segunda-feira, 30 de setembro de 2019

Pode ser evitada uma recessão mundial ?






 A Organização para a cooperação e desenvolvimento económicos (OCDE) lançou um verdadeiro “alerta ao crescimento” aos estados. Segundo esta organização internacional, uma recessão pode ocorrer, como em 2009. Análise com o economista Dominique Plihon.

Enquanto 65 marionetas políticas (a quem os meios de comunicação chamam de chefes de estado) e um papagaio sueco manipulado,se pavoneiam na casa nova-iorquina das ilusões (sede da ONU), um verdadeiro cataclismo sísmico cresce a alguns passos dali, em Wall Street. Para tranquilizar a plebe, a comunicação social envia seus sacerdotes da economia para nos iludirem sobre essa recessão que eles sabem que é inevitável. Nada sairá da cortina de fumo climática ONUsiana nem do matagal cerrado de Wall Street,  nem dos gritos de alarme das autoridades da OCDE. Boa leitura Robert Bibeau (editor) .


O último relatório da OCDE sobre "as perspectivas económicas intermediárias" é muito pessimista. A instituição está alarmada com a ampla falta de confiança e um declínio contínuo no crescimento económico global. O economista-chefe da OCDE também alertou, durante a conferência de imprensa sobre as previsões de crescimento global de quinta-feira, 19 de Setembro de 2019: "Todos os riscos que observamos levam-nos a um terreno perigoso para o crescimento, mas também para o trabalho ". A economia global pode aproximar-se de um abismo, 11 anos após a crise que quase atingiu o sistema financeiro, os bancos e os orçamentos estaduais ... (sic)

De novo à beira do abismo?
A seguir à crise dos subprimes iniciada em 2007, seguida da falência do banco Lehman Brothers a 15 de Setembro de 2008, o crescimento do PIB mundial nesse ano terminou abaixo dos 3% - 2,9% - enquanto era, nos anos precedentes, de pelo menos 4%.


É essa tendência de queda que parece preocupar a OCDE: o crescimento económico global para 2019 é estimado em 2,9%, a mesma taxa ... que em 2008. No ano seguinte, em 2009, a recessão foi global. , mergulhando economias inteiras no desconhecido, com o seu lote de falências bancárias, a explosão da dívida estatal, encerramento de empresas e aumentos massivo do desemprego. Mas para tal, a conjuntura económica não é a mesma em 2019 da que existia em 2008. Então, por que é que esse famoso crescimento económico mundial está a cair? E como evitar uma recessão que finalmente poderia ocorrer? Entrevista com Dominique Plihon, professor emérito da Universidade Paris 13 e membro do conselho científico da ATTAC.

TV5MONDE: Porque é que, se a situação não é igual à de 2008, o crescimento do PIB mundial é também tão fraco hoje?

(Dominique Plihon é professor da Universidade Paris XIII. Ligado à corrente teórica da escola de regulamentação, ele dirige o Centro de Economia da Universidade de Paris Norte (CEPN), o pólo especializado em economia financeira, e publica regularmente artigos no semanário Politis.)

Dominique Plihon: É difícil acreditar que a situação seja a mesma de 2008, apesar dos níveis de crescimento equivalentes. A situação é muito diferente e os motivos de preocupação estão relacionados com factores cíclicos e estruturais. Existem factores políticos e económicos que estão a impulsionar uma desaceleração da actividade económica no mundo. Existe a guerra comercial entre os Estados Unidos e a China, que cria um clima muito forte de incerteza. Na Europa, existe o Brexit, com uma probabilidade significativa de que não haja acordo, que é a situação mais perigosa. Os economistas não concordam entre si sobre os efeitos do Brexit, mas também isso cria incerteza. E depois há a crise do petróleo que acaba de se estrear com a  Arábia Saudita e que cria um clima de instabilidade, mesmo que os líderes sauditas estejam a tentar amenizar a questão.

(Devem ter notado, caros leitores, que o economista está a usar alegremente o pleonasmo ... Há uma crise financeira por causa da instabilidade financeira, disse ele (sic), como em 2008, digam o que disserem. E por que essa instabilidade - essas incertezas - por que a crise do PIB que se está a forjar há anos? (nota do editor-Robert Bibeau))

Depois, há as políticas económicas que são levadas a cabo. A Europa é um bom exemplo, embora outros possam ser considerados, como o da Argentina. O problema é que essas políticas económicas são absolutamente inconsistentes. Por um lado, há autoridades monetárias - o Banco Central Europeu da União Europeia - que calcam sobre o acelerador fazendo ajustes (taxas muito baixas, até negativas, nota do editor) para lutar contra a perspectiva de recessão, a desaceleração do crescimento; e do outro lado, governos totalmente irresponsáveis, que eles apoiam com um travão (o que é totalmente falso senhor economista ... os Estados calcam no acelerador- nota do editor). Esses governos continuam a adoptar políticas orçamentais e fiscais austeras e, do lado das empresas, são políticas salariais muito rigorosas, por assim dizer,  para manter a competitividade. Portanto, os motores de crescimento que são a procura e os salários - procura privada - por um lado, mais a procura pública, orçamental e fiscal, estão a caminha na direcção errada.

