terça-feira, 28 de julho de 2015

Euro e dívida são indispensáveis à estratégia de dominação germânica sobre a Europa!

Quando pela primeira vez em 2012 utilizei a expressão  Não é a Alemanha que é indispensável à sobrevivência do euro... é o euro que é indispensável à estratégia de dominação do imperialismo germânico sobre a Europa, logo um coro de oportunistas, adeptos da teoria da reestruturação ou da renegociação da dívida soberana se indignaram com tamanha audácia!

Na cabecinha de ervilha destas iluminarias, a ideia de que as chamadas dívidas soberanas resultam de uma política que impôs a transferência das dívidas privadas do sistema bancário, decorrentes das aventuras que a especulação imobiliária e financeira e o chamado mercado do sub-prime originaram, para o domínio público, aparentemente não fez caminho.

Fingem não entender que, ao exigir a renegociação ou a reestruturação da dívida, aceitam negociar no campo daqueles que dizem combater, isto é, o directório europeu – completamente sequestrado pelo imperialismo germânico -, ao mesmo tempo que aceitam a provocatória premissa daqueles que, como o chefe da quadrilha Espírito Santo, Ricardo Salgado, defendiam que o povo português andou a viver acima das suas possibilidades!

Ora bem, o que esta gente de facto está a fazer, objectivamente, e independentemente das intenções que anunciam, é ajudar os serventuários do grande capital financeiro, bancário e industrial, sobretudo os grandes grupos germânicos, a branquear as massivas transferências que realizam, quer do rendimento do trabalho para o capital, quer dos juros que arrecadam à custa do negócio da dívida.

Como sempre o afirmámos, a Alemanha fez do euro uma ferramenta de dominação económica. E é por isso que a crise na Europa serve às mil maravilhas essa sua estratégia. Na razão inversa aos danos que provocam as medidas de austeridade que impõe, sobretudo aos países do sul da Europa, que constituem o elo mais fraco do sistema capitalista no continente, são colossais os ganhos que tem obtido à custa dela e das dívidas soberanas.

Basta ter em conta as taxas de juro divergentes entre os membros da chamada zona euro, sobretudo após os primeiros anos da entrada em vigor da moeda única. A análise dos números não deixa qualquer margem para dúvidas: se as taxas de juro pagas pela Alemanha se tivessem mantido estáveis depois de 2008, Berlim teria pago qualquer coisa como 93 mil milhões de euros de juros em 2015! Mas, como tal não aconteceu, este ano terá de desembolsar 48 mil milhões, ou seja, duas vezes menos do que o que estava previsto!

Basta fazer contas! A Alemanha, ao impôr elevadíssimas taxas de juro a países como a Grécia, Portugal, Irlanda, Espanha ou Itália, assegura para si taxas que já chegaram a ser negativas, o que lhe proporcionou uma economia (diria roubo) de 193 mil milhões de euros, enquanto aos países sob resgate ou memorandos de intervenção de uma tróica por si dominada, é um exaurir de recursos, um genocídio fiscal e a perda de soberania que os espera, e a fome, a miséria e o desemprego para os respectivos povos.

Face à chantagem e humilhação a que sujeitaram o povo grego e à subsequente traição do Syriza na Grécia, bem como ao colapso das teorias oportunistas e aberrantes da reestruturação e/ou renegociação das dívidas soberanas, começam a ganhar corpo novas teses que assentam, genericamente, na condicionante de se a Alemanha saísse da zona euro, em vez de tentar expulsar outros países, quem mais beneficiaria com a saída dessa moeda única seriam, precisamente, aqueles que a potência germânica ameaça de expulsar.

Esperar que a Alemanha abandone unilateralmente a zona euro é a mesma coisa que acreditar que o leão que acabou de filar uma gazela e se prepara para a transformar no seu lauto repasto, se compadeça com a sorte da sua presa, apenas porque ela estrebuchou um pouco mais do que é habitual uma presa fazer, e a deixe partir para voltar a ser livre.

Segundo estes iluminados, a Alemanha deveria reintroduzir o seu amado marco (em nossa opinião nunca abandonado, pois o euro não passa do marco travestido), pois os problemas da dívida e da competitividade que países como Portugal, a Grécia, Espanha, Itália ou, apesar das diferenças, a Irlanda, actualmente enfrentam, voltariam a ser facilmente resolvidos, através de uma periódica desvalorização das moedas nacionais, especialmente quando comparamos comportamentos quando aqueles países detinham moeda própria e se confrontavam com o marco alemão em condições idênticas às actuais.

