Com exclusão do período que vai de Abril de 1974 a 1975, em
que João António Lopes da Conceição foi indigitado pela Junta de Salvação
Nacional para dirigir a Câmara Municipal de Lisboa e, posteriormente, Joaquim Caldeira Rodrigues nomeado para
Presidente da Comissão Administrativa da CML, até à data de hoje todos os
partidos do chamado arco parlamentar,
a sós ou coligados, presidiram aos destinos do maior município de Portugal, a
sua capital, Lisboa.
Por isso, não admira que, aquando da apresentação da sua
candidatura à Presidência da Câmara Municipal de Lisboa, integrada nas listas
do PCTP/MRPP, Joana Miranda tenha feito uma referência e uma analogia muito gráfica e olfactiva ao cheiro a merda que da cidade emanava.
De 1977 até à data os partidos- ou seus independentes – que dominaram a política autárquica em Lisboa,
foram PSD e PS. O primeiro dos presidentes eleitos foi Aquilino Ribeiro
Machado, do PS, que pontificou no executivo camarário no período de 1977 a
1980.
Na dança de lugares entre PS e PSD que se tornou numa
constante – nas autarquias como no poder central onde a política do bloco central assentou arraiais - , seguiu-se o inefável Engº Kruz
Abecassis que reinou sobre Lisboa
durante dois mandatos, de 1980 a 1989, proposto por uma coligação entre PSD e
CDS.
Nova mudança de pares, mas com a música do costume, leva
Jorge Sampaio, apoiado pelo PS, à presidência da CML. Foi este personagem que
elaborou e iniciou a execução do mais desastroso PDM (Plano Director Municipal)
de que há memória, plano que ainda hoje provoca ondas de choque muito mais destruidoras do que o terramoto de 1755.
Só não cumpriu os dois mandatos na íntegra – esteve à frente da CML de 1989 a
1995 – porque, entretanto, o PS decidiu apresentá-lo como candidato a outra
presidência, a da República onde, tal como sucedera na Câmara Municipal,
hesitações e oportunismos vários foram a prática da sua presidência.
Parecia que a era rosa
estava para lavar e durar. O PS
avança com João Soares, que proporciona ao partido dois mandatos consecutivos à
frente da CML, de 1995 a 2002.
Tais foram, no entanto, os danos causados por Sampaio e
Soares que os munícipes de Lisboa, confrontados com a perspectiva de uma morte
por fuzilamento ou uma agonia por afogamento decidiram, mal, optar pela
segunda. E elegeram um playboy
diletante e oportunista, Pedro Santana Lopes, apoiado por uma coligação
PSD/PPM. Presidiu a CML de Janeiro de 2002 a Julho de 2004, interrompendo o seu
mandato para assumir o cargo de primeiro-ministro, substituindo o fugitivo Durão Barroso, o tal que foi
convidado pelo imperialismo americano e pelas potências regionais europeias – com a Alemanha e a França à cabeça
– para dirigir a Comissão Europeia,
como prémio à sua ajuda e participação no esforço
de guerra imperialista que redundou na invasão do Iraque.
Apoiado pelo PSD, Carmona Rodrigues que até à data tinha
sido o lugar-tenente, o número dois da hierarquia camarária,
assumiu as funções de presidente, supostamente até ao final do mandato. Mas,
com a demissão do governo e a convocação de eleições gerais antecipadas
decididas por Jorge Sampaio, Santana Lopes decide voltar à casa onde diz que se
sentiu tão feliz, para provocar mais
infelicidade aos lisboetas e terminar o mandato de presidente, prosseguindo a
sua obra de afundamento da capital,
não se importando de, pelo caminho, apunhalar pelas costas o seu amigo e aliado de ontem.
Tanta ou tão pouca água meteu Santana Lopes que, findo o
mandato, em Outubro de 2005, o seu próprio partido, o PSD, decide apoiar de
novo Carmona Rodrigues, desta feita como cabeça de lista e candidato de raiz à
presidência da CML. Pior a emenda do que o soneto, e os lisboetas a pagarem a
factura. Carmona Rodrigues, enredado numa teia de intrigas e corrupção, foi
obrigado a demitir-se, após a renúncia da maioria dos vereadores, a meio do seu
mandato, isto é, em Maio de 2007.
Sob proposta do PSD e nomeado pelo primeiro-ministro da
época – José Socrates, pasme-se! -, foi
designada para a presidência interina da Câmara, até ao final daquele
mandato, Marina Ferreira.
Como um mal nunca vem só, abre-se o ciclo (e o circo) António Costa! Em nome de um programa que visava pôr em ordem as contas da edilidade –
exauridas após a passagem do furacão Santana
Lopes, era a justificação -, nunca
Lisboa havia sofrido uma tão evidente estagnação, destruição e abandono.
Desde a descaracterização do Jardim do Campo Grande e do
Parque Silva Porto, em Benfica, ao arboricídio na Ribeira das Naus e na Pascoal
de Melo, ao crime que lesou os magníficos plátanos da Avenida da Liberdade,
passando pelo execrável abandono de uma vila operária centenária, como é a Vila
Dias, ao Beato, cujos moradores, para além de estarem a ser confrontados com o
terror imposto por um especulador imobiliário sem escrúpulos, não têm sequer
rede de esgotos ou segurança e conforto nas suas habitações, até à ameaça de despejar a Companhia Teatral do Chiado do Teatro Mário
Viegas, que este havia fundado e ao qual a família, após a sua morte, havia
cedido um magnífico espólio cultural,sucedem-se os exemplos dos efeitos desta
política de poupança levada a cabo
por António Costa.
Isto a par, claro – com a co-responsabilidade dos
presidentes anteriores – da aplicação de um PDM (elaborado por Jorge Sampaio,
recorde-se) que sequestrou Lisboa, transformando-a num gigantesco parque de
estacionamento, onde a palavra arboricídio se transformou em lei, a par de uma
tão apetitosa, quão corrupta, teia de interesses que exponenciaram a
especulação imobiliária e fizeram crescer que nem cogumelos os pato-bravos na
cidade.
Uma cidade onde o automóvel é rei e senhor, comprometendo a
segurança, mobilidade e a comodidade do
peão, uma cidade onde impera o critério economicista, o primado das leis do mercado, que levaram à decisão
da CML – num processo que já foi alvo de uma providência cautelar por parte dos
seus trabalhadores – de extinguir a EPUL, ao mesmo tempo que o programa,
anunciado com pompa e circunstância, de reabilitação dos edifícios abandonados
e em ruína da cidade foi completamente abandonado e a conquista das margens do
rio, para serem fruídas pelos lisboetas e visitantes da cidade, um objectivo
definitivamente esquecido.
É por isso que, em véspera de eleições autárquicas, e apesar
das muitas operações de cosmética em
que António Costa e a sua equipa se desmultiplicam nos últimos tempos, os
lisboetas têm de perder as ilusões que há mais de 30 anos obliteram as suas
consciências e responder à seguinte questão: querem que se prossigam as
políticas que lhes tem sequestrado a cidade ou desejam a mudança?
É que, mudar de paradigma exige que se apoie quem, com
convicção – como é o caso do PCTP/MRPP e da sua candidata à presidência da CML,
Joana Miranda – pretende resgatar uma cidade, capital do país, que foi há muito
sequestrada por interesses anti-populares. Alguém que se mostra empenhada em,
com o apoio dos lisboetas, transformar Lisboa naquilo que a nossa querida
cidade merece e pode ser: uma bela, avançada e progressiva capital europeia!
Sem comentários:
Enviar um comentário