domingo, 3 de novembro de 2019

O Nobel da economia Robert Shiller vê bancarrotas a acontecerem por todo o lado!



Por Marc Rousset.

Christine Lagarde, entrevistada recentemente pela RTL para saber se tinha medo de um colapso financeiro, respondeu que a questão não se colocava ainda e que o FMI estava preocupado apenas com a taxa de crescimento! Lagarde, como os bolsistas e a comunicação social, não vêem senão aquilo em que acreditam, agora que o investimento diminui nos Estados Unidos e o crescimento dos EUA está no seu nível mais baixo, num ritmo anual, há três anos. Por outro lado, segundo o bilionário americano Ray Dalio, fundador da empresa de investimentos Bridgewater Associates, o papa do mercado global de títulos, tal como para Warren Buffett , o papa do mercado de acções global, a situação é "assustadora"!

 
Nesta quarta-feira, 23 de outubro, em Los Angeles, o Prémio Nobel Robert Shiller, autor do livro Irrational Exuberance, que previu a queda do mercado de acções de 2000 e a queda do mercado imobiliário de 2007, professor de economia em Yale, declarou, por ocasião do  lançamento de seu último livro Narrative Economics: "Vejo bolhas por todo o lado, não há soluções para os mercados de acções, para os mercados de títulos obrigacionistas e para o mercado imobiliário", no site Investor's Business Daily, datado de 25 de outubro de 2019.

Shiller é um S. Tomás muito inteligente que não se se sente embaraçado com os porquês teóricos das bolhas actuais de todos os activos ao mesmo tempo, mesmo que a única explicação válida seja a fuga em frente da criação monetária frouxa, bem como as baixas taxas de juros, as taxas negativas dos bancos centrais, mas esclarere-nos com um racio financeiro indiscutível, chamado CAPE (preço ajustado ciclicamente aos racios de lucro) ou Shiller P / E. Em bom português, é muito simplesmente o racio representativo  do custo / benefício por acção em dez anos. O lucro retirado não é mais o último lucro contabilizado anualmente, muito volátil, mas o lucro médio correspondente a uma média móvel calculada a 10 anos dos lucros reajustados a cada ano, levando em consideração a inflação monetária.

Primeiro elemento fundamental: o coeficiente médio P/E Shiller para o século XX, de 1881 até aos nossos dias, é de 15,21 enquanto hoje hoje é de 29, ou seja, praticamente o dobro! Em 1929, ele tinha 35 anos e o Dow Jones caiu 13% em 28 de outubro. Em 1987, era apenas de 16  e o grande erro dos bancos centrais foi aumentar as taxas de juros, o que causou a maior queda da história em 19 de outubro de 1987, com a queda do Dow Jones de 23%. Em 2000, o coeficiente Shiller foi de 45, o que resultou numa correção de 49% entre 2000 e 2002. Em 2007, o coeficiente Shiller foi de 25, ou seja,um pouco menor que o actual 29, o que resultou numa correção de 57% de 2007 a 2009.

Além disso, Shiller está preocupado tanto com títulos obrigacionistas, cujos antigos preços se esfumam após o colapso das taxas de juros, como com acções. Ele sublinha que o fundo obrigacionistaagregado  SPDR™ Portfolio Aggregate Bond ETF  gerou este ano um rendimento de 8,31% , ou seja, duas vezes mais que a média anual nos últimos 10 anos. Qual será o dia em que assistiremos,  finalmente, à reversão das taxas?  


Shiller é um pouco menos pessimista em relação à bolha imobiliária porque, se uma bolha estiver em vias de reconstituir nos Estados Unidos, ao mesmo nível que em 2005, com fundos imobiliários a progredir por vezes 29% em 2019, ou mais do que o aumento de 20% das acções da S&P 500, os EUA ainda têem na memória a sinistra crise dos créditos imobiliários subprime de 2008 (hipotecas – NT), para travar a sua ganância.

Em resumo, se a queda nas taxas e a negligência monetária continuarem com Lagarde, que declarou que "ficaríamos mais contentes em ter um emprego do que em ter uma poupança protegida", a bolha de activos poderá inflaccionar de novo até a queda do mercado bolsista e a perda de confiança na moeda. E se as taxas subirem, o sistema explodirá imediatamente, como em 1987, com uma quebra ainda mais violenta do mercado bolsista! É por isso que o muito humilde e realista Shiller, diante das consequências da loucura humana do passado, não tem uma solução para nos propor.