sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

Brexit: renascer das cinzas para morrer de vez!


Tal como havíamos previsto no artigo que publicámos nestas páginas em 16.05 do corrente      - http://www.lutapopularonline.org/index.php/component/content/article/125-europeias-2019/2511-brexit-o-exagero-de-uma-morte-anunciada -  morte, política, económica, financeira e social do Reino Unido foi um exagero. Um exagero que, pelos vistos saiu caro a Corbyn e ao Partido Trabalhista, mas não só.

Não só a direita conservadora ganhou as eleições como, à medida que se anunciavam os resultados que viriam a dar a vitória a Boris Jonhson, a libra valorizava em relação ao dólar. Ou seja, uma forma do imperialismo americano assinalar o seu agrado pelo resultado, sobretudo quando ele envolve a vitória da estratégia americana de congelar os apetites de protagonismo do imperialismo europeu na cena mundial.

Tal como o dissemos na altura, o Brexit só pode ser entendido no quadro da guerra inter-imperialista em preparação que, apesar de se encontrar, ainda, em estado larvar, já está em curso, sendo a presente guerra comercial protagonizada pela China e os EUA, um sinal disso mesmo.


Confirmou-se, ontem, o que então assinalamos. Que não era por acaso que o processo da saída do Reino Unido da UE – que ocorrerá, segundo o discurso de vitória de Boris Jonhson até 31 de Janeiro de 2020 – foi liderado por várias forças de direita e de extrema-direita daquele reino. São, claramente, as forças que melhor representam os interesses dos grandes monopólios e do imperialismo britânico.

São, claramente, as forças que dominam melhor os meios de propaganda que iludem os operários e os trabalhadores britânicos e os levam a votar, de forma expressiva, no seu objectivo de fazer vingar a sua posição na mesa dos despojos dessa guerra imperialista em curso.

Claro que, a exigência da saída da UE e do euro, que tem sido uma das principais linhas programáticas do PCTP/MRPP, em nada é comparável com o Get Brexit Done de Boris Jonhson. Quer quanto à natureza de classe, quer quanto aos objectivos que cada realidade política apresenta. Enquanto nós defendemos que a saída de Portugal da UE e do euro, ademais, nos retira do cenário de guerra inter-imperialista a que o directório alemão quer associar o nosso país, o Reino Unido, com o Brexit, pretende precisamente o contrário. Reorganizar as suas forças, de forma autónoma, a fim de estar em melhores condições no eventual processo de partilha dos despojos do pós-guerra.


Além do mais, com o Brexit, o Reino Unido deixou claro que  não está mais interessado em partilhar o poder e as decisões quanto à geoestratégia mundial  a prosseguir, sobretudo com o chamado eixo franco-alemão que nunca deixou de ser um dos seus principais concorrentes no teatro mundial.

Ademais, o Reino Unido imperialista tem um trunfo que não está disposto a partilhar com quem domina a UE. Um trunfo que se chama Commonwealth, um mercado ao qual se associaram 53 países, num total de 2,4 mil milhões de habitantes, com um Produto Interno Bruto de 10 mil milhões de dólares. Neste grande mercado pontificam, para além do próprio Reino Unido– que o lidera através da sua casa real – países como a Índia, a Austrália, o Canadá e a África do Sul, entre muitos outros (ver quadro anexo).

Disse-mo-lo na altura o que agora se confirma. Os acontecimentos iriam gelar o riso dos palhaços que, ainda há poucos dias, nos tentavam convencer da falência do projecto Brexit. Os números estiveram sempre lá para demonstrar que o desfecho seria o que se deu na noite de ontem com a vitória da pretensão da grande burguesia capitalista e imperialista britânica em sacudir a canga de um União que lhe toldava os movimentos e, sobretudo, o desejo de abocanhar uma fatia ainda maior do saque mundial do que aquela que a UE estava disposta a proporcionar-lhe. Tal como o algodão, os números, bastante significativos e paradigmáticos, relativos ao PIB de 2018 não enganam:


1.     O PIB da UE a 28 (que inclui, ainda, o Reino Unido) foi de 15.300 mil milhões de euros
2.     O PIB da UE a 27 (o que exclui o Reino Unido) foi de 12.678 mil milhões de euros (o valor do RU no PIB da UE a 28, foi de mais de 17%)
3.     O PIB do mercado da Commonwealth, liderado pelo Reino Unido foi de 10.000 mil milhões de dólares
4.     O PIB dos EUA foi de 17.700 mil milhões de dólares
5.     O PIB da China foi de 11.360 mil milhões de dólares

O Brexit é apenas um dos indicadores da falência do projecto europeu tão do agrado do imperialismo alemão. As ondas de choque que se esperam da saída do imperialismo britânico desse covil de exploradores e agressores capitalistas e imperialistas que dá pelo nome de UE, não se farão esperar.

O desmembramento da UE e seu colapso, apesar de ser um dado adquirido, não pode deixar de contar com a decisiva acção do proletariado e dos trabalhadores europeus para lhe dar o empurrão que antecipe o momento de ser atirado para onde merece estar, juntamente com os brexiteers...o caixote do lixo da história, como excrescência de um sistema que sobrevive à custa da exploração, da miséria, da humilhação, da guerra e da morte de toda a humanidade.


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