milhões de euros
2.     O PIB da UE a 27 (o que exclui o Reino Unido) foi de 12.678 mil milhões de euros (o valor do RU no PIB da UE a 28, foi de mais de 17%)
3.     O PIB do mercado da Commonwealth, liderado pelo Reino Unido foi de 10.000 mil milhões de dólares
4.     O PIB dos EUA foi de 17.700 mil milhões de dólares
5.     O PIB da China foi de 11.360 mil milhões de dólares

O Brexit é apenas um dos indicadores da falência do projecto europeu tão do agrado do imperialismo alemão. As ondas de choque que se esperam da saída do imperialismo britânico desse covil de exploradores e agressores capitalistas e imperialistas que dá pelo nome de UE, não se farão esperar.

O desmembramento da UE e seu colapso, apesar de ser um dado adquirido, não pode deixar de contar com a decisiva acção do proletariado e dos trabalhadores europeus para lhe dar o empurrão que antecipe o momento de ser atirado para onde merece estar, juntamente com os brexiteers...o caixote do lixo da história, como excrescência de um sistema que sobrevive à custa da exploração, da miséria, da humilhação, da guerra e da morte de toda a humanidade.


domingo, 3 de novembro de 2019

O Nobel da economia Robert Shiller vê bancarrotas a acontecerem por todo o lado!



Por Marc Rousset.

Christine Lagarde, entrevistada recentemente pela RTL para saber se tinha medo de um colapso financeiro, respondeu que a questão não se colocava ainda e que o FMI estava preocupado apenas com a taxa de crescimento! Lagarde, como os bolsistas e a comunicação social, não vêem senão aquilo em que acreditam, agora que o investimento diminui nos Estados Unidos e o crescimento dos EUA está no seu nível mais baixo, num ritmo anual, há três anos. Por outro lado, segundo o bilionário americano Ray Dalio, fundador da empresa de investimentos Bridgewater Associates, o papa do mercado global de títulos, tal como para Warren Buffett , o papa do mercado de acções global, a situação é "assustadora"!

 
Nesta quarta-feira, 23 de outubro, em Los Angeles, o Prémio Nobel Robert Shiller, autor do livro Irrational Exuberance, que previu a queda do mercado de acções de 2000 e a queda do mercado imobiliário de 2007, professor de economia em Yale, declarou, por ocasião do  lançamento de seu último livro Narrative Economics: "Vejo bolhas por todo o lado, não há soluções para os mercados de acções, para os mercados de títulos obrigacionistas e para o mercado imobiliário", no site Investor's Business Daily, datado de 25 de outubro de 2019.

Shiller é um S. Tomás muito inteligente que não se se sente embaraçado com os porquês teóricos das bolhas actuais de todos os activos ao mesmo tempo, mesmo que a única explicação válida seja a fuga em frente da criação monetária frouxa, bem como as baixas taxas de juros, as taxas negativas dos bancos centrais, mas esclarere-nos com um racio financeiro indiscutível, chamado CAPE (preço ajustado ciclicamente aos racios de lucro) ou Shiller P / E. Em bom português, é muito simplesmente o racio representativo  do custo / benefício por acção em dez anos. O lucro retirado não é mais o último lucro contabilizado anualmente, muito volátil, mas o lucro médio correspondente a uma média móvel calculada a 10 anos dos lucros reajustados a cada ano, levando em consideração a inflação monetária.

Primeiro elemento fundamental: o coeficiente médio P/E Shiller para o século XX, de 1881 até aos nossos dias, é de 15,21 enquanto hoje hoje é de 29, ou seja, praticamente o dobro! Em 1929, ele tinha 35 anos e o Dow Jones caiu 13% em 28 de outubro. Em 1987, era apenas de 16  e o grande erro dos bancos centrais foi aumentar as taxas de juros, o que causou a maior queda da história em 19 de outubro de 1987, com a queda do Dow Jones de 23%. Em 2000, o coeficiente Shiller foi de 45, o que resultou numa correção de 49% entre 2000 e 2002. Em 2007, o coeficiente Shiller foi de 25, ou seja,um pouco menor que o actual 29, o que resultou numa correção de 57% de 2007 a 2009.

Além disso, Shiller está preocupado tanto com títulos obrigacionistas, cujos antigos preços se esfumam após o colapso das taxas de juros, como com acções. Ele sublinha que o fundo obrigacionistaagregado  SPDR™ Portfolio Aggregate Bond ETF  gerou este ano um rendimento de 8,31% , ou seja, duas vezes mais que a média anual nos últimos 10 anos. Qual será o dia em que assistiremos,  finalmente, à reversão das taxas?  


