domingo, 22 de maio de 2016

Lei dos Despejos!

Cambalhotas e muletas não podem desmobilizar luta pela sua revogação!




O êxodo que levou à expulsão de mais de metade da população dos principais centros urbanos do nosso país, dos quais se destacam as cidades de Lisboa e do Porto, começou com a destruição do tecido produtivo, consequência da miserável traição que constituiu a adesão de Portugal à CEE, proposta e imposta por Mário Soares e pelo PS, à revelia de qualquer discussão livre e democrática, à qual o povo fosse chamado.

Quem não se lembra das Cinturas Industriais de Lisboa e do Porto que garantiam mais de 50% do PIB (Produto Interno Bruto) dessas grandes urbes? Quem não se recorda dos bairros operários degradados e das barracas que, em pleno centro urbano, albergavam dezenas de milhar de famílias de operários e outros trabalhadores?

Desactivada a indústria, impôs-se a lógica do domínio do sector dos serviços e do incremento de impostos, taxas e emolumentos, para compensar o rendimento necessário à manutenção das urbes. Mas, por mais taxado que fosse o munícipe, as clientelas que pululam em torno do poder camarário, achavam que, para acrescentar valor , eram necessárias medidas ainda mais drásticas e estruturais.

É neste contexto que surge a famigerada  Lei n.º 31/2012 de 14 de Agosto  (NRAU) e subsquentes excrescências que vão até ao não menos famigerado Balcão Nacional de Arrendamento (BNA), responsáveis pelo agravamento e facilitação dos despejos, isto é,  da expulsão dos munícipes das cidades . É neste contexto que, desde 1974, e só em Lisboa, foram expulsos mais de 10 mil cidadãos por ano e Monsanto perdeu mais de 10% da sua área florestal para dar lugar ao que pomposamente foi classificado como ... acessibilidades.

Aqui chegados, é assim que, desde o início de  funcionamento do BNA, ocorrido a 8 de Janeiro de 2013, e apenas até 31 de Dezembro de 2015, deram entrada naquela estrutura 12.612 pedidos de despejo, dos quais , apesar de terem sido recusados 6.715, foram emitidos 4.735 títulos de desocupação/despejo!

Quando o governo de traição nacional de Coelho e Portas – tutelado pelo palermóide de Boliqueime -, deram carta branca à então ministra Cristas, para aplicar e reforçar os efeitos que a iníqua Lei dos Despejos – acima mencionada – já contemplava, foi o PCTP/MRPP o único partido que defendeu que todas as Associações de Inquilinos e empresariais que recorressem ao inquilinato, deviam exigir aos então partidos da oposição parlamentar – PS, PCP, BE e Verdes – e ao Provedor da Justiça, que suscitassem a fiscalização sucessiva desta lei junto do Tribunal Constitucional com vista à sua revogação por, manifestamente, ser contrária ao disposto na Constituição sobre o inalienável direito à habitação.

Fê-lo, quer em assembleias convocadas por Comissões de Moradores, quer no I Encontro de Inquilinos que ocorreu em Lisboa, no Cinema S. Jorge. Neste último evento foi, inclusive, apresentada uma moção – aprovada por esmagadora maioria - , e que abaixo se reproduz, à qual os dirigentes, quer de associações de inquilinos particulares, quer de associações que representavam os interesses de inquilinos empresariais, fizeram ouvidos de mercadores.

    SUSCITAR A FISCALIZAÇÃO SUCESSIVA DA LEI DO ARRENDAMENTO/LEI DOS DESPEJOS
AO TRIBUNAL CONSTITUCIONAL É UMA EXIGÊNCIA DEMOCRÁTICA



1.       Considerando que a actual Lei do Arrendamento, mais conhecida por Lei dos Despejos, constitui um dramático ataque ao direito à habitação para centenas de milhar de inquilinos, bem como para subsistência de milhares de pequenos e médios comerciantes e empreendedores em todo o país;

2.       Considerando que qualquer iniciativa política ou legislativa no sentido de propôr a revogação da supracitada lei esbarra no voto contra da maioria parlamentar PSD/CDS, a mesma maioria que, a mando do governo que suporta e apoia, aprovou e possibilitou a aplicação desta lei iníqua;


3.       Propõe-se que a Associação de Inquilinos Lisbonenses e a Comissão de Moradores das Avenidas Novas envidem, de imediato, todos os esforços para que se estabeleça uma ampla frente nacional de organizações de defesa do inquilinato, no sentido de solicitarem reuniões urgentes com os grupos parlamentares do PS, PCP, BE e OS VERDES – partidos que votaram contra esta lei -, no sentido de os levar a passar das palavras de apoio que têm sucessivamente manifestado, para a única acção possível de anular esta lei e os seus efeitos tenebrosos, que é o de suscitar a fiscalização sucessiva da mesma ao Tribunal Constitucional.

4.       Simultaneamente, cada uma das organizações que integrarem essa frente nacional de defesa do inquilinato e dos moradores, deve providenciar para que os seus associados e membros façam chegar à Provedoria da Justiça cartas a manifestar a sua preocupação perante as consequências da aplicação desta Lei dos Despejos, para que o Provedor de Justiça, ao contrário do que actualmente alega, reconheça que a “agitação social” que a sua aplicação acarreta, tome a iniciativa de, também ele, suscitar a fiscalização sucessiva da mesma junto do Tribunal Constitucional.

