Após meses de chantagem, pressão e humilhação sobre o país e
o povo português, a decisão da Comissão Europeia em cancelar qualquer sanção a Portugal por deficit excessivo, teve o
condão de unir todos os portugueses
honrados – os que se arrogam integrar a maioria de esquerda parlamentar e a direita e a extrema direita – numa manifestação
de agradecimento à posição enfim tomada pelo directório colonial estacionado em
Bruxelas.
No frenesim da intriga que se gerou, até uma obscura e sinistra figura como um tal Moedas que, se hoje é comissário europeu, deve-o aos serviços que, enquanto membro do governo de traição nacional Coelho/Portas, prestou à tróica germano-imperialista, vem tentar retirar créditos da influência decisiva que terá tido sobre os restantes comissários, para que fosse esta a decisão a tomar. Caso para dizer que já o pinto se quer dar ares de falcão!
Até o BE, que não perde uma oportunidade de se colocar em
bicos dos pés para garantir que fica na fotografia e que tem uma influência determinante na tomada de
decisões do governo de direita de
António Costa – no que concorre com Jerónimo de Sousa e o PCP – veio congratular-se
com a decisão e, ao mais puro estilo do rufia poltrão que afirma agarrem-me senão vou-me a ele, veio
reafirmar que, caso houvesse lugar a sanções, o bloco das causas fracturantes avançaria para a exigência de um referendo sobre a permanência de Portugal na União
Europeia.
Estas muletas oportunistas, comportando-se de forma
miserável e traindo os reais interesses da classe operária e do povo português,
usam o referendo como moeda de troca e não como uma legítima exigência do povo
português , que deveria ter sido consultado antes de Portugal entrar na CEE,
subscrever os vários tratados que lhe roubaram a soberania e o amarraram ao
euro, e não confrontados com um facto consumado pela política do bloco central de PS e PSD, na maior
parte das ocasiões com o beneplácito e expresso apoio do CDS.
Não! Nada disso! Com o que esta ampla frente de portugueses honrados – que envolve PS,
PSD, PCP, BE , os Verdes, PAN e CDS e, até, o presidente comentador Marcelo – se vem congratular é com a inteligência da atitude responsável revelada pelos comissários
europeus e pela Comissão Europeia ao se decidirem pelo cancelamento das sanções por deficit excessivo a que Portugal,
alegadamente, não teria sabido fazer frente. Ou seja, para o que toda esta
cambada de traidores aos interesses nacionais e à soberania de Portugal está a
convocar a classe operária e o povo português é para um muito obrigado aos carrascos coloniais que lhes ditam as ordens.
Obrigadinho?!!! Então, depois de terem imposto a destruição
do nosso tecido produtivo, de terem obrigado o país a abandonar a agricultura e
as pescas, encerrado minas e vendido ao desbarato os principais activos
nacionais, ao preço da uva mijona, acompanhado de um dramático corolário de despedimentos,
depois de terem obrigado o povo português a pagar uma dívida que não contraiu e
da qual não obteve qualquer benefício, ainda devemos agradecer?!!!
Então, depois de terem roubado de forma sistemática os
salários e o trabalho, aumentado a jornada de trabalho e os dias de trabalho e
diminuído os salários, depois de terem aceite a chantagem e as imposições da
tróica germano-imperialista traduzidas em cortes exponenciais na saúde, na educação, na
investigação, na cultura, nos apoios sociais mais diversos, ainda temos de
agradecer a toda esta corja?!!!
Bem estão os trabalhadores da saúde – aos quais se juntaram
hoje os enfermeiros – quando não vão atrás de histórias da carochinha e avançam para uma greve destinada a repor a semana das 35
horas de trabalho, a romper com a ameaça de congelamento de salários e a
inverter o ciclo da precariedade no sector. Se a direcção da luta fosse mais
consequente, teria percebido a importância estratégica de promover a unidade da
classe operária e todos os sectores do trabalho em torno desta exigência da
semana das 35 horas, quer para o sector público, quer para o sector privado.
Este é o único tipo de agradecimento
que a burguesia imperialista e a Comissão Europeia que os seus interesses
representam poderá esperar dos trabalhadores.
A tentativa da maioria de esquerda – que nem é de
esquerda, nem é maioria – de amarrar o povo português a um síndrome de Estocolmo, em que a vítima
desculpabiliza os actos praticados pelos algozes,
até pode parecer estar a obter algum sucesso. Mas, tal como todas as acções que
se opõem ao porvir revolucionário da classe operária, que é o de lutar por uma
sociedade livre da exploração capitalista, esta tentativa pífia e oportunista
está, também ela, destinada ao caixote do lixo da história.