Shiller é um pouco menos pessimista em relação à bolha imobiliária porque, se uma bolha estiver em vias de reconstituir nos Estados Unidos, ao mesmo nível que em 2005, com fundos imobiliários a progredir por vezes 29% em 2019, ou mais do que o aumento de 20% das acções da S&P 500, os EUA ainda têem na memória a sinistra crise dos créditos imobiliários subprime de 2008 (hipotecas – NT), para travar a sua ganância.

Em resumo, se a queda nas taxas e a negligência monetária continuarem com Lagarde, que declarou que "ficaríamos mais contentes em ter um emprego do que em ter uma poupança protegida", a bolha de activos poderá inflaccionar de novo até a queda do mercado bolsista e a perda de confiança na moeda. E se as taxas subirem, o sistema explodirá imediatamente, como em 1987, com uma quebra ainda mais violenta do mercado bolsista! É por isso que o muito humilde e realista Shiller, diante das consequências da loucura humana do passado, não tem uma solução para nos propor.

segunda-feira, 28 de outubro de 2019

Operários de todo o mundo unem-se para retirar de cena o capitalismo e o imperialismo!


Numa época em que o imperialismo, estadio supremo do capitalismo, se revela em todas as relações sociais, políticas e económicas, quer no seio das nações, quer nas relações que entre elas se estabelecem, assistimos a uma crescente revolta - despoletada por razões aparentemente diferenciadas-  e luta contra a exploração e a agressão imperialista, que provocam a miséria, a morte, a corrupção e a opressão sobre quem trabalha.

Seja na Catalunha ou no Chile, seja no Líbano ou em Hong Kong, no Haiti ou na Venezuela, seja no Egipto ou na China onde, apesar da feroz ditadura social-fascista que impera no país, são cada vez mais numerosos os relatos de revoltas dos migrantes operários por melhores condições de vida e de dignidade. E a luta operária não se fica por aqui. Bem no coração da indústria americana, os cerca de 50 mil operários da General Motors – o maior gigante da indústria automóvel norte-americana -, protagonizaram uma greve que foi considerada a maior paralisação no sector privado desde 2007 naquele país imperialista.

O caudal das lutas a que assistimos têm um traço em comum , isto é, a luta contra a escravidão assalariada, mesmo e apesar de muitos dos que nelas participam ainda não terem consciência disso e manifestarem que se revoltam contra um sistema dito democrático que não ouve as suas reclamações, que assenta no compadrio e na corrupção ou, pura e simplesmente, contra aquilo que consideram ser a vertente selvagem do capitalismo, caindo na ilusão da existência de um capitalismo de “rosto humano”.

Não é a democracia que não funciona, pura e simplesmente porque ela só existe formalmente num sistema capitalista e imperialista.Ao que estamos a assistir, aliás, é a como é que essa dita democracia reage quando se sente ameaçada por quem põe em causa o sistema. Assim como não é a falta de confiança nas instituições e nos dirigentes eleitos o fulcro da revolta em Barcelona, no Cairo, em Santiago do Chile, no Haiti, no Equador ou em Hong Kong.

O que não funciona é o sistema capitalista que esgota os recursos humanos e da natureza para assegurar o crescendo dos lucros para a burguesia capitalista e imperialista, desiderato conseguido à custa da guerra, da ocupação, da morte, da violência, da exploração criminosa, da humilhação.

Quando está iminente o confronto entre as principais potências imperialistas – mormente EUA e China – os operários de todo o mundo devem unir-se para opor à guerra imperialista a revolução socialista e comunista. Tendo sido, ao longo da história da humanidade, a luta e a unidade traços comuns para a libertação dos povos e a emancipação de quem trabalha, as presentes lutas configuram uma reacção global contra o capitalismo e o imperialismo que deve ser reforçada e ampliada.

Um sistema que já deu, historicamente, o que tinha a dar. Um sistema que está moribundo e precisa de uma ajuda, por parte de todos os proletários do mundo, para sair de cena.



sábado, 26 de outubro de 2019

A ultima crise mortal do capitalismo?


De: Mesloub
A teoria marxista das crises do capitalismo

Que a teoria marxista tenha sido odiada, fustigada, escarnecida, declarada mil vezes agonizante pelo pensamento burguês (seus intelectuais orgânicos: professores, políticos, jornalistas), é apenas a expressão normal de uma luta ideológica conduzida pelos defensores do capital.

Que a teoria marxista foi corrompida, falsificada, alterada, distorcida pelas muitas correntes do movimento de esquerda (partidos reformistas, social-democratas, socialistas, revisionistas, estalinistas, marxistas-leninistas, maoístas, esquerdistas), isso também faz parte das vicissitudes da luta de classes histórica.

