1.
Vivemos tempos de uma inaudita crise económica e
financeira do sistema capitalista que coloca o mundo à beira de uma guerra
inter-imperialista sem precedentes. Uma crise de sobre-produção de magnitude
maior do que as outras crises que o sistema capitalista já experimentou e que
atingem as áreas da produção, distribuição e financeira, o que leva esta crise
sistémica a ter uma de duas saídas – ou bem que a Revolução avança em todo o
mundo e acaba de vez com o modo de produção capitalista, impondo o modo de
produção comunista, ou bem que o capitalismo faz mais uma tentativa de se reconfigurar,
tornando-se ainda mais agressivo e mortal para os operários e outros trabalhadores.
2.
O que está a acontecer é precisamente isso. Com
os tanques de petróleo atafulhados de crude que não consegue vender e as
fábricas paradas por falta de compradores devido ao facto de o seu modo de
produção assentar na lei da selva da concorrência que alegadamente garante e optimiza a
perpetuidade da acumulação capitalista, as superpotências – China e EUA - e as
diferentes potências regionais – Alemanha, Rússia, França, Reino Unido, etc. – lutam
em busca do reforço da influência e conquista dos mercados por forma a poderem escoar
os fenomenais excedentes relativos de capacidade de produção que acumularam
devido à anarquia de um modo de produção unicamente assente na prossecução do
lucro.
3.
Esta crise, exponenciada pela crise sanitária do
COVID-19, está a ser utilizada pelo grande capital como meio de reconfigurar
o seu sistema capitalista. Essa reconfiguração já havia sido
ensaiada através do autêntico clima de histerismo que a burguesia criou em
volta da crise climática. Mas, essa
tentativa saiu frustrada, muito graças ao desmascaramento da corrente
eco-histérica de ONG’s e outras personalidades acolhidas como heróis pela burguesia.
E isto apesar do enorme investimento que os capitalistas e imperialistas e seus
lacaios fizeram para promover mundialmente tais figuras. O caso da adolescente
sueca, Greta Thunberg, convidada para os
maiores fóruns do capitalismo e do
imperialismo mundiais – ONU, UE, Davos, etc. – é paradigmático.
4.
Tal reconfiguração, ao mesmo tempo que
cria as condições para eliminar concorrentes garantindo mercado para pôr a
laborar em pleno as suas fábricas paradas ou a meio gás, leva a que os estados
de emergência ou de calamidade constituam a “resposta” do sistema à crise
pandémica. O confinamento e o “distanciamento social”, vão provocar níveis de
desemprego, precariedade e fome inauditos e, por consequência, libertarem para um
“mercado de trabalho” já saturado centenas de milhão de operários e
trabalhadores em todo o mundo, o que terá o efeito desejado para a burguesia de
reconfigurar
os chamados “custos de contexto”, isto é os salários.
5.
Ou seja, vai tornar ainda mais sistémica a
precariedade, os salários baixos, a exploração, e vai tornar ainda mais
extensiva a destruição dos meios de produção. Tudo medidas que garantem a
retoma dos rácios de acumulação capitalista que, devido à crise sistémica do
capitalismo, caíram nas ruas da amargura. Esta ditadura do medo, do controlo
digital, da
hipervigilância,
que já se instalou nas casas dos trabalhadores com o recurso a plataformas
interactivas, do rasgar de todos os direitos constitucionais, mesmo
burgueses, que asseguravam as já limitadas liberdade de expressão, de reunião,
de opinião, visa calar a oposição e contestação dos
trabalhadores que se começa a desenhar a estas pretensões do grande
capital imperialista internacional.
6.
Num primeiro momento, a estratégia de
confinamento geral permitiu à burguesia e aos seus lacaios instalados no seio
da classe operária e dos trabalhadores, paralisar e desmobilizar a onda de
sublevações populares – antecâmaras da Revolução – que ocorriam por todo o
mundo. Mas, como não é possível, para a própria sobrevivência do sistema
capitalista e imperialista, manter este confinamento até à eternidade ou por
muito tempo, a retoma da exploração sobre operários e trabalhadores,
começa, aos poucos e poucos, a verificar-se, até porque é a única forma de a burguesia
assegurar a criação de valor – através da mais-valia obtida – e a acumulação do
capital.
7.
