Um dos mais preciosos ensinamentos que
Karl Marx nos deixou foi o de que não basta saber interpretar a história, o
importante é, com base nas sínteses que resultam do estudo sobre os fenómenos
com que nos deparamos, sabermos transformar, ser actores da transformação da
história.
Quando se aborda a questão da dívida e
se tenta determinar as razões pelas quais ela não deve ser paga pelos
trabalhadores e pelo povo e se conclui que tal se deve ao facto de não terem
sido eles os responsáveis por ela, nem os seus beneficiários, temos de ter em
conta que a burguesia e o seu sistema capitalista, sendo os detentores dos
meios de comunicação social que formatam a
chamada opinião pública, vão provocando a confusão propositada.
Tentando, assim, instilar na consciência
do povo conceitos tais como “somos gente honesta e pagamos as nossas dívidas”,
“um estado de direito não pode entrar em bancarrota”, “vivemos acima das nossas
possibilidades”, “não votámos neles, mas como vivemos numa democracia somos colectivamente responsáveis pela dívida”, entre outros, escamoteando que a
dívida é um mecanismo de que o sistema capitalista se está a utilizar para
promover um processo de transformação da mesma em maior acumulação de riqueza e
transferência de activos e empresas públicas para as mãos de privados.
Porque é a dívida ilegítima e ilegal?
A primeira das desmistificações que tem
de ser feita é a de que esta dívida é ilegítima porque deriva de
acordos que não tiveram em conta os interesses dos seus supostos destinatários
– os trabalhadores e o povo -, é ilegal não só porque assentou
em critérios mais do que duvidosos da avaliação dos riscos, da oportunidade e
da exequibilidade dos projectos a que os empréstimos que
resultaram em dívida afirmavam destinar-se, mas porque foram aceites
clausulados e taxas de juro usurários totalmente inconstitucionais.
Não foi por acaso, aliás, que os
partidos traidores e vende-pátrias PS, PSD e CDS, assinaram o Memorando com a
tróica germano-imperialista. É que o resgate de mais de 70 mil
milhões de euros, para além de servir para salvar o sacrossanto sistema
bancário que tinha embandeirado em arco no negócio dos chamados activos
tóxicos, no mercado do sub-prime e na desregulação do crédito, fazia com
que a dívida soberana passasse, assim, a ser regulada pela lei
internacional, pelo Tribunal Europeu, mais favorável à especulação e aos juros
usurários que se querem cobrar.
Porque é que a dívida é odiosa?
E a dívida passou a ser odiosa porque,
para além de estar a ser cobrada, exclusivamente, a quem não a contraiu, nem
dela retirou qualquer benefício, os trabalhadores e o povo português, a sua
cobrança está a lançá-los na mais profunda fome, miséria, desemprego e
precariedade, ao mesmo tempo que está a comprometer qualquer estratégia de
crescimento e desenvolvimento económico independente do nosso país, lançando-o
na mais profunda das recessões e na liquidação do que resta do seu tecido
produtivo.
Porque é a dívida impagável?
Independentemente do resultado das
eleições presidenciais que neste momento ocorrem em França, o directório
europeu, completamente dominado pelos interesses do imperialismo germânico, vai
mais longe no seu maquiavelismo. Pretendem que a dívida seja impagável:
1. Primeiro porque, tendo o nosso país
sofrido o mesmo processo de desindustrialização e liquidação da sua agricultura
e pescas que a Alemanha impôs a um grande número de países europeus, mais de
80% daquilo de que necessitamos para nos alimentarmos e produzir alguma
economia, é importado, o que leva a uma contínua espiral de endividamento, sem
saída possível.
2. Segundo, porque, aos juros usurários que
são praticados, Portugal ver-se-á obrigado a contrair novos empréstimos,
sucessivamente, para fazer face ao pagamento do serviço da dívida e
à amortização da mesma, ou seja, será como aquela corrida viciada em que a
lebre corre que nem uma desalmada atrás de uma cenoura que está presa a um
mecanismo que atinge uma velocidade superior à que ela pode alcançar, nunca
podendo portanto chegar a deliciar-se com a sua ingestão.
3. Em terceiro lugar, a dívida
deseja-se impagável porque, em nome do cumprimento do seu
pagamento a tróica germano-imperialista obriga-nos à transferência de activos e
empresas públicas estratégicas para as mãos de grandes grupos financeiros e
bancários, sobretudo alemães, privando o nosso país de construir uma estratégia
económica independente e, na lógica da distribuição do trabalho que quer impor,
transforma Portugal num país de mão-de-obra barata, não qualificada e
intensiva.
A necessidade de um Governo Democrático
Patriótico
Neste contexto, em que um variado leque
de camadas populares, de classes, que vão desde os operários, aos trabalhadores
de serviços, aos assalariados rurais e aos camponeses pobres, à
pequena-burguesia em geral e a alguns sectores da media-burguesia que se
encontram em risco de falência graças às políticas vende-pátrias que o governo
Passos/Portas, a mando da tróica germano-imperialista, tem levado a cabo, se
confrontam com medidas terroristas e fascistas que a todos afectam, torna-se
cada vez mais premente uma frente de unidade entre todas elas, que promova o
derrube do governo Passos/Portas e obrigue à constituição de um Governo
Democrático Patriótico.
Um governo que, para além de
nacionalizar a banca e todos os activos e empresas estratégicas, se
encarregaria de expulsar a tróica germano-imperialista do nosso território, e,
tal como outros países já o ousaram fazer, diria com total, meridiana e clara
firmeza que esta dívida…NÃO PAGAMOS!