Mas, aparte a suspeita candura com que estas teses são produzidas e defendidas, nem a Alemanha abandonará a presa, por mais que ela estrebuche, nem com governos de traição que têm demonstrado ser bons alunos e fiéis serventuários da chancelerina Merkel e da sua estratégia para dominar a Europa será expectável uma alteração das condições políticas e económicas que estão a levar ao agravamento da miséria, fome e desemprego para os povos dos chamados países periféricos, ao mesmo tempo que se enchem os cofres dos grandes grupos bancários e financeiros da potência germânica.

Esta gente é a mesma que vem defendendo que os povos e os governos que se pautam pelo estado de direito, são honrados e pagam as suas dívidas! Escamoteando que as dívidas cujo pagamento estão a impor aos povos, não foram contraídas por eles, nem eles retiraram qualquer benefício delas. Quem retirou delas esses benefícios foram os grandes grupos bancários e financeiros que, em vez de capitalizarem os bancos que geriam, levaram a cabo uma autêntica política de casino, ao mesmo tempo que distribuíam de forma generosa, pelos seus accionistas, os fabulosos lucros que iam obtendo à custa de um sistema que permite que a banca seja a única a poder recorrer ao crédito do Banco Central Europeu (BCE), a taxas de juro de 1% ,e até inferiores, para depois vender esses créditos a taxas de 5%, e mais elevadas, aos estados...para que estes possam pagar as dívidas criadas pelo sistema bancário que lhes empresta, agora, dinheiro!

A recente situação da Grécia, um país e um povo humilhados e roubados por esta estratégia imperial germânica e pelo seu instrumento de dominação de eleição, o euro, demonstram à exaustão que face à estratégia da Alemanha e seus objectivos, de que as dívidas soberanas são para pagar, custe o que custar, isto é, à custa de uma catadupa de medidas terroristas e fascistas,  não constitui qualquer alternativa para a defesa dos interesses dos povos sujeitos a estas políticas, o que o directório socialista europeu, no qual se integram François Hollande e António Costa propõe, isto é, que as dívidas soberanas devem ser pagas mas...suavemente! Prolongue-se, no tempo e no modo, o pagamento de uma dívida ilegal, ilegítima e odiosa, mas assegure-se que ela é paga e que renda faraónicas mais-valias aos grandes grupos financeiros e bancários – sobretudo alemães e franceses.

É por isso que a nova fuhrer, a chancelerina Merkel, anda tão tranquila, confiada e confiante. Com inimigos deste jaez, quem precisa de amigos! Com uma oposição desta natureza o que poderá a dama imperial temer?! Só a organização, luta e firmeza dos povos!

O que os números agora divulgados demonstram é que não há alternativa, quer para Portugal, quer para outros países sujeitos a resgate pela tróica germano-imperialista, do que promover uma ampla unidade democrática e patriótica para correr com a tróica e seus agentes locais, sair do euro e da União Europeia, recuperar as moedas nacionais e implementar planos de restauro do tecido produtivo destruído, precisamente para satisfazer os interesses imperiais da Alemanha.






domingo, 19 de julho de 2015

O Euro é uma mordaça e é a Guerra!

Numa das mais antigas colectividades operárias de Lisboa, a Sociedade Musical 3 D’Agosto de 1885, em Marvila, decorreu no passado dia 9 de Julho do corrente ano uma Sessão Pública organizada pelo PCTP/MRPP, dedicada ao emergente tema  A Dívida, o euro e a perda da independência nacional – qual a alternativa?


Na parte final da sessão houve lugar a um debate muito rico. É a intervenção do meu camarada Arnaldo Matos, um dos fundadores do MRPP, que aqui transcrevo na íntegra, sugerindo vivamente a sua leitura eanálise, dada a importância e profundidade do seu conteúdo.

A edição e revisão do registo audio desta intervenção são da inteira responsabilidade do autor deste blogue.

Um aspecto que é importante abordar é que a União Europeia não é esse carneiro disfarçado que anda por aí a passear.

É que Lenine também escreveu num artigo posterior àqueles dois que foram aqui citados, que os Estados Unidos da Europa são a guerra. E o elemento de guerra que está já em progresso não é aqui citado por ninguém e parece que nós vivemos no melhor dos mundos.

Não se esqueçam que todo o assalto ao Norte de África foi feito pela União Europeia e pelo imperialismo americano. Portanto, o que Romel não conseguiu no Norte de África a senhora chancelerina Merkel já conseguiu, parcialmente.

A guerra já começou também na Ucrânia e ninguém sabe onde é que vai parar. Mas a guerra, para poder estender-se para fora da União Europeia, teve que começar por ela própria, primeiro do que o euro, que foi a guerra nos Balcãs. Uma necessidade de a Alemanha chegar ao Mediterrâneo.

