sábado, 31 de outubro de 2020

Oh! Pedro Mexia ... vai-te encher de moscas!



É a segunda vez que um pateta alegre que dá pelo nome de Pedro Mexia, se entrega ao diletantismo próprio daqueles que não conseguem interpretar a história e, muito menos, propor soluções para a alterar, e se refere à minha pessoa, como o “senhor de Alfama”.

Pedro Mexia, um dos assessores que circula pelos corredores do Palácio de Belém – onde, desde 2016 exerce as funções de consultor para a cultura da Casa Civil do Presidente da República -, tem tiques de arrogância intelectual que desmerece. A primeira vez que se referiu à minha pessoa foi para maltratar os habitantes do popular bairro de Alfama, quando comentava uma entrevista que dei à RTP1 como cabeça de Lista do PCTP/MRPP às eleições europeias de 2019.

Ontem, novamente no âmbito do programa “Governo Sombra”, cujo painel integra, emitido nas noites de 6ª feira na SIC, voltou a mencionar, de forma depreciativa e ofensiva, o “senhor de Alfama” enquanto verberava os comentários de outro elemento do painel  do programa – Ricardo Araújo Pereira -, dizendo-lhe que os seus argumentos lhe faziam lembrar a minha supracitada intervenção televisiva.

Este reaccionário, este energúmeno lambe botas de um dos professores mais reaccionários que a minha faculdade já teve – a Faculdade de Direito de Lisboa -, é um inculto armado ao pingarelho que, pelo facto de a entrevista em causa ter sido realizada frente à Casa dos Bicos, me associou ao bairro que a alberga. Era como se eu, para classificá-lo como assessor da Presidência da República, o classificasse como o “senhor da pocilga” (e estaria, certamente, mais perto da realidade do que ele)!

Não me conhece de lado nenhum, nem manifesta qualquer interesse em saber mais detalhes sobre aqueles que se atreve a comentar. Se o fizesse, saberia que não sou oriundo de Alfama – com pena minha, porque tal muito me honraria -, mas sim de Moçambique (nascido na antiga Lourenço Marques, hoje Maputo, na sempre bela baía do Espírito Santo), de onde regressei, em Abril de 1973 a Lisboa, cidade que já me havia acolhido de 1962 a 1969 e onde me casei pela primeira vez e vi nascer o meu primeiro filho.

Saberia que me havia envolvido e empenhado de forma vigorosa e corajosa, na clandestinidade, nas lutas académicas, nas manifestações do 1º de Maio Vermelho, nas manifestações contra a Guerra Colonial, no recrutamento de novos militantes e sua formação, no reforço da organização do MRPP, quando lutar contra o regime fascista de Salazar e Caetano não era muito aconselhável à vida, podendo mesmo ter como desfecho ... a morte! Como a que ocorreu na Faculdade de Economia de Lisboa, ao Quelhas, em 1972, quando o meu camarada Ribeiro Santos foi cobardemente assassinado pela PIDE, tendo os revisionistas do PCP apontado o alvo aos esbirros da polícia política que praticaram tão miserável acto.

Saberia que esse empenho na luta pela liberdade e pela democracia – que os seus chefes têm sistematicamente posto em causa – continuou após o 25 de Abril de 1974, quando participei activamente nas barricadas que ajudaram a impedir os social-fascistas do PCP de Barreinhas Cunhal de levar a cabo um golpe de estado que instalaria em Portugal uma ditadura social-fascista em tudo idêntica ao regime fascista de Salazar e Marcelo.

Pedro Mexia faz parte daquele painel de personalidades que há mais de 40 anos nos dizem que “agora é que vai ser” e, quando acordamos, damo-nos conta de que, afinal, ou está tudo na mesma ... ou está pior! Faz parte do grupo de intelectualóides de merda que não têm nenhuma solução para quem trabalha senão a de amarrar quem trabalha a um sistema que remete para uma escravatura assalariada impiedosa.

Pedro Mexia é um reaccionário de merda que utiliza a retórica balofa e vazia de conteúdo para tentar esmagar quem se lhe opõe ou quem tem opiniões diferentes das que defende. Não tem história, não tem corpo, não tem intelecto, para sequer se atrever a falar da minha pessoa, a não ser para reconhecer a minha coerência em quase 50 anos de luta dedicada ao comunismo, à destruição do sistema e do modo de produção capitalista que ele acarinha e que, como paga, lhe garante a sua sobrevivência.

O Estado e a instituição financeira (Cades) geram a dívida social, os assalariados, os reformados, os desempregados

 



30 de Outubro de 2020  Oeil de faucon  

Por Gérard Bad.          

Bem que os nossos tenores políticos propagam a mentira de que a dívida da UE se irá transformar em dívida perpétua. Tendo todos os países da OCDE adoptado a "Teoria Monetária Moderna" MMT da economista americana Stephanie Kelton, propagam a ideia de que no final não será necessário pagar as dívidas. Nos actos, os representantes do capitalismo fazem o oposto e continuam a ordenhar-nos.

Vale a pena analisar o exemplo do seguro saúde complementar. A Covid-19 permitiu que o seguro saúde complementar embolsasse cerca de 2 mil milhões de euros (1). O estado não ficou de fora ao exigir que o pecúlio das mútuas retorne aos seus cofres, de acordo com Challenges (2).

“O cenário de uma“ contribuição excepcional ”destinada a recuperar a verba acumulada por seguradoras e mútuas está em vigor desde o início de Agosto. Mas as discussões entre as partes duraram o mês todo, as calculadoras aqueceram e o valor dessa contribuição adicional foi finalmente anunciado na noite de quinta-feira pelos ministros da Saúde, Olivier Véran, e das Contas Públicas, Olivier Dussopt, aquando de uma reunião com as federações de sociedades mútuas de seguros e instituições de previdência. O seguro saúde complementar vai pagar uma sobretaxa de 1,5 mil milhões de euros em dois anos, revelou o Les Echos: Mil milhões em 2021 e 500 milhões em 2022. "

A priori, não vamos chorar pelas seguradoras, seus investidores institucionais de capital financeiro que, junto com os bancos, dirigem a economia e controlam o Estado. Isso significa que o que as seguradoras pagam com uma mão, receberão de volta com a outra. Ao pagar ao estado 1,5 mil milhões, elas vão descontar fiscalmente de um lado e exigir do outro aumento dos prémios de seguro (duas vezes no mesmo cesto). É o UFC-Que Choisir que vai revelar o passe de prestidigitação que visa fazer pagar aos segurados, principalmente trabalhadores e aposentados em sentido lato. Para o Que Choisir, metade dos segurados vai pagar 80 euros a mais este ano.

