quarta-feira, 15 de julho de 2015

Syriza capitulou, mas povo grego não se rende!

Os incorrigíveis oportunistas de esquerda, românticos da capitulação e da traição dos interesses do povo, em nome de uma racionalização que passa por identificar questões concretas para apresentar soluções concretas para satisfazer as necessidades das pessoas, estão neste momento a tentar justificar por todos os meios a miserável traição a que Tsipras, o partido SYRIZA e a plataforma governamental que lidera registaram frente a um Eurogrupo que mais não é do que um directório dominado pelos interesses do imperialismo germânico.
O que a tragédia grega em curso demonstra, uma vez mais – e não é caso único na história da humanidade –, é que quando se tenta lutar contra o inimigo no seu território e aceitando as suas regras, o que se obtém é uma derrota frustrante e esmagadora para os interesses dos povos que se afirma estar a pretender defender.

Dormir com o inimigo nunca resulta em gravidez e parto saudáveis para o movimento operário e popular, mas apenas em desmancho. E a situação da Grécia e do povo grego são um paradigma desta constatação.

Uma situação que provocará, necessariamente, ondas de choque e trará consequências que, a não serem rapidamente combatidas pelos verdadeiros democratas e patriotas, serão devastadoras para os povos da Europa que neste momento se empenham na luta contra o pagamento de uma dívida que não contraíram – e que no entanto estão a ser forçados a pagar – e contra uma ditadura fascista e arrogante que prenuncia a guerra.

Nos tempos que correm, em que a revolução ensaia a recuperação das inúmeras traições de que tem sido alvo e das imensas derrotas que sofreu, e começava a ganhar um novo fôlego e a conseguir alterar as relações de força que opõem a classe operária, os camponeses, os trabalhadores e todas as camadas populares, à burguesia, ao seu sistema capitalista e ao imperialismo que é o seu estadio supremo, uma velha doença, mas com novas roupagens, emerge, pela mão de toda a contra-revolução, para paralisar o movimento revolucionário e, uma vez mais, tentar esmagá-lo. Essa doença, esse vírus, é o oportunismo, vista ele as roupagens do revisionismo, do esquerdismo ou da social-democracia.

Candidatos a assumir este papel não faltam à burguesia. Desde os que se prestam a proporcionar alguma credibilidade à oposição às medidas de austeridade que tem vindo a ser aplicadas pela tróica germano-imperialista sobre os trabalhadores e os povos da Europa, sobretudos nos países que considera os elos mais fracos da cadeia capitalista, arvorando a bandeira dos governos ou programas de salvação nacional até aos que, apesar de serem favoráveis à austeridade que permita, à custa de quem trabalha, pagar dívidas soberanas e controlar os deficits orçamentais, clamam que tais medidas terroristas sejam acompanhadas por programas de crescimento e emprego, como se fosse possível vislumbrar crescimento e emprego quando se aplicam medidas terroristas e fascistas que provocam nada mais do que recessão e desemprego.

Enquanto toda a esquerda parlamentar portuguesa – e, a bem da verdade, também alguma da extraparlamentar – cantava hosanas pela eleição de François Hollande para presidente da república em França, já este se preparava para ir prestar vassalagem à chancelerina Merkel, em Berlim, para fazer aquilo que se esperava: medidas de austeridade sim, sobre uma perna, mas sobre a outra, exigimos um plano de crescimento e de emprego. Ora, o que aconteceu é que a montanha pariu um rato, e o homem voltou coxo da cimeira com a sua chefe.

Pois, em Portugal, o imperador de Lisboa, António Costa, um oportunista dos sete costados que esmaga quem se lhe arrogue opor, quer replicar exactamente o mesmo que anunciava Hollande, ao incorporar no Programa Eleitoral do PS como objectivo central do seu governo – assim venha a ser eleito - , o emprego! Aliás, é bem significativa a postura do PS relativamente à crise grega. Hollande e Costa estão de acordo, no essencial, com a aplicação do plano da tróica, apenas divergindo quanto ao tempo e ao modo de aplicação das medidas terroristas e fascistas que a burguesia pretende aplicar, apenas e tão só, sobre a classe operária, os trabalhadores e o povo grego. E, claro está, o mesmo se aplica sobre o que pretendem para o povo português.

Para manter o sacrossanto lucro e a sacrossanta propriedade privada, base do poder da burguesia e do seu sistema capitalista, a burguesia atribui a alguns partidos que se reclamam da esquerda a tarefa de passar a ideia junto de quem trabalha e do povo de que é possível, sem alterar as relações de produção capitalistas e os fundamentos do estado burguês que assegura a sua manutenção, provocar seja que alteração qualitativa for que se considere satisfazer as necessidades de quem trabalha, do povo, e acabar de vez com a sociedade que permite a exploração do homem pelo homem.

Esta é a estratégia da burguesia sempre que prenuncia que grandes rupturas revolucionárias se perfilham no horizonte, como foi o caso de Portugal em 25 de Abril de 1974 e está a ser agora, de novo. Como é o caso da França e está, também, a ser o caso da Grécia. Desde os mais radicais aos mais tolerantes, desde os mais unitários aos mais sectários, o arsenal de oportunistas que se reclamam de esquerda, com que o grande capital e a burguesia contam é enorme. Para nós, marxistas-leninistas é fácil distingui-los e denunciá-los. A pedra de toque não tem sofrido grande variação desde os tempos de Marx e de Lenine. O que os distingue é a posição em relação ao que fazer no que concerne ao poder de estado e às relações de produção capitalistas: destruí-los ou fazer um refrescamento de esquerda da sua natureza, que é a da exploração do homem pelo homem?

