quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

As cambalhotas de Cristas e Robles!

Não sei se poderão ser classificadas de ingenuidade política as afirmações feitas por Ricardo Robles– o vereador que o BE fez eleger em Lisboa, nas recentes eleições autárquicas - em recente entrevista que deu à RTP 1, a propósito das acusações de cambalhota política que Assunção Cristas fez ao seu partido movimento.

Segundo aquela dirigente da extrema direita, o BE estaria a comportar-se como uma autêntica tábua de salvação do PS e do presidente da Câmara Municipal de Lisboa, agora que Fernando Medina foi confrontado com a decisão do Tribunal Constitucional de considerar inconstitucional a taxa de protecção cívil que havia lançado há mais de uma ano.

Ao propor o aumento para 2 euros – o dobro da actual – da taxa turística, segundo Cristas, o BE estaria a compensar a perda de receita da inconstitucional taxa de protecção cívil.



Reagindo a esta acusação, Ricardo Robles, com um ar absolutamente seráfico, de menino do coro, revelou que a proposta de taxa turística que o CDS agora apresentou seria, ipsis verbis (palavras suas), a mesma que o seu partido/movimento havia apresentado um mês antes, tendo o CDS decidido abster-se quando a mesma foi apresentada pelo seu partido.


A verdadeira cambalhota política, neste caso, é persistir na classificação de partido de extrema esquerda para o BE quando é cada vez mais evidente o pendor reaccionário e a praxis social-democrata deste partido!  


Em política, o que parece...é! Neste, como em outros casos, quando são os próprios protagonistas a admitir não haver qualquer diferenciação de políticas entre ambos, não há como contrariar as evidências! Ficamos todos a perceber que CDS e BE, para casos concretos e soluções concretas – que envolvam, claro está, o ataque aos interesses do povo – estão empenhados numa santa e democrática aliança.

domingo, 3 de dezembro de 2017

Indústria da Caridade, a verdade da mentira!

...Ou a única indústria que progride em Portugal!

Contrariando de forma insofismável o anúncio da chegada à terra do leite e do mel anunciada ao povo português, todos os dias, com pompa e circunstância, pelo governo de António Costa e do PS, fomos confrontados, este primeiro fim se semana de Novembro, com mais uma Campanha do Banco Alimentar Contra a Fome.

Números que reflectem a miséria e pobreza crescentes a que o povo português está a ser sujeito, fruto da persistência numa política de submissão ao euro e à dívida que este, como o anterior governo de coligação entre a direita e a extrema direita, impuseram!


Segundo a organização de mais este evento promovido pelo Banco Alimentar, estiveram envolvidos mais de 40 mil voluntários que desde a passada 6ª feira, dia 1 de Dezembro, até ao final  deste domingo recolheram, em mais de 2 mil estabelecimentos comerciais – hiper e supermercados -, mais de 2.220 toneladas de alimentos , que serão entregues, como donativos, a 2.645 instituições que promovem a assistência a 426 mil pessoas!

Tendo em conta que a organização considera que os valores recolhidos até à data, nas diferentes iniciativas que levou a cabo durante o corrente ano, são idênticos aos registados em 2016, tudo indica que no ano de 2017 o Banco Alimentar distribuirá cerca de 30 toneladas de alimentos, num valor superior a 37 milhões de euros!

A falta de vergonha do PS e de António Costa já não nos surpreende. Um semeador profissional de promessas nunca cumpridas, só anunciadas com o fito de recolher o máximo número de votos que lhe permita um cheque em branco para as suas políticas reaccionárias e vende pátrias. E, surpreendidos, só ficarão os incautos que acreditam que PCP, BE e Verdes, constituídos em muletas deste governo, conseguirão amenizar os efeitos dessa política.

Os números impressionantes e dramáticos desta Campanha, revelam que a pobreza e os pobres têm aumentado em Portugal, contrariando a euforia da esquerda parlamentar de que a maioria terá proporcionado a retoma de rendimentos para o povo, escamoteando que, aquilo que António Costa tem dado com uma mão, retira, em dobro, com a outra, sob a forma de impostos e taxas – directos e indirectos -, verbas orçamentais cativadas que mascaram desenvergonhadamente que as sucessivas Leis Orçamentais são aprovadas por esta maioria de esquerda com a noção de que, pelo caminho, nunca serão cumpridas!

Euforia que, nem o facto de o Ronaldo das Finanças europeu - o sempre a rir ministro Mário Centeno - estar prestes a ser indigitado como presidente do Eurogrupo - essa quadrilha que visa impor aos outros países a política que mais convém ao imperialismo germânico e a todos os que orbitam em torno do negócio da dívida -, conseguirá contrariar o facto de a pobreza e o número de pobres se estar a agravar no nosso país, apesar das loas que cantam em torno de um salário mínimo que, nem para exercer a função de repositor de energia e assegurar da reprodução de força laboral serve!