(É que o objectivo da actividade económica não é aumentar a produção de bens e serviços, senhor economista, mas aumentar os lucros, o que exige reduzir o custo dos salários para aumentar a parcela da mais-valia – nota do editor.)

TV5MONDE : É portanto o que exige hoje a OCDE : que políticas de relançamento (económico – NT) sejam levadas a cabo pelos estados que possuam margem orçamental...

D.P: Sim, mas a OCDE é parcialmente responsável pela situação. Pela minha parte, denuncio os economistas desta organização - ou de outros lugares - que são economistas da chamada economia da oferta. Esses economistas ainda são a favor do emagrecimento dos gastos públicos, que se aposte a fundo na competitividade mantendo os salários no mais baixo nível possível, que se ofereçam deduções fiscais que pioram as finanças públicas, com o argumento de que será isso que permitirá que a actividade seja relançada. Há anos que se praticam essas políticas e elas não funcionam! A OCDE  retoma a sua fatiota, mas o FMI também, com o ex-economista-chefe Olivier Blanchard, que pouco antes de deixar seu cargo - e hoje aposentado - disse: "Basta, nós enganámos-nos”-.
Apesar de nos dizerem que não existe um tesouro escondido, sabemos que a evasão fiscal se estimada em um trilião de euros apenas para a União Europeia, e se todos os países começassem a lutar de maneira vigorosa para recuperar grande parte dessa soma, muitas coisas seriam possíveis. Isso tornaria possível resgatar os países que têm dificuldades financeiras nacionais e permitiria estabelecer um orçamento europeu que não existe hoje, fazer o renascimento concertado, nomeadamente com investimentos públicos. Investimentos para transições ecológicas e energéticas, habitação, infraestrutura, pesquisa e desenvolvimento, etc. Estamos novamente no precipício, na borda do cume. Hoje, na Europa, não nos são dados os meios para levar a cabo esse relançamento. Se amanhã houver um colapso, que poderia, por exemplo, vir dos mercados e pesar na actividade, não vemos como os governos poderiam alterar a situação.

 (Eis-nos aqui atraídos pela chicana dos intelectuais-economistas-pequenos-burgueses. O grande capital alimenta duas escolas de economistas burgueses. A escola da oferta contra a escola da procura. Como se oferta e procura não fossem as duas faces de Janus. O processo de produção exige que exista PRODUÇÃO = OFERTA para que exista OFERTA = CONSUMO. Esse consumo destrói a mercadoria (a oferta) e exige a sua substituição. Mas o que fazer senhor economista quando a oferta é superabundante e excede mesmo as capacidades da procura?  Aumentar ainda mais a produção (investir), ou seja, aumentar a oferta, que já é excedente, não é contraproducente? (Nota do Editor).)

 TV5MONDE : A Alemanha é normalmente a locomotiva económica da Europa, mas no entanto o seu crescimento é de 0,5% este ano e só será melhor em 2020. Como explicar  esta falta de crescimento?
 DP: O que demonstra esta fase da conjuntura internacional, com a Alemanha a sofrer a desaceleração das importações chinesas, é que os modelos de crescimento assentes nas exportações, como a Alemanha e China, são modelos perigosos que devem ser postos em causa. Até a França deve colocar menos o acento sobre as questões de competitividade externa e preocupar-se mais com a reconquista do mercado interno por meio de investimentos. Existe uma necessidade de repensar a dinâmica do crescimento, voltando-a mais para os mercados domésticos e menos para o comércio internacional.
Se a França se sair melhor este ano, com um crescimento um pouco maior que o da zona do euro, é porque o presidente Macron teve que libertar entre 10 e 17 biliões de euros - isto são estimativas - de poder de compra adicional. Sem esse maná, estaríamos abaixo do crescimento da zona do euro na minha opinião. Isso prova que há um problema de poder de compra, um problema de procura, e constatamos que, quando aliviamos - desta vez sob constrangimento  - e bem, estamos muito felizes por constatar que estamos um pouco melhor que noutros lugares. Mas, na minha opinião, é acima de tudo a lógica económica da oferta pura que é obsoleta e que deve ser questionada. Então, é verdade, a OCDE está em vias de disso se dar conta, até o Financial Times ou o The Economist estão a começar a dizer que talvez precisemos mudar de programa, pois o perigo está a aproximar-se, mas daí a admitir que é preciso repensar a fiscalidade para aumentar fortemente certos impostos sobre o capital ou sobre as fortunas,, como propõe o economista Thomas Piketti, para reduzir as desigualdades, é ainda outra coisa. Mas, mesmo assim, há cinco anos, a mesma OCDE publicava um estudo que explicava  que as desigualdades são um factor de abrandamento da actividade. É para levar em conta, ainda assim.

