Pela sua importância e relevância política, reproduzo neste espaço a intervenção de Joana Miranda, uma jovem advogada de 27 anos de idade, candidata e cabeça de lista do PCTP/MRPP à Câmara Municipal de Lisboa.
Lisboa, uma Capital sequestrada
Nos
últimos quarenta anos, geriram a Câmara Municipal de Lisboa – à vez , sozinhos
ou coligados – todos os partidos políticos que, nesse mesmo período, governaram
Portugal em São Bento (PS, PSD, CDS, PCP, PPM e BE), e, da mesma maneira que,
em São Bento, todos eles lograram endividar o país, vender a sua independência
e matar à fome o seu povo, também conseguiram, agora sentados nos cadeirões
autárquicos da Praça do Município, liquidar a sua própria capital.
Lisboa
é hoje uma cidade desertificada, que, nas últimas quatro décadas, tem vindo a
perder cerca de 10 000 habitantes por ano, estando a sua população actualmente
reduzida a metade da população que tinha em 25 de Abril de 1974.
Em
termos populacionais, Lisboa está a transformar-se num pequeno município, em
vias de ser ultrapassado pelo de Sintra e já definitivamente ultrapassado pelo
conjunto Porto/Vila Nova de Gaia. Nos dias de hoje, Lisboa manifestamente
carece de massa humana crítica não só para manter o seu lugar de capital de
Portugal, mas também e sobretudo para poder competir no seio da Europa, pelo
seu lugar de uma grande e próspera capital europeia.
Acontece
que, do mesmo passo que Lisboa aceleradamente se desertifica, cresce
simultaneamente o número de fogos desabitados, que se estima ser já da ordem
dos 200 000 na área do concelho; e nada de melhor poderia decerto ter sido
inventado para despovoar definitivamente Lisboa do que a famigerada Lei das
Rendas, acabada de aprovar pelo governo de traição nacional Coelho/Portas.
Em
quarenta anos de gestão autárquica dos partidos políticos do poder, Lisboa
ficou a mais suja cidade do país e a mais porca cidade de toda a Europa. Lisboa
deixou de ser varrida, acumula lixo em toda a parte, nunca mais foi lavada e
deixou definitivamente de saber o que seja cal ou tinta para paredes.
Lisboa
cheira mal, cheira a merda e tornou-se um nojo. E, todavia, as taxas municipais
de salubridade aumentaram todos os anos.
Na
cidade de Lisboa, não há uma única rua sem prédios abandonados entregues às
ratazanas, sem edifícios ameaçando ruína eminente, sem desvio de passeio e sem
cortes de trânsito na previsão de desmoronamentos.
Por outro lado Lisboa, em consequência da
política que os diferentes partidos que integraram as suas sucessivas vereações,
viu-se transformada num parque público para automóveis, sendo que nenhuma
criança, idoso, grávida ou deficiente pode hoje circular em segurança nas ruas
da cidade, de onde vão desaparecendo os passeios para dar lugar a
estacionamento de automóveis. Uma das estatísticas mais trágicas revela que,
hoje, um terço dos atropelamentos na capital ocorrem em passadeiras para peões.
Fruto
ainda da política do pato-bravismo e da prioridade ao automóvel, Lisboa
encontra-se cada vez mais desprovida de espaços verdes e de lazer. A capital do
país vê a cada dia que passa desaparecerem os seus jardins e arrasadas as suas
mais belas árvores, abatidas por pessoas sem qualificação, supostamente
contratadas para as tratar, visto que a câmara despediu os seus jardineiros e
passou a atribuir essas tarefas a empreiteiros externos sem qualquer
competência na matéria.
A
par de tudo isto, a Câmara Municipal de Lisboa está transformada numa
gigantesca máquina burocrática de opressão dos munícipes. Neste momento a
Câmara Municipal dispõe de três vezes mais
trabalhadores dos que tinha em 1974. Em Janeiro de 2013, os postos de
trabalho efectivamente ocupados mais os que estão em mobilidade ascendiam a
9.563, sendo que, significativamente, os advogados passaram de 2 para 26, a que
acrescem outros 275 licenciados em direito. Ora, isto acontece precisamente
porque a burocracia se tornou asfixiante e porque a Câmara vive essencialmente
das receitas que obtém através do IMI, do IMT, mas também das taxas e das
multas.
Passou
a fazer parte do quotidiano da acção da Câmara a perseguição e a caça à multa a
todo o pequeno vendedor ambulante e comerciante que lutam dia a dia pela sua
sobrevivência.
