Num debate com o comunista Arnaldo Matos – este começou por descrever com eloquente precisão e
clareza, e de forma cada vez mais impressiva, os elementos
filosóficos e económicos essenciais que caracterizam o marxismo, e que fazem
dele uma teoria científica cujo estudo e aprofundamento se impõe crescentemente.
No supracitado debate, Arnaldo Matos recorreu à
“obra-mestra” do “Manifesto do Partido
Comunista” para demonstrar como se pode encontrar no que Marx ali nos
deixou escrito a resposta para as questões novas suscitadas pelo reexame mais
profundo das causas do fracasso da revolução russa e chinesa – e que, de acordo
com a posição precursora explanada pela primeira vez por ele na sua obra, as “Teses da Urgeiriça”, se prende com a
respectiva natureza de classe (burguesa) daquelas revoluções – e da questão
nacional.
Segundo nos explicou Arnaldo Matos, durante o
debate que se seguiu à projecção do filme “O
jovem Karl Marx” – levada a cabo no âmbito da comemoração do bicentenário
do nascimento de Karl Marx – é imperioso um combate sem tréguas aos
revisionistas que, sobre esta questão tentam apropriar-se “sem qualquer tipo de vergonha” das teses de Marx sobre a luta por
uma sociedade sem exploração do homem pelo homem – que para nós, comunistas,
corresponde a uma sociedade sem classes e à instauração do modo de produção
comunista, só atingível pela força das armas – para defenderem a sua teses
reaccionárias e oportunistas de que estaremos numa fase que acaba na democracia avançada, isto é, na
continuação e permanência da exploração dos operários.
Na referida sessão/debate, Arnaldo Matos voltou a debruçar-se sobre uma
das questões mais importantes que abordou nas Teses da Urgeiriça – qual a razão por que a revolução russa de 1917
estava condenada a fracassar e as sociedades que sugiram nos países ditos
socialistas não foram mais do que formas
de capitalismo monopolista de estado e de ditaduras social-fascistas sobre os
respectivos povos?, questionando-se sobre quais os erros que Lenine
porventura não teria conseguido evitar
na primeira experiência revolucionária proletária ocorrida depois da Comuna de
Paris.
Com a clareza que lhe era habitual, Arnaldo Matos
afirmou que nem Marx, nem Engels, alguma vez se haviam referido a uma fase
intermédia, que Lenine havia designado por socialismo, uma fase entre a
destruição do capitalismo e a instauração da sociedade e do modo de produção
comunistas, como também nunca propuseram em qualquer dos seus escritos uma
aliança entre a classe operária e os camponeses, sobretudo os pequenos
proprietários de terra.
Marx e Engels sempre defenderam a ditadura do
proletariado num curto período precedente da sociedade sem classes, comunista.
Foi exaustiva, aliás, a forma como explicaram que, após a revolução comunista e
para que se conseguisse impor o modo de produção e as relações de produção
comunistas, continuando a haver classes e luta de classes durante um certo
período de tempo, era necessário um Estado que assegurasse os interesses da
classe operária vitoriosa sobre o capitalismo e os capitalistas derrotados.
Um período que, segundo Marx e Engels teria de
ser o mais curto possível, até dar lugar à “devanescência” do Estado porque, em
virtude da consolidação da sociedade
comunista, terem deixado de existir classes e luta de classes e , consequentemente,
teria deixado de ser necessário um estado como instrumento da ditadura de uma
classe sobre outra.
Assente numa sólida fundamentação teórica e
prática, fruto do seu profundo conhecimento do movimento operário – nacional e
internacional – Arnaldo Matos deixou-nos importantes sínteses do pensamento
marxista, seguindo sempre a tese primeira do materialismo dialéctico de que é o
movimento que precede as ideias e de que as ideias procedem do movimento:
·
Quanto à questão nacional,
lapidarmente reexaminada à luz do que Marx já expunha no “Manifesto do Partido Comunista” – designadamente no Capítulo II, Proletários e Comunistas, a folhas 78 da
edição da Editora Bandeira Vermelha, : “que os
operários NÃO TÊM PÁTRIA e que, embora a luta do proletariado revista
inicialmente a forma de luta nacional – tornar-se ele mesmo nação, posto que,
de maneira nenhuma, no sentido burguês da palavra”
·
Por essa razão, referiu Arnaldo
Matos a este propósito, os comunistas, os marxistas, não devem prosseguir a
ideia errada de que existem nações opressoras e nações oprimidas mas tão
somente, no contexto da globalização do capitalismo e do imperialismo – seu
estádio supremo -, uma classe capitalista exploradora e uma classe oprimida
explorada.
·
À luz deste pressuposto, Arnaldo
Matos concluiu não ter sido correcta a palavra de ordem formulada durante a
presidência de Mao, que sustentou a teoria dos 3 Mundos: Proletários de todos os países, povos e nações oprimidas de todo o
mundo, uni-vos!, que levou a classe operária a apoiar ou a colocar-se do
lado das “suas” burguesias nas nações ditas oprimidas do terceiro mundo.