Algumas Comissões de Moradores e  Associações de Inquilinos chegaram mesmo a defender que, estando para breve a queda do governo Passos/Portas, outro galo cantaria com a presumível e anunciada chegada ao poder do PS, numa manobra de desmobilização oportunista e traidora da vaga de fundo que se começava a formar para que os inquilinos adoptassem formas de luta mais firmes e consequentes que impusessem a revogação da Lei nº 31/2012, ou Lei dos Despejos.

Porém, ao invés de um cacarejar vibrante e demolidor, só se ouviu um pífio piar do ex-imperador de Lisboa, António Costa, e do PS, quanto a esta matéria. Chegados ao poder, com o apoio das muletas de PCP, BE e Verdes, aqueles que alimentaram alguma ilusão àcerca da vontade destes partidos em alterar ou revogar a Lei em causa, depressa se desvaneceu.

Agora que prossegue a continuada expulsão de habitantes de grandes centros urbanos como Lisboa e o Porto, é que começam a percepcionar a verdadeira dimensão daquilo que Costa e a sua equipa camarária à frente da Câmara Municipal de Lisboa então defendiam -  e Medina continua a defender – da necessidade de estas cidades prosseguirem programas que acrescentem valor!

Assim sendo, mantém-se em vigor a Lei dos Despejos, permitindo que os aumentos desmesurados das rendas façam o seu caminho para expulsar os moradores resistentes, para que edifícios inteiros sejam desocupados e, assim, surjam novos empreendimentos turísticos e hoteleiros que alberguem as hordas de turistas que estes partidos traidores pretendem que sejam a tábua de salvação da economia dessas urbes e, até, do país.

Turistas que, nestas circunstâncias, para além de contribuírem para uma descaracterização das cidades e dos seus bairros mais populares, induzem um aumento desmesurado do custo de vida nesses centros urbanos, com reflexos dramáticos quer para os habitantes dessas cidades, quer para o resto do país.

Isto é, tendo todos eles desistido da recuperação do nosso tecido produtivo – tanto na indústria e na agricultura, como nas pescas -, visam substituir o PIB que estas actividades proporcionavam às grandes cidades pelos serviços (que são responsáveis já por mais de 80% da actividade económica em todo o país), transformando os seus cidadãos em criados de libré, mal pagos e precários, de toda a sorte de turistas.

Ao mesmo tempo que prosseguem a expulsão de cidadãos dessas cidades para as periferias, aliviam as tensões sociais provocadas por um agudizar crescente da luta de classes, tentando desarticular, pela dispersão geográfica, a capacidade de organização e luta da classe operária e dos trabalhadores.

Tal como num passado recente afirmávamos, a hora dos diagnósticos acabou!Está na hora da acção, dos actos e da coerência! O que as Comissões de Moradores de todo o país, em coordenação com as Associações de Inquilinos e outras plataformas e associações que recorram ao inquilinato têm de fazer é confrontar o PS e as suas muletas do PCP, BE e Verdes - que tão solidários se mostravam com as suas causas antes do derrube do governo Passos/Portas -, com as suas responsabilidades políticas e exigir que utilizem a maioria parlamentar de que dispõem para revogar, de imediato e sem condições, a famigerada lei dos despejos.

Se não o fizerem, a bandeira de luta contra esta sinistra lei tem de ser empunhada firmemente por sindicatos e organizações dos trabalhadores, a par das associações de moradores e inquilinos – particulares e empresariais – e inscrever-se no objectivo mais geral da luta pelo não pagamento da dívida e pela constituição de um governo de unidade democrática e patriótica
porque do actual governo, tal como do anterior, não há que esperar por qualquer mudança de política sobre esta ou outras matérias.



domingo, 15 de maio de 2016

Aquela Manhã de Abril

Um Romance/Ensaio de Luís Alexandre

Luís Alexandre, neste seu Romance/Ensaio “Aquela Manhã de Abril” proporciona ao leitor, através de uma narrativa feita na primeira pessoa e em diálogos com personagens que participaram nos acontecimentos, uma visão desmistificadora do contexto sócio-político em que ocorreu o 25 de Abril de 1974 e seu subsequente desenvolvimento.

Um relato que permitirá, sobretudo aos jovens que não vivenciaram os acontecimentos, ter uma perspectiva científica e dialéctica do estádio e do desenvolvimento da luta de classes em Portugal, quer antes, quer durante, quer ainda depois do 25 de Abril de 1974.

Este é um ensaio que nos permite perceber a génese dos mitos que alguns sectores de classe da burguesia e da pequena-burguesia – que vieram a influenciar vastos sectores da classe operária e do campesinato pobre – impuseram para contar a “história” do 25 de Abril, sustentando o seu discurso no princípio de que uma mentira, mil vezes repetida, se pode tornar numa realidade.


O que Luís Alexandre nos propõe é, não só uma leitura e reflexão, à luz do principio de que o verdadeiro motor da história é a luta de classes, mas a ideia de que é necessário retirar da história os ensinamentos que permitam que os verdadeiros actores da transformação da sociedade não se deixem, de novo, capturar pelos cantos de sereia dos que, sendo reaccionários, por vezes se mascaram de revolucionários.

Luis Júdice


Nota: Para aqueles que quiserem adquirir o livro, podem encomendá-lo em:
          https://www.chiadoeditora.com/livraria/aquela-manha-de-abril