Mas,
acima de tudo, Lisboa tornou-se uma cidade sequestrada em consequência de um
Plano Director Municipal – da responsabilidade política essencial do Dr. Jorge
Sampaio, que o criou, e também de todos os partidos que pela vereação camarária
têm passado e o têm aplicado – que mais não representou do que uma aliança
entre o poder municipal e os patos bravos da construção civil e a especulação
imobiliária, para além de ter liquidado a indústria e impor que a Capital
passasse a ser uma cidade de serviços, sabendo-se, ademais, que se torna
impossível, neste campo, competir com outras capitais europeias.
Resgatar a Capital
1.
A primeira medida de fundo que se impõe tomar para resgatar Lisboa do sequestro
a que a sujeitaram é a de revogar o Plano Director Municipal, com vista a fazer
regressar a indústria ao concelho de Lisboa, uma vez que sem indústria e sem
classe operária, falta a mola propulsora do desenvolvimento das grandes
cidades. Foi aliás em consequência da liquidação da indústria que Lisboa perdeu
mesmo 50% do PIB, a preços correntes, que aqui é produzido.
Outra consequência da aplicação do PDM em
vigor, a que também é necessário pôr termo, foi a de que a câmara
disponibilizou terrenos municipais que deveriam ter sido destinados a parques,
jardins e centros de lazer e cultura, para a progressão do cimento e da
especulação imobiliária. E isto porque as receitas do município passaram a ser
quase exclusivamente provenientes do IMI e do IMT.
2.
Lisboa precisa urgentemente de uma nova política
de transportes na cidade.
Relativamente aos transportes públicos, desde
há muito que o MRPP tem vindo a defender uma medida que o Dr. António Costa
agora se lembrou de copiar e que é a municipalização das empresas de
transportes públicos na cidade e um sistema integrado de transportes na área da Região
Especial de Lisboa. Neste campo, têm de ser tomadas medidas no
sentido de os custos de transporte passarem a ser suportados pelo município,
pelas entidades que beneficiam com a rede de transportes – designadamente as
universidades e empresas – e pelos utentes, sendo que o valor a ser suportado
por estes mensalmente, nunca deverá ultrapassar 5% do salário mínimo nacional.
E os transportes têm de ser suficientes e a funcionar em horários que permitam
não só a circulação dos lisboetas na sua cidade, como também o acesso dos
cidadãos que pretendam vir da periferia para a cidade e regressar às suas
casas.
Em matéria de circulação rodoviária na cidade, impõe-se de imediato a extinção da
EMEL e a restituição do espaço público aos cidadãos que foi sendo ocupado pelos
automóveis. A par de uma rede transportes públicos eficiente e cómoda, deverão
ser introduzidas portagens nos acessos à cidade de Lisboa e construídos parques
de estacionamento na periferia da cidade.
3.
No que respeita ao problema da habitação
torna-se necessário e urgente proceder a uma alteração profunda do regime do
arrendamento urbano, alteração essa que estabeleça que as áreas mais
importantes da cidade sejam reservadas exclusivamente à habitação, impondo-se
aos proprietários de casas devolutas um prazo máximo para as arrendarem e, caso
não o façam, ser o município a tomar posse daquelas casas, assegurando o
respectivo arrendamento a preços justos. A par disso deve ser completada
urgentemente a recuperação dos bairros populares, sem que isso implique
qualquer encargo acrescido para os inquilinos.
4.
O porto de Lisboa existe há já
quatro mil anos, e foi precisamente em torno dele que a cidade cresceu e se
desenvolveu. Impõe-se por isso que não só seja mantido como recuperado.
Actualmente, a instituição feudal que é a Administração do Porto de Lisboa
arroga-se ser dona das margens do rio, de Vila Franca de Xira até Cascais, e
assim contribuir para o não desenvolvimento da cidade.
Deve por isso ser urgentemente substituída
por uma nova Direcção dos municípios para a zona ribeirinha, que devolva o rio
Tejo aos cidadãos e permita pôr de pé o grande porto atlântico internacional de
que necessitamos.
Os contentores e os navios de transporte não
devem ser retirados de Lisboa. Tal não significa que devam permanecer todos no
local onde estão actualmente, pois podem e devem ser levados para um local da
cidade onde causem menor prejuízo para Lisboa e sirvam melhor para o País e
para toda a Europa, permitindo assim ao Porto de Lisboa ser a principal porta
de entrada e de saída de mercadorias, por via marítima, de e para o continente
europeu.