Mas hoje, a teoria marxista das crises triunfa contra os seus detratores

De facto, a atual crise do modo de produção capitalista lembra-nos quanto as teorias económicas burguesas (designadas, pomposamente, por " ciências económicas"), forjadas há dois séculos nunca foram capazes de impedir a recorrência de recessões e crises profundas. O capitalismo nunca teve um período de prosperidade permanente. Desde a sua criação, foi marcado por ciclos de expansão e depressão. De resto, mais singularmente, há mais de um século, o capitalismo opera no modo tríptico:

Crise / guerra / reconstrução


Durante o século XX, e por duas vezes, para resolver de maneira imperialista as crises económicas, causou duas chacinas mundiais. Como resultado, a gigantesca destruição de biliões de dólares em infraestruturas e o massacre de milhões de proletários (20 milhões na primeira e 60 milhões na segunda).

No final da Segunda Guerra Mundial, após um período de menos de 30 anos de reconstrução (os famosos gloriosos Trintas, como os economistas burgueses os designavam, que aconteceram graças a uma exploração feroz das poucas forças produtivas e imigrantes europeias sobreviventes e pela expansão imperialista do modo de produção), o capitalismo entrou em crise novamente no início dos anos setenta. Desde então, todas as soluções reformistas tentadas para coibir ou reverter a tendência não retardaram a aceleração e o aprofundamento da crise. A consequência é o encerramento de centenas de milhares de empresas e o despedimento de milhões de funcionários.

Sem entrarmos numa rigorosa análise marxista da origem da crise actual, não é inútil recordar algumas bases explicativas das crises.

O modo de produção capitalista baseia-se na extracção da mais-valia extraída dos trabalhadores, a principal fonte de acumulação. Mas, sob o efeito combinado do aumento do capital constante, com desempenho cada vez maior (produtivo e não produtivo) e da concorrência exacerbada, o lucro médio continua em declínio. Nesta fase de desenvolvimento, a crise já é permanente. A contradição central.

Finalmente, o capitalismo sempre acolheu uma espécie de morbidez congénita: produz abundantemente uma toxina que o seu organismo não pode controlar: a superprodução (uma consequência do aumento da produtividade do trabalho assalariado - e não do produtivismo). O capital nacional fabrica mais bens do que o seu mercado pode absorver. Nesta segunda etapa, a da circulação de mercadorias, a crise é permanente.

Além disso, para buscar infalivelmente a sua acumulação, o seu desenvolvimento, a sua valorização, o capital deve, portanto, encontrar consumidores fora da esfera estreita de trabalhadores e capitalistas "nacionais" ou mesmo continentais (Europa-América do Norte etc.). Por outras palavras, ele deve envolver-se imperativamente na busca (imperialista) de pontos de venda (mercados) fora da sua rede inicial (do seu país) representada anteriormente pelas nações colonizadas, neocolonizadas, pós-colonizadas etc., que registam uma saturação de bens não vendidos, o que leva ao congestionamento do mercado. É então a crise da superprodução em toda a sua destruição - que os economistas burgueses chamam A GUERRA, sem saber de onde vem (sic). Nesta fase final, é a crise explosiva e destrutiva, a guerra comercial primeiro e depois militar.

Último subterfúgio: para superar a falta de solvência restringida pelas leis económicas inerentes a esse modo de produção, o capitalismo recorre ao crédito. Por mais de 40 anos, o capitalismo usou e abusou desse paliativo. Já na década de 1970, o sistema adoptou uma política suicida de recurso ilimitado ao crédito. Como resultado, o endividamento das famílias e estados explodiu: alcançou somas astronómicas. De facto, nas últimas décadas, o capitalismo sobreviveu graças ao crédito. Mas esse remédio é pior que a doença. Acelera e acentua a doença do capitalismo.

Para ilustrar a nossa análise, adoptemos esta imagem médica: a dívida é para o capitalismo o que a morfina é para o paciente condenado. Certamente, ao recorrer a ele, o sofredor supera temporariamente as suas crises. Graças à absorção permanente da sua dose de morfina, a sua dor diminui e se acalma. Mas pouco a pouco, a dependência dessas doses diárias aumenta. O produto, na primeira economia, torna-se prejudicial até à overdose. A fase da overdose financeira é de grande precisão e é muito rápida. O grande capital financeiro transforma-se no principal perigo mortal para o sistema capitalista. A dívida e a especulação financeira completarão e exponenciarão o corpo doente do capitalismo. Não é a religião o ópio do povo, mas a dívida e o crédito.