O caso mais recente, ocorrido na Grécia, é paradigmático. Negociar no terreno do inimigo, aceitando as suas regras do jogo e clamando por uma renegociação da dívida ou pela sua reestruturação quando é o próprio inimigo a considerar, sem qualquer pudor, que a dívida é impagável, terá sempre como resultado aceitar que os povos sejam subjugados e os países sobre intervenção da tróica germano-imperialista sejam remetidos à condição de seu protectorado. Dívida perpétua gera juros perpétuos, mesmo que tal signifique a morte e a miséria para os povos!

Ainda esta semana a inefável Marisa Matias, eurodeputada pelo Bloco de Esquerda, tentava cândida e oportunisticamente explicar, sobre o acordo grego,  as razões pelas quais não corri a tirar o tapete ao Syriza! Um tratado! Para ela, tal como para toda a sorte de oportunistas que se clamam de esquerda, o problema todo assenta no mau carácter dos interlocutores e não é uma recorrência daquilo que nós, marxistas, classificamos como o motor da história: a Luta de Classes. Uma luta sem contemplações e da qual só um dos contendores sairá vencedor. Ou bem que a burguesia, ou bem que os operários, os camponeses, os trabalhadores, o povo. Essa história de que ambas podem sair ganhadoras nesta contenda é um verdadeiro conto para crianças.

A mesma Marisa Matias, aliás, que decidiu abster-se na votação no Parlamento Europeu que deu a vitória à união bancária que tramou o Syriza! Então, e agora, o que tem a dizer. Que se absteve por não ter a certeza de que tal união iria ser prejudicial aos interesses dos povos da Europa? 

No caso da Grécia, os diferentes programas de intervenção da tróica e os memorandos de entendimento em que assentaram, provocaram exactamente o contrário daquilo que Berlim e o directório europeu que manipula a seu belo prazer, com a ajuda dos seus serventuários, primeiro da Nova Democracia e do PASOK e agora do SYRIZA, anunciaram. Isto é, a dívida não cessa de aumentar, assim como o deficit. O Produto Interno Bruto sofreu uma queda de cerca de 27% (!!!) e as condições de vida do povo são cada vez mais dramáticas, aumentando meteoricamente o desemprego, a fome e a miséria.

Tal como em Portugal, toda a sorte de oportunistas, quer os que apoiam uma política de austeridade pura e dura e de empobrecimento do povo, como é o caso da coligação PSD/CDS, quer os que advogam um abrandamento da austeridade e uma política de emprego que, asseguram, promoverá o aumento do consumo interno, como é o caso do PS e de António Costa, quer ainda os que advogam – tal como o SYRIZA na Grécia – a reestruturação ou renegociação da dívida, tentam por todos os meios escamotear quem é que vai pagar uma dívida impagável e que impacto vai ter na qualidade de vida e dignidade do povo o pagamento de juros brutais – que este ano será de 7 mil milhões de euros, em 2016 de mais de 9 mil milhões para, em 2020, se situar no patamar de mais de 20 mil milhões de euros –, em sectores como a saúde, a educação, os transportes, a segurança social, etc, dos quais são desviados cada vez maiores recursos financeiros precisamente para fazer face a esses pagamentos.

O que a situação na Grécia nos ensina é que, não sendo ainda o socialismo, a nacionalização da banca e dos principais activos estratégicos permitiria a um Governo de Unidade Democrática e Patriótica implementar um plano económico que teria de passar, necessariamente, pela saída do euro, pela introdução do novo escudo e por investimentos criteriosos que assegurem, por um lado, a recuperação do tecido produtivo e, por outro, o aproveitamento adequado das vantagens de partida de Portugal e da sua posição geoestratégica única de porta de entrada e de saída do essencial das mercadorias de e para a Europa. Uma economia claramente ao serviço do povo e de quem trabalha, uma economia claramente garante da independência e soberania do país.

Razão terão sempre aqueles que face a uma dívida ilegítima, ilegal e odiosa, se recusam a pagar, renegociar ou reestruturar uma dívida que não contraíram, nem foi contraída para seu benefício e que não aceitam a chantagem que sobre eles está a ser exercida, consubstanciada na política de ou aceitam pagar ou saem do euro! Bem pelo contrário, há que organizar e mobilizar o povo e quem trabalha para a luta pela saída de Portugal do euro e a retoma de um novo escudo, pois está demonstrado que da sujeição de uma economia frágil a uma moeda forte como o euro – que não passa do marco travestido – só resultará mais dívida, mais défice, mais dependência, mais fome e miséria para os trabalhadores e para o povo português.

A capitulação e traição ocorrida na Grécia foi uma vitória temporária da contra-revolução e do imperialismo germânico que a lidera. Mas, tal com Lenine o afirmava, a burguesia, de vitória em vitória, caminha inexoravelmente para a sua derrota final e para o papel que a história lhe reserva, o do caixote do lixo, enquanto os operários, os camponeses, os trabalhadores, os povos em geral, quanto mais depressa aprenderem com as derrotas e delas se recompuserem – muitas delas infligidas por virtude de terem aceite a direcção de correntes oportunistas que se reclamam, mas não são, de esquerda – caminham, inexoravelmente, para a vitória final!

O que é certo é que as contradições antagónicas que se começam a revelar no seio das diferentes burguesias europeias, e que o caso grego despoletou, são prenunciadoras, por um lado, dos ventos de guerra que o projecto de unidade europeia ou do espaço vital sempre provocou e, por outro, de que, tal como no passado, os povos terão de se organizar para ousar transformar as guerras imperialistas em revoluções libertadoras.














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