Tal como havíamos previsto no artigo que publicámos nestas
páginas em 16.05 do corrente - http://www.lutapopularonline.org/index.php/component/content/article/125-europeias-2019/2511-brexit-o-exagero-de-uma-morte-anunciada
- a morte,
política, económica, financeira e social do Reino Unido foi um exagero. Um
exagero que, pelos vistos saiu caro a Corbyn e ao Partido Trabalhista, mas não
só.
Não só a direita conservadora ganhou as
eleições como, à medida que se anunciavam os resultados que viriam a dar a
vitória a Boris Jonhson, a libra valorizava em relação ao dólar. Ou seja, uma
forma do imperialismo americano assinalar o seu agrado pelo resultado,
sobretudo quando ele envolve a vitória da estratégia americana de congelar os
apetites de protagonismo do imperialismo europeu na cena mundial.
Tal como o dissemos na altura, o Brexit só pode ser entendido no quadro
da guerra inter-imperialista em preparação que, apesar de se encontrar, ainda,
em estado larvar, já está em curso, sendo a presente guerra comercial
protagonizada pela China e os EUA, um sinal disso mesmo.
Confirmou-se,
ontem, o que então assinalamos. Que não era por acaso que o processo da
saída do Reino Unido da UE – que ocorrerá, segundo o discurso de vitória de
Boris Jonhson até 31 de Janeiro de 2020 – foi liderado por várias forças de
direita e de extrema-direita daquele reino. São, claramente, as forças que
melhor representam os interesses dos grandes monopólios e do imperialismo
britânico.
São,
claramente, as forças que dominam melhor os meios de propaganda que iludem os
operários e os trabalhadores britânicos e os levam a votar, de forma
expressiva, no seu objectivo de fazer vingar a sua posição na mesa dos despojos
dessa guerra imperialista em curso.
Claro
que, a exigência da saída da UE e do euro, que tem sido uma das principais
linhas programáticas do PCTP/MRPP, em nada é comparável com o Get
Brexit Done de Boris Jonhson. Quer quanto à natureza de classe, quer
quanto aos objectivos que cada realidade política apresenta. Enquanto nós
defendemos que a saída de Portugal da UE e do euro, ademais, nos retira do cenário
de guerra inter-imperialista a que o directório alemão quer associar o nosso
país, o Reino Unido, com o Brexit, pretende
precisamente o contrário. Reorganizar as suas forças, de forma autónoma, a fim
de estar em melhores condições no eventual processo de partilha dos despojos do
pós-guerra.
Além do
mais, com o Brexit, o Reino
Unido deixou
claro que não está mais interessado em partilhar o poder e as
decisões quanto à geoestratégia mundial a prosseguir, sobretudo com
o chamado eixo franco-alemão
que nunca deixou de ser um dos seus principais concorrentes no teatro mundial.
Ademais,
o Reino Unido imperialista tem um trunfo que não está disposto a partilhar com
quem domina a UE. Um trunfo que se chama Commonwealth,
um mercado ao qual se associaram 53 países, num total de 2,4 mil milhões de
habitantes, com um Produto Interno Bruto
de 10 mil milhões de dólares. Neste
grande mercado pontificam, para além do próprio Reino Unido– que o lidera
através da sua casa real – países como a Índia, a Austrália, o Canadá e a
África do Sul, entre muitos outros (ver quadro anexo).
Disse-mo-lo
na altura o que agora se confirma. Os acontecimentos iriam gelar o riso dos
palhaços que, ainda há poucos dias, nos tentavam convencer da falência do
projecto Brexit. Os números estiveram
sempre lá para demonstrar que o desfecho seria o que se deu na noite de ontem
com a vitória da pretensão da grande burguesia capitalista e imperialista
britânica em sacudir a canga de um União
que lhe toldava os movimentos e, sobretudo, o desejo de abocanhar uma fatia
ainda maior do saque mundial do que aquela que a UE estava disposta a
proporcionar-lhe. Tal como o algodão, os números, bastante significativos e
paradigmáticos, relativos ao PIB de 2018 não enganam:
1.
O PIB
da UE a 28 (que inclui, ainda, o Reino Unido) foi de 15.300 mil milhões de
euros
2.
O PIB
da UE a 27 (o que exclui o Reino Unido) foi de 12.678 mil milhões de euros (o
valor do RU no PIB da UE a 28, foi de mais de 17%)
3.
O PIB
do mercado da Commonwealth, liderado pelo Reino Unido foi de 10.000 mil milhões
de dólares
4.
O PIB
dos EUA foi de 17.700 mil milhões de dólares
5.
O PIB
da China foi de 11.360 mil milhões de dólares
O Brexit é apenas um dos indicadores da
falência do projecto europeu tão do
agrado do imperialismo alemão. As ondas de choque que se esperam da saída do
imperialismo britânico desse covil de exploradores e agressores capitalistas e
imperialistas que dá pelo nome de UE, não se farão esperar.
O
desmembramento da UE e seu colapso, apesar de ser um dado adquirido, não pode
deixar de contar com a decisiva acção do proletariado e dos trabalhadores
europeus para lhe dar o empurrão que antecipe o momento de ser atirado para
onde merece estar, juntamente com os brexiteers...o
caixote do lixo da história, como excrescência de um sistema que sobrevive à
custa da exploração, da miséria, da humilhação, da guerra e da morte de toda a
humanidade.
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