 
Estes números revelam, também, que afinal o milagre económico anunciado pelo governo é uma miragem que falseia a realidade de uma quebra nas exportações, de uma cada vez maior dependência do exterior, num aprofundar da precariedade, num aumento dramático dos despejos – sobretudo nos grandes centros urbanos de Lisboa e do Porto -, no exponenciar de calamidades naturais, onde centenas de elementos do povo encontram a morte, a destruição e o aprofundar das suas condições miseráveis de vida, por virtude do desinvestimento em políticas de segurança e prevenção, para se acorrer à fogueira da dívida e do déficite!

A caridadezinha burguesa em que assentam iniciativas deste tipo, mas não só, para além de outros objectivos, visa sobretudo adormecer e inebriar a consciência dos trabalhadores e do povo quanto às verdadeiras causas das condições de fome e de miséria para que foram atirados por um sistema que assenta na exploração do homem pelo homem e no sacrossanto lucro.

Num momento em que, fruto das consequências decorrentes das crises económicas e financeiras do capitalismo, em que a planificação económica não se baseia nas necessidades do povo, mas tão só nos lucros que os detentores do capital e dos meios de produção poderão obter – nem que para tal tenham de morrer milhões de trabalhadores em todo o mundo –, logo aparece um batalhão de piedosas almas, as Jonets, as santas casas disto e daquilo, as caritas, muito afogueadas, a organizar peditórios para tudo e mais alguma coisa, dizem eles que para aliviar o sofrimento dos pobres da terra.

Se é certo que milhares de voluntários se prestam a dar a sua genuína e generosa solidariedade, participando activamente em todos esses peditórios – desde os bancos alimentares à recolha de vestuário, passando por fundos para tudo e mais alguma coisa -, não menos certo é que  quem se apropria da direcção e destino do resultado dos mesmos tem uma agenda ideológica que assenta no pressuposto de desculpabilizar o sistema que cria as condições de fome e miséria pelas quais o povo está a passar.

Isto, para além de o controlo da esmola ser, por si só, um instrumento de poder e dominação.

E o que dizer, então, da suprema hipocrisia que é o facto de campanhas como as do Banco Alimentar contra a Fome, entre outras, serem ansiosamente aguardadas pelos Pingo Doce e Continentes do nosso descontentamento, que vislumbram nas mesmas uma receita adicional para os seus já abarrotados cofres e para as suas já gordas fortunas?!

Quer as grandes cadeias de supermercados – que, logicamente, se disponibilizam de imediato para aderir a estas campanhas –, quer o estado que defende os seus interesses arrecadam, os primeiros, fabulosos lucros pela venda dos produtos generosamente adquiridos por quem, de facto, quer ser solidário, e os segundos, impostos como e IVA e como o IRC. Contas feitas, neste negócio da caridadezinha, ao destinatário da mesma, se chegarem uns míseros 20 ou 30% do resultado das mesmas já estão com muita sorte, enquanto o estado burguês e os grandes grupos económicos que exploram essas grandes superfícies, abocanham mais de 80%!


Àqueles mais piedosos que, ainda assim, poderão dizer que, então, se não organizarmos este tipo de campanhas é que milhares ou centenas de milhar poderiam morrer à fome, nós respondemos que não é com aspirinas que se curam cancros. O cancro do capitalismo que, ciclicamente, provoca a destruição massiva das forças produtivas e atira para o desemprego, a fome e a miséria, somente em Portugal, mais de 3 milhões de elementos do povo, nunca será ultrapassado com este tipo de paliativo!

A solidariedade operária é bem diversa da caridadezinha burguesa. Assenta na solidariedade militante e activa às lutas que em todo o mundo se organizam e desenrolam precisamente para destruir um sistema que atira para a fome, a miséria e a humilhação quem trabalha ou trabalhou toda uma vida.


A sua cura, em Portugal, passa por uma luta sem tréguas a todos os governos que se dispuserem a ser meros obedientes serventuários dos ditames da tróica germano-imperialista. Passa pela constituição de um governo de unidade democrática e patriótica que nacionalize todas as empresas e sectores de importância estratégica para um novo paradigma de economia, ao serviço do povo e de quem trabalha, um governo que recupere o tecido produtivo que foi destruído à custa de uma política vende-pátrias levada a cabo por sucessivos governos do PS e do PSD, por vezes acolitados pelo CDS.


Um governo que tenha a coragem de expulsar do nosso país a tróica germano-imperialista, que tenha a coragem de colocar o sector bancário sob controlo do estado, um governo que imponha sem hesitações a recusa do pagamento da dívida e dos juros dela decorrentes, um governo que tenha o discernimento e a coragem de preparar o país para a saída do euro e da união europeia.