(É necessário relembrar que o economista é consultor da ONG ATTAC, que está na esteira da polémica ilusionista da fiscalidade-reguladora (sic). 1) Primeiro, digamos que não existe um modelo de crescimento liderado pelas exportações em OPOSIÇÃO a um modelo de crescimento impulsionado pelo consumo nacional interno. Esses dois, por assim dizer,  "modelos" não passam de apenas um. O modo de produção capitalista, que exige que o capital, para se valorizar - acumular, engula o salário nacional (a procura), depois parte à conquista do salário - a procura externa - via exportação. 2) Em seguida, a propósito das ameaças de aumentar os impostos dos ricos para, por assim dizer,  acumular dinheiro para que o estado dos ricos capitalistas aumente os investimentos - ou seja, a oferta ... Mas, precisamente o economista algumas linhas acima denuncia o MODELO BASEADO NA  OFERTA (sic). A oferta e a procura estão ligadas uma às outra como dois irmãos siameses e o banqueiro não saberia relançar uma sem relançar a outra (Nota do Editor)

TV5MONDE : O sistema financeiro internacional e as dívidas continuam a inquietar : elas podem colocar de novo problemas?

D.P: Existem muitos estudos que mostram com precisão que houve um aumento geral da dívida. Esse aumento da dívida afecta todas as zonas geográficas e todos os actores, sejam eles os Estados, os actores privados ou o mundo bancário e financeiro. Portanto, temos uma dívida global enorme, em parte impulsionada por taxas de juros muito baixas. Um dos mercados de dívida que mais me preocupa é o “corporate” (empresarial – NT). É da dívida obrigatória que se transformou numa bolha e que está a alarmar há mais ou menos dois anos a BRI, o Banco dos regulamentos  internacionais. Se por uma razão ou outra essa bolha explodir, o crash que se lhe seguiria colocaria em dificuldade muitas empresas. Aí, os efeitos sobre o crescimento e a actividade seriam terríveis (uma nova tautologia do nosso amigo, o economista – nota do Editor).

 TV5MONDE : O que é que poderia impedir a recessão que a OCDE teme poder vir a ocorrer ?
 D.P:  Hoje, existe uma ideia importante, que compartilho, que é a de que nós voltámos a entrar num regime de crescimento lento e inflação baixa. Este não é um ciclo conjuntural  que vá ter retorno num ano para voltar a ser como era antes. Não acredito , portanto, que estejamos a caminhar para um crescimento zero, mas devemos acreditar que iremos crescer a níveis mais baixos e com menor inflação do que antes. Porque há uma desaceleração na produtividade geral dos factores de produção, e porque o factor demográfico está de volta. Há uma desaceleração demográfica, e a Alemanha e a China são bons exemplos disso.

(Acima, o economista acabou por nada dizer em muitas palavras. Um ponto que refutamos contudo, - não há desaceleração da produtividade, MAS, de facto, há uma estagnação do aumento da produtividade do trabalho assalariado - noutras palavras - uma estagnação da valorização do capital, via mais-valia relativa, porque todas as empresas têm acesso à tecnologia de ponta, donde a necessidade para o capital de concentrar os seus esforços de rentabilidade para a mais-valia absoluta (a exploração selvagem da mão de obra). O economista tem aqui a resposta para suas perguntas sobre os cortes salariais relativos que o capital em COMPETIÇÃO deve impor para sobreviver (Nota do Editor))

Na minha opinião, não vislumbraremos um crescimento de 3% na Europa, mas não sou favorável, no entanto, a que o crescimento seja muito baixo, já que tal causaria sérios problemas sociais. São necessários, portanto, investimentos públicos de longo prazo, com grandes "Green New Deal" (Nova Acordo Verde - NT), como começa a ser discutido nos Estados Unidos (planos de investimento nas energias descarbonizadas que visam interromper o aquecimento global, ao mesmo tempo que promovem a justiça social ). Na minha opinião, é necessário repensar o conteúdo do crescimento, reorientar as políticas públicas, levando em consideração os imperativos da transição energética e ecológica.
 “Ficaríamos surpreendidos se não tivéssemos ouvido a frase sobre a, por assim dizer, “emergência climática” e o plano de resgate do capital internacional por meio de programas de subvenções governamentais que a pequena burguesia pauperizada e em vias de ser proletarizada adora. Desolado pelos bobos loucos mas, o "Green New Deal" (“Novo Acordo Verde” – NT) não evitará a recessão. Antes pelo contrário, esses programas irão precipitar a recessão. (Nota do Editor)”.