Hoje, em todos os países desenvolvidos, principalmente nos Estados Unidos e na China, a crise económica

está á piorar. O descontentamento do investimento industrial, que é a única fonte de acumulação de mais-valia extraída do trabalho assalariado humano, está a aumentar. A principal actividade do capitalismo é assegurada pela esfera financeira por meio de especulações nas bolsas de valores. Os investidores afastaram-se totalmente da esfera produtiva. O jackpot deles é apenas um lixo que a auto-designada esquerda politica quer estupidamente. Aplica os seus biliões de dinheiro no jogo do monopólio, coisa que o proletariado não pode fazer.

Tendência de queda na taxa de lucro, superprodução, endividamento, guerra económica entre as muitas potências, destruição de fábricas, desemprego endémico, tensões comerciais imperialistas: o capitalismo nunca passou por uma crise tão séria desde o final da Segunda Guerra Mundial. Claramente, as actuais tensões comerciais entre as principais potências prenunciam conflitos armados generalizados.

"Uma epidemia que, em qualquer outro momento, pareceria um absurdo, recai sobre a sociedade - a epidemia de superprodução. A sociedade é subitamente reduzida a um estado de barbárie temporária; parece que uma fome e uma guerra de extermínio cortaram todos os seus meios de subsistência; a indústria e o comércio parecem frustrados. E porquê?
Porque a sociedade tem muita civilização, muitos meios de subsistência, muita indústria, muito comércio", Karl Marx.

A nossa era abriu assim um novo capítulo na história da decadência do capitalismo que começou em 1914 com a Primeira Guerra Mundial.

Uma coisa é certa: actualmente, a capacidade da burguesia de circunscrever e retardar o desenvolvimento da crise recorrendo a um uso inesgotável do crédito está a acabar. A partir de agora, os choques económicos e as tensões comerciais vão suceder-se sem que haja entre eles nem descanso nem reavivamento real. E a turbulência política em muitos países, na França com os coletes amarelos, na Argélia com Hirak, em Hong Kong, Costa Rica, são a expressão dessa crise sistémica do capitalismo.

Seja como for, a história recente destas últimas décadas, marcada por crises económicas recorrentes, prova-nos isso mesmo, especialmente desde a crise de 2007/2008: a burguesia hoje é incapaz de encontrar uma solução eficiente e perene para crise económica do sistema. Não porque de repente se tornou incompetente, mas por causa de uma contradição insolúvel. A crise do capitalismo não pode ser resolvida pelo capitalismo. Ainda menos pelos especialistas e professores charlatães de uma "ciência" económica desprovida de qualquer eficiência. A economia é a única disciplina ainda a ser ensinada, apesar das suas falhas e imprecisões. Se a medicina científica actual causasse tanto dano e morte quanto a economia, seria interditada por um longo período de tempo (como entenderá, não é a ciência económica burguesa que provocou as crises económicas - essa ciência nem consegue explicar as crises repetitivas).

De fato, a "ciência económica burguesa" é uma disciplina necrológica: fica contente por estudar o número de cadáveres produtivos massacrados pelo capital; o número de fábricas fechadas, o número de trabalhadores despedidos, para elogiar a especulação financeira, esta esfera estéril da economia, para
aconselhar os seus mestres a preservar os seus interesses. É uma "ciência" da morte e não da vida. É uma "ciência" destinada a desaparecer com o seu sistema macabro.

Este sistema mortal está agora falido. Uma coisa é certa: o capitalismo não hesitará em arrastar a humanidade para a Terceira Guerra Mundial (inevitavelmente nuclear), se não agirmos imediatamente para aniquilá-la. A única perspectiva para a crise desse sistema é, portanto, abolir os próprios fundamentos do capitalismo. 

O capitalismo está a morrer: para o bem da humanidade, vamos ajudá-lo a que isso aconteça.





segunda-feira, 30 de setembro de 2019

Pode ser evitada uma recessão mundial ?






 A Organização para a cooperação e desenvolvimento económicos (OCDE) lançou um verdadeiro “alerta ao crescimento” aos estados. Segundo esta organização internacional, uma recessão pode ocorrer, como em 2009. Análise com o economista Dominique Plihon.

Enquanto 65 marionetas políticas (a quem os meios de comunicação chamam de chefes de estado) e um papagaio sueco manipulado,se pavoneiam na casa nova-iorquina das ilusões (sede da ONU), um verdadeiro cataclismo sísmico cresce a alguns passos dali, em Wall Street. Para tranquilizar a plebe, a comunicação social envia seus sacerdotes da economia para nos iludirem sobre essa recessão que eles sabem que é inevitável. Nada sairá da cortina de fumo climática ONUsiana nem do matagal cerrado de Wall Street,  nem dos gritos de alarme das autoridades da OCDE. Boa leitura Robert Bibeau (editor) .


