De tempos a tempos, porque
considero importante revisitar alguns dos textos que proponho à leitura,
crítica e debate no forum que o meu blogue pretende, humildemente, alimentar e
agitar, lá vou reeditando alguns
textos. E este é, na minha opinião, um daqueles que creio estar actualíssimo,
apesar de ter sido escrito há quase um ano, mais precisamente a 06 de Agosto de
2012, sob o título Depois de caçar a presa através da armadilha do euro, Alemanha nunca se
compadecerá com a sua sorte!, quando
ainda soava a voz no deserto afirmar e defender que outra solução não restava
aos trabalhadores e ao povo português, para além do derrube de Cavaco e do seu
governo de vende pátrias Coelho/Portas e da recusa do pagamento de uma dívida
que não foi contraída pelo povo, constituir um novo governo, democrático
patriótico, que se encarregasse de preparar o país para a saída do euro e da própria União Europeia. Hoje, felizmente, já são
muitas as vozes que –apesar de algumas divergências – convergem para esta
evidência! Proponho-vos, então, que leiam ou releiam o artigo em questão.
Todos os dias se perfilam
batalhões de opinion makers, especialistas de todo o tipo, economistas,
alguns arvorados em “papas”, outros nem tanto, com elocubrações teóricas
normalmente assentes em sofismas baseados na condicionante se.
Para não fugir à regra, veio agora
a cadeia de televisão norte-americana, que funciona como his master voice do
regime imperialista norte-americano – a CNN – dar voz às delirantes teses de
Clyde Prestowitz (presidente do Instituto da Estratégia Económica) e Jonh Prout
(antigo tesoureiro do Credit Commercial de France), que assentam,
genericamente, na condicionante de “se” a Alemanha saísse da zona euro, em vez
de tentar expulsar outros países, quem
mais beneficiaria com a saída dessa moeda
única seriam, precisamente, aqueles que a potência germânica ameaça de
expulsar.
Esperar que a Alemanha abandone
unilateralmente a “zona euro” é a mesma coisa que acreditar que o leão que
acabou de filar uma gazela e se prepara para a transformar no seu lauto
repasto, se compadeça com a sorte da sua presa, apenas porque ela estrebuchou
um pouco mais do que é habitual uma presa fazer, e a deixe partir para voltar a
ser livre.
Segundo aqueles “iluminados”
autores, a Alemanha deveria reintroduzir o seu amado marco (em nossa opinião nunca abandonado, pois o euro não
passa do marco travestido), pois os problemas da dívida e da competitividade
que países como Portugal, a Grécia, Espanha, Itália ou, apesar das diferenças,
a Irlanda, actualmente enfrentam, voltariam a ser facilmente resolvidos,
através de uma periódica desvalorização das moedas nacionais, especialmente
quando comparamos comportamentos quando aqueles países detinham moeda própria e
se confrontavam com o marco alemão em condições idênticas às actuais.
Mas, aparte a suspeita candura com que estas teses são produzidas e defendidas, nem a Alemanha abandonará a
presa, por mais que ela estrebuche, nem, com governos de traição que têm
demonstrado ser bons alunos e fiéis
serventuários da chancelerina Merkel e da sua estratégia para dominar a Europa,
será expectável uma alteração das condições políticas e económicas que estão a
levar ao agravamento da miséria, fome e desemprego, para os povos
dos chamados “países periféricos”, ao mesmo tempo que se enchem os cofres dos
grandes grupos bancários e financeiros da potência germânica.
