terça-feira, 24 de abril de 2018

PS propõe Lei de Bases do Arrendamento:


Investimentos públicos em benefício de privados!






Quer através de Helena Roseta, simultaneamente presidente da Assembleia Municipal de Lisboa e deputada pelo PS na Assembleia da República (AR), quer por iniciativa do Grupo Parlamentar do Partido Socialista que acolheu a sua proposta de Lei de Bases da Habitação e a apresentou na passada 5ª feira na AR, tem-se registado um intenso frenesim na defesa da possibilidade de o Estado poder passar a requisitar temporariamente habitações devolutas, sejam elas públicas ou privadas – cerca de 700 mil em todo o país – para lhes dar efectivo uso habitacional.

Face a uma reacção musculada das associações de proprietários, que vislumbraram na dita proposta uma espécie de confisco ou, mesmo, nacionalização, logo o PS veio tranquilizá-los, assegurando que todas as medidas constantes da nova lei de bases da habitação seriam...reversíveis!

Neste frenesim todo, o PS – que apresentou a supracitada proposta de Lei de Bases da Habitação – chegou ao rídiculo de afirmar que esta “... é a primeira vez desde o 25 de Abril que há uma iniciativa destas...”!

O que faz correr este PS trafulha? Um PS que nada fez, nenhuma iniciativa tomou, para revogar a NRAU, a Lei dos despejos de Assunção Cristas, aprovada durante a sua passagem como ministra no anterior governo de extrema direita de Passos e Portas?

Que objectivos e interesses serve este PS com uma proposta que determina a possibilidade de financiar a recuperação de imóveis pertencentes a privados e por estes deixados ao abandono – para especulação – para depois os colocar numa bolsa de arrendamento, a preços acessíveis para as famílias de trabalhadores?

Os incautos até se podem deixar maravilhar pela ideia de que agora, sejam públicos ou privados, imóveis “...que se encontrem injustificadamente devolutos e abandonados...”, poderão vir a ser requisitados para uma bolsa de arrendamento.

Desenganem-se! Isto, se quiserem que seja estancada e revertida a onda de despejos e a expulsão massiva de habitantes, sobretudo de grandes cidades como Lisboa e Porto, mas não só, até porque a especulação que hoje se verifica nos grandes centros urbanos, rapidamente contaminarão os núcleos suburbanos e periféricos, visto que os habitantes expulsos dessas grandes urbes, aumentarão, necessariamente a procura de habitação aí.

Criando a ilusão de que os estado vem, com esta proposta, regular o mercado da habitação e pôr cobro ao caos especulativo e à descaracterização dos bairros populares, desfazendo a onda de despejos a que temos assistido, o PS tem o cuidado de tranquilizar os proprietários dos imóveis requisitados que está afastada a hipotese de nacionalização dos mesmos.

Bem pelo contrário! O estado, o que se propõe fazer é investir na recuperação e restauro dos imóveis abandonados pelos proprietários privados – na esmagadora maioria dos casos visando a especulação -, imóveis esses “...abandonados injustificadamente...”, para depois, e a qualquer momento em que o proprietário o exija, o devolver! Grande negócio!

Isto é, Helena Roseta, António Costa e o PS, com esta proposta matam dois coelhos de uma só cajadada. Acrescentam valor, uma bandeira que lhes é tão cara – claro que para os capitalistas e proprietários – e, por outro, aliviam a crescente pressão a que o governo está a ser sujeito para revogar ou alterar a Lei dos Despejos, de forma a estancar a sangria de habitantes dos grandes centro urbanos que se está a registar. Aliás, recordo que a única força política que sempre denunciou e tentou organizar a luta pela revogação desta famigerada lei, foi o PCTP/MRPP!

Se esta proposta for aprovada, o estado colocará – tal como o está a fazer com a dívida soberana – o orçamento que resulta dos impostos que cobra, sobretudo a quem trabalha, a pagar pelo esforço dessa reabilitação e recuperação, agindo como financiador do sector privado do mercado habitacional.

Agora podemos entender melhor porque é que o PS nunca tomou qualquer iniciativa de propôr a revogação da Lei dos Despejos da Cristas. Porque está interessado em abocanhar uma fatia do bolo do mercado especulativo do arrendamento.

