domingo, 3 de maio de 2020

O « desconfinamento » anuncia-se socialmente explosivo em França – em Itália – por todo o lado !




2 de Maio de 2020 Robert Bibeau  
  Por Khider Mesloub.
                  
As classes dominantes, após o colapso económico previsível há vários anos, a coberto da luta contra o Covid-19, com a sua oportuna medida de confinamento supostamente salvadora, esperavam conter o vírus da contestação há vários meses muito virulentos. Ao quebrar o termómetro (da contestação), os governantes pensavam eliminar a febre (social). Dito de outra forma, confinando milhões de proletários contestatários, eles esperavam colocar um ponto final no seu temperamento subversivo, neutralizar a bomba viral insurgente. Mas, contra a febre social revolucionária em brasa, nenhuma vacina política reformista é eficaz. Nenhuma manobra sanitária dilatória, mesmo se operada no contexto de uma psicose pandémica, pode limitá-la. Pior, isso só a agrava.

O governo francês acaba de aprender essa verdade implacável às suas custas. De facto, a realidade acaba de arrefecer o fervor triunfante do poder francês, demasiado ingenuamente confiante  na sua manobra totalitária de operações militares de confinamento, depois de ler o último relatório dos seus serviços de informação. O governo Macron, o primeiro estado a experimentar a desilusão, acaba de aprender, com amargura, que o confinamento não teve os efeitos esperados, a saber, conter o vírus da revolta social ainda na fase de incubação, fertilização e maturação, apesar da "colocação sob sequestro" policial, do seu colete de forças sanitário.

Sem qualquer margem para dúvidas, esse relatório deve ter tido o efeito de um banho frio no Eliseu. A sua leitura certamente congelou o sangue dos dirigentes franceses. De acordo com o semanário Le Point, de 12 de Abril de 2020, que partilhava informações do jornal Le Parisien, "o fim do confinamento preocupa os serviços de informação". De facto, o serviço central de informação territorial teme a exacerbação dos movimentos sociais nas próximas semanas, um dia após o levantamento do confinamento. Assim, confirma-se a nossa análise da conflagração social esperada no dia seguinte ao período de confinamento. Escrevemos aqui, no Webmazine Les 7 du Quebec, https://les7duquebec.net/archives/253816, que as revoltas sociais iriam  espalhar-se de forma mais maciça do que o coronavírus. Qualquer que seja o país, o continente. Parafraseando Putin: as revoltas sociais desalojarão os poderosos mesmo das suas casas de banho (a história não diz se Putin se sente ameaçado na sua cada de banho ?! ...)

À furiosa cólera, hoje contida pelo confinamento (e de novo, não completamente como demonstrado pela revolta no Michigan americano), dirigida contra a administração calamitosa do governo Macron ilustrada pelo fracasso criminal de materiais médicos (ausência de máscaras, soluções hidro-alcoólicas, respiradores e, especialmente, testes de triagem), viria juntar-se o descontentamento social despertado pelo desemprego e pela deterioração das condições de vida.

Evidentemente, após o intervalo forçado do confinamento, a cena social retomaria o seu cenário sedicioso de contestação, interrompido oportunamente pelo confinamento penitenciário. De acordo com os serviços de informação franceses, revela o Le Point, "vários grupos de protesto já planearam comícios, manifestações e acções de grande impacto assim que o confinamento for suspenso em França". Além disso, a página de facebook de um colectivo de extrema esquerda, denominada "Recusemos  voltar à normalidade", prevê um grande evento, escreve o Le Parisien.

Se a data do evento não foi anunciada, em contrapartida o horário já foi anunciado: 11h. Na sua página de facebook  é dado destaque a esta direcção: “A nossa raiva não será confinada. Vamos encontrar-nos na rua assim que o confinamento terminar! Vamos colocar o poder em quarentena! " Para já, em várias cidades da França, várias manifestações estão agendadas para o primeiro sábado pós-confinamento. Numerosas organizações do movimento autónomo da extrema esquerda pedem "uma transversalidade das lutas" incorporando "coletes amarelos e batas brancas".

Os serviços de informações  dizem ter descoberto a divulgação de um "certificado de deslocamento revolucionário" publicado por um meio de comunicação social alternativo em Bordeaux que reclama ser dos Coletes amarelos. https://les7duquebec.net/archives/253109. Neste certificado, as caixas de selecção são deliberadamente rebeldes. Assim, estão inscritas as seguintes anotações: “para uso sem moderação após o confinamento”: “deslocamentos entre o domicílio e o poder indispensável ao exercício de distúrbios” ou “participação em comandos a pedido de assembleias populares” .

Ainda na sua página Facebook, os serviços de informações observavam esta informação: "o confinamento é usado para assediar, humilhar e às vezes matar aqueles que são identificados como risco pelo poder: os moradores das zonas pobres". Nesse sentido, para esses activistas do movimento autónomo, o projecto de "rastreamento", programado pelo governo Macron, é uma "eficiência da tecno-polícia", com o objectivo de "vigiar os corpos e as almas da plebe".

A ultra-direita identitária (nacionalista – Nota do Tradutor) não está parada. E convida igualmente a população para sublevações violentas. Os serviços de informações puderam nomeadamente  ler no seu site: "A França é uma panela de pressão [...] Este governo maroniano está ciente das quantidades de ódio e raiva que se estão a acumular? [...] Que os comportamentos colectivos poderiam ser desencadeados contra ele com toda a brutalidade de um motim sangrento? "


O pós-confinamento anuncia-se movimentado. A nota confidencial dos serviços de informações sobre o "seguimento do impacto do Covid-19 em França especifica que os sindicatos não aceitarão um retorno à situação pré-crise porque esta demonstrou os limites do neoliberalismo" (Sic), escreve BFMTV no seu site de notícias e informação.

Do lado da Itália, o mesmo temor se apoderou do poder. Os serviços secretos italianos apresentaram ao governo de Conte um relatório sobre possíveis revoltas sociais e rebeliões espontâneas no sul do país, após o colapso do sistema de saúde e a deterioração das condições de vida e de trabalho dos trabalhadores.
Como o indica Dagospia, um hospedeiro de informações italiano,  “Os parques de estacionamento abusivos, os contrabandistas, os traficantes de drogas, no que diz respeito à economia ilegal, mas também a grande parcela de trabalhadores ilegais (caixas, camponeses, barmen, serventes) empregados em empresas agora forçadas a fechar, em breve não saberão mais como sobreviver”.  No Facebook, os italianos da Sicília não medem as suas palavras e apelam ao saque das lojas. "Os trabalhadores não declarados, que de acordo com os dados de 2019 eram de 3,7 milhões, ficam sem recursos e actualmente vivem das suas próprias economias". "A questão que agora se coloca aos analistas dos serviços de informações é a de saber quanto tempo se podem desenrascar esses quatro milhões de cidadãos sem ganhar dinheiro?" Esta última interrogação coloca-se a todos os países em que a economia informal e de mercado domina, a ausência de segurança no desemprego, de protecção social, especialmente no sector privado, como a Argélia e outros países subdesenvolvidos.


Mesloub Khider






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