Porém, esse recomeço assentará na “nova
realidade” tão assinalada pelos governantes que se prestam a ser lacaios do
sistema capitalista e imperialista. Isto é, um nível de desemprego e
precariedade nunca vistos, a redução dos salários, acompanhado por enormes
cortes nas prestações sociais e de saúde, no aumento da fome e da miséria, tal
como da morte. O objectivo está a ser, claramente, o de criar as condições para
que, ao mesmo tempo que se libertam das mercadorias e capacidade de produção
relativamente excedentárias, retomem os rácios de acumulação do capital e a
eugenia proporcione algum “controle populacional”.
8.
Esta situação, por outro lado, pode constituir –
deve constituir – uma oportunidade para a classe operária e para os
trabalhadores. Estão,
pois, reunidas as condições objectivas
para uma Revolução que assegure uma alteração do paradigma. Isto é, dar o
empurrão final para o caixote do lixo da história de um modo de produção obsoleto e parasitário como é o
sistema de
produção capitalista, que se constituiu como um entrave criminoso ao
desenvolvimento das forças produtivas, que só o modo de produção comunista,
assente numa planificação rigorosa que tenha como princípio geral norteador a satisfação
das necessidades da humanidade, pode resolver.
9.
Ao mesmo tempo, a classe operária tem de reunir
as condições para poder opor a guerra civil revolucionária à guerra
imperialista em curso, isto se não quiser, uma vez mais, servir de carne para
canhão da luta entre os imperialistas e o seu objectivo de prosseguir a
exploração dos operários e dos trabalhadores, ao mesmo tempo que reforçam o seu
domínio e influência sobre o mundo.
10.
E é aqui que se encontra o busílis da questão.
Estando as condições objectivas para
a Revolução reunidas, não estão reunidas as condições subjectivas. A classe operária, se não quiser, uma vez mais, servir
de tropa de choque da pequena e da média burguesia – que tem conduzido e levado
à derrota algumas das muitas sublevações populares que se têm registado por
esse mundo fora – tem de se empenhar decididamente em refundar o seu Partido,
alargar a sua influência e reforçar a sua organização.
11.
Para tal, será importante repor o princípio do controlo operário e da constituição de
Comissões de Trabalhadores fábrica a fábrica,
empresa
a empresa, que materializem
essa táctica revolucionária. Numa altura em que somos confrontados com uma
bancarrota generalizada no sistema capitalista, em que a fome e a miséria se
generalizam e está iminente uma guerra inter-imperialista, os operários
necessitam de, urgentemente, constituir aqueles órgãos que lhe possibilitem
conhecer e controlar tudo o que se passa nas fábricas e locais de trabalho. Não
são ainda, como é evidente, órgãos do poder operário e comunista, mas são a
antecâmara desse poder e, sobretudo, permitirão que a classe operária e os
trabalhadores exercitem desde já os seus conhecimentos sobre o modo de produção
e distribuição.
12.
Tal como o Partido sempre propôs, os órgãos que têm
a função de exercer este controlo operário são as Comissões de Trabalhadores ( Ver,
Matos, Arnaldo, Acerca das Comissões de Trabalhadores - ir para o link). Apesar de sermos
um Partido pequeno e estarmos a atravessar um período de grandes dificuldades –
organizativas, ideológicas e teóricas –, dificuldades que são superáveis, temos
de nos esforçar para, junto dos operários e outros trabalhadores, os convencer de
que são estes os órgãos que necessitam constituir se quiserem estar devidamente
organizados e conscientes quando forem chamados a exercer o poder que lhes será
outorgado após a Revolução.
13.
E não são os sindicatos ou as comissões sindicais que
poderão ter esta função. Aliás,
toda a posição dos actuais sindicatos tem de se alterar. Os sindicatos
têm uma função específica.
“Os sindicatos têm de assumir uma função política, de instrumento ao serviço da
emancipação da classe operária, função que cada vez mais se recusam a assumir.
Os sindicatos são cada vez mais uma estrutura transitória, com
cada vez menos aderentes e menos dinheiro. E por quê? Porque não têm nenhuma
perspectiva de luta, de saída para a classe operária.” ( Matos, Arnaldo, O Comunismo no Século XXI) No
regime capitalista, através da luta pela melhoria de condições de vida e de
trabalho e pelo aumento dos salários, os sindicatos devem conduzir a luta dos
operários e dos trabalhadores com o objectivo de derrubar o Estado dos patrões.
