terça-feira, 28 de julho de 2015

Euro e dívida são indispensáveis à estratégia de dominação germânica sobre a Europa!

Quando pela primeira vez em 2012 utilizei a expressão  Não é a Alemanha que é indispensável à sobrevivência do euro... é o euro que é indispensável à estratégia de dominação do imperialismo germânico sobre a Europa, logo um coro de oportunistas, adeptos da teoria da reestruturação ou da renegociação da dívida soberana se indignaram com tamanha audácia!

Na cabecinha de ervilha destas iluminarias, a ideia de que as chamadas dívidas soberanas resultam de uma política que impôs a transferência das dívidas privadas do sistema bancário, decorrentes das aventuras que a especulação imobiliária e financeira e o chamado mercado do sub-prime originaram, para o domínio público, aparentemente não fez caminho.

Fingem não entender que, ao exigir a renegociação ou a reestruturação da dívida, aceitam negociar no campo daqueles que dizem combater, isto é, o directório europeu – completamente sequestrado pelo imperialismo germânico -, ao mesmo tempo que aceitam a provocatória premissa daqueles que, como o chefe da quadrilha Espírito Santo, Ricardo Salgado, defendiam que o povo português andou a viver acima das suas possibilidades!

Ora bem, o que esta gente de facto está a fazer, objectivamente, e independentemente das intenções que anunciam, é ajudar os serventuários do grande capital financeiro, bancário e industrial, sobretudo os grandes grupos germânicos, a branquear as massivas transferências que realizam, quer do rendimento do trabalho para o capital, quer dos juros que arrecadam à custa do negócio da dívida.

Como sempre o afirmámos, a Alemanha fez do euro uma ferramenta de dominação económica. E é por isso que a crise na Europa serve às mil maravilhas essa sua estratégia. Na razão inversa aos danos que provocam as medidas de austeridade que impõe, sobretudo aos países do sul da Europa, que constituem o elo mais fraco do sistema capitalista no continente, são colossais os ganhos que tem obtido à custa dela e das dívidas soberanas.

Basta ter em conta as taxas de juro divergentes entre os membros da chamada zona euro, sobretudo após os primeiros anos da entrada em vigor da moeda única. A análise dos números não deixa qualquer margem para dúvidas: se as taxas de juro pagas pela Alemanha se tivessem mantido estáveis depois de 2008, Berlim teria pago qualquer coisa como 93 mil milhões de euros de juros em 2015! Mas, como tal não aconteceu, este ano terá de desembolsar 48 mil milhões, ou seja, duas vezes menos do que o que estava previsto!

Basta fazer contas! A Alemanha, ao impôr elevadíssimas taxas de juro a países como a Grécia, Portugal, Irlanda, Espanha ou Itália, assegura para si taxas que já chegaram a ser negativas, o que lhe proporcionou uma economia (diria roubo) de 193 mil milhões de euros, enquanto aos países sob resgate ou memorandos de intervenção de uma tróica por si dominada, é um exaurir de recursos, um genocídio fiscal e a perda de soberania que os espera, e a fome, a miséria e o desemprego para os respectivos povos.

Face à chantagem e humilhação a que sujeitaram o povo grego e à subsequente traição do Syriza na Grécia, bem como ao colapso das teorias oportunistas e aberrantes da reestruturação e/ou renegociação das dívidas soberanas, começam a ganhar corpo novas teses que assentam, genericamente, na condicionante de se a Alemanha saísse da zona euro, em vez de tentar expulsar outros países, quem mais beneficiaria com a saída dessa moeda única seriam, precisamente, aqueles que a potência germânica ameaça de expulsar.

Esperar que a Alemanha abandone unilateralmente a zona euro é a mesma coisa que acreditar que o leão que acabou de filar uma gazela e se prepara para a transformar no seu lauto repasto, se compadeça com a sorte da sua presa, apenas porque ela estrebuchou um pouco mais do que é habitual uma presa fazer, e a deixe partir para voltar a ser livre.

Segundo estes iluminados, a Alemanha deveria reintroduzir o seu amado marco (em nossa opinião nunca abandonado, pois o euro não passa do marco travestido), pois os problemas da dívida e da competitividade que países como Portugal, a Grécia, Espanha, Itália ou, apesar das diferenças, a Irlanda, actualmente enfrentam, voltariam a ser facilmente resolvidos, através de uma periódica desvalorização das moedas nacionais, especialmente quando comparamos comportamentos quando aqueles países detinham moeda própria e se confrontavam com o marco alemão em condições idênticas às actuais.