“Os preços dos planos de saúde complementares estão em alta “ massiva ”em 2020. É o que afirma nesta quarta-feira, 12 de Fevereiro, a associação de consumidores UFC-Que Choisir, que aponta para“ uma inflacção mediana de 5% ”e exige a implementação "o mais rápido possível" da rescisão "a qualquer momento" dos contratos. Metade dos segurados em pior situação terá que acrescentar 80 euros à factura anual, ou mesmo 150 euros por 20% dos contratos estudados pelo UFC-Que Choisir. Esta “subida de preços” é acompanhada por “diferenças muito marcantes”, indica em nota de imprensa o UFC-Que Choisir, que analisou “cerca de 500 contratos (...) de 86 organizações diferentes.

Enquanto metade dos contratos mostra um aumento de preços de mais de 5%, a tendência é muito maior para os segurados da Swiss Life (+ 12%) ou Apicil (+ 10,7%), e mais moderada para os da Macif ( + 2,7%) ou Mutuelle Générale (+ 3,2%). “As diferenças de prática entre os profissionais são gritantes”, embora “conheçam o mesmo ambiente”, observa a associação de consumidores, que acrescenta que os preços aumentam “mais do que em 2019”, quando ela havia constatado um aumento de 4%. "(Que Choisir).

Esse passe de prestidigitação entre Estado e Banco-Seguradora, certamente não é novo e o cenário final é sempre o mesmo de fazer o mundo do trabalho pagar para maquilhar essa extorsão de um humanista crápula. O Estado, portanto, veio em auxílio das seguradoras que não conseguiam assinar contratos de assistência de longo prazo em abundância.

“74.300 pessoas assinaram um contrato em 2017, o que representa uma queda de 36% no volume de novos negócios num ano. Esta é a consequência de uma redução nas novas assinaturas tanto em termos de contratos individuais de adesão (-29%) como em contratos coletivos (-67%). (Fonte FFA)

O que antes era apelidado de "ouro cinzento" em referência aos aposentados ricos das classes médias, não parecia querer investir na "dependência". Como o estado é a emanação do capital financeiro, ele aprovará uma lei de "dependência extorsiva" para abastecer o capital financeiro e indirectamente assumir o controle dos lares. É assim que Macron apresentou dois textos (orgânico e ordinário) sobre a dívida social e a autonomia que foram adoptados em poucas horas.

Um debate expresso para apostas colossais a começar pelo acréscimo de 136 mil milhões de euros de dívidas ao "buraco da segurança", que os franceses vão pagar até 2033, nove anos a mais do que o esperado.

A peça é jogada uma vez mais, o título que finalmente conseguiu preencher o seu buraco justificando o abandono da CRDS e o encerramento do CADES encontra-se com uma dívida colossal de 136 mil milhões. Essa dívida inclui défices passados ​​(31 mil milhões), mas também os esperados para o ano actual (52 mil milhões) e os próximos três (40 mil milhões), bem como um terço das obrigações hospitalares (13 mil milhões). 13 mil milhões de euros para a assunção de um terço da dívida hospitalar, anunciada no final de 2019 no âmbito do plano de emergência do hospital. Mas ainda 92 mil milhões de euros a título de défices sociais previsionais para 2020-2023  ligados à crise atual e de futuros investimentos em estabelecimentos públicos de saúde que foram decididos no âmbito do Ségur de la santé.

Quem afinal vai administrar essa dívida e beneficiar deste 5º ramo da previdência social, os 136 mil milhões de novas dívidas serão geridos pela CADES para se tornar um produto financeiro mais rentável financiado pela punção da CRDS. A data do término da amortização da dívida fixada pelo CADES é, portanto, adiada de 2024 para 2033.(3)

 Transferência de 136 mil milhões de dívida social para a CADES

Relativamente ao 5º ramo da segurança social sobre a “dependência”, o grupo (LREM, Modem, Agir ensemble) pretende confiar, através de uma aditamento,  a sua gestão no Fundo Nacional de Solidariedade para a Autonomia (CNSA).  Tratar-se-á de afectar à Caixa Nacional de Solidariedade para a Autonomia (CNSA) um quarto do CSG actualmente atribuído ao Cades desde o 1º de Janeiro de 2024.

Apenas 0,15 ponto do CSG alocado ao CNSA não vai cobrir todas as despesas adicionais geradas pelo aumento da “dependência”. De acordo com o relatório apresentado em 2019 por Libault, a necessidade de financiamento é estimada em mais de 6,2 mil milhões de euros adicionais por ano até 2024 e depois 9,2 mil milhões de euros a partir de 2030. Devemos, portanto, esperar um imposto europeu especial sobre a dependência (4).

 E isto está apenas a começar ...

Fonte: https://les7duquebec.net/archives/259256

sexta-feira, 30 de outubro de 2020

A «democracia» eleitoral americana como obstrução burguesa sistemática

 


30 de Outubro de 2020  Ysengrimus  

YSENGRIMUSSobre as questões eleitorais, a constituição dos EUA funciona como um relógio abstracto implacável. Tudo aí se organiza para que a classe política não possa depositar, ensebar, coagular e, assim, furar, depositar, persistir. As eleições são em datas fixas (se um presidente morre ou é demitido, o seu vice-presidente termina o mandato - impossível, portanto, seja  esticar um mandato para enfrentar uma situação contrária, seja convocar eleições antecipadas para aproveitar um situação favorável), os mandatos presidenciais são restritos a dois (Franklin Delano Roosevelt puxou a corda um pouco demais nos anos de guerra e vimos, pela 22ª Emenda, que tal não se repetisse), o dispositivo bicameral é totalmente electivo (sem senado nomeado e irremovível, portanto), o bipartidarismo é firmemente institucionalizado (falsa alternância política, centro-direitismo e continuidade de facto). Tudo, neste dispositivo, parece projectado para garantir uma rotação bem lubrificada da classe política. A isso se acrescenta, e a noção não é trivial, o facto de o presidente, um civil, ser o comandante-chefe dos exércitos (esta função não cabe a um soldado senão se este trocar a gabardina medalhada pelo fato presidencial - notemos, para além disso, que houve um bom lote de falsos oficiais (ver link - un bon lot de bidasses gradés) que se tornaram não-negligenciáveis presidentes: George Washington, Andrew Jackson, Ulysses Grant, Dwight D. Eisenhower, para citar apenas os mais eminentes). A constituição americana é um autómato transcendente, altamente aperfeiçoado, que visa, sem malícia aparente, proteger a república de golpes, de juntas (ver link -des juntes) , de grandes guias políticos inamovíveis, patrícios não eleitos, politburos de sarcófagos semi-eternos, ditadores paranoicos e tentaculares, do género Richard Nixon ... Queremos que o pessoal político se mova, mude, se renove. E é verdade. A máquina tritura-o, esmaga-o, substitui-o, resgata-o (ver link - redeem), reconfigura-o.