O último relatório da OCDE sobre "as perspectivas económicas intermediárias" é muito pessimista. A instituição está alarmada com a ampla falta de confiança e um declínio contínuo no crescimento económico global. O economista-chefe da OCDE também alertou, durante a conferência de imprensa sobre as previsões de crescimento global de quinta-feira, 19 de Setembro de 2019: "Todos os riscos que observamos levam-nos a um terreno perigoso para o crescimento, mas também para o trabalho ". A economia global pode aproximar-se de um abismo, 11 anos após a crise que quase atingiu o sistema financeiro, os bancos e os orçamentos estaduais ... (sic)

De novo à beira do abismo?
A seguir à crise dos subprimes iniciada em 2007, seguida da falência do banco Lehman Brothers a 15 de Setembro de 2008, o crescimento do PIB mundial nesse ano terminou abaixo dos 3% - 2,9% - enquanto era, nos anos precedentes, de pelo menos 4%.


É essa tendência de queda que parece preocupar a OCDE: o crescimento económico global para 2019 é estimado em 2,9%, a mesma taxa ... que em 2008. No ano seguinte, em 2009, a recessão foi global. , mergulhando economias inteiras no desconhecido, com o seu lote de falências bancárias, a explosão da dívida estatal, encerramento de empresas e aumentos massivo do desemprego. Mas para tal, a conjuntura económica não é a mesma em 2019 da que existia em 2008. Então, por que é que esse famoso crescimento económico mundial está a cair? E como evitar uma recessão que finalmente poderia ocorrer? Entrevista com Dominique Plihon, professor emérito da Universidade Paris 13 e membro do conselho científico da ATTAC.

TV5MONDE: Porque é que, se a situação não é igual à de 2008, o crescimento do PIB mundial é também tão fraco hoje?

(Dominique Plihon é professor da Universidade Paris XIII. Ligado à corrente teórica da escola de regulamentação, ele dirige o Centro de Economia da Universidade de Paris Norte (CEPN), o pólo especializado em economia financeira, e publica regularmente artigos no semanário Politis.)

Dominique Plihon: É difícil acreditar que a situação seja a mesma de 2008, apesar dos níveis de crescimento equivalentes. A situação é muito diferente e os motivos de preocupação estão relacionados com factores cíclicos e estruturais. Existem factores políticos e económicos que estão a impulsionar uma desaceleração da actividade económica no mundo. Existe a guerra comercial entre os Estados Unidos e a China, que cria um clima muito forte de incerteza. Na Europa, existe o Brexit, com uma probabilidade significativa de que não haja acordo, que é a situação mais perigosa. Os economistas não concordam entre si sobre os efeitos do Brexit, mas também isso cria incerteza. E depois há a crise do petróleo que acaba de se estrear com a  Arábia Saudita e que cria um clima de instabilidade, mesmo que os líderes sauditas estejam a tentar amenizar a questão.

(Devem ter notado, caros leitores, que o economista está a usar alegremente o pleonasmo ... Há uma crise financeira por causa da instabilidade financeira, disse ele (sic), como em 2008, digam o que disserem. E por que essa instabilidade - essas incertezas - por que a crise do PIB que se está a forjar há anos? (nota do editor-Robert Bibeau))

Depois, há as políticas económicas que são levadas a cabo. A Europa é um bom exemplo, embora outros possam ser considerados, como o da Argentina. O problema é que essas políticas económicas são absolutamente inconsistentes. Por um lado, há autoridades monetárias - o Banco Central Europeu da União Europeia - que calcam sobre o acelerador fazendo ajustes (taxas muito baixas, até negativas, nota do editor) para lutar contra a perspectiva de recessão, a desaceleração do crescimento; e do outro lado, governos totalmente irresponsáveis, que eles apoiam com um travão (o que é totalmente falso senhor economista ... os Estados calcam no acelerador- nota do editor). Esses governos continuam a adoptar políticas orçamentais e fiscais austeras e, do lado das empresas, são políticas salariais muito rigorosas, por assim dizer,  para manter a competitividade. Portanto, os motores de crescimento que são a procura e os salários - procura privada - por um lado, mais a procura pública, orçamental e fiscal, estão a caminha na direcção errada.

(É que o objectivo da actividade económica não é aumentar a produção de bens e serviços, senhor economista, mas aumentar os lucros, o que exige reduzir o custo dos salários para aumentar a parcela da mais-valia – nota do editor.)

TV5MONDE : É portanto o que exige hoje a OCDE : que políticas de relançamento (económico – NT) sejam levadas a cabo pelos estados que possuam margem orçamental...