Nas últimas eleições autárquicas, a candidatura apresentada pelo PCTP/MRPP à autarquia de Lisboa, da qual tive a honra de ser cabeça de lista, propunha o seguinte:

Para fazer face à crescente desertificação, gentrificação e descaracterização – imposta por uma caótica e especulativa “indústria” do turismo – de Lisboa e, sobretudo, dos seus bairros populares, e visando criar as condições para o regresso das famílias, dos jovens e dos estudantes, dos intelectuais, à cidade, impõem-se as seguintes medidas:

·         Municipalização dos solos urbanos, como meio de combater a especulação imobiliária;
·         Revogação Imediata da Lei das Rendas, mais conhecida pela Lei dos Despejos;
·         Bolsa de Arrendamento -Sendo a Câmara Municipal de Lisboa a maior  proprietária de habitações na cidade/município, deve ser criada uma bolsa de arrendamento que deve acolher, para além dessas habitações – devidamente recuperadas e reabilitadas – habitações nas mãos de privados que estejam devolutas há mais de 6 mêses, de forma coerciva se necessário.
·         Estas medidas, em nosso entender, para além de proporcionarem habitações a preços acessíveis, serviriam de regulador de um mercado onde impera a especulação imobiliária mais selvática que se possa imaginar e o patobravismo.


Facilmente se entenderá que existe uma diferença radical entre aquilo que o PS agora propõe e o que o PCTP/MRPP desde sempre exigiu. Enquanto António Costa e as suas muletas se colocam a jeito para financiar a recuperação do parque habitacional privado , degradado e abandonado, com um mero objectivo especulativo, o PCTP/MRPP, exige que uma intervenção que coloque ao serviço da população e dos munícipes uma política de habitação acessível, digna e estabilizada.

Enquanto o PS e as suas muletas do PCP/BE/Verdes, admite a possibilidade de retornar o parque habitacional privado aos seus proprietários, após ter investido no financiamento da sua recuperação, o PCTP/MRPP considera que, volvidos os 6 mêses em que o proprietário não coloca o seu imóvel numa bolsa de arrendamento, o mesmo deve, sem qualquer contrapartida, ser integrado,  coercivamente se necessário, numa bolsa a criar pelos municípios e a ser gerido por eles.



terça-feira, 17 de abril de 2018

A parte de leão na distribuição do rendimento continua a ir para o capital!




Segundo dados revelados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), entre 2010 e 2015, a repartição do rendimento entre trabalho e capital, agravou-se durante a crise.

Os efeitos da austeridade imposta pelo governo de coligação entre os partidos de extrema-direita – PSD e CDS-PP -, tutelados por Cavaco e instruídos pela tróica germano-imperialista – que o classificou de “bom aluno” -, estão bem expressos nas conclusões retiradas pelo INE àcerca do supracitado período de 2010 a 2015:

·         “... a parte dos salários e ordenados (trabalho) no PIB (Produto Interno Bruto)...” diminuiu de 36,8% para 34,1%, enquanto “... a parte do excedente bruto de exploração (isto é, a parte que se destina ao capital, aos patrões/empregadores)... “, subiu de 41,3% para 43%.
·         Apesar de se ter registado uma ligeiríssima inversão destas tendências, no decurso de 2016 – e tudo indica que 2017 não será diferente -, em que a “... parte de salários e ordenados no PIB ...” subiu de 34,1% para 34,2% e a “...parte de excedente bruto de exploração no PIB...” desceu de 43% para 42,8%”,

O que é certo é que a tão propalada “nova política” de distribuição mais justa da riqueza criada anualmente em Portugal, não só não sofreu qualquer alteração de fundo, como a promessa mais parece a história da montanha que pariu um rato!

Esta constatação estatística é a demonstração de que, do ponto de vista qualitativo, nenhuma alteração favorável aos trabalhadores e à percentagem do PIB que lhes tem vindo a ser reservada, emergiu de dois anos de governo de António Costa e do PS, suportado pelas muletas  do PCP, BE, Verdes e PAN.