Portanto, tudo isto é guerra! Desde que se deixou de ter a Comunidade Económica Europeia (CEE) e se passou a ter a União Europeia não tivemos um momento sem guerra na Europa! E parece que as pessoas não se preocupam com isto! Excepto quando ela chegar cá! Ou chegar à Grécia como vai acontecer provavelmente dentro de breve tempo.

Portanto, a história da guerra, nós temos de estar preparados para ela, isto é, para lutar contra ela e não fazer a guerra do imperialismo alemão. A Alemanha, e a União Europeia actual não é outra coisa senão o império alemão, já em três guerras que fez em 150 anos, ia destruindo a Europa toda: 1870, 1914/18, 1939/45 e agora. Esta ainda está a começar.

E parece que ninguém quer ver o óbvio! Toda a gente fala em euro, o euro é uma “boa moeda”, traz-se no bolso, tilinta, mas ninguém se preocupa com mais nada. Só quando estivermos todos envolvidos numa guerra até ao pescoço, então é que se vai ver quais foram os erros que se cometeram, e vai-se ver nessa altura onde é que se colocarão os que venderam o país até agora.

Mas o euro também tem uma história de luta de classes. O euro não é apenas uma questão monetária, é uma questão política e é o preço que nós recebemos por ter vendido a nossa classe operária! Nós vendemos os operários e deixámos de ter a força da revolução e eles mandaram para cá o euro para fazer o que quiserem e que os senhores já estão a ver o que já estão a fazer na Grécia.

Portanto, o problema aqui é que este euro tem uma dupla faceta. Uma das facetas é a que serve para acumular o capital fixo, isto é, serve para investir. E outra das facetas é que serve para roubar. Estas duas facetas nunca são vistas por ninguém, ou é só vista uma delas ou então nem sequer se fala em nenhuma delas.

Também queria chamar a atenção do exemplo da Grécia porque, como dizia um poeta latino, quando se fala da Grécia é de nós que estamos a falar. Para citar essa imagem poética, adaptada a outras circunstâncias, mas parafraseando o poeta, quando se fala da Grécia é de nós que estamos a falar.

Ora os senhores já viram o que aconteceu na Grécia neste momento. Vocês sabem como é que vive um grego hoje? Um grego hoje não tem dinheiro para comer, não tem dinheiro para tratar-se, não tem dinheiro para deslocar-se. A Grécia está neste momento num estado de pavorosa desregulamentação.

E é com essa base que eles vão tentar fazer vergar o Syriza, esse “partidomeco” que tanta gente gosta dele, sem ver as consequências da política desse partido. Mas, evidentemente, é assim que vive a Grécia. A Grécia está de joelhos. A Grécia foi arrombada pela União Europeia. Foi roubada e arrombada!

E os partidos que tem não estão à altura dos acontecimentos porque não se pode ganhar umas eleições sem prometer sair do euro. Os países pobres da União Europeia, que correspondem à orla do Mediterrâneo, estão contra o resto do império alemão. Estiveram toda a vida em que houve império alemão, em 200 anos! E vão continuar a estar agora.

Não há outra forma de dar conta disto. É preciso ler o Brodel, é preciso ler o que as pessoas que conhecem o que é história escrevem, para perceber o que é que se está a passar. Se não, ninguém sabe o que é que se está a passar!

Ora muito bem, se a Grécia pensava, há uma semana, que era melhor não sair do euro, eu gostaria de ver, se fosse feito na próxima 2ª feira(13 de Julho) o referendo, o que é que a Grécia ía dizer da saída do euro. Porque agora é que a Grécia está a perceber porque é que o euro é uma mordaça. Agora é que está a perceber!

Os senhores lembrem-se de uma coisa, nunca se esqueçam disto. Quando foi criado o Banco Central Europeu, ele era a união de todos os bancos europeus. E por isso, os bancos europeus deixaram de emitir moeda, mas o Banco Central emitiria a moeda necessária para os bancos europeus poderem trabalhar. E neste momento o que eles fazem é que eles não dão dinheiro, como nos termos do acordo que assinaram deviam dar, para a Grécia fazer o seu curso normal do comércio interno.

Portanto, eles liquidaram a Grécia. Eles querem que a Grécia seja um exemplo para todos nós. Eles querem que o povo português trema só de ouvir falar na Grécia. Se ajoelhe, só de ouvir falar na Grécia. E que em vez de criar um partido a sério, queira criar um Syriza. Isto é, uma cambada de bandalhos, que são à esquerda dos outros que deram cabo da Grécia, mas que não estão à altura dos acontecimentos.

É preciso romper com a Alemanha, é preciso romper com a Europa, é preciso romper com a União Europeia, é preciso romper com o euro e só um partido nestas condições é que pode ser, é que pode chegar algum dia a ter a estima do seu povo. E isto é uma coisa que não foi aqui bem clarificada.