Sobre a estratégia da Alemanha e
seus objectivos, consideramos útil a leitura do texto abaixo reproduzido, tendo
em conta que a única alteração que emergiu desde que ele foi escrito, foi a da substituição
de Nicolas Sarkozy - que, tal como a sua mentora Merkel, desejava que as dívidas soberanas fossem pagas JÁ!, à
custa de uma catadupa de medidas terroristas e fascistas – por François
Hollande que é adepto, tal como Seguro em Portugal, da teoria do pague-se, mas
suavemente! Isto é, prolongue-se, no tempo e no modo, o pagamento de uma dívida
ilegal, ilegítima e odiosa, mas assegure-se que ela é paga e renda faraónicas
mais-valias aos grandes grupos financeiros e bancários – sobretudo alemães e
franceses:
“Não é a Alemanha que é
indispensável à sobrevivência do euro. É o euro que é indispensável à
estratégia de dominação do imperialismo germânico sobre a Europa. E, para a
Alemanha, há-de chegar o momento em que, depois de se ter utilizado desse
instrumento para dominar os povos e nações da Europa – assim tenha sucesso com
esta sua estratégia – pura e simplesmente o dispensará. Esta realidade tem de
ser contextualizada no panorama geopolítico internacional, em que a
superpotência imperialista americana pretende recuperar a sua hegemonia a nível
mundial e a Alemanha se quer posicionar de forma a, por um lado, demonstrar ser
um dos mais fortes aliados com que os EUA podem contar e, por outro, não vir a
perder influência, nem ver comprometidos os seus interesses face a um cada vez
mais agressivo imperialismo chinês que já se comporta como nova superpotência e
que já demonstrou a sua capacidade em se aliar com os inimigos de ontem, como é
o caso da Rússia, nesta contenda pelo domínio mundial.
As desesperadas tentativas de
chantagem exercidas pela chefe do IV Reich, a Srª Angela Merkel, que têm o
apoio canino do seu valet de chambre, o salta-pocinhas Sarkozy, sobre
os restantes países da chamada zona euro, decorrem do facto de a Alemanha
saber, de há muito, que o projecto europeu só servirá efectivamente os seus
interesses de dominação sobre os restantes países europeu, se conseguir impor a
moeda única. Paulatinamente, foi convencendo vários países a aderir a esta
ideia, prometendo-lhes o paraíso do leite e do mel em abundância, conseguindo
que as burguesias vendidas de 17 dos 27 países que integram a União Europeia ao
euro aderissem.
E de cimeira em cimeira – a dois
ou com os seus serventuários – foi acrescentando novos patamares para desferir
novos golpes, encarregando a sua Tróica germano-imperialista de ir impondo
memorandos e programas que visam, tão só, dominar e espezinhar os povos e
países da Europa, arrogando-se tomar medidas absolutamente fascistas e
antidemocráticas como depor governos e colocar em sua substituição os seus
homens de mão.
Mas, de facto, o euro foi
desenhado, desde a sua génese, como o novo marco ou o marco travestido de euro!
Como a única entidade com capacidade e autoridade para emitir esta moeda e
controlar os seus fluxos é o BCE, um banco privado onde os principais
accionistas são bancos e grandes grupos financeiros germânicos, melhor se
entenderá a teia que a Alemanha teceu para vir a manietar e dominar os
restantes países europeus.
Muito antes de sugerir o euro, o
imperialismo germânico foi impondo a destruição da capacidade produtiva e do
tecido produtivo, sobretudo industrial, da esmagadora maioria dos países
europeus, sobretudo aqueles que são considerados os elos fracos da cadeia
capitalista, salvaguardando essa capacidade para a Alemanha, onde esta não só
foi mantida como cresceu e se fortaleceu. Com tal manobra a Alemanha consegue
ter superavits importantes, dominar em termos de capacidade industrial e
financeira todos os outros países que, entretanto, aderiram ao euro, por
virtude de terem passado a depender daquilo que importam para poder fazer
funcionar as suas economias, levando-os a graus de endividamento nunca antes
atingidos.
Os factores combinados das crises
orçamentais com a crise do sub-prime americano, criaram as condições ideais
para que uma entidade como o BCE, cujo capital social é inteiramente privado, e
em que os grupos financeiros e bancários alemães, como já havíamos referido, predominam,
mercê da taxa de participação de cada país em função do seu PIB, se
transformasse no principal instrumento da dominação germano-imperialista. Desde
logo porque foi imposto que os Estados não poderiam recorrer directamente a
crédito nessa instituição, a um juro de 1%, mas tão só os bancos que, depois, o
emprestariam aos estados a taxas de juro de 5 e 6%!