Eis como reclamações do tipo “mudanças de políticas” tão do agrado destas muletas e pretensos “ataques” às políticas de direita levadas a cabo pelo governo de Passos e Portas, não constituiem mais do que palavras que o vento as leva, “manifestações de intenção” ou “estados de alma”, desprovidas de qualquer consequência política séria e prática para os interesses e expectativas de quem trabalha.

Muito se ufanam BE, PCP e Verdes de serem uma “esquerda” que atende aos “problemas concretos” dos trabalhadores e do povo, para encontrar “soluções concretas”.

Pois é! Perante “soluções” que mantêm o quadro de desigualdade da distribuição do rendimento entre o trabalho e o capital – com larga vantagem para este último -, caso para perguntar que “solução” é esta que mantém tudo na mesma...concretamente?!!!

sexta-feira, 6 de abril de 2018

Cultura: Exigir ou mendigar?!





Decorreram hoje em várias cidades de Portugal – Lisboa, Porto, Coimbra, Funchal, Beja, Ponta Delgada – acções de protesto convocadas pelos Profissionais das Artes Cénicas, pelo CENA-STE e pelo Manifesto em Defesa da Cultura, contra as verbas que o governo destinou para as artes, bem como contra o modelo e os critérios de selecção das candidaturas que se apresentaram ao concurso de apoio sustentado.

Este apoio, cujo reforço de 2,2 milhões de euros foi esta 6ª feira anunciado pelo governo na Assembleia da República, totaliza agora um montante de 81,5 milhões de euros e destina-se “... aos concursos de apoio sustentado para o ciclo de 2018-2021...”, de acordo com uma nota hoje emitida pelo Ministério da Cultura.

Ou seja, durante o quadriénio de 2018-2021, António Costa e o governo PS dispõem-se a apoiar as artes perfomativas e cénicas com o correspondente a  pouco mais de 20 milhões de euros anuais, enquanto obriga os contribuintes a pagar mais de 9 mil milhões de euros por ano de juros da dívida soberana. Isto é, no quadriénio, enquanto desembolsa contrariado 81,5 milhões de euros, paga sem qualquer rebuço ... 40 mil milhões de euros de juros (mais ou menos 9,7 mil milhões de euros por ano)!!!

Para pagar uma dívida que não foi contraída pelo povo, nem o povo dela retirou qualquer benefício, uma dívida que cresce anualmente, tendo atingido os 250 mil milhões de euros no final de 2017 – 130% do PIB -, abrem-se os cordões à bolsa e já nem o PCP, o BE e Os Verdes incluem nas suas agendas políticas uma reclamação que lhes era muito querida até há cerca de 2 anos, que era a da reestruturação ou renegociação da dita.

Comportamento que já não surpreende, tanto mais que estes partidos da chamada esquerda formal , com assento parlamentar, já se dão por satisfeitos se o seu aliado António Costa destinar 25 milhões de euros por ano ao sector das artes, o que corresponde a mais ou menos 1% do valor inscrito na Lei do Orçamento Geral do Estado para 2018.

Também, o que esperar de quem recorrentemente mendiga alteração de políticas, com a pretensão de fazer o povo acreditar que é possível que aqueles que prosseguem recorrentemente políticas de direita possam ser os mesmos que abracem soluções democráticas, patrióticas ou, sequer, de esquerda?!


O que os trabalhadores das artes têm de tomar consciência é de que não podem persistir na estratégia de mendigar verbas para produzirem e desenvolverem actividades que induzem a criatividade, a discussão democrática, promovendo a construção de uma massa crítica essencial para que Portugal se torne um país desenvolvido, progressista e culto. Isto é, actividades que acrescentam valor, ao contrário dos juros da dívida que destroem valor e acarretam miséria, precariedade e humilhação para o povo e quem trabalha.

O que os trabalhadores das artes têm de resolver é o modelo de unidade, de organização e de direcção que os tire do patamar da indignidade, da precariedade e da mendicidade ao qual pretendem amarráa-los para sempre.

Os trabalhadores das artes devem discutir de forma ampla, aberta e democrática o programa de acção e de luta que inverta o paradigma que os tem empurrado para a mendicidade,  que possibilite que seja o sector a definir os programas, os cadernos de encargo de cada acção e as verbas que, cada ano, devem ser destinadas, bem como identificar as estruturas que a essas verbas podem aceder.