Fundamentalmente burguesa, empresarial,  yankee trader  e tudo, a cultura política americana transmite uma longa tradição de rejeição convulsiva face a tudo o que é aparelho de Estado, classe política, colete de forças do governamental. Os arautos do movimento de direita TEA PARTY  são muito explícitos e muito abertos sobre esse assunto. Além disso, a referência de peso ao famoso BOSTON TEA PARTY  (equivalente americano da Tomada da Bastilha ou do motim do encouraçado Potemkine) é particularmente desonesta para os locais. Em 1773, o chá inglês em pacotes chegou de navio ao porto de Boston. Este chá, vindo da Índia pelo centro do Império, já vinha tributado. Quando o compra, o imposto é automaticamente incluído no preço de venda e não é negociável. Os Bostonianos da época eram altamente resistentes a pagar impostos a pessoas que não elegeram. Eles exigem - como outros portos coloniais do continente já haviam feito com sucesso - que este chá pré-tributado seja simplesmente reembarcado para a Inglaterra. Diante da recusa das autoridades coloniais, um comando atira os pacotes de chá durante a noite no porto de Boston. Preferimos destruir o produto de consumo em vez de pagar um imposto implícito sobre ele a uma potência (já entendida como tal) estrangeira. Excepto que os bostonianos de 1773 de forma alguma se recusaram a pagar o imposto se os activos financeiros fossem para as pessoas que eles elegeram ou iriam eleger. Ao referir-se indevidamente a esse incidente histórico simbólico, a maioria da direita em expansão contemporânea, portanto, tenta fazer passar uma apropriação do poder de tributação por um estado republicano nascente por uma rejeição sem alternativa de tributação do estado. Este é um remendo histórico medíocre e pura calúnia. Em suma, os chás contemporâneos transformam o famoso slogan, estrondoso mas apesar de tudo subtil, da NÃO TRIBUTAÇÃO SEM REPRESENTAÇÃO, para a SEM TRIBUTAÇÃO muito simplesmente, enviesando totalmente, portanto, a ideia de organização e distribuição da riqueza em que se baseia a sua preciosa república ... Escusado será dizer que, ao fazê-lo, colocaram a sua rejeição rude e egoísta das responsabilidades mais elementares da vida civil ao serviço, mais uma vez, do sempre eterno espancamento à americana do que é político, estatal , governamental.

Uma cultura política de anti-política, então ... não nos refazemos. E temos uma situação em que uma máquina constitucional precisa e sofisticada, projectada desde o início para proteger as instituições electivas da contaminação e desaceleração de uma classe política do tipo nomenclatura, acaba por cair noutro tipo de obstrucção, muito mais pesada. e prejudicial: a da própria classe burguesa. Em primeiro lugar, é bastante óbvio, quando olhamos para o projecto eleitoral (cerca de mil milhões de dólares por candidato à presidência em 2012, número que sobe para seis mil milhões quando incluímos as várias aventuras eleitorais de deputados e senadores, no mesmo período de escrutínio), que o eleitoralismo americano está agora profunda e duramente plutocratizado. O que se deve ver é o quanto a estrutura fundamental do aparelho constitucional, inicialmente projectado para proteger a burguesia colonial de outrora da contenção do político, inverteu-se e hoje serve à própria burguesia no controle das alavancas políticas. É preciso dinheiro e, consequentemente, amigos poderosos, para conseguir emergir num sistema constitucional tão escorregadio, tão fluido, que não dá sustentação a nenhuma base política duradoura, que aparece perante o eleitorado a cada vinte e quatro meses, sem falhar ( um legislativo, um presidencial, um legislativo, um presidencial - mesmo as guerras mundiais não impediram que esta clepsidra continuasse a pulsar suavemente). A constituição americana, na sua gestão eleitoral permanente, protege-se de um Tito ou de um Perón, mas isso à custa de fazer com que um Barack Obama, eleito e depois reeleito completamente dentro das normas formais, seja depois, totalmente inoperante. É bloqueado, é claro, pelo eleitorado idiota do sul, que cavalga pelo Partido Republicano ao confundir estupidamente o conservadorismo social com o conservadorismo fiscal. Está travado, é claro, pela obstrução sistematizada que emana do cabo de guerra bicameral (Senado Democrático, Câmara republicana - coabitação prolongada, cabo de guerra sem fim). Mas não se enganem sobre isso. O que torna mais deliberadamente um presidente do calibre de Obama totalmente ineficaz é a conivência fundamental do Relógio (tempo) e da relojoaria (a máquina constitucional americana abstrata servindo, sem demora e sem trégua, a constante pluto-reciclagem de executivos políticos).

Você disse Constituição Burguesa? Eu respondo: passagem do anti-monarquismo metódico dos pais fundadores para o curto-circuito empresarial do estado, por alguns dos seus imprudentes herdeiros ... E observe, por fim que, como todos os dispositivos de bem-pensantes com auto-legitimação translúcida, este sistema político pervertido protege-se perfeitamente dos objectores superficiais. Ninguém sério iria querer que voltássemos para um senado nomeado, que o presidente fosse eleito de forma vitalícia ou que a sua camarilha de lacaios permanecesse no poder por uma década, como na China! A "protecção da constituição" (uma das antigas responsabilidades presidenciais cruciais) é, portanto, uma questão com um consenso avassalador, pelo simples facto de ser impossível objectar contra ela sem sair da roda. E é precisamente isso que torna a "democracia" eleitoral americana uma obstrucção burguesa sistemática. Todo o caramelo que a burguesia põe na estrutura para a tragar em seu exclusivo proveito (acção aconchegante de interesses particulares, plutocratização eleitoral, obstrucção cameral, pirata mediático) não tem existência constitucional. Tudo o que temos pela frente é uma classe política, constitucionalmente obrigada a deslizar para dentro do aparelho, dançando o instrumento sobre um piso sempre inclinado e muito lustroso, diante de uma burguesia a quem ninguém impede de se colar, ela mesmo, ao dispositivo acima mencionado. A solução deste imenso problema estrutural será talvez política (sócio-política), mas certamente não será política ou "democrática" (no sentido fraudulento, eleitoral e burguês deste termo armadilha).

Fonte: https://les7duquebec.net/archives/259421

A América cai na loucura russa

 

25 de Outubro de 2020  Robert Bibeau  

Por Israël Adam Shamir

Os russos estão estupefactos com as vagas de loucura que varrem os Estados Unidos. Os recentes distúrbios, saques, destruição de monumentos comemorativos, o feroz jogo eleitoral e os rumores de uma guerra civil iminente não combinam com a imagem que os russos têm dos Estados Unidos. Um país da América Latina, digamos, Colômbia ou Guatemala, talvez, mas não os Estados Unidos. O país que eles tanto admiravam não existe mais, dizem. E eles  lamentam-no em vez de se regozijar, como seria de esperar.