Eu quis chamar problemas ao debate, não para criar medo, porque nós precisamos de não ter medo. O que eles estão é a querer meter-nos medo. Dizem, não façam nada porque senão vão acabar como o Syriza. Os senhores não façam nada porque senão vão acabar a levantar 60 euros por dia, se tiverem 60 euros para levantar. É isto que está aqui em causa. E é contra isto que a gente tem que lutar.

Sim, nós estamos do lado dos gregos, mas aquele governo dos gregos não serve para nós. Tem de ser outro. E também não serve para a Grécia. E isso a gente já vai ver. Lembrem-se de uma coisa, os gregos nunca cedem. Os gregos desde que estão numa situação que pensem que é o estreito das Termópilas, morrem todos mas não cedem. Lembrem-se disto!

Nós temos uma costela dessa resistência na nossa história. Nós também não cedemos. Mas temos uma outra dificuldade. É que cedimos(nota do blogue – cedemos) muito antes de levantar o cabelo. Temos também uma outra característica, a característica de que vamos aceitando as coisas e só quando já não é possível aguentar mais é que alguém levanta o cabelo. E nunca é as forças armadas, é sempre o povo. Sempre o povo.

Nós precisamos sair do euro. Isso é uma questão de liberdade do nosso país. Da autonomia e independência do nosso país. Se nós não sairmos do euro, vamos passar a vida a engraxar e a lamber as botas ao imperialismo alemão. Não há alternativa aqui. Não me interessa saber o que diz o PCP, não me interessa saber o que dizem os outros partidos, interessa-me saber que esses partidos estão, de uma forma geral, do lado do imperialismo alemão. Duma forma geral, alguns mais, outros menos.

Mas não é o caso do PS. Nem quer discutir. Eu assisti noutro dia a um debate na SEDES em que o PS e o PSD pretendiam proibir que se falasse sobre a dívida nesse debate. Não falem nisso, porque cada vez que se fala da dívida...aumentam os impostos, aumentam os juros! Aumenta tudo desde que a gente fale da dívida!

Ora bem, nós temos de falar na dívida. E temos de falar na dívida para dizer que não a pagamos, para dizer que queremos sair do euro, para dizer que queremos uma nova moeda e para dizer que há outro caminho. Ora, é preciso ver que eu também sou contra aqueles que acham que é preciso pedir ajuda à Alemanha para se sair do euro. Eu acho que se deve sair ao coice. Não é pedir ajuda, é sair ao coice.

Isto é, sair em ruptura. Essa ruptura, a classe operária portuguesa é fraca para fazê-la, mas os patriotas são suficientes para fazê-la. E essa ruptura permite-nos criar, com as condições que nós temos, permite-nos criar um país novo e um país com capacidade de aliar-se a uma quantidade de países no mundo.

Os senhores não se esqueçam duma coisa. Os senhores sabem quais são os grandes países asiáticos? São, a maior parte, países mais pequenos do que Portugal. Os grandes países, os tigres asiáticos, do desenvolvimento económico capitalista, são – tirando o caso da China e tirando o caso do Japão (que aliás está de rastos) -, são países ainda mais pequenos do que nós. E conseguiram fazer o seu desenvolvimento económico. Numa primeira fase, de acumulação, que também se pagou caro, também os operários tiveram de o pagar caro, mas conseguiram.

 E nós também temos ligações. Temos ligações aos países de expressão portuguesa, que têm também ligações connosco, e vamos passar a ter ligações num pé de igualdade. Vai precisar mais o Brasil de nós do que nós do Brasil. Vai precisar mais a África de nós do que nós da África. E não faltam muitos séculos para ver isso. Talvez 50 anos! Já não estamos cá a maior parte para ver isso, mas alguns ainda vão estar e vão-se lembrar desta sessão.


Registo audio desta importante intervenção:
https://www.youtube.com/watch?v=HFGKBiFrgRA














quarta-feira, 15 de julho de 2015

Syriza capitulou, mas povo grego não se rende!

Os incorrigíveis oportunistas de esquerda, românticos da capitulação e da traição dos interesses do povo, em nome de uma racionalização que passa por identificar questões concretas para apresentar soluções concretas para satisfazer as necessidades das pessoas, estão neste momento a tentar justificar por todos os meios a miserável traição a que Tsipras, o partido SYRIZA e a plataforma governamental que lidera registaram frente a um Eurogrupo que mais não é do que um directório dominado pelos interesses do imperialismo germânico.
O que a tragédia grega em curso demonstra, uma vez mais – e não é caso único na história da humanidade –, é que quando se tenta lutar contra o inimigo no seu território e aceitando as suas regras, o que se obtém é uma derrota frustrante e esmagadora para os interesses dos povos que se afirma estar a pretender defender.