Um governo que iniciaria de imediato,
com o apoio de todas as camadas populares que se tivessem aliado para este
objectivo, e sob o controlo dos trabalhadores:
1. A recuperação do nosso tecido industrial
destruído (siderurgia, indústria naval, metalurgia/metalomecânica, minas,
etc.).
2. A nossa agricultura e pescas. De
assinalar que somente em 3 décadas, devido às políticas sucessivamente seguidas
por PS e PSD, com o CDS pela trela, mais de 700 mil trabalhadores abandonaram
os campos e a produção agrícola baixou para menos de metade e mais de 30 mil
pescadores abandonaram a economia do mar.
3. Nacionalização da banca e de
todas as empresas e activos estratégicos.
4. Iniciasse um programa de investimentos
criteriosos e produtivos, como a reabilitação da nossa rede de portos
atlânticos, aproveitando o facto de possuirmos um dos portos de águas profunda
melhor posicionado na Europa – o porto de Sines -, portos esses que ligados
entre si por uma linha ferroviária de alta velocidade, de bitola europeia (que
não tem a haver com a palhaçada do TGV), misto de transporte de mercadorias e
passageiros, por sua vez ligado ao coração do continente europeu por outra
linha, em T, que fizesse a ligação Vilar Formoso/Irún, tornasse Portugal a
principal porta de entrada e saída do essencial das mercadorias de e para a
Europa. É preciso não esquecer que, quando em 2014 estiverem terminadas as
obras de alargamento do Canal do Panamá, que permitirá o tráfico dos chamados
super cargueiros, grande parte do fluxo de mercadorias dos continentes asiático
e americano passarão por ali e o primeiro porto que encontrarão do outro lado
do Atlântico será, precisamente, o de Sines.
5. Na frente diplomática, um governo que
promovesse, no âmbito do seu relacionamento com outros países, do continente
europeu ou qualquer outro, relações com base na igualdade, na reciprocidade e
nas vantagens mútuas, abandonando qualquer estrutura militar ou política de
agressão e domínio sobre outros povos e nações, esteja ao serviço de qualquer
imperialismo que seja.
A consciência de que esta dívida está a
servir como instrumento de chantagem e subjugação dos povos e países europeus
por parte do imperialismo germânico está a aumentar. A consciência de que uma
ampla frente de camadas populares, de classes, está a ser afectada pelas
medidas terroristas e fascistas que a salvação por parte da
tróica está a impor é cada vez mais perceptível. Falta o passo seguinte.
Promover a unidade com base nos princípios e na acção concreta, isolar as concepções oportunistas que, instilando o medo – dizem eles que em nome de uma visão de esquerda responsável – sobre as consequências do NÃO PAGAMENTO da dívida, propõem soluções de compromisso com o sistema capitalista – nomeadamente a renegociação ou a reestruturação da dívida -, que só servem para o manter à tona de água por um pouco mais tempo, mas sempre agressivo e repressivo.
Promover a unidade com base nos princípios e na acção concreta, isolar as concepções oportunistas que, instilando o medo – dizem eles que em nome de uma visão de esquerda responsável – sobre as consequências do NÃO PAGAMENTO da dívida, propõem soluções de compromisso com o sistema capitalista – nomeadamente a renegociação ou a reestruturação da dívida -, que só servem para o manter à tona de água por um pouco mais tempo, mas sempre agressivo e repressivo.
O problema meu caro é que com esta barragem de contra-informação e censura antiemocrática por parte dos chamados orgãos de comunicação social, é praticamente impossível que outros partidos que não aqueles que estão sentados à mesa do orçamento façam chegar a sua mensagem ao Povo Português. Primeiro foram as autárquicas "há é porque os candidatos são muitos, os partidos e os movimentos de cidadãos independentes são sem conta", hoje são as europeias. Mas o que está verdadeiramente em causa não são "razões técnicas" ou de "dificuldades de programação", como enganosamente quiseram fazer acreditar os menos atentos, o que está em causa é calar as vozes alternativas, nomeadamente o PCTP/MRPP. Fazer crer que a esta política de exploração e traição do Povo português não tem alternativa. Fazer entrar pelos olhos, e pelos ouvidos, dentro que a única alternatia é a subserviência aos ditames do FMI, do BCE e do imperialismo alemão. Calar o único Partido que apresenta como alternativa a SAÍDA DO EURO e a DEMISSÃO IMEDIATA deste governo de vende-pátrias. Ontem, no tempo da ditadura fascista a Aliança Nacional, hoje a Aliança Popular, amanhã, se não nos organizarmos numa FRENTE DEMOCRÁTICA E PATRIÓTICA, de todos os democratas e patriotas, que os há até nos partidos de direita como o PS. PSD e CDS, ninguém terá direito á palavra no ditos órgãos de comunicação social.
ResponderEliminarO que dizes é tão mais verdade quando se sabe que está em cima da mesa, neste preciso momento, mais um acordo entre PS e PSD/CDS para alterações à actual Lei Eleitoral.
ResponderEliminarAlterações que prevêem um alargamento do período pré-eleitoral, onde os órgãos de "comunicação social" não são obrigados a dar cobertura às acções de campanha de todos os candidatos,
Ora, está bem de ver que, depois, no "período de campanha eleitoral" propriamente dito, obrigada que está a "comunicação social" a distribuir equitativamente por todos os candidatos os "tempos de antena", fará com que esse tempo encolha de molde a que o espaço dedicado a cada candidatura ou candidato não dê sequer para que este(s) possa fazer passar o seu programa nem, muito menos, confrontar as restantes candidaturas com as suas responsabilidades ou propostas.
Fascismo puro e duro coberto pelo diáfano manto da democracia...de opereta!