Longe de sentirem hostilidade, durante muitos anos (pelo menos desde o início dos anos 1960), os russos consideraram os Estados Unidos como um modelo exemplar. Nikita Khrushchev, o líder poderoso (1953-1964) que abandonou Estaline e removeu os seus restos mortais do mausoléu da Praça Vermelha, ficou fascinado com os Estados Unidos. Ele importou milho americano e viu este alimento básico americano como a chave para a prosperidade soviética. Foi nessa época que a Rússia descobriu o jazz. Os jovens mais brilhantes da Rússia estão em sintonia com a moda americana, como lembra a peça Stilyagi (The Hipsters) de 2008. Sob o "socialismo maduro" de Brejnev, esse fascínio pelas coisas americanas tornou-se mais sedentário, mas continuou a ser uma parte importante da contra-cultura e permitiu a rápida rendição da União Soviética aos Estados Unidos durante o tempo de Gorbachev. O amor pela América permaneceu uma marca registrada das elites russas, mas agora foi substituído pela perplexidade. Eles não conseguem entender por que essa grande civilização comete suicídio; mas, na verdade, quem poderia?

Os russos veem os Estados Unidos como uma sociedade dinâmica e ordeira, que enfatiza o individualismo, semeia generosamente a sua cultura pop e não faz reivindicações ideológicas. A última qualidade era tão atraente para os russos que eles a consagraram na sua nova constituição pós-soviética. O artigo 13 afirma que "a pluralidade ideológica é reconhecida na Federação Russa. Nenhuma ideologia pode ser instituída como um estado ou ideologia obrigatória. " Se os russos estão tão apegados a ela, é porque, mesmo com a sua própria ideologia dominante a desintegrar-se e a entrar em colapso, eles se sentiram compelidos a continuar a homenageá-la nas décadas seguintes. Ao escrever uma tese, artigo científico ou polémico, o autor deve citar Marx, Lenine e um documento mais recente do Partido, a fim de enfatizar a continuidade das suas próprias ideias com as dos fundadores. Eles não acreditaram, mas repetiram por reflexo, de cor, porque era o que se esperava deles. O abandono dessas obrigações ideológicas teve um efeito profundamente libertador sobre o povo, e eles naturalmente acreditaram que seguir todos os costumes americanos os levaria à prosperidade e liberdade americanas.

Mesmo nessa época, a nova ortodoxia já estava a formar-se nos Estados Unidos, mas demorou alguns anos para que a consciência dessa mudança se infiltrasse nas mentes russas. Em 2010, os russos estavam tão livres dos limites ideológicos que o Ocidente não conseguia mais compreender os seus potenciais chocantes. Os russos tornaram-se, e permaneceram até muito recentemente, politicamente incorretos no mais alto grau.

Na época, era perfeitamente aceitável escrever um anúncio de um apartamento para alugar como " para russos étnicos exclusivamente; nativos da Ásia Central e do Cáucaso não devem candidatar-se”. As vagas especificavam o sexo, a idade e a altura do candidato desejado, assim: “Procuramos uma secretária com idade entre 21 e 33 anos e mais de 173 cm de altura, para escritório de advocacia”. Um filósofo poderia defender a escravidão. O assassinato em massa e a limpeza étnica não eram inconcebíveis. Os africanos podem ser descritos como "macacos", enquanto os arménios e georgianos são "bolas de gordura". Na era soviética politicamente correta, tais expressões de afecto eram totalmente inaceitáveis, mas com a queda da velha ideologia, tudo foi permitido.

Os próprios termos “esquerda” e “direita” têm um significado totalmente diferente na Rússia e nos Estados Unidos. Na Rússia, a esquerda está a pressionar pela nacionalização, pela expropriação dos grandes negócios e dos recursos naturais, pelo poder dos trabalhadores e pela melhoria do padrão de vida da classe operária. O seu slogan prático é "Reverter a privatização de Yeltsin, restaurar os Sovietes". A esquerda americana tinha ideias semelhantes até ser transformada pelo marxismo cultural num culto minoritário para os hipsters e romper os seus laços com os trabalhadores. A esquerda russa é representada pelo Partido Comunista (CPRF), o maior partido da oposição no parlamento, e por alguns partidos comunistas menores. Enquanto a esquerda americana é liderada por judeus, feministas, homossexuais, algumas "Pessoas de cor" de pacotilha, pelo que ela luta é contra a discriminação com base no género e raça, enquanto a esquerda russa é predominantemente etno-russa e luta por uma redistribuição massiva de riqueza e o retorno do poder dos oligarcas ao povo.

Não foi senão na última década que os russos tomaram conhecimento da nova ideologia em vigor nos Estados Unidos. As exigências da versão americana de correcção política eram extravagantes demais para eles. O "wokismo" [1] é desconhecido na Rússia, com excepção de pequenos grupos de gente moderna de Moscovo que são tão estrangeiros e estranhos para o russo médio quanto os Preciosos Ridículos de Molière para os seus contemporâneos. Os hipsters russos atraem mais o ridículo e o escárnio do que o medo e o ódio.

No entanto, uma pessoa moderadamente desperta não teria nada a censurar à Rússia.

O feminismo tradicional nunca foi aí um problema: os soviéticos praticavam a igualdade entre homens e mulheres. As mulheres puderam votar desde os primeiros dias da revolução. Havia mulheres embaixadoras e ministras, e também mulheres ferroviárias. Executivas e CEOs do sexo feminino não eram incomuns, como podem constatar neste popular filme Moscovo Não Acredita nas Lágrimas (ver link - Moscou ne croit pas aux larmes.). As mulheres russas trabalharam tão duramente quanto os homens, como visto em As meninas (Les filles). As mulheres russas já invejaram o estilo de vida das donas de casa americanas dos anos 1950 que não trabalhavam e, em vez disso, cuidavam da casa e da família, mas esse luxo logo desapareceu no Ocidente também.

Ninguém lutou sobre a questão do aborto: a Rússia é muito liberal nesse ponto de vista, e tem sido há muitos anos, pelo menos desde 1956. Antes do advento do planeamento familiar, os abortos eram extremamente frequentes; hoje são menos, mas são legais e cobertos pela medicina social.

Os judeus também não representavam qualquer problema, já que a maioria dos judeus russos já havia migrado para Israel ou para a América, enquanto os que permaneceram na Rússia eram filhos assimilados de casamentos mistos. Depois disso, o lobby judeu russo desapareceu (se é que realmente existiu). Os judeus eram iguais, mas não dominantes. Os russos não foram doutrinados no dogma do Holocausto, então isso não foi pois um problema.

Não houve tensões raciais; havia muito poucos negros na Rússia e eles eram tratados extremamente bem. Há uma história famosa, a de d’Abraham Hannibal , um africano importado pelo inovador Czar Pedro I, que teve uma carreira de sucesso, casou-se com a filha de um nobre, e cujo bisneto se tornou o grande poeta russo Pushkin. Havia escravos na Rússia, mas eram brancos. Os servos russos foram integrados no resto do povo russo após a sua libertação em 1861. Anton Chekhov, o dramaturgo, era neto de um servo. Pessoas de diferentes etnias não foram discriminadas historicamente. Tártaros e nobres georgianos, ucranianos e polacos foram igualmente aceites na Corte dos Czares, e os seus representantes mais tarde sentaram-se no Parlamento Soviético. Assim, embora os russos não conseguissem entender o problema racial na América, podiam sempre congratular-se por serem líderes progressistas.