Dormir com o inimigo nunca resulta em gravidez e parto saudáveis para o movimento operário e popular, mas apenas em desmancho. E a situação da Grécia e do povo grego são um paradigma desta constatação.

Uma situação que provocará, necessariamente, ondas de choque e trará consequências que, a não serem rapidamente combatidas pelos verdadeiros democratas e patriotas, serão devastadoras para os povos da Europa que neste momento se empenham na luta contra o pagamento de uma dívida que não contraíram – e que no entanto estão a ser forçados a pagar – e contra uma ditadura fascista e arrogante que prenuncia a guerra.

Nos tempos que correm, em que a revolução ensaia a recuperação das inúmeras traições de que tem sido alvo e das imensas derrotas que sofreu, e começava a ganhar um novo fôlego e a conseguir alterar as relações de força que opõem a classe operária, os camponeses, os trabalhadores e todas as camadas populares, à burguesia, ao seu sistema capitalista e ao imperialismo que é o seu estadio supremo, uma velha doença, mas com novas roupagens, emerge, pela mão de toda a contra-revolução, para paralisar o movimento revolucionário e, uma vez mais, tentar esmagá-lo. Essa doença, esse vírus, é o oportunismo, vista ele as roupagens do revisionismo, do esquerdismo ou da social-democracia.

Candidatos a assumir este papel não faltam à burguesia. Desde os que se prestam a proporcionar alguma credibilidade à oposição às medidas de austeridade que tem vindo a ser aplicadas pela tróica germano-imperialista sobre os trabalhadores e os povos da Europa, sobretudos nos países que considera os elos mais fracos da cadeia capitalista, arvorando a bandeira dos governos ou programas de salvação nacional até aos que, apesar de serem favoráveis à austeridade que permita, à custa de quem trabalha, pagar dívidas soberanas e controlar os deficits orçamentais, clamam que tais medidas terroristas sejam acompanhadas por programas de crescimento e emprego, como se fosse possível vislumbrar crescimento e emprego quando se aplicam medidas terroristas e fascistas que provocam nada mais do que recessão e desemprego.

Enquanto toda a esquerda parlamentar portuguesa – e, a bem da verdade, também alguma da extraparlamentar – cantava hosanas pela eleição de François Hollande para presidente da república em França, já este se preparava para ir prestar vassalagem à chancelerina Merkel, em Berlim, para fazer aquilo que se esperava: medidas de austeridade sim, sobre uma perna, mas sobre a outra, exigimos um plano de crescimento e de emprego. Ora, o que aconteceu é que a montanha pariu um rato, e o homem voltou coxo da cimeira com a sua chefe.

Pois, em Portugal, o imperador de Lisboa, António Costa, um oportunista dos sete costados que esmaga quem se lhe arrogue opor, quer replicar exactamente o mesmo que anunciava Hollande, ao incorporar no Programa Eleitoral do PS como objectivo central do seu governo – assim venha a ser eleito - , o emprego! Aliás, é bem significativa a postura do PS relativamente à crise grega. Hollande e Costa estão de acordo, no essencial, com a aplicação do plano da tróica, apenas divergindo quanto ao tempo e ao modo de aplicação das medidas terroristas e fascistas que a burguesia pretende aplicar, apenas e tão só, sobre a classe operária, os trabalhadores e o povo grego. E, claro está, o mesmo se aplica sobre o que pretendem para o povo português.

Para manter o sacrossanto lucro e a sacrossanta propriedade privada, base do poder da burguesia e do seu sistema capitalista, a burguesia atribui a alguns partidos que se reclamam da esquerda a tarefa de passar a ideia junto de quem trabalha e do povo de que é possível, sem alterar as relações de produção capitalistas e os fundamentos do estado burguês que assegura a sua manutenção, provocar seja que alteração qualitativa for que se considere satisfazer as necessidades de quem trabalha, do povo, e acabar de vez com a sociedade que permite a exploração do homem pelo homem.

Esta é a estratégia da burguesia sempre que prenuncia que grandes rupturas revolucionárias se perfilham no horizonte, como foi o caso de Portugal em 25 de Abril de 1974 e está a ser agora, de novo. Como é o caso da França e está, também, a ser o caso da Grécia. Desde os mais radicais aos mais tolerantes, desde os mais unitários aos mais sectários, o arsenal de oportunistas que se reclamam de esquerda, com que o grande capital e a burguesia contam é enorme. Para nós, marxistas-leninistas é fácil distingui-los e denunciá-los. A pedra de toque não tem sofrido grande variação desde os tempos de Marx e de Lenine. O que os distingue é a posição em relação ao que fazer no que concerne ao poder de estado e às relações de produção capitalistas: destruí-los ou fazer um refrescamento de esquerda da sua natureza, que é a da exploração do homem pelo homem?

