As formações parlamentares desdenharam insultuosamente a
(cuidada) petição de mais de nove mil cidadãos (dos quais foram apenas
considerados uns oito mil e setecentos) em favor da liberdade de expressão,
Ostentaram intervenções de gente
que ao tema não dedicou qualquer reflexão atendível, qualquer atenção
suficiente, gente que não estava minimamente preparada para intervir
publicamente em tal matéria, ousando não obstante fazê-lo e que, por isso,
merece a vergastada mais dura no pelourinho do debate público.
A única intervenção consistente,
embora repugnante - com ligeiríssima asneira pelo meio - foi a de Telmo Correia
que jamais prescindirá, se lho permitirem, da possibilidade de retaliação penal
em face das críticas que lhe forem dirigidas.
A seguir veio o PAN confirmando a
sua vocação de amor aos animais, declamando infantilmente umas noções
compendiais fora do sítio que lhes cabe. O bloco esteve quase, mas o
interventor mostrou-se incapaz da fidelidade a critérios que pudessem sustentar
a sua própria linha de rumo ali. O PCP esteve igual a António Filipe e este não
é igual seja a quem for que se conheça.
A intervenção mais irritante foi
a de Cláudia Santos que até referiu (sem citar) Shopenhauer. Mas esse já lhe
tinha respondido, n' O Fundamento da Moral, por ter olhado os asnos e o ter
dito; os asnos, i.e. "os fazedores de manuais que todos os dias vemos com
esta tranquila segurança que é o privilégio dos imbecis (...)"
O orgulho de Danzig escolheu
isolar-se, uma vez que a vida em sociedade lhe apresentava (cálculo seu) 5/6 de
imbecis e ele substituiu-os pela companhia de um cão. Possa o mestre apiedar-se
de nós, na supratemporal assembleia dos filósofos, diante do panorama
parlamentar onde essa proporção é visivelmente mais temível. O Abranhos, ali,
faria figura de génio e era só uma caricatura. A demonstração podia começar por
esta senhora Cruz dos Santos que não se esqueceu da pomadinha da Metafísica:
-"nenhuma pessoa é uma ilha". Talvez fosse de remeter isso a lugar
onde caiba melhor, sem querer alarmar os Dâmasos Salcede da República.
Quanto a tudo o mais, pareciam as
concepções de mecânica automóvel do velho Salgado Zenha. Achava que a
"manutenção" da criminalização violadora (em si mesma) da Convenção
Europeia dos Direitos do Homem, se justifica pelas "fake news", mas
essas não estão sequer criminalizadas.
Não há incriminações por lesão do
direito de ser informado que será quanto se lesa nas "fake", com a
agravação (frequente) de se pretender (ou conseguir) atingir ou destruir alguém
ou alguma coisa. Mas também há a promoção de gente. às vezes pela inocência
pacóvia de idiotas, como mostra o episódio inexcedível do caso Baptista da
Silva, diante de quem, espontaneamente, a inteira Impresa ajoelhou atrás de
Nicolau Santos. Baptista da Silva estava, para cúmulo, cheio de razão. Foi
muito engraçado. Conviria ver se está bem.
Sim, essas incriminações talvez
pudessem existir, se isso não implicasse dar a gente igual a esta senhora a
incumbência desproporcionada de responder ao que nem Cristo respondeu
audivelmente: -"o que é a verdade?"... Seria preferível jogar aos
dados o destino pessoal.
Para as "fake" poderem
ser usadas, em todo o caso, nunca poderia dispensar-se a grande complacência da
ERC e da Comissão da Carteira que não podem deixar de haver-se como objectivos
suportes dessa prática infelicíssima. Prática da qual, de resto, o SIS faz uso,
com jornalistas avençados para isso, se bem li as minutas empregues. E, sem
poder pagar avenças, mas compensando de outro modo, o funcionalismo judiciário
faz outrotanto, como o fazem outros ainda. Aparentemente só os directamente
interessados vão ler tais coisas. Havia de ser lindo se assim não fosse...
Qualquer quadrilha persegue aqui
seja quem for numa imprensa que não merece leitores e por feliz consequência os
perde acentuadamente. Um pouco como estes deputados que não merecem eleitores e
os vão perdendo também. Felizmente. A resposta às "fake", como a
deputados destes, é não os ler, não os ouvir, não os convidar e nunca os
acreditar.
Lembram-se certamente do caso de
Bruno de Carvalho com a chuva ácida de dezenas de milhares de publicações
(imagino a aflicção das garotinhas, a mais velha das quais me parece uma
heroína, assistindo à detenção nocturna sem uma lágrima e ouvindo com a maior
atenção o pai e o defensor). A quantidade de lixo aí despejada não teve
precedentes e não voltou a ser igualada. A escumalha imaginava ali
(visivelmente e até) poder intimidar advogados. É corja de quem não se tratou
ainda convenientemente, embora nada vá perder pela demora.
A crítica é perseguida como
crime. Mas o insulto é livre. A grosseria chacinante é livre. A perseguição e
assédio são livres. Também isto demonstra que a formulação actual da Lei Penal
é completamente inoperante excepto para aqueles insalubres casos onde se
pretenda apenas macerar sem motivo. (Têm sido muitos milhares de casos de
protesto e crítica judicialmente esmagados; é talvez a maior hecatombe
repressiva da pretensa democracia). Para isso servem as proibidas
incriminações. São óptimos instrumentos de constrangimento ilícito.
Instrumentos delituais, aparentemente. De crime plausível, portanto.
Não há nada a temer na
"extrema direita" que não esteja exponenciado na esquerda oficial
aqui presente.
Quanto a tudo o mais, é
simplicíssimo o que aqui está. As liberdades não estão sujeitas a licença,
autorização ou a quaisquer formas de constrangimento espectral. A intrusão do
Estado nesta matéria carece de causa de justificação. É o que diz o Direito
Europeu dos Direitos do Homem na liberdade de expressão, que à invocação de
tais causas (aliás enumeradas na Convenção) opõe uma restricção interpretativa
jurisprudencial, vinculativa, subtil e severa, que a judicatura portuguesa é
incapaz de seguir, por ser incapaz de lhe compreender os critérios. Tal como os
parlamentares, de resto.
Não temos portanto um problema,
mas quatro. A judicatura que se confessa na jurisprudência aberrante, a
impreparação dos parlamentares bem patente nestas desgraçadas intervenções e o
alheamento dos organismos que garantiriam a deontologia no exercício da
actividade.
Infelizmente, demasiadas vezes, a atividade parlamentar é mais paralamentar do que devia! Ao que se pode ver, a honra e o amor à verdade abandonaram a maioria dos indivíduos que compõem a nossa classe política! Tristemente tenho que constatar, que o nosso brilhante Eça de Queiroz, continua totalmente atual... Mas como tudo na vida tem o seu desenlace e Deus nos garante que o mal não prevalecerá, resta-nos ir trabalhando por um mundo melhor e esperar que os que amam a podridão... caiam de podres!
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