sábado, 8 de junho de 2013

Lisboa: Histórias do sequestro de uma cidade que é vital resgatar!

Com exclusão do período que vai de Abril de 1974 a 1975, em que João António Lopes da Conceição foi indigitado pela Junta de Salvação Nacional para dirigir a Câmara Municipal de Lisboa e, posteriormente,  Joaquim Caldeira Rodrigues nomeado para Presidente da Comissão Administrativa da CML, até à data de hoje todos os partidos do chamado arco parlamentar, a sós ou coligados, presidiram aos destinos do maior município de Portugal, a sua capital, Lisboa.

Por isso, não admira que, aquando da apresentação da sua candidatura à Presidência da Câmara Municipal de Lisboa, integrada nas listas do PCTP/MRPP, Joana Miranda tenha feito uma referência e uma analogia muito gráfica e olfactiva ao cheiro a merda que da cidade emanava.

De 1977 até à data os partidos- ou seus independentes – que dominaram a política autárquica em Lisboa, foram PSD e PS. O primeiro dos presidentes eleitos foi Aquilino Ribeiro Machado, do PS, que pontificou no executivo camarário no período de 1977 a 1980.

Na dança de lugares entre PS e PSD que se tornou numa constante – nas autarquias como no poder central onde a política do bloco central assentou arraiais - , seguiu-se o inefável Engº Kruz Abecassis que reinou sobre Lisboa durante dois mandatos, de 1980 a 1989, proposto por uma coligação entre PSD e CDS.

Nova mudança de pares, mas com a música do costume, leva Jorge Sampaio, apoiado pelo PS, à presidência da CML. Foi este personagem que elaborou e iniciou a execução do mais desastroso PDM (Plano Director Municipal) de que há memória, plano que ainda hoje provoca ondas de choque muito mais destruidoras do que o terramoto de 1755. Só não cumpriu os dois mandatos na íntegra – esteve à frente da CML de 1989 a 1995 – porque, entretanto, o PS decidiu apresentá-lo como candidato a outra presidência, a da República onde, tal como sucedera na Câmara Municipal, hesitações e oportunismos vários foram a prática da sua presidência.

Parecia que a era rosa estava para lavar e durar. O PS avança com João Soares, que proporciona ao partido dois mandatos consecutivos à frente da CML, de 1995 a 2002.

Tais foram, no entanto, os danos causados por Sampaio e Soares que os munícipes de Lisboa, confrontados com a perspectiva de uma morte por fuzilamento ou uma agonia por afogamento decidiram, mal, optar pela segunda. E elegeram um playboy diletante e oportunista, Pedro Santana Lopes, apoiado por uma coligação PSD/PPM. Presidiu a CML de Janeiro de 2002 a Julho de 2004, interrompendo o seu mandato para assumir o cargo de primeiro-ministro, substituindo o fugitivo Durão Barroso, o tal que foi convidado pelo imperialismo americano e pelas potências regionais europeias – com a Alemanha e a França à cabeça – para dirigir a Comissão Europeia, como prémio à sua ajuda e participação no esforço de guerra imperialista que redundou na invasão do Iraque.

Apoiado pelo PSD, Carmona Rodrigues que até à data tinha sido o lugar-tenente, o número dois da hierarquia camarária, assumiu as funções de presidente, supostamente até ao final do mandato. Mas, com a demissão do governo e a convocação de eleições gerais antecipadas decididas por Jorge Sampaio, Santana Lopes decide voltar à casa onde diz que se sentiu tão feliz, para provocar mais infelicidade aos lisboetas e terminar o mandato de presidente, prosseguindo a sua obra de afundamento da capital, não se importando de, pelo caminho, apunhalar pelas costas o seu amigo e aliado de ontem.

Tanta ou tão pouca água meteu Santana Lopes que, findo o mandato, em Outubro de 2005, o seu próprio partido, o PSD, decide apoiar de novo Carmona Rodrigues, desta feita como cabeça de lista e candidato de raiz à presidência da CML. Pior a emenda do que o soneto, e os lisboetas a pagarem a factura. Carmona Rodrigues, enredado numa teia de intrigas e corrupção, foi obrigado a demitir-se, após a renúncia da maioria dos vereadores, a meio do seu mandato, isto é, em Maio de 2007.

Sob proposta do PSD e nomeado pelo primeiro-ministro da época – José Socrates, pasme-se! -, foi  designada para a presidência interina da Câmara, até ao final daquele mandato, Marina Ferreira.

Como um mal nunca vem só, abre-se o ciclo (e o circo) António Costa! Em nome de um programa que visava pôr em ordem as contas da edilidade – exauridas após a passagem do furacão Santana Lopes, era a justificação -, nunca Lisboa havia sofrido uma tão evidente estagnação, destruição e abandono.

Desde a descaracterização do Jardim do Campo Grande e do Parque Silva Porto, em Benfica, ao arboricídio na Ribeira das Naus e na Pascoal de Melo, ao crime que lesou os magníficos plátanos da Avenida da Liberdade, passando pelo execrável abandono de uma vila operária centenária, como é a Vila Dias, ao Beato, cujos moradores, para além de estarem a ser confrontados com o terror imposto por um especulador imobiliário sem escrúpulos, não têm sequer rede de esgotos ou segurança e conforto nas suas habitações, até à ameaça de despejar a  Companhia Teatral do Chiado do Teatro Mário Viegas, que este havia fundado e ao qual a família, após a sua morte, havia cedido um magnífico espólio cultural,sucedem-se os exemplos dos efeitos desta política de poupança levada a cabo por António Costa.

Isto a par, claro – com a co-responsabilidade dos presidentes anteriores – da aplicação de um PDM (elaborado por Jorge Sampaio, recorde-se) que sequestrou Lisboa, transformando-a num gigantesco parque de estacionamento, onde a palavra arboricídio se transformou em lei, a par de uma tão apetitosa, quão corrupta, teia de interesses que exponenciaram a especulação imobiliária e fizeram crescer que nem cogumelos os pato-bravos na cidade.

Uma cidade onde o automóvel é rei e senhor, comprometendo a segurança,  mobilidade e a comodidade do peão, uma cidade onde impera o critério economicista, o primado das leis do mercado, que levaram à decisão da CML – num processo que já foi alvo de uma providência cautelar por parte dos seus trabalhadores – de extinguir a EPUL, ao mesmo tempo que o programa, anunciado com pompa e circunstância, de reabilitação dos edifícios abandonados e em ruína da cidade foi completamente abandonado e a conquista das margens do rio, para serem fruídas pelos lisboetas e visitantes da cidade, um objectivo definitivamente esquecido.

É por isso que, em véspera de eleições autárquicas, e apesar das muitas operações de cosmética em que António Costa e a sua equipa se desmultiplicam nos últimos tempos, os lisboetas têm de perder as ilusões que há mais de 30 anos obliteram as suas consciências e responder à seguinte questão: querem que se prossigam as políticas que lhes tem sequestrado a cidade ou desejam a mudança?


É que, mudar de paradigma exige que se apoie quem, com convicção – como é o caso do PCTP/MRPP e da sua candidata à presidência da CML, Joana Miranda – pretende resgatar uma cidade, capital do país, que foi há muito sequestrada por interesses anti-populares. Alguém que se mostra empenhada em, com o apoio dos lisboetas, transformar Lisboa naquilo que a nossa querida cidade merece e pode ser: uma bela, avançada e progressiva capital europeia!

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