Por Marc Rousset.
Christine Lagarde, entrevistada
recentemente pela RTL para saber se tinha medo de um colapso financeiro,
respondeu que a questão não se colocava ainda e que o FMI estava preocupado
apenas com a taxa de crescimento! Lagarde, como os bolsistas e a comunicação
social, não vêem senão aquilo em que acreditam, agora que o investimento diminui nos Estados Unidos e o crescimento dos EUA está
no seu nível mais baixo, num ritmo anual, há três anos. Por outro lado,
segundo o bilionário americano Ray Dalio,
fundador da empresa de investimentos Bridgewater Associates, o papa do mercado
global de títulos, tal como para Warren
Buffett , o papa do mercado de acções global, a situação é "assustadora"!
Nesta quarta-feira, 23 de outubro, em Los Angeles, o Prémio
Nobel Robert Shiller, autor do livro Irrational
Exuberance, que previu a queda do mercado de acções de 2000 e a queda do
mercado imobiliário de 2007, professor de economia em Yale, declarou, por
ocasião do lançamento de seu último
livro Narrative Economics: "Vejo
bolhas por todo o lado, não há soluções para os mercados de acções, para os
mercados de títulos obrigacionistas e para o mercado imobiliário",
no site Investor's Business Daily,
datado de 25 de outubro de 2019.
Shiller é um S. Tomás muito inteligente que não se se sente
embaraçado com os porquês teóricos das bolhas actuais de todos os activos ao
mesmo tempo, mesmo que a única
explicação válida seja a fuga em frente da criação monetária frouxa, bem como
as baixas taxas de juros, as taxas negativas dos bancos centrais, mas
esclarere-nos com um racio financeiro
indiscutível, chamado CAPE (preço
ajustado ciclicamente aos racios de lucro) ou Shiller P / E. Em bom
português, é muito simplesmente o racio representativo do custo / benefício por acção em dez anos. O
lucro retirado não é mais o último lucro contabilizado anualmente, muito
volátil, mas o lucro médio correspondente a uma média móvel calculada a 10 anos
dos lucros reajustados a cada ano, levando em consideração a inflação
monetária.
Primeiro elemento fundamental: o coeficiente médio P/E
Shiller para o século XX, de 1881 até aos nossos dias, é de 15,21 enquanto hoje
hoje é de 29, ou seja, praticamente o dobro! Em 1929, ele tinha 35 anos e o Dow Jones caiu 13% em 28 de outubro. Em
1987, era apenas de 16 e o grande erro
dos bancos centrais foi aumentar as taxas de juros, o que causou a maior queda
da história em 19 de outubro de 1987, com a queda do Dow Jones de 23%. Em 2000, o coeficiente Shiller foi de 45, o que
resultou numa correção de 49% entre 2000 e 2002. Em 2007, o coeficiente Shiller
foi de 25, ou seja,um pouco menor que o actual 29, o que resultou numa correção
de 57% de 2007 a 2009.
Além disso, Shiller está preocupado tanto com títulos
obrigacionistas, cujos antigos preços se esfumam após o colapso das taxas de
juros, como com acções. Ele sublinha que o fundo obrigacionistaagregado SPDR™ Portfolio Aggregate Bond ETF gerou este ano um rendimento de 8,31% , ou
seja, duas vezes mais que a média anual nos últimos 10 anos. Qual será o dia em
que assistiremos, finalmente, à reversão
das taxas?
Shiller é um pouco
menos pessimista em relação à bolha imobiliária porque, se uma bolha
estiver em vias de reconstituir nos Estados Unidos, ao mesmo nível que em 2005,
com fundos imobiliários a progredir por vezes 29% em 2019, ou mais do que o
aumento de 20% das acções da S&P 500, os EUA ainda têem na memória a
sinistra crise dos créditos imobiliários subprime
de 2008 (hipotecas – NT), para travar a sua ganância.
Em resumo, se a queda nas taxas e a negligência monetária continuarem
com Lagarde, que declarou que "ficaríamos
mais contentes em ter um emprego do que em ter uma poupança protegida",
a bolha de activos poderá inflaccionar
de novo até a queda do mercado bolsista e a perda de confiança na moeda. E
se as taxas subirem, o sistema explodirá imediatamente, como em 1987, com uma
quebra ainda mais violenta do mercado bolsista! É por isso que o muito humilde
e realista Shiller, diante das consequências da loucura humana do passado, não
tem uma solução para nos propor.
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