D.P: Sim, mas a OCDE é parcialmente responsável pela situação. Pela minha parte, denuncio os economistas desta organização - ou de outros lugares - que são economistas da chamada economia da oferta. Esses economistas ainda são a favor do emagrecimento dos gastos públicos, que se aposte a fundo na competitividade mantendo os salários no mais baixo nível possível, que se ofereçam deduções fiscais que pioram as finanças públicas, com o argumento de que será isso que permitirá que a actividade seja relançada. Há anos que se praticam essas políticas e elas não funcionam! A OCDE  retoma a sua fatiota, mas o FMI também, com o ex-economista-chefe Olivier Blanchard, que pouco antes de deixar seu cargo - e hoje aposentado - disse: "Basta, nós enganámos-nos”-.
Apesar de nos dizerem que não existe um tesouro escondido, sabemos que a evasão fiscal se estimada em um trilião de euros apenas para a União Europeia, e se todos os países começassem a lutar de maneira vigorosa para recuperar grande parte dessa soma, muitas coisas seriam possíveis. Isso tornaria possível resgatar os países que têm dificuldades financeiras nacionais e permitiria estabelecer um orçamento europeu que não existe hoje, fazer o renascimento concertado, nomeadamente com investimentos públicos. Investimentos para transições ecológicas e energéticas, habitação, infraestrutura, pesquisa e desenvolvimento, etc. Estamos novamente no precipício, na borda do cume. Hoje, na Europa, não nos são dados os meios para levar a cabo esse relançamento. Se amanhã houver um colapso, que poderia, por exemplo, vir dos mercados e pesar na actividade, não vemos como os governos poderiam alterar a situação.

 (Eis-nos aqui atraídos pela chicana dos intelectuais-economistas-pequenos-burgueses. O grande capital alimenta duas escolas de economistas burgueses. A escola da oferta contra a escola da procura. Como se oferta e procura não fossem as duas faces de Janus. O processo de produção exige que exista PRODUÇÃO = OFERTA para que exista OFERTA = CONSUMO. Esse consumo destrói a mercadoria (a oferta) e exige a sua substituição. Mas o que fazer senhor economista quando a oferta é superabundante e excede mesmo as capacidades da procura?  Aumentar ainda mais a produção (investir), ou seja, aumentar a oferta, que já é excedente, não é contraproducente? (Nota do Editor).)

 TV5MONDE : A Alemanha é normalmente a locomotiva económica da Europa, mas no entanto o seu crescimento é de 0,5% este ano e só será melhor em 2020. Como explicar  esta falta de crescimento?
 DP: O que demonstra esta fase da conjuntura internacional, com a Alemanha a sofrer a desaceleração das importações chinesas, é que os modelos de crescimento assentes nas exportações, como a Alemanha e China, são modelos perigosos que devem ser postos em causa. Até a França deve colocar menos o acento sobre as questões de competitividade externa e preocupar-se mais com a reconquista do mercado interno por meio de investimentos. Existe uma necessidade de repensar a dinâmica do crescimento, voltando-a mais para os mercados domésticos e menos para o comércio internacional.
Se a França se sair melhor este ano, com um crescimento um pouco maior que o da zona do euro, é porque o presidente Macron teve que libertar entre 10 e 17 biliões de euros - isto são estimativas - de poder de compra adicional. Sem esse maná, estaríamos abaixo do crescimento da zona do euro na minha opinião. Isso prova que há um problema de poder de compra, um problema de procura, e constatamos que, quando aliviamos - desta vez sob constrangimento  - e bem, estamos muito felizes por constatar que estamos um pouco melhor que noutros lugares. Mas, na minha opinião, é acima de tudo a lógica económica da oferta pura que é obsoleta e que deve ser questionada. Então, é verdade, a OCDE está em vias de disso se dar conta, até o Financial Times ou o The Economist estão a começar a dizer que talvez precisemos mudar de programa, pois o perigo está a aproximar-se, mas daí a admitir que é preciso repensar a fiscalidade para aumentar fortemente certos impostos sobre o capital ou sobre as fortunas,, como propõe o economista Thomas Piketti, para reduzir as desigualdades, é ainda outra coisa. Mas, mesmo assim, há cinco anos, a mesma OCDE publicava um estudo que explicava  que as desigualdades são um factor de abrandamento da actividade. É para levar em conta, ainda assim.

(É necessário relembrar que o economista é consultor da ONG ATTAC, que está na esteira da polémica ilusionista da fiscalidade-reguladora (sic). 1) Primeiro, digamos que não existe um modelo de crescimento liderado pelas exportações em OPOSIÇÃO a um modelo de crescimento impulsionado pelo consumo nacional interno. Esses dois, por assim dizer,  "modelos" não passam de apenas um. O modo de produção capitalista, que exige que o capital, para se valorizar - acumular, engula o salário nacional (a procura), depois parte à conquista do salário - a procura externa - via exportação. 2) Em seguida, a propósito das ameaças de aumentar os impostos dos ricos para, por assim dizer,  acumular dinheiro para que o estado dos ricos capitalistas aumente os investimentos - ou seja, a oferta ... Mas, precisamente o economista algumas linhas acima denuncia o MODELO BASEADO NA  OFERTA (sic). A oferta e a procura estão ligadas uma às outra como dois irmãos siameses e o banqueiro não saberia relançar uma sem relançar a outra (Nota do Editor)

TV5MONDE : O sistema financeiro internacional e as dívidas continuam a inquietar : elas podem colocar de novo problemas?

