Numa das mais antigas colectividades operárias de Lisboa, a Sociedade Musical 3 D’Agosto de 1885, em
Marvila, decorreu no passado dia 9 de Julho do corrente ano uma Sessão Pública
organizada pelo PCTP/MRPP, dedicada ao emergente tema A Dívida, o euro e a perda da independência
nacional – qual a alternativa?
A edição e revisão do registo audio desta intervenção são da
inteira responsabilidade do autor deste blogue.
Um aspecto que é
importante abordar é que a União Europeia não é esse carneiro disfarçado que
anda por aí a passear.
É que Lenine também
escreveu num artigo posterior àqueles dois que foram aqui citados, que os
Estados Unidos da Europa são a guerra. E o elemento de guerra que está já em
progresso não é aqui citado por ninguém e parece que nós vivemos no melhor dos
mundos.
Não se esqueçam que
todo o assalto ao Norte de África foi feito pela União Europeia e pelo
imperialismo americano. Portanto, o que Romel não conseguiu no Norte de África
a senhora chancelerina Merkel já conseguiu, parcialmente.
A guerra já começou
também na Ucrânia e ninguém sabe onde é que vai parar. Mas a guerra, para poder estender-se para fora da União Europeia, teve que começar por ela própria,
primeiro do que o euro, que foi a guerra nos Balcãs. Uma necessidade de a
Alemanha chegar ao Mediterrâneo.
Portanto, tudo isto é
guerra! Desde que se deixou de ter a Comunidade Económica Europeia (CEE) e se
passou a ter a União Europeia não tivemos um momento sem guerra na Europa! E
parece que as pessoas não se preocupam com isto! Excepto quando ela chegar cá!
Ou chegar à Grécia como vai acontecer provavelmente dentro de breve tempo.
Portanto, a história
da guerra, nós temos de estar preparados para ela, isto é, para lutar contra
ela e não fazer a guerra do imperialismo alemão. A Alemanha, e a União Europeia
actual não é outra coisa senão o império alemão, já em três guerras que fez em
150 anos, ia destruindo a Europa toda: 1870, 1914/18, 1939/45 e agora. Esta
ainda está a começar.
E parece que ninguém
quer ver o óbvio! Toda a gente fala em euro, o euro é uma “boa moeda”, traz-se
no bolso, tilinta, mas ninguém se preocupa com mais nada. Só quando estivermos
todos envolvidos numa guerra até ao pescoço, então é que se vai ver quais foram
os erros que se cometeram, e vai-se ver nessa altura onde é que se colocarão os
que venderam o país até agora.
Mas o euro também tem
uma história de luta de classes. O euro não é apenas uma questão monetária, é
uma questão política e é o preço que nós recebemos por ter vendido a nossa
classe operária! Nós vendemos os operários e deixámos de ter a força da revolução
e eles mandaram para cá o euro para fazer o que quiserem e que os senhores já
estão a ver o que já estão a fazer na Grécia.
Portanto, o problema
aqui é que este euro tem uma dupla faceta. Uma das facetas é a que serve para
acumular o capital fixo, isto é, serve para investir. E outra das facetas é que
serve para roubar. Estas duas facetas nunca são vistas por ninguém, ou é só
vista uma delas ou então nem sequer se fala em nenhuma delas.
Também queria chamar a
atenção do exemplo da Grécia porque, como dizia um poeta latino, quando se fala
da Grécia é de nós que estamos a falar. Para citar essa imagem poética,
adaptada a outras circunstâncias, mas parafraseando o poeta, quando se fala da
Grécia é de nós que estamos a falar.
Ora os senhores já
viram o que aconteceu na Grécia neste momento. Vocês sabem como é que vive um
grego hoje? Um grego hoje não tem dinheiro para comer, não tem dinheiro para
tratar-se, não tem dinheiro para deslocar-se. A Grécia está neste momento num
estado de pavorosa desregulamentação.
E é com essa base que
eles vão tentar fazer vergar o Syriza, esse “partidomeco” que tanta gente gosta
dele, sem ver as consequências da política desse partido. Mas, evidentemente, é
assim que vive a Grécia. A Grécia está de joelhos. A Grécia foi arrombada pela
União Europeia. Foi roubada e arrombada!
E os partidos que tem
não estão à altura dos acontecimentos porque não se pode ganhar umas eleições
sem prometer sair do euro. Os países pobres da União Europeia, que correspondem
à orla do Mediterrâneo, estão contra o resto do império alemão. Estiveram toda
a vida em que houve império alemão, em 200 anos! E vão continuar a estar agora.
Não há outra forma de
dar conta disto. É preciso ler o Brodel, é preciso ler o que as pessoas que
conhecem o que é história escrevem, para perceber o que é que se está a passar.
Se não, ninguém sabe o que é que se está a passar!
Ora muito bem, se a
Grécia pensava, há uma semana, que era melhor não sair do euro, eu gostaria de
ver, se fosse feito na próxima 2ª feira(13 de Julho) o referendo, o que é que a
Grécia ía dizer da saída do euro. Porque agora é que a Grécia está a perceber
porque é que o euro é uma mordaça. Agora é que está a perceber!