As dívidas soberanas passaram a
ser, por um lado, um excelente negócio, pois proporcionam taxas de juro
faraónicas e, por outro, um factor poderosíssimo de chantagem sobre governos e
governantes vende-pátria que ficam satisfeitos com as migalhas que a chefe do
IV Reich lhes reserva a troco de submeterem os seus povos à miséria, à fome, ao
desemprego e precariedade e os seus países ao esbulho dos seus activos e
empresas estratégicas por parte do imperialismo germânico. Isto é, traidores
que se vendem por trinta moedas a troco de submeter os povos e países europeu à
condição de colónia ou protectorado da poderosa Alemanha!
A bascularização da economia mundial,
que se caracteriza, por um lado, pela estranha inexistência de crises das
dívidas soberanas em países do chamado 3º Mundo – como é o exemplo do que se
passa em quase todo o continente africano – e, por outro, num processo de
acumulação primitiva capitalista nos países emergentes, como a China, a Índia e
o Brasil, entre outros, que passam neste momento por um processo histórico
muito idêntico ao que se vivia na Manchester do sec.XIX, explicam o resto do
quadro em que, a nível global, hoje nos encontramos e de como ele influencia e
condiciona a situação política e económica da velha Europa e da burguesia
europeia.
Com este processo de crescimento,
fundamentalmente alimentado pela migração massiva de agricultores e artesãos
arruinados para os grandes centros urbanos e encafuados em grandes unidades
fabris, aceitando condições desumanas de vida, ritmos de trabalho intensos e
salários miseráveis, começa-se a compreender como é que a bascularização da
economia influencia a estratégia da Alemanha e de outros países do dito 1º
mundo.
Países com uma indústria avançada,
com alto desenvolvimento tecnológico e que apostam fortemente na investigação
cientifica e que, tendo sagazmente levado as outras nações do continente
europeu à desindustrialização e à liquidação da sua agricultura e pescas, têm
por objectivo, agora, remeter esses países para a terceirização da economia ou
para fornecedores de mão-de-obra-barata, ao nível dos praticados na Malásia ou
no Bangladesh, para se tornar competitivos, isto é, alinhando por baixo as
políticas assistencialistas e salariais até agora praticadas e que tinham sido
fruto de intensas e duras lutas de operários, camponeses e outros
trabalhadores, na Europa dos séculos XIX e XX.
Se é certo que a forma como hoje
se organiza o trabalho nos países mais desenvolvidos não é a mesma dos séculos
XIX e XX, até porque existem cada vez menos grandes unidades industriais –
sobretudo naqueles países que aceitaram liquidar o seu tecido produtivo, como
foi o caso de Portugal -, não menos certo é que a classe operária aliada a uma
“intelligentsia” cada vez mais lançada para a precarização e à prática de
baixos salários, ao campesinato pobre e arruinado e a pequenos e médios
comerciantes e industriais ameaçados pela falência, são a força motriz que tem,
cada vez mais, condições para derrubar este governo e impor um governo que leve
a cabo um programa democrático patriótico que vá de encontro aos seus
interesses.
E, se aparentemente, parece que as
condições para a revolução quer no nosso país, quer a nível mundial são cada
vez mais diminutas, o que se passa é exactamente o contrário. No nosso país,
bem como noutros países europeus, as medidas terroristas e fascistas que têm
sido impostas pela tróica germano-imperialista, através dos governos
serventuários dos seus interesses, encontram cada vez maior capacidade de
organização, mobilização e combatividade por parte dos trabalhadores e dos
povos desses países.
Nos chamados países emergentes, as
condições em que a classe operária é alocada à produção, em grandes unidades
fabris, facilita a sua organização revolucionária e a elevação da sua
consciência de classe. O processo histórico é imparável, a contradição
antagónica entre burguesia e proletariado, entre natureza social do trabalho e
apropriação privada da riqueza gerada por ele, será resolvida a favor de quem
trabalha. E o ciclo das revoluções socialistas rumo à construção da sociedade
comunista do futuro será não só uma realidade, como uma inevitabilidade
histórica.”
E os recentes acontecimentos no
Brasil aí estão para comprovar o que acima se defende!