O "wokismo" (despertar) americano é mundialista e visa minar e suplantar as culturas tradicionais. No entanto, a princípio parecia uma declaração de moda inocente. A Rússia começou a acostumar-se com as novas normas loucas como aos outros dispositivos da McCulture americana.

A primeira prova de força aconteceu durante o orgulho gay. A homossexualidade não faz parte da cultura russa, pois o sexo normal entre meninos e meninas não era severamente restringido. Há menos homens do que mulheres em idade fértil, e um homem geralmente consegue encontrar uma esposa. Relacionamentos do mesmo sexo eram praticados em prisões, não em escolas. A promoção insistente da homossexualidade no exterior, com as suas paradas gays, casamentos gays e adopções gays, trouxe a primeira grande nota discordante ao que já foi a harmonia ideológica entre a Rússia e os Estados Unidos. . A primeira querela entre a Rússia de Putin e os Estados Unidos eclodiu neste terreno. Na Rússia, os homossexuais são tolerados, não são discriminados, mas também não são elogiados; enquanto o novo discurso do estilo “woke” (desperto) exige a glorificação da homossexualidade e não aceita menos. A recusa categórica de Putin em ceder a essa exigência ganhou muitos pontos de apoio da opinião pública russa e deu início à mudança da Rússia em direção à independência ideológica.

Quanto mais os americanos insistiam numa questão, menos os russos queriam aceitá-la. Uma tentativa de importar #MeToo para a Rússia foi totalmente infrutífera. A ideia geral de assédio não tem sucesso na Rússia. Não houve caça às bruxas como com Weinstein, nenhum julgamento espectacular para entreter as massas. A campanha contra os homens nem mesmo foi registada na consciência russa. Os homens russos ainda são os reis das suas esposas, e as mulheres russas devem cozinhar, limpar e cuidar dos filhos, além do seu emprego de tempo integral. Espera-se que os homens paguem as contas nos cafés e abram as portas para as mulheres. Os homens russos não têm vergonha, mas têm orgulho da sua masculinidade, e o termo inglês "masculinidade tóxica" não tem equivalente em russo.

Com o passar do tempo, a mania americana pelo wokismo atingiu novos patamares. A evacuação da cultura e a destruição de monumentos de grandes figuras históricas lembra aos russos algo familiar. Parece que a Rússia e os Estados Unidos se moveram em direcções opostas, porque a furiosa loucura que os americanos abraçam hoje é do mesmo barril daquela que os russos abraçaram e rejeitaram há cem anos. Após a grande revolução de 1917, os russos também degradaram e destruíram muitos monumentos comemorativos do seu passado histórico, mas esses ataques à história não duraram muito, e os monumentos foram restaurados à sua antiga glória. . Além disso, os russos pós-soviéticos continuaram a erguer novos monumentos em homenagem a personalidades que haviam sido desonradas e derrotadas. Enquanto os monumentos "despertados" americanos destruíam os monumentos dos generais da Guerra Civil que lutaram do lado perdedor, os russos estavam a erguer monumentos em memória do Almirante Kolchak (que lutou contra os Vermelhos e foi derrotado e executado por eles) e o do general Mannerheim (que lutou contra os Vermelhos na Guerra Civil Finlandesa e os Russos na Segunda Guerra Mundial, mas sabiamente fez as pazes com Estaline). Estátuas de czares e governantes comunistas adornam as praças e jardins das cidades russas.

A caça às bruxas do Trans Lobby contra J.K. Rowling (ver link - chasse aux sorcières menée contre J.K. Rowling ) faz eco de histórias semelhantes de escritores russos que foram “expostos” e “desgraçados” nas décadas de 1920 a 1930, mas por razões diferentes. Se ler O Mestre e Margarita (Le Maître et Marguerite), o romance de Michael Bulgakov, encontrará o crítico de arte Latunsky, que perseguia o escritor politicamente incorrecto. ProletCult e NaPostu são os nomes de alguns dos movimentos de "despertar" russos da época, e muitos escritores russos sofreram com as suas exigências sufocantes.

As universidades americanas têm sido o campo de batalha da guerra de culturas entre "despertar" e "derrapar", onde o campo dos vencidos foi defenestrado ou pelo menos forçado a sair. Os russos também passaram por essa fase, há 70 anos, quando Lysenko e Vavilov resolveram as suas diferenças apelando para Estaline. Hoje, os russos não fazem mais campanha contra cientistas politicamente incorretos. Um cientista russo pode dizer e escrever o que quiser. Ele não perderá o Prémio Nobel como James Watson [acusado de racismo]. Nenhum cientista russo será qualificado de "desacreditado" ou de "conspiracionista", como a professora Judy Mikovitz [autora do vídeo viral Plandemic, eliminado pelo youtube], embora os russos reconheçam nesses termos indícios característicos do seu passado distante .

Os russos discutem agora sobre a questão de saber a qual período da história russa corresponde hoje o estádio da América.

Os motins e os problemas raciais correspondem ao último período soviético da Perestroika, os anos 1988-1990. Depois do que houve tumultos no Tajiquistão, Uzbequistão, Geórgia. Os arménios revoltaram-se em Karabakh e os azeris em Baku e Sumgait. Houve motins nos países bálticos e as forças de segurança hesitaram em intervir.

A tentativa actual de reescrever a história americana por académicos "descoloniais" lembra as campanhas de 1986-1990 para reescrever completamente a história russa. O Império Czarista foi então apresentado como o pináculo do desenvolvimento, enquanto Estaline foi conspurcado como o destruidor da cultura russa.

A idade avançada dos candidatos presidenciais dos EUA lembra o período da Rússia de 1984 a 1986, quando três líderes soviéticos morreram em três anos. Esse desfile de líderes aposentados terminou com a eleição de Gorbachev, relativamente jovem e capaz de falar sem teleponto. Os russos comparam Joe Biden a Chernenko, de 76 anos, que governou a Rússia em 1984-1985.

No seu novo romance (ver link - nouveau roman)  L’art du toucher léger (a arte do tocar ligeiramente), o espiritual Viktor Pelevin sugere uma outra data :

 “A América moderna é uma União Soviética ao estilo Brezhnev por volta de 1979, com LGBTs em vez de Komsomol, as grandes multinacionais em vez do Partido Comunista, a repressão sexual em vez da expressão sexual e o amanhecer do socialismo em vez da morte do socialismo. No entanto, existe uma diferença. Conseguimos escapar da Rússia Soviética, mas não podemos escapar da América (já que sua influência é mundial). Na Rússia Soviética, a Voz da América podia ser ouvida, e isso não existe agora. Apenas três Pravdas ligeiramente diferentes e um Brezhnev imortal e multifacetado, que luta ferozmente consigo mesmo pelo direito a sugar Bibi Netanyahu ”.

