domingo, 31 de maio de 2020

Que fazer face ao encerramento de fábricas e empresas?



Fonte : Nuevo Curso


Uma onda global de encerramento de fábricas e empresas começou. A Boeing anunciou 7.000 despedimentos somente nos Estados Unidos. Na Argentina, já se estão preparar o caminho. Em Espanha, depois de mais de um ano a solicitar subsídios estatais, a Alcoa anunciou o despedimento de 534 trabalhadores. A Nissan, após negociar com o governo, decidiu fechar permanentemente a sua fábrica em Barcelona, ​​deixando 3.000 trabalhadores na rua. No Canadá, a Air Canada, a Bombardier e o Cirque du Soleil estão a implorar por subsídios estatais. Em França, biliões de euros foram prometidos a empresas afectadas pelo confinamento. Estes são exemplos de algo que está a acontecer em todo o mundo. O que fazer quando confrontado com um encerramento?

Não se deixe cair na armadilha da rentabilidade.

Os sindicatos virão inevitavelmente com o discurso de que "a empresa é lucrativa, não deve ser fechada" ou o que dará no mesmo: "o sindicato deve negociar as condições do encerramento, sem lucro a empresa não é viável e se ela não é viável, não há trabalho ”. Uma longa experiência de “reconversões” e crises industriais nos anos 80 e 90 e empregos em fim de vida ensina-nos que, na melhor das hipóteses, isso acaba em aposentadoria precoce para pessoas mais idosas, despedimentos para os outros e se um subsídio estatal é concedido,  uma agonia de licitações de condições de trabalho para o punhado de pessoas que continuam a trabalhar sob o pretexto de manter um mínimo de produção.

É a radicalização do discurso com o qual os sindicatos tentam liquidar todas as greves, sem perigo para eles, e de sujeitar as necessidades humanas à rentabilidade da empresa. Mas a rentabilidade do capital investido na empresa não é problema nosso, proletários da miséria. E, de facto, se os governos fazem tenção de intervir, subsidiar e resgatar, é porque a ideia de que "este é um problema da empresa" é basicamente uma ilusão.

As empresas são actividades do capital. E do ponto de vista do capital, o "tecido industrial e comercial" é um sistema de vasos comunicantes. Um sistema que nivela os resultados do dinheiro investido em função da sua participação no capital nacional total, favorecendo as actividades que exploram os trabalhadores com mais eficiência e penalizando aquelas que os exploram menos (PMEs e fábricas desclassificadas tecnicamente).

Lucros e perdas são os sinais pelos quais o grande capital é orientado para mudar continuamente de um sector de produção para outro. Quando eles nos dizem que uma fábrica ou uma empresa "deve fechar", estão de facto a dizer-nos que, se a fecharem, esperam aumentar a sua atractividade para investimentos que, se não, vão para outro lugar, apoiando a todo o momento as empresas melhor colocadas para gerar lucro.

Eles podem vender-nos a ideia de que a rentabilidade de uma fábrica ou empresa é uma lei de bronze, mas isso não é verdade. É a valorização e a acumulação do capital que é o objectivo último do sistema global.

Que as empresas encerrem ou não, é no fim uma questão de relação de forças.  


Da mesma forma que, depois de negar as reivindicações dos trabalhadores porque elas "tornariam impossível a rentabilidade", eles acabam por ceder, geralmente com a intervenção financeira do Estado. Vimos isso recentemente durante a greve do comboio de alta velocidade francês. Logo que a "relação de forças" favorece os trabalhadores - o que acontece quando se afastam os sindicatos do campo de batalha - como aconteceu em França – as "soluções" aparecem. Que eles o façam com créditos, subsídios ou nacionalizações, como o propõem hoje vários deputados (da esquerda e da direita), também é um problema do capital. A maneira pela qual o capital reparará os seus próprios danos quando é ultrapassado pelos trabalhadores, como é que ele corrige a sua sacrossanta rentabilidade, não é um problema dos trabalhadores.

O que modifica a relação de forças é a tomada de controlo da greve em assembleia e prolongar a greve até à vitória.

Enquanto os problemas se limitarem a uma fábrica ou a uma empresa, o capital não precisa de se preocupar. Esse é um problema local que será resolvido pelas autoridades locais que embolsarão para de seguida mudarem para outras empresas, noutras regiões. Quando as coisas começam a mudar, é quando as greves se propagam, se generalizam. Aí, é o capital como um todo que sofre. Mas há outro para-choques: os sindicatos. Enquanto os sindicatos permanecerem no comando, as lutas serão enclausuradas - liquidadas. Quando não tiverem escolha, eles "ameaçarão" com uma greve sectorial, entenda-se nacional (sic).

A extensão do movimento de greve geral não é isso. É a assembleia de todos os trabalhadores que tomam o comando do movimento, ultrapassando o comité sindical (local, regional ou nacional) e as suas políticas de confinamento e isolamento. Trata-se do agrupar e da luta dos trabalhadores da empresa que pode se tornar num encontro permanente aberto a todos os trabalhadores afectados pelos despedimentos e encerramentos e a todo o pessoal que se junta, pela greve, noutras empresas , pertençam ou não ao mesmo sector, a empresas diferentes.

Trata-se de transformar uma luta de empresa em luta de classe.

Esta é a única forma pela qual o capital é forçado a encaixar o golpe como um todo ... e a recuar.

O bairro também faz parte do combate na fábrica.

O Covid-19 acelerou e consolidou a crise. Milhões de trabalhadores perderam os seus empregos em todo o mundo. Muitos deles são trabalhadores temporários e precários em pequenas empresas. Agora está claro que o trabalhador que passou "toda a sua vida" numa grande empresa não receberá melhor tratamento nem esperará nada melhor do que o "novato” (bleu – NdT) que acaba de ser contratado . O seu trabalho é uma mercadoria e, neste momento de crise, o capital não sabe como usá-lo para produzir mais mais-valia, o que é o objectivo e a razão de existir como capital. Travar lutas na fábrica, na oficina, no estaleiro de obras ou nas empresas é um erro que nos isola e nos enfraquece enormemente. Os interesses do trabalhador, do desempregado precário, do servente que não tem para onde ir trabalhar são idênticos aos do trabalhador industrial, administrativo ou da contabilidade.


 






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