Sejamos claros. Muito antes da crise pandémica de COVID-19, já o sistema capitalista estava mergulhado numa profunda crise económica, política, social e financeira, uma crise sem precedentes na sua história, muito semelhante à Grande Depressão de 1929. Uma crise sistémica que a pandemia apenas exponenciou e, não, como alguns políticos e jornalistas fantoches querem fazer crer, provocou.
As crises do sistema capitalista manifestam-se,
no essencial, por uma sobre-produção relativa. Segundo Marx, a causa última
destas crises reside na subida da composição orgânica do capital, que ocorre
mesmo que o capital variável (que serve para pagar os salários) cresça em
termos absolutos, dado que a subida do capital constante é ainda mais rápida. O
mercado expande-se menos do que a capacidade de produção.
Quanto às crises, dizia Marx, que elas “...são sempre apenas
soluções momentaneamente violentas das contradições existentes, irrupções
violentas que restabelecem momentaneamente, o equilíbrio perturbado”. Desta
passagem, podemos deduzir que Marx considerava, portanto, que as crises
capitalistas são necessárias para manter o próprio capitalismo.
E, a história contemporânea deste sistema comprova não só as
contradições em que ele está envolvido, mas a inaudita violência que algumas
dessas crises assumem. Porque sempre se fazem acompanhar pela destruição
maciça dos meios de produção – encerramento e destruição de fábricas,
desemprego em massa, destruição de excedentes de produção que consideram como
“desperdício”.
À pala do terror induzido a propósito da crise pandémica de COVID-19,
e impondo medidas terroristas de confinamento social, o sistema capitalista
pretende neste momento três coisas:
·
Recuperar o equilíbrio perturbado, tal como
assinalava Marx
·
Garantir a retoma do ritmo de acumulação de
capital que a crise colocou em causa
·
Impor uma “nova ordem”, assente numa
“reconfiguração” do modo de produção capitalista, cujos custos serão, em grande
parte, impostos à classe operária – a única produtora de mais-valia - e
restantes trabalhadores.
Há que salientar, portanto, que a crise sistémica do sistema
capitalista já se tinha agravado ao ponto de estar eminente uma guerra mundial
entre dois blocos de superpotências – o
bloco sino-russo e seus aliados, e o bloco EUA e seus cada vez mais
hesitantes apoiantes. Todos à procura de influenciar e dominar o mercado
internacional, que lhes assegure, por um lado, as fontes de matérias-primas e,
por outro, o escoamento das mercadorias que produzem em excesso.
A crise pandémica de COVID-19 e as medidas terroristas de
confinamento que foram impostas, agravaram “a incapacidade da sociedade para
consumir tudo o que produz”. E isso é visível, tangível, naquilo que já nem a
imprensa vendida consegue ocultar.
É o próprio New York Times , um dos mais lídimos
representantes da imprensa burguesa mundial que, na sua edição de 22 de Abril
de 2020, afirma: "Em vez do
Coronavírus, será a fome que nos matará".
Desde o petróleo a preços negativos, devido ao facto de as
grandes refinarias – sobretudo nos EUA, mas também na Europa – estarem
atafulhadas de crude, até à destruição criminosa, em todo o mundo, de produtos
que fazem parte da chamada “cesta básica” de alimentos – toneladas de frutas e
legumes, milhares de ovos e de litros de leite, deitados ao lixo, reflectem bem
as dificuldades de escoamento de produto que o sistema capitalista provoca e
promove, enquanto milhões morrem à fome por todo o mundo. Vimos isso
recentemente em Portugal, com os produtores de leite a verterem milhares de
litros de leite que não conseguem escoar, nas ruas. E vimos os agricultores a
queixarem-se de que não têm saída para as suas produções, sobretudo de legumes
e frutas.
O encerramento de restaurantes e de fronteiras,
conduziu os agricultores – sobretudo aqueles que assentam a sua actividade em
micro e pequenas empresas – a excedentes de produtos sem precedentes. E isto
por toda o mundo. O mesmo sucede com outros produtores europeus o que, a curto
prazo – dado estarmos a falar, fundamentalmente, de produtos perecíveis – vai
redundar num monumental ciclo de desperdício e numa ainda mais feroz
concorrência.
Numa forma aparentemente contraditória, estamos a
mergulhar numa crise global de alimentos que, segundo os especialistas poderá
atingir – só até ao final do ano corrente - 265 milhões de operários e outros trabalhadores, desempregados e
precários, mas também a usufruir de rendimentos baixos, pagos muitas das vezes
com intermitência ou atrasos.
A burguesia, apostada em esconder o caos em que
fez mergulhar os seus sistemas de saúde – no caso de Portugal, do SNS - , não
conseguiu conter as ondas de choque provocadas pela crise pandémica de COVID-19,
fundamentalmente porque, devido às políticas de gestão privada e capitalista
dos hospitais e recursos de saúde disponíveis, não vislumbrou articular uma
política de prevenção adequada que pudesse determinar um outro desfecho, acabou
por decidir impor aos seus respectivos povos a criminosa política de
confinamento.
E, com isso, agravaram a crise económica, política, social e
financeira do seu sistema capitalista. Com todo o cortejo de fome, miséria e
morte a que assistimos. Na sua carta a Ludwig
Kugelmann, escrita a 11 de Julho de 1868, afirmava Karl Marx:
"Qualquer nação morreria, se cessasse de
trabalhar, não quero dizer por um ano, mas por algumas semanas, qualquer
criança o sabe."
Apesar dos ensinamentos que puderam recolher dos efeitos que
a pandemia provocou, primeiro na China e em praticamente todo o continente
asiático, depois em Itália, os governantes do chamado “mundo ocidental” – no
qual se inclui Portugal – não tiveram, nem quiseram ter, a capacidade para
tirar proveito desses ensinamento e agir em conformidade.
Desde uma incapacidade para assegurar os equipamentos de
segurança necessária – máscaras, ventiladores, gel desinfectante, batas e roupa
de segurança, etc. – até à ausência de uma política de articulação entre o
sistema público e privado de saúde – sob tutela do Estado, passando pela
incapacidade de conhecer a capacidade industrial instalada em cada país que
pudesse dar resposta a essas necessidades, tudo o que podia correr
mal...correu!
O confinamento militar que nos foi imposto por toda a sorte
de políticos vendidos ao capital, oferece aos proletários a oportunidade de se distanciar
deste Estado tão adulado pela pequena burguesia. Devem parar de confiar no
estado dos ricos. Ele deve ser desconstruído, desarmando, assim, os
plutocratas, abolindo a sua tarefa e a sua função. Depois disso, um mundo
inteiro terá que ser construído, não uma pseudo-Nova Ordem Mundial baseada
nas mesmas leis do capital ... mas um Novo
Mundo sem capital.
Não há que ter rodeios. A terceira guerra mundial já está em
andamento. Se temíamos uma guerra nuclear, foi uma guerra viral que, no
entanto, se abateu sobre as nossas cabeças. O proletariado português, unido aos
seus irmãos de classe em todo o mundo, terão de enfrentar de vez o Estado do
grande capital e destruí-lo, numa gigantesca guerra cívil ou, então, sofrer as
consequências de uma guerra mundial imposta pelos detentores do capital e dos
meios de produção.
Retirado de: http://www.lutapopularonline.org/index.php/pais/104-politica-geral/2723-opcoes-que-nos-oferece-o-grande-capital-morrer-de-fome-ou-pelo-covid-19
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