O caso mais recente, ocorrido na Grécia, é paradigmático. Negociar no terreno do inimigo, aceitando as suas regras do jogo e clamando por uma renegociação da dívida ou pela sua reestruturação quando é o próprio inimigo a considerar, sem qualquer pudor, que a dívida é impagável, terá sempre como resultado aceitar que os povos sejam subjugados e os países sobre intervenção da tróica germano-imperialista sejam remetidos à condição de seu protectorado. Dívida perpétua gera juros perpétuos, mesmo que tal signifique a morte e a miséria para os povos!

Ainda esta semana a inefável Marisa Matias, eurodeputada pelo Bloco de Esquerda, tentava cândida e oportunisticamente explicar, sobre o acordo grego,  as razões pelas quais não corri a tirar o tapete ao Syriza! Um tratado! Para ela, tal como para toda a sorte de oportunistas que se clamam de esquerda, o problema todo assenta no mau carácter dos interlocutores e não é uma recorrência daquilo que nós, marxistas, classificamos como o motor da história: a Luta de Classes. Uma luta sem contemplações e da qual só um dos contendores sairá vencedor. Ou bem que a burguesia, ou bem que os operários, os camponeses, os trabalhadores, o povo. Essa história de que ambas podem sair ganhadoras nesta contenda é um verdadeiro conto para crianças.

A mesma Marisa Matias, aliás, que decidiu abster-se na votação no Parlamento Europeu que deu a vitória à união bancária que tramou o Syriza! Então, e agora, o que tem a dizer. Que se absteve por não ter a certeza de que tal união iria ser prejudicial aos interesses dos povos da Europa? 

No caso da Grécia, os diferentes programas de intervenção da tróica e os memorandos de entendimento em que assentaram, provocaram exactamente o contrário daquilo que Berlim e o directório europeu que manipula a seu belo prazer, com a ajuda dos seus serventuários, primeiro da Nova Democracia e do PASOK e agora do SYRIZA, anunciaram. Isto é, a dívida não cessa de aumentar, assim como o deficit. O Produto Interno Bruto sofreu uma queda de cerca de 27% (!!!) e as condições de vida do povo são cada vez mais dramáticas, aumentando meteoricamente o desemprego, a fome e a miséria.

Tal como em Portugal, toda a sorte de oportunistas, quer os que apoiam uma política de austeridade pura e dura e de empobrecimento do povo, como é o caso da coligação PSD/CDS, quer os que advogam um abrandamento da austeridade e uma política de emprego que, asseguram, promoverá o aumento do consumo interno, como é o caso do PS e de António Costa, quer ainda os que advogam – tal como o SYRIZA na Grécia – a reestruturação ou renegociação da dívida, tentam por todos os meios escamotear quem é que vai pagar uma dívida impagável e que impacto vai ter na qualidade de vida e dignidade do povo o pagamento de juros brutais – que este ano será de 7 mil milhões de euros, em 2016 de mais de 9 mil milhões para, em 2020, se situar no patamar de mais de 20 mil milhões de euros –, em sectores como a saúde, a educação, os transportes, a segurança social, etc, dos quais são desviados cada vez maiores recursos financeiros precisamente para fazer face a esses pagamentos.

O que a situação na Grécia nos ensina é que, não sendo ainda o socialismo, a nacionalização da banca e dos principais activos estratégicos permitiria a um Governo de Unidade Democrática e Patriótica implementar um plano económico que teria de passar, necessariamente, pela saída do euro, pela introdução do novo escudo e por investimentos criteriosos que assegurem, por um lado, a recuperação do tecido produtivo e, por outro, o aproveitamento adequado das vantagens de partida de Portugal e da sua posição geoestratégica única de porta de entrada e de saída do essencial das mercadorias de e para a Europa. Uma economia claramente ao serviço do povo e de quem trabalha, uma economia claramente garante da independência e soberania do país.

Razão terão sempre aqueles que face a uma dívida ilegítima, ilegal e odiosa, se recusam a pagar, renegociar ou reestruturar uma dívida que não contraíram, nem foi contraída para seu benefício e que não aceitam a chantagem que sobre eles está a ser exercida, consubstanciada na política de ou aceitam pagar ou saem do euro! Bem pelo contrário, há que organizar e mobilizar o povo e quem trabalha para a luta pela saída de Portugal do euro e a retoma de um novo escudo, pois está demonstrado que da sujeição de uma economia frágil a uma moeda forte como o euro – que não passa do marco travestido – só resultará mais dívida, mais défice, mais dependência, mais fome e miséria para os trabalhadores e para o povo português.