Mas, aparte a suspeita candura com que estas teses são produzidas e defendidas, nem a Alemanha abandonará a presa, por mais que ela estrebuche, nem com governos de traição que têm demonstrado ser bons alunos e fiéis serventuários da chancelerina Merkel e da sua estratégia para dominar a Europa será expectável uma alteração das condições políticas e económicas que estão a levar ao agravamento da miséria, fome e desemprego para os povos dos chamados países periféricos, ao mesmo tempo que se enchem os cofres dos grandes grupos bancários e financeiros da potência germânica.

Esta gente é a mesma que vem defendendo que os povos e os governos que se pautam pelo estado de direito, são honrados e pagam as suas dívidas! Escamoteando que as dívidas cujo pagamento estão a impor aos povos, não foram contraídas por eles, nem eles retiraram qualquer benefício delas. Quem retirou delas esses benefícios foram os grandes grupos bancários e financeiros que, em vez de capitalizarem os bancos que geriam, levaram a cabo uma autêntica política de casino, ao mesmo tempo que distribuíam de forma generosa, pelos seus accionistas, os fabulosos lucros que iam obtendo à custa de um sistema que permite que a banca seja a única a poder recorrer ao crédito do Banco Central Europeu (BCE), a taxas de juro de 1% ,e até inferiores, para depois vender esses créditos a taxas de 5%, e mais elevadas, aos estados...para que estes possam pagar as dívidas criadas pelo sistema bancário que lhes empresta, agora, dinheiro!

A recente situação da Grécia, um país e um povo humilhados e roubados por esta estratégia imperial germânica e pelo seu instrumento de dominação de eleição, o euro, demonstram à exaustão que face à estratégia da Alemanha e seus objectivos, de que as dívidas soberanas são para pagar, custe o que custar, isto é, à custa de uma catadupa de medidas terroristas e fascistas,  não constitui qualquer alternativa para a defesa dos interesses dos povos sujeitos a estas políticas, o que o directório socialista europeu, no qual se integram François Hollande e António Costa propõe, isto é, que as dívidas soberanas devem ser pagas mas...suavemente! Prolongue-se, no tempo e no modo, o pagamento de uma dívida ilegal, ilegítima e odiosa, mas assegure-se que ela é paga e que renda faraónicas mais-valias aos grandes grupos financeiros e bancários – sobretudo alemães e franceses.

É por isso que a nova fuhrer, a chancelerina Merkel, anda tão tranquila, confiada e confiante. Com inimigos deste jaez, quem precisa de amigos! Com uma oposição desta natureza o que poderá a dama imperial temer?! Só a organização, luta e firmeza dos povos!

O que os números agora divulgados demonstram é que não há alternativa, quer para Portugal, quer para outros países sujeitos a resgate pela tróica germano-imperialista, do que promover uma ampla unidade democrática e patriótica para correr com a tróica e seus agentes locais, sair do euro e da União Europeia, recuperar as moedas nacionais e implementar planos de restauro do tecido produtivo destruído, precisamente para satisfazer os interesses imperiais da Alemanha.






3 comentários:

  1. O combate de Tsipras e do povo grego revelou como nunca a verdadeira natureza da "Europa" e o rosto da sua "nomenclatura austeritaria".
    A Grécia é o primeiro laboratório duma resistência concreta popular e política à dominação dos mercados.. As derrotas são duras, mas devem alimentar e iluminar o caminho de vitórias futuras.

    O euro não é somente uma moeda, é um projecto de civilização , uma realidade material que age sobre as sociedades europeias. Mas se for preciso abandonar o euro devemos imaginá-lo no quadro duma reflexão mais larga sobre a Europa.





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    1. Caro Joaquim de Freitas

      Em primeiro lugar deixe-me agradecer-lhe o facto de se ter disposto a ler e a comentar o artigo cuja leitura propus.

      A frase que domina o 1º parágrafo do mesmo foi retirado de um artigo que escrevi em 2012 e cuja leitura sugiro:

      http://queosilenciodosjustosnaomateinocentes.blogspot.pt/2012/05/o-euro-e-estrategia-de-dominio-do.html

      Uma vez mais grato pela sua atenção e predisposição para o debate e reflexão, aceite os meus

      Cumprimentos

      Luis Júdice

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