Mas, esse órgão não é o órgão do poder dos operários e dos trabalhadores. Tem o
importante papel de ajudar a educar a classe operária, mas, mesmo após a
Revolução comunista, não são um órgão da vontade popular. Esses são as
Comissões de Trabalhadores que devem assentar no princípio que a Comuna lhes
ensinou, que é o da eleição livre dos seus membros, na possibilidade de serem
substituídos a qualquer momento e no facto de só poderem auferir o salário
médio de um operário.
14.
Os sindicatos são uma organização operária e dos
trabalhadores importante, mas para um objectivo específico, concreto, enquanto
que os órgão da vontade popular – como é o caso das Comissões de Trabalhadores
- , podendo ter agora funções limitadas têm em si as potencialidades de cumprir
uma gama infinita de funções, uma das quais é a de exercer o poder. É o poder
dos operários, ainda antes de estes terem o poder. É esta a diferença
que existe, quer em termos estratégicos, quer em termos tácticos, entre um e
outro dos órgãos.
15.
O poder da classe operária tem de surgir das
Comissões de Trabalhadores, pois são as únicas que satisfazem essas condições
de órgãos da vontade popular para o exercício do poder proletário. Uma das
principais tarefas do Partido será, pois, a de lutar, com todas as suas forças
e saber, para explicar a todos os operários que, se quiserem exercer o seu
poder revolucionário e estar preparados para exercer esse poder após a
Revolução, devem desde já compreender a importância das Comissões de
Trabalhadores e a necessidade de se constituir o mais rapidamente possível, de
norte a sul do país, estes órgãos que são o embrião do seu poder operário e
comunista.
16.
Os comunistas devem igualmente dar uma grande importância aos movimentos sociais emergentes,
unindo-se sempre aos movimentos de
massas, que inevitavelmente vão desabrochar neste contexto ,independentemente
da forma que assumam, “ mas é preciso
que haja uma linha revolucionária e depois uma linha política para
chegar a estes movimentos”
. No
caso das plataformas sociais, é certo que elas têm sido dominadas pelos
sectores da pequena e média burguesia, convencidas de que conseguem alcançar
seja o que for e, mais ainda, consolidar, com uma estrutura a que pomposamente
chamam de horizontal. Estes são vícios de forma muito queridos às correntes
trotskistas e anarquistas, como são os conceitos de auto-gestão ou co-gestão
que nada têm a ver com a táctica do controlo
operário que propomos, e que se impõe.
17.
Essas plataformas sociais vão voltar a emergir.
Estaremos nós à altura de saber como exercer a nossa influência no seu seio?
Veja-se o exemplo do movimento dos Coletes
Amarelos em França. Um movimento assembletário, inicialmente dirigido por
sectores desta pequena-burguesia que visava obter algumas migalhas mais do
poder do capital. Só quando a classe operária começou a tomar conta das
operações, a ocupar as rotundas, a paralisar importantes sectores da economia
capitalista, a invadir as cidades, não para manifestações do tipo procissão,
mas autênticas sublevações populares, é que o movimento passou a constituir-se
como um efectivo contra-poder ao poder da burguesia e do seu lacaio, Emanuel
Macron.
18.
O Partido tem um instrumento táctico
poderosíssimo. Foi, aliás, o primeiro Partido, em Portugal, a defender essa
táctica. A Semana das 35 horas. Um
programa susceptível de congregar e unir toda a classe operária e trabalhadora.
De forma praticamente imediata e sem resistência. A não ser a de toda a sorte
de oportunistas e revisionistas que, dizendo-se favoráveis a esta táctica, tudo
têm feito para, ao serviço da burguesia a contrariarem, oportunistas e
revisionistas que os operários e trabalhadores têm de saber livrar-se se
quiserem alcançar o sucesso da sua estratégia revolucionária que passa,
necessariamente, pela destruição do modo de produção capitalista e pela
construção do novo modo de produção comunista.
19.
É a diferença entre continuar a ser um escravo
assalariado ou libertar-se dessa condição e, com isso, libertar toda a
humanidade!
Retirado de: http://www.lutapopularonline.org/index.php/pais/104-politica-geral/2721-a-revolucao-iminente-e-as-tarefas-dos-comunistas
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