2 de Maio de 2020 Robert Bibeau
Por Khider
Mesloub.
As classes dominantes, após o colapso económico previsível há
vários anos, a coberto da luta contra o Covid-19, com a sua oportuna medida de
confinamento supostamente salvadora, esperavam
conter o vírus da contestação há vários meses muito virulentos. Ao quebrar
o termómetro (da contestação), os governantes pensavam eliminar a febre
(social). Dito de outra forma, confinando milhões de proletários
contestatários, eles esperavam colocar um ponto final no seu temperamento
subversivo, neutralizar a bomba viral insurgente. Mas, contra a febre social
revolucionária em brasa, nenhuma vacina política reformista é eficaz. Nenhuma manobra
sanitária dilatória, mesmo se operada no contexto de uma psicose pandémica,
pode limitá-la. Pior, isso só a agrava.
O governo francês acaba de aprender essa verdade implacável
às suas custas. De facto, a realidade acaba de arrefecer o fervor triunfante do
poder francês, demasiado ingenuamente confiante
na sua manobra totalitária de operações militares de confinamento,
depois de ler o último relatório dos seus serviços de informação. O governo
Macron, o primeiro estado a experimentar a desilusão, acaba de aprender, com
amargura, que o confinamento não teve os efeitos esperados, a saber, conter o
vírus da revolta social ainda na fase de incubação, fertilização e maturação,
apesar da "colocação sob sequestro" policial, do seu colete de forças
sanitário.
Sem qualquer margem para dúvidas, esse relatório deve ter
tido o efeito de um banho frio no Eliseu. A sua leitura certamente congelou o
sangue dos dirigentes franceses. De acordo com o semanário Le Point, de 12 de Abril
de 2020, que partilhava informações do jornal Le Parisien, "o fim do confinamento preocupa os serviços
de informação". De facto, o serviço central de informação territorial
teme a exacerbação dos movimentos sociais nas próximas semanas, um dia após o
levantamento do confinamento. Assim, confirma-se a nossa análise da
conflagração social esperada no dia seguinte ao período de confinamento.
Escrevemos aqui, no Webmazine Les 7 du Quebec, https://les7duquebec.net/archives/253816,
que as revoltas sociais iriam espalhar-se
de forma mais maciça do que o coronavírus. Qualquer que seja o país, o
continente. Parafraseando Putin: as revoltas sociais desalojarão os poderosos
mesmo das suas casas de banho (a história não diz se Putin se sente ameaçado na
sua cada de banho ?! ...)
À furiosa cólera, hoje contida pelo confinamento (e de novo,
não completamente como demonstrado pela revolta no Michigan americano),
dirigida contra a administração calamitosa do governo Macron ilustrada pelo fracasso
criminal de materiais médicos (ausência de máscaras, soluções hidro-alcoólicas,
respiradores e, especialmente, testes de triagem), viria juntar-se o
descontentamento social despertado pelo desemprego e pela deterioração das
condições de vida.
Evidentemente, após o intervalo forçado do confinamento, a
cena social retomaria o seu cenário sedicioso de contestação, interrompido
oportunamente pelo confinamento penitenciário. De acordo com os serviços de
informação franceses, revela o Le Point, "vários grupos de protesto já planearam comícios, manifestações e acções
de grande impacto assim que o confinamento for suspenso em França".
Além disso, a página de facebook de um colectivo de extrema esquerda,
denominada "Recusemos voltar à normalidade",
prevê um grande evento, escreve o Le Parisien.
Se a data do evento não foi anunciada, em contrapartida o
horário já foi anunciado: 11h. Na sua página de facebook é dado destaque a esta direcção: “A nossa raiva não será confinada. Vamos encontrar-nos
na rua assim que o confinamento terminar! Vamos colocar o poder em quarentena!
" Para já, em várias cidades da França, várias manifestações estão agendadas
para o primeiro sábado pós-confinamento. Numerosas organizações do movimento
autónomo da extrema esquerda pedem "uma transversalidade das lutas"
incorporando "coletes amarelos e batas brancas".
Os serviços de informações
dizem ter descoberto a divulgação de um "certificado de
deslocamento revolucionário" publicado por um meio de comunicação social
alternativo em Bordeaux que reclama ser dos Coletes amarelos. https://les7duquebec.net/archives/253109.
Neste certificado, as caixas de selecção são deliberadamente rebeldes. Assim,
estão inscritas as seguintes anotações: “para uso sem moderação após o confinamento”:
“deslocamentos entre o domicílio e o poder indispensável ao exercício de
distúrbios” ou “participação em comandos a pedido de assembleias populares” .
Ainda na sua página Facebook, os serviços de informações
observavam esta informação: "o confinamento é usado para assediar,
humilhar e às vezes matar aqueles que são identificados como risco pelo poder: os
moradores das zonas pobres". Nesse sentido, para esses activistas
do movimento autónomo, o projecto de "rastreamento", programado pelo
governo Macron, é uma "eficiência da tecno-polícia", com o objectivo
de "vigiar os corpos e as almas da
plebe".
A ultra-direita identitária (nacionalista – Nota do
Tradutor) não está parada. E convida igualmente a população para sublevações
violentas. Os serviços de informações puderam nomeadamente ler no seu site: "A França é uma panela de pressão [...] Este
governo maroniano está ciente das quantidades de ódio e raiva que se estão a acumular?
[...] Que os comportamentos colectivos poderiam ser desencadeados contra ele
com toda a brutalidade de um motim sangrento? "
O pós-confinamento anuncia-se movimentado. A nota confidencial
dos serviços de informações sobre o "seguimento do impacto do Covid-19 em
França especifica que os sindicatos não aceitarão um retorno à situação
pré-crise porque esta demonstrou os limites do neoliberalismo" (Sic),
escreve BFMTV no seu site de notícias e informação.
Do lado da Itália, o mesmo temor se apoderou do poder. Os
serviços secretos italianos apresentaram ao governo de Conte um relatório sobre
possíveis revoltas sociais e rebeliões espontâneas no sul do país, após o
colapso do sistema de saúde e a deterioração das condições de vida e de
trabalho dos trabalhadores.
Como o indica Dagospia,
um hospedeiro de informações italiano, “Os parques
de estacionamento abusivos, os contrabandistas, os traficantes de drogas, no
que diz respeito à economia ilegal, mas também a grande parcela de
trabalhadores ilegais (caixas, camponeses, barmen, serventes) empregados em
empresas agora forçadas a fechar, em breve não saberão mais como sobreviver”. No Facebook, os italianos da Sicília não
medem as suas palavras e apelam ao saque das lojas. "Os trabalhadores não
declarados, que de acordo com os dados de 2019 eram de 3,7 milhões, ficam sem recursos e actualmente vivem das suas próprias
economias". "A questão que agora se coloca aos analistas dos serviços
de informações é a de saber quanto tempo se podem desenrascar esses quatro
milhões de cidadãos sem ganhar dinheiro?" Esta última interrogação
coloca-se a todos os países em que a economia informal e de mercado domina, a
ausência de segurança no desemprego, de protecção social, especialmente no sector
privado, como a Argélia e outros países subdesenvolvidos.
Mesloub Khider
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