O Porto de Lisboa deve, também, ser
aproveitado na sua totalidade, sendo do mesmo retirados todos os benefícios
possíveis para a cidade e para o país. Como tal, deve também ser um grande
porto de navios de cruzeiro. Como é possível que Lisboa, que tem este porto com
condições magnificas, receba menos navios de cruzeiro por ano que o Porto do
Funchal, onde só cabem 6 navios de cada vez ?
5.
Lisboa tem também que ter, e continuar a manter, o caminho de ferro pesado vindo até ao centro da cidade, até como
forma de precisamente rentabilizar ao máximo as suas estruturas portuárias e
aero-portuárias.
6.
No que respeita ao aeroporto
internacional, seria uma verdadeira desgraça para a cidade e para o país
abandonar a construção de um novo aeroporto prevista para Alcochete. Esse
aeroporto é fundamental para permitir a aterragem dos grandes aviões de longo
curso e constituir uma grande placa giratória de tráfego aéreo de pessoas de e
para a Europa.
O
aeroporto da Portela deve manter-se, ficando destinado a voos domésticos.
A
este propósito, não podemos deixar de denunciar o negócio ruinoso para a cidade
que António Costa realizou nas costas dos lisboetas, ao vender os terrenos da
zona do aeroporto da Portela ao estado por metade do preço do mercado. Exigimos
por isso a anulação daquele negócio e a realização de um referendo sobre essa
questão.
7.
No que concerne aos espaços verdes,
para além de medidas urgentes e radicais para salvar os jardins e as árvores de
Lisboa das arremetidas do Zé que (não) faz falta, e do seu exército de
operadores de moto-serras, Lisboa carece também de um novo e moderno Jardim
Botânico.
8.
Continuamos a defender a necessidade da criação de uma Região Especial de Lisboa –
coisa que o Dr. António Costa também agora se lembrou de copiar, embora
envergonhadamente lhe dê outro nome -, Região essa dotada de um governo
autónomo que, de Torres Vedras a Setúbal, permita um tratamento integrado e
eficaz de problemas como os do abastecimento de águas, tratamento de lixos, transportes
e habitação.
9.
Resgatar a capital é ainda fazer de Lisboa um órgão de Poder do povo da autarquia, que nunca foi ! Um órgão
autárquico com poder popular que exija com firmeza e sem receios ao poder
central a autonomia municipal que é necessária para que Lisboa seja a Grande
Capital europeia de progresso, de cultura, de desenvolvimento económico e de
bem estar de que o País tanto necessita e a que nós temos direito !
Lisboa
não deve, não pode, ter menos poderes que a Região Autónoma da Madeira ou dos
Açores. E é isso que reivindicamos também.
Lisboa
não pode mais ser um súbdito do Governo. Lisboa tem de ser um verdadeiro
contra-poder, que exija ao Poder Central não apenas os meios financeiros
indispensáveis para executar o orçamento municipal como também as alterações
legislativas indispensáveis para exercer plenamente as suas competências.
Meus
Caros Amigos,
Após
estes 40 anos de contínua degradação e de sucessivos sequestros, os cidadãos
que vivem e trabalham em Lisboa estão hoje confrontados com o seguinte desafio:
ou escolhem a politica que tem vindo a ser aplicada até aqui, de completa
submissão aos diferentes governos, de expropriação do espaço público aos
cidadãos e de entrega deste espaço ao automóvel e aos patos bravos da
construção civil, e então Lisboa será, em definitivo, uma cidade condenada a
desaparecer. Ou escolhem a via da defesa da autonomia municipal que exija ao
Poder Central os meios financeiros indispensáveis e a alteração dos quadros
legislativos que se impõem e que permitam fazer de Lisboa uma cidade repleta de
vida, de actividade económica, de pessoas, de cultura e onde o cidadão tenha
efectiva qualidade de vida.
Por
mim, aqui me apresento, com energia e com convicção, para resgatar uma Capital
que está sequestrada por interesses anti-populares e para mostrar como queremos
e podemos fazer que esta situação seja alterada !
Estou
pronta para travar com todas as minhas forças este combate pelo progresso, pela
cultura e pelo bem-estar.
Conto
agora com o vosso apoio para conseguirmos transformar Lisboa naquilo que a
nossa querida e amada cidade merece e pode ser: uma bela, avançada e
progressiva capital europeia !