·
Estes pressupostos são tão ou
mais importantes quando, como alertou Arnaldo Matos, existe “a emergência
de uma nova guerra mundial imperialista,” laboriosamente preparada há muitos anos, como
o demonstra a ocorrência de mais de duzentas guerras regionais, colocando-se,
mais do que nunca, a necessidade de o proletariado de todos os países – todos eles imperialistas nos dias que
correm – adoptar a “única táctica correcta e de acordo com o
marxismo, de transformar essa guerra imperialista numa guerra cívil
revolucionária” , que tenha por objectivo a destruição do modo de
produção capitalista e o seu regime de escravidão assalariada e a instauração
do modo de produção comunista e da sociedade comunista.
·
Sociedade e modo de produção
comunistas onde terá de deixar de existir o salário – como forma de capital (o
capital-salário) – para emergir o princípio de que, tendo todos que trabalhar, a
cada um será pedido que o faça em conformidade com as suas capacidades e a cada
um será dado consoante as suas necessidades.
Posto isto, há que isolar sem demoras a corrente oportunista
e liquidacionista que no seio do movimento comunista em Portugal – e em todo o
mundo -, decidiu, agora, abrir uma nova “frente de luta” contra a esquerda no
seu seio: A frente ideológica! Querendo
com tal manobra colocar em causa os ensinamentos que Arnaldo Matos nos deixou,
particularmente os que consubstanciam as Teses
da Urgeiriça e as intervenções de que aqui damos conta.
Apesar de Arnaldo Matos nos ter por mais de uma vez
explicado porque é que devíamos voltar a Marx e as razões pelas quais falharam
as experiências revolucionárias de Outubro de 1917 na Rússia, e da Democracia
Nova na China, em 1949, vem agora a linha oportunista e liquidacionista questionar
se o movimento comunista que está na génese de um verdadeiro Partido Comunista
Operário deve deixar de ser marxista-leninista-maoísta.
Numa intervenção ocorrida a 2 de Dezembro de 2017, no âmbito
das comemorações da Revolução de Outubro e após a projecção do filme “O Couraçado Potemkin”, de Sergei
Eisenstein (1925), Arnaldo Matos não podia ter sido mais claro quanto a esta
questão quando afirmou claramente que:
“...precisamos de um Partido que organize a nossa classe operária, nos
termos marxistas, isto é, Proletários de todos os países, uni-vos! É essa a palavra de ordem. Não é
proletários, nações oprimidas, e não sei quê... Não! Isso está errado! Vamos
mudar, mas vamos mudar quando chegar a altura, quando tivermos um jornal novo
para sair. Vamos mudar, e vai ficar lá o que Marx nos ensinou: Proletários
de todos os países, uni-vos!”
“Contra o imperialismo, não é só o imperialismo americano, é todos os
imperialistas. E Portugal é um país imperialista. Pequeno, mas é um país imperialista.
Vão-se habituar às ideias, vão desenvolvendo as ideias, ponham-se a estudar
como deve ser, senão um dia destes, a gente morre todos aqui, sem ter deixado
nada que prestasse para salvar os nossos netos, os nossos bisnetos, o futuro do
nosso país. Temos muito que fazer!”
“Os oportunistas, foi chão que deu uvas. E eles ainda têm aqui dentro
representantes, e tal, já sei disso – sei muito bem disso. Mas não vão ganhar.
Nem sequer lhes passo bilhete. Quem vai ganhar são os comunistas, que vão
estudar Marx, que vão aplicar Marx às condições actuais do mundo, e vão obter
vitórias.”
“Não tenham dúvidas quanto a isso. E quanto à guerra, tira-se o chapéu,
esperem por ela. Ela está ao abrir da porta. Um dia, os senhores abrem aquela
porta, e ela entra pela porta dentro.”
Voltar a Marx significa que, apesar dos importantes e
reconhecidos contributos que deram para o movimento comunista internacional, que
nenhum comunista pode renegar, nem Lenine, nem Mao, foram verdadeiramente
responsáveis por desenvolvimentos do marxismo. Tentaram, isso sim, “aplicar
Marx às condições” da Rússia de 1917 e da China de 1949, apesar dos erros que Arnaldo
Matos lhes apontou por mais do que uma ocasião.
Nas vésperas de um importante Congresso onde os comunistas
portugueses terão a oportunidade de clarificar os campos – o campo do marxismo
contra o campo do oportunismo - Arnaldo
Matos teria desejado ver esclarecido que a matriz ideológica de um Partido
Comunista Operário é o marxismo, a única matriz a seguir para assegurar o
sucesso da Revolução comunista, operária.
Não compreender que a consigna pela qual os comunistas
portugueses e em todo o mundo se devem bater – Proletários de Todos os Países, Uni-vos!, significa uma miserável traição aos
ensinamentos que Arnaldo Matos nos deixou, muito particularmente aqueles que
estão presentes nas suas “Teses da
Urgeiriça” e revelam a preguiça congénita da linha oportunista e liquidacionista
no seio do movimento comunista português e internacional em estudar e discutir
Marx.
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