O popular blogger Dimitri Olshanski discorda. Para ele, a América é como a Rússia dos anos 1930. Ele passa em revista os filmes americanos recentes:

Biopic da ícone feminista Gloria Steinem… Duas mulheres no início não se dão bem, depois  tornam-se amigas, depois fundem-se… Bassam Tariq conta a história de um rapper paquistanês atingido por uma doença hereditária… as consequências de uma catástrofe ambiental causada pela poluição industrial das águas locais por mercúrio. Feminismo - Lesbianismo - Greenpeace - migrantes paquistaneses ”, etc. Não é como a Rússia de Brejnev, onde os artistas sabiam como enganar a censura e espalhar assuntos proibidos; Esta é a Rússia dos anos 1930, onde com uma ferocidade crescente, o infeliz espectador se sentiu repetidamente esmagado pelas imagens de uma fundição de aço, das mãos dos operários, dos objectivos a serem alcançados no âmbito do plano ”.

Olshanski conclui com um apelo para votar em Trump, porque "ele é o único estadista capaz de bloquear o matriarcado, os trinta e oito sexos, a linguagem canina dos 'elementos desencadeadores' e os privilegiados, e os hiper-pós- modernistas que atiram pela borda fora Shakespeare e Churchill”.

« Atirar borda fora Pouchkine do barco a vapor da modernidade », tal era o slogan dos wokes russos em 1912…

Aparentemente, portanto, alguma histeria americana lembra a Rússia dos anos 1912, 1920, 1935, 1970 e 1980. Se colocar tudo isso no mesmo saco, prova que a Rússia e os Estados Unidos aprenderam muito um com o outro, e nem sempre o melhor. Mas é simplesmente humano: muitas vezes adoptamos hábitos maus dos nossos amigos e mantemos esses hábitos mesmo depois de perdermos o contacto uns com os outros.

Contactar o autor: adam@israelshamir.net

Fonte: https://www.unz.com/ishamir/america-repeats-russian-follies/

Tradução e precisões: Maria Poumier


[1] O termo surgiu em 2010. Depois da morte de George Floyd, eles são, com efeito, cada vez mais numerosos os “despertos”, ou seja, acordados, cientes das injustiças e opressões que as minorias vivenciam, com a vontade de agir. Aclamado, o "desperto" também é criticado por alguns, incluindo Donald Trump e os seus apoiantes, como a súmula do pensamento politicamente correto, uma corrente de pensamento extremista e contra as liberdades.

Fonte: https://les7duquebec.net/archives/259326





 

quinta-feira, 29 de outubro de 2020

Brasil e Portugal – lá como cá todos os sectores da burguesia pretendem a privatização do Serviço Nacional de Saúde

 


Para que se tenha um ideia correcta e adequada de que, face à pandemia de Covid-19, e da crise  sanitária que provocou, a burguesia e o grande capital agiram, em todo o mundo, de forma idêntica, sob a batuta de dum denominador comum que dá pelo nome de Organização Mundial de Saúde (OMS), e mais não representa que os interesses da Big Pharma, reproduzo uma nota que a Joana Calado, uma portuguesa, originária da região de Coimbra, a residir no Brasil há 13 anos, publicou na rede social facebook.

Em 2017, eu e o meu companheiro sofremos os efeitos de uma cheia na qual perdemos quase tudo. Como se isso não bastasse, e porque fiquei em contacto constante com água de esgoto, acabei por desenvolver uma infecção na pele que passou para a corrente sanguínea, ficando a cada dia mais doente.

Fui até ao posto (centro de saúde) e após a ineficácia da resposta dos antibióticos indicados (sim, dão antibióticos sem exames), o médico encaminhou-me para a urgência do internamento no HU. Ao chegar lá, gritando de dor, a resposta foi a de que não teriam camas para mim, pois todas estavam ocupada e nem tinham os antibióticos necessários (Sim, as camas já estavam todas ocupadas bem antes do COVID).

Bem, cá vai o resto da história. Vali-me da sorte de ter um companheiro que me levou até um hospital privado onde me colocaram no corredor para me administrarem os antibióticos, caso contrário, teria que pagar um internamento e isso não seria possível. Enfim, não vou falar sobre nós, os sem plano de saúde que podemos ser deixados para morrer à frente do hospital sem que nada seja feito e a dor que nos rasga ao sabermos que nada somos ...mas adiante, do que quero falar mesmo é sobre a enxurrada de mensagens a dizer que agora estão a desmontar o SUS, que agora o Bolso (Bolsonaro) vai começar a privatizar etc etc. Sempre o agora, adoptando-se como normalidade o esquecimento de um passado não tão longíquo assim.

O que está a ser feito, e ao contrário do que o excelentíssimo diz, não é estar a mudar tudo. Continua tudo na mesma! Assim é, e não só no Brasil mas no mundo inteiro. Alguns ingénuos acreditavam que com o covid, o capital ia ter um momento de humanismo e abdicar do seu tão precioso (e vital) lucro para melhorar o sistema nacional de saúde, acreditaram que a vida das pessoas seria colocada em primeiro lugar, mas os capitalistas fizeram exactamente o que teriam que fazer para se manterem vivos.

Privatizar ainda mais para criar novos espaços produtivos de valor e isso faz-se através da destruição ainda maior de direitos dos trabalhadores. Ou seja, a saída da UTI (crise) do capital é a nossa morte (sem UTI, no caso). Pois é, pois é, e isso já vem de longe e foi aprofundado pelos governos petistas (impressionante a quantidade de petistas que nada fizeram contra as OSs, EBSERH, fundações privadas etc  e que agora estão indignados com as privatizações do Bolsonaro, que memória de caranguejo minha gente). Já esqueceram as propostas de reforma do governo Lula que deram sequência às do FHC (Fernando Henriques Cardoso), e as do governo Dilma Rousseff ?! Ainda no governo Lula (Sara Granemann tem uma boa análise sobre isso) a quantidade de projectos de fundação estatal com ressalva para o projecto das fundações estatais do Capital: o das Fundações que privatizam as políticas sociais, a contratação de força de trabalho pela CLT, o salário passaria a estar submetido ao contrato de gestão de cada função.

Apesar das contestações de 2007, o ministro da saúde do governo Lula manteve o projecto de Fundação Estatal de direito Privado, o tal do programa Mais Saúde ou o PAC da saúde. Seguindo no trilho da precarização e terceirizações crescentes, lembro a Medida Provisória (MP)520, 2010, que permitiu a construção das EBSERH, (esqueceram-se das lutas acirradas contra a EBSERH e barbaramente reprimidas?) empresa pública de direito privado. A Lei 12.550, sancionada pela presidente Dilma em 2011. Entre as muitas ampliações para as terceirizações encontramos as fundações privadas, que pode contratar por CLT ou através de contratos temporários que colocam fim à estabilidade, mais a constituição de uma previdência privada para os trabalhadores.