A capitulação e traição ocorrida na Grécia foi uma vitória temporária da contra-revolução e do imperialismo germânico que a lidera. Mas, tal com Lenine o afirmava, a burguesia, de vitória em vitória, caminha inexoravelmente para a sua derrota final e para o papel que a história lhe reserva, o do caixote do lixo, enquanto os operários, os camponeses, os trabalhadores, os povos em geral, quanto mais depressa aprenderem com as derrotas e delas se recompuserem – muitas delas infligidas por virtude de terem aceite a direcção de correntes oportunistas que se reclamam, mas não são, de esquerda – caminham, inexoravelmente, para a vitória final!

O que é certo é que as contradições antagónicas que se começam a revelar no seio das diferentes burguesias europeias, e que o caso grego despoletou, são prenunciadoras, por um lado, dos ventos de guerra que o projecto de unidade europeia ou do espaço vital sempre provocou e, por outro, de que, tal como no passado, os povos terão de se organizar para ousar transformar as guerras imperialistas em revoluções libertadoras.














sexta-feira, 3 de julho de 2015

OXI!

Contra a chantagem da dívida existe uma saída!






O povo grego foi chamado a participar, no próximo domingo, dia 5 de Julho, num referendo destinado a saber se aceita ou não a extensão e aprofundamento das políticas de austeridade que lhe vêm sendo impostas e que, para além de terem provocado uma redução de 25% do seu Produto Interno Bruto, agravaram a fome, a miséria, a total indignidade e humilhação para este povo e para este país.

Não basta, pois, que vença, mesmo que com esmagadora maioria, o NÂO, ou seja, que o povo helénico, tal como tem feito, corajosamente, ao longo dos mais de 2.500 anos da sua história, e face a invasores e bárbaros de toda a espécie, tem sabido fazer ao afirmar o seu rotundo OXI à barbárie e ao esbulho!

Um dos mais preciosos ensinamentos que Karl Marx nos deixou foi o de que não basta saber interpretar a história, o importante é, com base nas sínteses que resultam do estudo sobre os fenómenos com que nos deparamos, sabermos transformar, ser actores da transformação da história.

Quando se aborda a questão da dívida e se tenta determinar as razões pelas quais ela não deve ser paga pelos trabalhadores e pelos povos, e se conclui que tal se deve ao facto de não terem sido eles os responsáveis por ela, nem os seus beneficiários, temos de ter em conta que a burguesia e o seu sistema capitalista, sendo os detentores dos meios de comunicação social que formatam a chamada opinião pública, vão provocando a confusão propositada.

Tentando, assim, instilar na consciência dos povos conceitos tais como somos gente honesta e pagamos as nossas dívidas, ou um estado de direito não pode entrar em bancarrota, ou vivemos acima das nossas possibilidades, ou ainda não votámos neles, mas como vivemos numa democracia somos colectivamente responsáveis pela dívida, entre outros, escamoteando que a dívida é um mecanismo de que o sistema capitalista se está a utilizar para promover um processo de transformação da mesma em maior acumulação de riqueza e transferência de activos e empresas públicas para as mãos de privados.

Porque é a dívida ilegítima e ilegal?

A primeira das desmistificações que tem de ser feita é a de que esta dívida, quer a da Grécia, quer a Portugal, é ilegítima porque deriva de acordos que não tiveram em conta os interesses dos seus supostos destinatários – os trabalhadores e o povo. É ilegal, não só porque assentou em critérios mais do que duvidosos da avaliação dos riscos, da oportunidade e da exequibilidade dos projectos a que os empréstimos que resultaram em dívida afirmavam destinar-se, mas porque foram aceites clausulados e taxas de juro usurários totalmente inconstitucionais.

Não foi por acaso, aliás, que os partidos traidores e vende-pátrias, quer na Grécia, quer em Portugal, assinaram Memorandos de Entendimento com a tróica germano-imperialista – ou, numa versão oportunista da sua classificação, as instituições europeias!. É que os resgates de muitos biliões de euros, para além de servir para salvar o sacrossanto sistema bancário, que tinha embandeirado em arco no negócio dos chamados activos tóxicos, no mercado do sub-prime e na desregulação do crédito, fazia com que a dívida soberana passasse, assim, a ser regulada pela lei internacional, pelo Tribunal Europeu, mais favorável à especulação e aos juros usurários que se querem cobrar.

Porque é que a dívida é odiosa?

E a dívida passou a ser odiosa porque, para além de estar a ser cobrada, exclusivamente, a quem não a contraiu, nem dela retirou qualquer benefício, os trabalhadores e o povos – português, grego ou outro -, a sua cobrança está a lançá-los na mais profunda fome, miséria, desemprego e precariedade, ao mesmo tempo que está a comprometer qualquer estratégia de crescimento e desenvolvimento económico independente dos respectivos países, lançando-os na mais profunda das recessões e na liquidação do que resta do seus tecidos produtivos.
Porque é a dívida impagável?