D.P: Existem muitos estudos que mostram com precisão que houve um aumento geral da dívida. Esse aumento da dívida afecta todas as zonas geográficas e todos os actores, sejam eles os Estados, os actores privados ou o mundo bancário e financeiro. Portanto, temos uma dívida global enorme, em parte impulsionada por taxas de juros muito baixas. Um dos mercados de dívida que mais me preocupa é o “corporate” (empresarial – NT). É da dívida obrigatória que se transformou numa bolha e que está a alarmar há mais ou menos dois anos a BRI, o Banco dos regulamentos  internacionais. Se por uma razão ou outra essa bolha explodir, o crash que se lhe seguiria colocaria em dificuldade muitas empresas. Aí, os efeitos sobre o crescimento e a actividade seriam terríveis (uma nova tautologia do nosso amigo, o economista – nota do Editor).

 TV5MONDE : O que é que poderia impedir a recessão que a OCDE teme poder vir a ocorrer ?
 D.P:  Hoje, existe uma ideia importante, que compartilho, que é a de que nós voltámos a entrar num regime de crescimento lento e inflação baixa. Este não é um ciclo conjuntural  que vá ter retorno num ano para voltar a ser como era antes. Não acredito , portanto, que estejamos a caminhar para um crescimento zero, mas devemos acreditar que iremos crescer a níveis mais baixos e com menor inflação do que antes. Porque há uma desaceleração na produtividade geral dos factores de produção, e porque o factor demográfico está de volta. Há uma desaceleração demográfica, e a Alemanha e a China são bons exemplos disso.

(Acima, o economista acabou por nada dizer em muitas palavras. Um ponto que refutamos contudo, - não há desaceleração da produtividade, MAS, de facto, há uma estagnação do aumento da produtividade do trabalho assalariado - noutras palavras - uma estagnação da valorização do capital, via mais-valia relativa, porque todas as empresas têm acesso à tecnologia de ponta, donde a necessidade para o capital de concentrar os seus esforços de rentabilidade para a mais-valia absoluta (a exploração selvagem da mão de obra). O economista tem aqui a resposta para suas perguntas sobre os cortes salariais relativos que o capital em COMPETIÇÃO deve impor para sobreviver (Nota do Editor))

Na minha opinião, não vislumbraremos um crescimento de 3% na Europa, mas não sou favorável, no entanto, a que o crescimento seja muito baixo, já que tal causaria sérios problemas sociais. São necessários, portanto, investimentos públicos de longo prazo, com grandes "Green New Deal" (Nova Acordo Verde - NT), como começa a ser discutido nos Estados Unidos (planos de investimento nas energias descarbonizadas que visam interromper o aquecimento global, ao mesmo tempo que promovem a justiça social ). Na minha opinião, é necessário repensar o conteúdo do crescimento, reorientar as políticas públicas, levando em consideração os imperativos da transição energética e ecológica.
 “Ficaríamos surpreendidos se não tivéssemos ouvido a frase sobre a, por assim dizer, “emergência climática” e o plano de resgate do capital internacional por meio de programas de subvenções governamentais que a pequena burguesia pauperizada e em vias de ser proletarizada adora. Desolado pelos bobos loucos mas, o "Green New Deal" (“Novo Acordo Verde” – NT) não evitará a recessão. Antes pelo contrário, esses programas irão precipitar a recessão. (Nota do Editor)”.



quarta-feira, 7 de agosto de 2019

O povo tem de levantar-se contra a regionalização!



O processo de regionalização agora retomado pelo governo de Costa, com o execrável silêncio – senão apoio – das muletas do PCP, BE e Verdes, foi sendo preparado ao longo de mais de uma década com as famigeradas fusões de freguesias.

Todos se recordarão da acção do governo de coligação da direita com a extrema-direita, do PSD como CDS/PP, que designou Miguel Relvas como ministro encarregue de levar à prática aquele processo. Manobra que António Costa prosseguiu – diga-se que com maior sucesso – depois de ter assumido o poder, graças a uma coligação da direita com os partidos da auto-intitulada “esquerda parlamentar”.