O que é isto se não adoptar a mesma lógica do sector privado para o público? As novas formas de modelos de gestão passaram para OS, OSCIP, FEDP e EBSERH. Tal como no governo de FHC, nos governos petistas também foram dados importantes passos no sentido da precarização e privatização do sistema nacional de saúde. Acrescento ainda as seguintes medidas do governo Dilma:

·         o corte de 13, 4 (Carta Capital, 2015) milhares de milhão de reais na saúde,

·         Aprovação de capital estrangeiro para a saúde (Lei nº13.019/2015),

·         as emendas constitucionais como a que obriga a concessão de plano de saúde (2014) a trabalhadores,

·         a PEC, a que limitou significativamente os fundos para o SUS (2015),

·         A decisão do STF sobre a constitucionalidade de todas as OS e as PLS 87/2010 que permite a terceirização de todas as atividades.

Seria bom que uma certa “esquerda”, ao invés de fazer do seu passado tábua rasa e com isso apagar a luta de tantos trabalhadores, como as lutas em 2007 contra as OS ou em 2011 contra a EBSERH se assumisse no que são -  partidos defensores dos interesses das classes dominantes.  Portanto, defender o SUS (talvez das instituições mais preciosas que a classe trabalhadora ainda tem) é combater todos os que vão contra o seu princípio fundamental, o de ser: público, gratuito, de qualidade e universal.

Uma luta comum dos dois lados do Oceano Atlântico, com uma língua também ela comum – o português. A luta a travar por todos os assalariados do mundo contra um sistema e um modo de produção capitalistas que nada de humano tem e fazem do transhumanismo e da eugenia a sua filosofia de vida e a sua praxis política.

Levantemos o véu sobre o complexo mistério da pandemia e do confinamento demente

 

29 de Outubro de 2020  Robert Bibeau  

Não se assustem com a ideia de que não entendem a "lógica" das políticas sanitárias suicidas destes governos impotentes que confinam populações que deveriam, no entanto, deixar de trabalhar para produzir a riqueza que partilham os bilionários planetários.

Por que os chefes dos lacaios políticos permitem que esses idiotas afundem a economia mundial - e seus lucros - no fundo do poço sem reagir? O vídeo abaixo quase consegue levantar o véu sobre esse mistério e os alegados instintos suicidas dos bilionários (sic). Aqui está a explicação do mistério que o comentarista oportunamente levanta:

1)       O colapso do sistema de produção capitalista estava a ocorrer muito antes da oportuna pandemia sanitária de Covid-19, que apenas acelerou o desastre.

2)       Durante a crise económica e sanitária, os bancos centrais e subordinados do governo continuaram a sua política de crédito livre - emissão de dinheiro fácil - endividamento gigantesco de estados e indivíduos desvalorizando assim moedas já fragilizadas.

3)       Esta conjuntura sistémica catastrófica levará inevitavelmente à desvalorização das moedas, ou seja, à “Grande Reconfiguração Mundial”. Todos aqueles que detém directa ou indirectamente, por meio dos seus fundos de pensão ou o seu seguro ou as suas poupanças, títulos fiduciários do governo, serão enganados e perderão grande parte de seus activos avaliados .

4)       Os lacaios políticos, os economistas de serviço e os médicos subvencionados pela Big Pharma explicarão que a Covid-19 devorou ​​as vossas economias, os vossos salários, o capital da burguesia nacional ... mas não os lucros gigantescos do GAFAM ou da indústria farmacêutica.

Ouçam com atenção o discurso do anfitrião, que revela o resultado final desta crise inexorável do capital mundial.

 Robert Bibeau

Editor: https://les7duquebec.net                                                                                                    




Fonte: 
https://les7duquebec.net/archives/259413




Reconfinamento=perigo=risco de colapso económico + Estado totalitário





28 sw Outubro de 2020 Robert Bibeau  

Por Marc Rousset.

Novos confinamentos, uma pandemia crescente, criação monetária e endividamento sem fim dos Estados, incertezas sobre as próximas vacinas, crescentes tensões políticas nos Estados Unidos e na Europa: as bolsas de valores e as economias continuam a vaguear por todo o lado no mundo, como navios embriagados. Segundo o FMI, a dívida dos países avançados pode girar em torno de 125% até ao final de 2021.

Na Europa, a segunda vaga de Covid-19 está a causar uma recaída nas economias durante o quarto trimestre de 2020, ao contrário das previsões, e a recuperação real só começará, na melhor das hipóteses no segundo semestre de 2021. Estaríamos, portanto, a caminhar para uma recuperação em W, sendo o quarto ramo de W, na melhor das hipóteses, “asa de pássaro” para 2021, ou mesmo completamente horizontal se o crescimento for zero. A recuperação em França no terceiro trimestre de 2020 foi artificial. O INSEE prevê mesmo, para o quarto trimestre, um crescimento ligeiramente negativo que foi avaliado, por Euler Hermès para França, Holanda e Espanha, em -1,1%, -1% e -13%, respetivamente, em vez de + 1%, + 0,5% e + 1,4%.

A França enfrenta, portanto, a recessão mais profunda desde a Segunda Guerra Mundial, enquanto a confiança dos empresários afunda. Todos os sectores combinados, 800 mil empregos deverão ser destruídos em 2020, com um desemprego acima de 10%. Só uma reforma das pensões, zero imigração e uma redução da força de trabalho nos serviços públicos poderiam evitar a falência à França, que seria imediata, em caso de aumento das taxas. (O autor designa aqui os sectores onde o Estado fétiche conta requisitar as poupanças dos assalariados e reduzir as suas despesas sociais. Nota do Editor)

As despesas públicas continuarão a aumentar em toda a Europa. A dívida pública média da área do euro será de 100% do PIB no final de 2020, ou 15% a mais. Grécia, Espanha, Itália (ver link - Italie), Portugal e França estão ameaçados, porque estão bem acima desse limite. A economia espanhola, de novo doente, é particularmente preocupante. França e a Espanha são os dois países que mais caíram no quarto trimestre.