Os senhores lembrem-se
de uma coisa, nunca se esqueçam disto. Quando foi criado o Banco Central
Europeu, ele era a união de todos os bancos europeus. E por isso, os bancos
europeus deixaram de emitir moeda, mas o Banco Central emitiria a moeda
necessária para os bancos europeus poderem trabalhar. E neste momento o que
eles fazem é que eles não dão dinheiro, como nos termos do acordo que assinaram
deviam dar, para a Grécia fazer o seu curso normal do comércio interno.
Portanto, eles
liquidaram a Grécia. Eles querem que a Grécia seja um exemplo para todos nós.
Eles querem que o povo português trema só de ouvir falar na Grécia. Se ajoelhe,
só de ouvir falar na Grécia. E que em vez de criar um partido a sério, queira
criar um Syriza. Isto é, uma cambada de bandalhos, que são à esquerda dos
outros que deram cabo da Grécia, mas que não estão à altura dos acontecimentos.
É preciso romper com a
Alemanha, é preciso romper com a Europa, é preciso romper com a União Europeia,
é preciso romper com o euro e só um partido nestas condições é que pode ser, é
que pode chegar algum dia a ter a estima do seu povo. E isto é uma coisa que
não foi aqui bem clarificada.
Eu quis chamar
problemas ao debate, não para criar medo, porque nós precisamos de não ter
medo. O que eles estão é a querer meter-nos medo. Dizem, não façam nada porque
senão vão acabar como o Syriza. Os senhores não façam nada porque senão vão
acabar a levantar 60 euros por dia, se tiverem 60 euros para levantar. É isto
que está aqui em causa. E é contra isto que a gente tem que lutar.
Nós temos uma costela
dessa resistência na nossa história. Nós também não cedemos. Mas temos uma
outra dificuldade. É que cedimos(nota do blogue – cedemos) muito antes de
levantar o cabelo. Temos também uma outra característica, a característica de
que vamos aceitando as coisas e só quando já não é possível aguentar mais é que
alguém levanta o cabelo. E nunca é as forças armadas, é sempre o povo. Sempre o
povo.
Nós precisamos sair do
euro. Isso é uma questão de liberdade do nosso país. Da autonomia e
independência do nosso país. Se nós não sairmos do euro, vamos passar a vida a
engraxar e a lamber as botas ao imperialismo alemão. Não há alternativa aqui.
Não me interessa saber o que diz o PCP, não me interessa saber o que dizem os
outros partidos, interessa-me saber que esses partidos estão, de uma forma
geral, do lado do imperialismo alemão. Duma forma geral, alguns mais, outros
menos.
Mas não é o caso do
PS. Nem quer discutir. Eu assisti noutro dia a um debate na SEDES em que o PS e
o PSD pretendiam proibir que se falasse sobre a dívida nesse debate. Não falem
nisso, porque cada vez que se fala da dívida...aumentam os impostos, aumentam
os juros! Aumenta tudo desde que a gente fale da dívida!
Ora bem, nós temos de
falar na dívida. E temos de falar na dívida para dizer que não a pagamos, para
dizer que queremos sair do euro, para dizer que queremos uma nova moeda e para
dizer que há outro caminho. Ora, é preciso ver que eu também sou contra aqueles
que acham que é preciso pedir ajuda à Alemanha para se sair do euro. Eu acho
que se deve sair ao coice. Não é pedir ajuda, é sair ao coice.
Isto é, sair em
ruptura. Essa ruptura, a classe operária portuguesa é fraca para fazê-la, mas
os patriotas são suficientes para fazê-la. E essa ruptura permite-nos criar,
com as condições que nós temos, permite-nos criar um país novo e um país com
capacidade de aliar-se a uma quantidade de países no mundo.
Os senhores não se
esqueçam duma coisa. Os senhores sabem quais são os grandes países asiáticos?
São, a maior parte, países mais pequenos do que Portugal. Os grandes países, os
tigres asiáticos, do desenvolvimento económico capitalista, são – tirando o
caso da China e tirando o caso do Japão (que aliás está de rastos) -, são
países ainda mais pequenos do que nós. E conseguiram fazer o seu
desenvolvimento económico. Numa primeira fase, de acumulação, que também se
pagou caro, também os operários tiveram de o pagar caro, mas conseguiram.
E nós também temos ligações. Temos ligações aos países de expressão portuguesa, que têm também ligações connosco, e vamos passar a ter ligações num pé de igualdade. Vai precisar mais o Brasil de nós do que nós do Brasil. Vai precisar mais a África de nós do que nós da África. E não faltam muitos séculos para ver isso. Talvez 50 anos! Já não estamos cá a maior parte para ver isso, mas alguns ainda vão estar e vão-se lembrar desta sessão.
Registo audio desta importante intervenção:
https://www.youtube.com/watch?v=HFGKBiFrgRA
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