Independentemente do resultado do próximo referendo na Grécia ou das eleições legislativas que terão lugar em Portugal no final do corrente ano em Portugal,o directório europeu, completamente dominado pelos interesses do imperialismo germânico, vai mais longe no seu maquiavelismo. Pretendem que a dívida seja impagável:

1.       Primeiro porque, tendo a Grécia e Portugal sofrido um processo muito idêntico de desindustrialização e liquidação da sua agricultura e pescas que a Alemanha impôs a um grande número de países europeus, a esmagadora maioria daquilo de que necessitam os dois países para alimentar os seus povos e produzir alguma economia, é importado. O que leva a uma contínua espiral de endividamento, sem saída possível.

2.       Segundo, porque, aos juros usurários que são praticados, Grécia, Portugal e outros países europeus ver-se-ão obrigados a contrair novos empréstimos, sucessivamente, para fazer face ao pagamento do serviço da dívida e à amortização da mesma, ou seja, será como aquela corrida viciada em que a lebre corre que nem uma desalmada atrás de uma cenoura que está presa a um mecanismo que atinge uma velocidade superior à que ela pode alcançar, nunca podendo portanto chegar a deliciar-se com a sua ingestão.

3.       Em terceiro lugar, a dívida deseja-se impagável porque, em nome do cumprimento do seu pagamento a tróica germano-imperialista obriga os países alvo de resgate à transferência de activos e empresas públicas estratégicas para as mãos de grandes grupos financeiros e bancários, privando o nosso país de construir uma estratégia económica independente e, na lógica da distribuição do trabalho que quer impor, transforma esses países em reservatórios de mão-de-obra barata, não qualificada e intensiva.

A necessidade de um Governo Democrático Patriótico

Neste contexto, em que um variado leque de camadas populares, de classes, que vão desde os operários, aos trabalhadores de serviços, aos assalariados rurais e aos camponeses pobres, à pequena-burguesia em geral e a alguns sectores da media-burguesia que se encontram em risco de falência graças às políticas vende-pátrias que o governo Passos/Portas, tutelado por Cavaco, em Portugal, e os governos liderados pelo PASOK e a NOVA DEMOCRACIA, na Grécia, a mando da tróica germano-imperialista, levaram e tem levado a cabo, se confrontam com medidas terroristas e fascistas que a todos afectam, torna-se cada vez mais premente uma frente de unidade entre todas elas, que promova, quer o derrube dos governos que se dispõem a executar as ordens de Merkel, quer a recusa das medidas de chantagem e terror que o seu directório europeu tenta impor aos povos da Europa.

No fundo, em Portugal, como na Grécia, haverá necessidade de se construir as bases para governos de unidade democrática e patriótica, governos que, para além de nacionalizar a banca e todos os activos e empresas estratégicas, se encarreguem de expulsar a tróica germano-imperialista dos seus territórios, e, tal como outros países já o ousaram fazer, afirmar com total, meridiana e clara firmeza que esta dívida…NÃO PAGAMOS!

Governos que iniciariam, de imediato, e com o apoio de todas as camadas populares que se tivessem aliado para este objectivo, e sob o controlo dos trabalhadores:

        1.        A recuperação do tecido industrial destruído

2.        A recuperação, mecanização e modernização da agricultura e pescas.

3.        Nacionalização da banca e de todas as empresas e activos estratégicos.

4.        Saída do euro e retoma das moedas nacionais

5.        Iniciasse um programa de investimentos criteriosos e produtivos, assente na satisfação das necessidades específicas de cada povo e nas características únicas de cada um dos países.

6.        Na frente diplomática, governos que promovessem, no âmbito do seu relacionamento com outros países, do continente europeu ou qualquer outro, relações com base na igualdade, na reciprocidade e nas vantagens mútuas, abandonando qualquer estrutura militar ou política de agressão e domínio sobre outros povos e nações, esteja ao serviço de qualquer imperialismo que seja.

A consciência de que esta dívida está a servir como instrumento de chantagem e subjugação dos povos e países europeus por parte do imperialismo germânico está a aumentar. A consciência de que uma ampla frente de camadas populares, de classes, está a ser afectada pelas medidas terroristas e fascistas que a salvação por parte da tróica está a impor é cada vez mais perceptível. Falta o passo seguinte.

Promover a unidade com base nos princípios e na acção concreta, isolar as concepções oportunistas que, instilando o medo – dizem eles que em nome de uma visão de esquerda responsável – sobre as consequências do NÃO PAGAMENTO da dívida, propõem soluções de compromisso com o sistema capitalista – nomeadamente a renegociação ou a reestruturação da dívida -, que só servem para o manter à tona de água por um pouco mais tempo, mas sempre agressivo e repressivo.