As falhas de pagamento estão a aumentar em Espanha e os bancos CaixaBank, Bankia, Unicaja e Liberbank não veem outra salvação senão nas fusões. A dívida espanhola aproximar-se-á de 120% do PIB no final de 2020. Segundo o BCE, a segunda onda da Covid-19 poderia triplicar os créditos duvidosos, que atingiriam 1,4 trilião de euros, em 2021, na zona euro. E na Alemanha, o país mais resiliente da zona do euro, de acordo com a Creditreform, existem 550 mil empresas fantasma, ou seja, cerca de 16% das empresas alemãs. O pior cenário poderia até levar em 2021, segundo a S&P, 11% das empresas europeias à falência. (É necessário compreender que essas dívidas governamentais se irão evaporar com a desvalorização das moedas preparadas pelos bancos centrais. Mas antes de desvalorizar, os bancos começam por emitir dinheiro de fantasia conforme como abaixo se especifica. Nota do Editor)

A fuga em frente da criação monetária pelo BCE continua, já que Christine Lagarde quer aumentar o programa de emergência face à pandemia, originalmente estabelecido em 1,350 milhares de milhão de euros. Acontece que criar dinheiro sem criar riqueza nunca resolveu os problemas económicos, mas enquanto o BCE continuar a comprar títulos, a confiança perdurará. O Fed e o BCE estão presos em taxas baixas e não podem mais aumentá-las, daí a manutenção das bolhas bolsistas. Os títulos de rendimento negativo nos Estados Unidos acabaram de atingir o recorde de 17 triliões. Mas, no médio prazo, em caso de inflação alta, os bancos centrais terão, no entanto, de aumentar as taxas de juro com o risco de quebras. (Tenham a certeza de que isso é o que certamente se materializará - provando sem sombra de dúvida que plutocratas, bilionários e seus políticos fantoches não controlam as regras da economia capitalista. Nota do editor)

Nos Estados Unidos, a proporção de empresas fantasma passou de 1% em 2000 para 19% em 2020, com uma clara aceleração desde 2008. Um programa para reavivar as despesas públicas impõe-se, enquanto as vendas de armas explodem, apesar da falta de munições, enquanto se espera pelas eleições ...

As “seguranças” técnicas colocadas em prática em Wall Street podem evitar um crash violento num dia, mas o sistema não será capaz de evitar que os mercados de acções afundem em vários dias. A Tesla é hoje, com 400.000 carros elétricos, 400 mil milhões de capitalização bolsista, ou seja Ford + General Motors multiplicado por cinco, e duas vezes mais que a Toyota com 11 milhões de viaturas!


Neste artigo Philippe Herlin, um economista liberal, questiona-se sobre a orientação dos lacaios políticos que, todos em conjunto - governo e "oposição" de esquerda como de direita -, reforçam o Estado totalitário e dirigem os países da Europa para o colapso inevitável ... por que é que ele se questiona? Nota do editor.

Em complemento do Boulevard Voltaire.

Por Philippe Herlin. economista.

Num contexto de crise sanitária que perdura, a crise económica está a agravar-se e a perspectiva de um novo financiamento preocupa os empregadores e os trabalhadores independentes.

Aos microfones de Boulevard Voltaire, o economista Philippe Herlin analisa a gestão da crise e as suas consequência sobre a economia. Ele teme, em particular, “uma recessão » e « falências ».


CLIQUE NO LINK PARA OUVIR -  https://soundcloud.com/bvoltaire/philippe-herlin


O presidente do MEDEF declarou que um reconfinamento completaria a destruição da economia francesa. As previsões do patrão do MEDEF são realistas ?

Infelizmente, são. Uma sondagem à escala da Europa foi realizada por um gabinete de estudos. Ele explicava que, se a situação não melhorasse, 55% das PME europeias iriam à falência dentro de um ano e, se a situação se agravasse, seria de 77%. Esta figura é assustadora. A crise seria pior do que a de 1929. Se esta crise durar 6 meses e depois se reiniciar, apenas 10% das PME europeias irão à falência. Ainda é um número significativo, mas que pode dar esperança de um reinício das actividades. Isso mostra que se o atual período de interrupções e injunções conflituantes continuar por mais 1 ano, haverá realmente um colapso e devastação da economia. É, portanto, urgente sair deste período actual para caminhar em direcção a uma recuperação clara, caso contrário as consequências serão verdadeiramente catastróficas.

Por que correr o risco de destruir a economia deste país e acelerar a precariedade, já que segundo os números, apenas 8% dos casos de Covid têm menos de 65 anos e ainda, na maior parte, apresentam comorbidades?

O poder está sujeito a certos interesses médicos. Alguns médicos costumam estar ligados à indústria farmacêutica, que procura vender-nos uma série de medicamentos. Prefiro ouvir o professor Perronne ou o professor Raoult. Segundo eles, o importante é detectar precocemente e dar hidroxicloroquina a quem tem os primeiros sintomas. Esta é a melhor saída. A vacina não será útil porque não estamos de forma alguma, na presença de uma vacina convencional que é 99% eficaz, como a varíola. Nesses casos, temos que ser a favor da vacina. A Covid tem uma taxa de mortalidade extremamente baixa. A vacina teria, como a da gripe, uma eficácia muito relativa. Portanto, esta não é a solução mágica que permitiria que a economia recuperasse novamente, como nos foi dito.

Todos os países ocidentais terão uma queda muito acentuada no PIB. Todos esperávamos uma recuperação para compensar essa perda de PIB. Essa crise será absorvível nos próximos meses e anos?

Não. Vale lembrar que a previsão de crescimento para a França em 2021 era de 8%. Desde o início, eu disse que esse valor era completamente delirante. Mesmo durante os Trinta Anos Gloriosos, quando tínhamos crescido em média 5% ao ano, tínhamos chegado a 8% apenas uma vez. Pensar que a França, que ficou para trás com um crescimento de 1% por mais de 10 anos, poderia repentinamente retirar 8%, é um sonho.

Relembro que já foi cancelada o Salão da Agricultura  que se deveria realizar em Fevereiro e Março de 2021. Há grandes incertezas para o ano de 2021. Consequentemente, teremos um crescimento fraco ou talvez até uma recessão. . Demorará anos para voltar ao nível de atividade de 2019. Quanto mais esperarmos, quanto mais falências houver, mais difícil será.

Por que é que o governo continua nessa direcção? Há alguns meses, Emmanuel Macron disse a Philippe de Villiers que Édouard Philippe gerava o seu risco penal. Estamos diante de uma classe política que prefere sacrificar a economia do país ao seu futuro político, mesmo que os propósitos possam parecer demagógicos?

Essa dimensão conta, mas eu tenderia a ver algo mais sério. Emmanuel Macron fez uma declaração alucinante dizendo que éramos uma sociedade de indivíduos livres falando do passado e que agora tínhamos que ser uma nação de cidadãos unidos. Para mim, esta é uma deriva estatista extremamente séria e quase até autoritária. Infelizmente, há uma inclinação natural de toda a classe política francesa e até europeia. Tenho a impressão de que, para os estatistas que estão mais ou menos no poder na Europa, o Covid é uma oportunidade abençoada de fortalecer o papel do Estado em todas as dimensões da vida das pessoas. Eu, que sou um liberal em economia, acho isso extremamente preocupante. Pelo contrário, nenhuma força política se opõe a isso. É bastante assustador.

Isso é bastante paradoxal, uma vez que somos uma classe política extremamente estatista que não é de todo soberanista. Fortalecemos a posição do estado, mas enfraquecemos as posições soberanas deste estado ...

Pelo que nos dizem, caminhamos para o reconfinamento e, ao mesmo tempo, as fronteiras francesas não são vigiadas de todo e nunca o foram, inclusive durante o primeiro confinamento. Isso é completamente absurdo em termos puramente sanitários.

 Fonte: https://les7duquebec.net/archives/259398