Mapa da Regionalização agora proposto
Todos se recordarão que em 2012, quando Passos e Portas impunham esta fusão, registou-se, sobretudo nas freguesias suburbanas e rurais, um pouco por todo o país, um clamor e uma firme oposição contra este processo, traduzida num rechaçar, em sede de Assembleias Municipais e de Freguesia, de tais manobras.

Resistência e oposição traídas por Costa e seus apêndices, que entretanto e no âmbito das últimas eleições autárquicas, conseguiram impor uma redução de cerca de 30% das cerca de 4.260 freguesias então existentes! Ou seja, a hecatombe levou a que nos dias de hoje existam apenas 3092 freguesias!

O PCTP/MRPP foi o único partido que defendeu – e continua a defender – que qualquer solução específica de natureza organizativa autárquica, quando se trata de grandes concentrações urbanas, devem ser encontradas no âmbito das chamadas Regiões Metropolitanas de Lisboa e do Porto, pelo que defendemos a criação de Regiões Especiais.

Os social-fascistas do PCP, bem pelo contrário, servindo os interesses da burguesia, apoiaram em 1998 o referendo sobre a regionalização, que foi liminarmente chumbado pela esmagadora maioria do povo. Não satisfeitos, reagem a esta nova tentativa referendária, com a exigência da repetição daquele referendo, exactamente com base nos mesmos pressupostos que defendeu em 1998, isto é, a criação de 8 regiões administrativas.

As fusões de freguesias e, agora, esta nova tentativa de impor a regionalização – ou de repetir o referendo de 1998 -,  devem merecer das populações trabalhadoras  de todo o país uma firme e unida oposição, seja nas áreas de maior concentração populacional, seja nas áreas de maior dispersão, pois ao contrário de resolver qualquer dos problemas com que essas populações se deparam, antes os agravam. À medida que o PS for avançando, de forma insidiosa, enganadora e manipulatória no processo de regionalização, é de crer que recorrerá à mais básica intimação fascista, à qual o povo deve saber responder sem medo!

A liquidação das freguesias que acima se denuncia preparava, pois, um processo de reorganização administrativa do território que iria desaguar no famigerado processo de regionalização. O objectivo, quer do PSD e do CDS, quer agora do PS, com a ajuda ou o silêncio das suas muletas do PCP, BE e Verdes, foi sempre o de concentrar recursos e  populações nos grandes centros urbanos, de forma a tornar mais rentável a exploração, em termos capitalistas, dos serviços fornecidos, seja na área da saúde, da educação, da cultura, da assistência a idosos, seja nos sectores dos correios e comunicações, do abastecimento de água, do saneamento básico, etc, privando de uma forma criminosa as populações das aldeias, das vilas e mesmo das cidades de média dimensão de condições de proximidade no acesso a tais serviços.

Mapa da Regionalização - 8 regiões - proposto
no referendo de 1998,
e chumbado pela maioria do povo
Mas, o que se pretende não é apenas a extinção de 30 ou 40% das freguesias. O objectivo é a extinção de todas elas, passando o nível inferior da organização autárquica a ser o dos municípios. O passo seguinte será o do esvaziamento ou eliminação de competências e de uma parte importante dos serviços assegurados pelos municípios de pequena e média dimensão, concentrando tais competências e serviços em novas entidades regionais.

Para além de exponenciar a corrupção, o compadrio e o nepotismo que já grassa em toda a administração pública – governo, autarquias, serviços, etc. -, a regionalização,  que se integra no projecto de reorganização administrativa do território e é agora retomado por Costa, com o cúmplice silêncio das suas muletas no governo, revestir-se-á de uma violência sem precedentes já que terá lugar num contexto em que a reposição do roubo dos salários e do trabalho ainda não foi levada a cabo e se registou a maior carga fiscal de sempre em 2018, tendo o custo de vida sofrido brutais aumentos- sobretudo nos grandes e médios centros urbanos devido à escalada da especulação imobiliária e à explosão do turismo – e a precariedade laboral não ter sido, sequer, beliscada, apesar das inúmeras declarações de intenção do governo e suas muletas.

O que a burguesia pretende com esta alegada reorganização administrativa do território – designada por regionalização – é eliminar ou tornar ainda mais caros e dificilmente acessíveis os serviços básicos, votando-se assim ao abandono, à miséria e a todo o tipo de privações os sectores mais vulneráveis e desprotegidos da população trabalhadora.

A luta contra a regionalização deve ser prosseguida. E deve ter expressão imediata já no próximo dia 6 de Outubro,  com a derrota eleitoral do PS e suas muletas. Derrota de um autêntico partido de direita, que tem governado contra os interesses da maioria da população – constituída por operários e trabalhadores -,  e ao serviço de directórios internacionais que sequestraram a independência e soberania do nosso país.