quarta-feira, 28 de outubro de 2020

Manifestações sociais espalham-se como fogo em palha na América Latina

 


27 de Outubro deo 2020 Robert Bibeau  

Por Alan Macleod – Fonte Mint Press

Com a atenção voltada para os eventos (ver link - les événements) desta semana na Bolívia, nós vos perdoaremos por não perceberem que uma grande parte da restante região foi, durante semanas, também afectada por ondas de protestos.

Na Costa Rica, o governo de coligação neoliberal de Carlos Alverado tentou forçar o Fundo Monetário Internacional (FMI) a conceder-lhe um empréstimo (ver link - un prêt)  de 1,75 milhar de milhões de dólares para lidar com as consequências económicas da pandemia Covid-19. Como sempre foi seu modus operandi (ver link), a organização empresta dinheiro em troca de reformas liberais, incluindo reformas tributárias, cortes nos serviços públicos e a privatização de activos estatais, que Alverado estava mais do que feliz em conceder.

No entanto, o povo da Costa Rica claramente não consentiu essas medidas, lançando uma greve geral de várias semanas que paralisou o país. Descendo às ruas, eles fecharam dezenas das principais vias de comunicação importantes do país, batendo-se contra muitos dos 30.000 policias do país.

A rebelião saldou-se pela vitória dos manifestantes, com Alverado a anunciar o fim das negociações com o FMI.

Colômbia

Enquanto isso, mais ao sul, na Colômbia, o país agora prepara-se para iniciar o seu segundo dia de greve nacional. O sindicato de professores altamente organizado, FECODE, anunciou uma paralisação de 48 horas de trabalho em oposição aos planos do presidente conservador Ivan Duque de reabrir escolas e outras instituições de ensino com poucas medidas de protecção, apesar da pandemia de Covid-19 assolar todo o país, matando entre 100 a 200 pessoas por dia. Os professores estão a juntar-se aos estudantes, sindicatos e uma série de outras organizações para levar a cabo uma acção colectiva contra o governo Duque.

Uma ampla gama de queixas é exposta. Muitos nativos protestam contra a forma como o governo Duque os trata. Outros protestam contra o balanço terrível do país em matéria de direitos do homem. A Colômbia há muito que é o lugar mais perigoso do mundo para activistas. Quatro outros líderes indígenas foram mortos na segunda e terça-feira, e dois escaparam da morte por pouco. Há rumores de que os seus assassinatos são uma retaliação aos protestos em Bogotá, durante os quais milhares de pessoas se aglomeraram na capital do país para expressar o seu descontentamento.

Chile

Grande parte do Chile estava em chamas na mesma altura do ano passado, com cidadãos a tentar forçar o governo conservador de Sebastian Piñera (o homem mais rico do país) a conceder um voto para mudar uma constituição que remonta à era fascista do país. A faísca inicial dessa acção nacional foi um aumento nas tarifas do metro de Santiago para subsidiar as empresas de transporte privadas, mas rapidamente cresceu e gerou muitas outras acções. “É um escândalo que quase 30 anos após o fim da ditadura, o Chile ainda tenha esta constituição que data da era Pinochet”, declarava Pablo Navarette, fundador e co-editor da revista Alborada, à MintPress no ano passado.

O referendo chileno ocorrerá no domingo, com as sondagens a indicar que a população votará esmagadoramente pela mudança. O país viu semanas de protestos, alguns dos quais se tornaram violentos. No início deste mês, um policia foi apanhado pelas câmaras atirando um manifestante de 16 anos de uma ponte, onde foi deixado de cara na água com ferimentos graves. No último fim de semana, dezenas de milhares de chilenos reuniram-se no centro de Santiago para marcar o primeiro aniversário dos protestos que iniciaram o processo de mudança e para reunir apoio para um "sim" no domingo. Eles foram recebidos com força pela polícia, e a violência daí resultante a forçar o encerramento de pelo menos 15 estações de metro.

Haiti

Enquanto isso, no Haiti, o presidente Jovenal Moise, apoiado pelos EUA, enfrenta novas ondas de protestos quase contínuos desde que ele cancelou as eleições e começou a governar por ordem executiva. No fim de semana, novos protestos ocorreram na capital do país, Port-au-Prince, com manifestantes a bloquear estradas e a pedir a renúncia de Moise. A polícia disparou gás lacrimogéneo e balas de borracha contra a multidão, provocando numerosos feridos.

Mesmo assim, nenhum desses protestos recebeu muita atenção da imprensa ocidental, que prefere concentrar-se em protestos em países inimigos, contra governos adversários. Os protestos de 2019 em Hong Kong, por exemplo, receberam 50 vezes mais cobertura da media no New York Times e na CNN do que o levantamento haitiano, muito mais mortal e duradouro.

Bolívia

Quem sair às ruas esta semana sem dúvida se inspirará nos acontecimentos na Bolívia, onde o governo de Jeanine Añez sofreu uma catastrófica derrota eleitoral no domingo, deixando o poder nas mãos do popular Movimento pelo Socialismo (MAS). Jeanine Añez, que alcançou o poder através de um golpe de estado em Novembro do ano passado, insistiu que era apenas uma "presidente interina". Apesar disso, adiou as eleições três vezes, enquanto suprimia brutalmente a resistência organizada contra o seu regime. No entanto, uma greve geral de uma semana paralisou o país em Agosto, forçando Añez a conceder as eleições para Outubro. Apesar da intimidação constante, o MAS obteve uma vitória retumbante, abrindo caminho para o retorno da democracia à nação andina.

2020 foi um ano extremamente turbulento para o povo da América Latina. Embora a região tenha sofrido muito com a epidemia de coronavírus, os protestos mais uma vez fornecem esperança de que um mundo melhor seja possível. E com o exemplo boliviano as pessoas podem realmente acreditar que está ao seu alcance.

Alan MacLeod

Traduzido por Wayan, revisto por Jj para o Saker Francophone

Fonte: https://les7duquebec.net/archives/259356 



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