Nas origens destes conceitos.
Visar unicamente a oligarquia financeira, considerar, como o escreverá em 1994 F. Chesnais (1), que teria havido um "golpe de Estado fundador da ditadura dos credores". (2), isso equivale a opor o capital bom ao mau, enquanto que para Marx o Capital é Capital em processo e forma um todo. O "golpe de Estado" mais importante foi aquele que foi realizado pelo capital sobre o trabalho e do monopólio que os capitalistas pretendem arrogar-se sobre a exploração dos seres humanos (3).
"Mas o
trabalhador cujo único recurso é a venda da sua força de trabalho não pode
deixar toda a classe de compradores, ou seja, a classe capitalista, sem
renunciar à existência. Ele não pertence a este ou àquele empregador, mas à
classe capitalista, e cabe a ele encontrar aí o seu homem, ou seja, encontrar
um comprador nessa classe burguesa "(K. Marx, trabalho assalariado e
capital).
Bem entendido, a sociedade capitalista conheceu numerosos golpes de Estado muito reais, mas aquele que nos referem hoje é particularmente virtual e imaterial. Para retornar à Terra, é necessário lembrar que a abordagem de K. Marx foi a de partir da mercadoria, analisar todos os processos nos seus movimentos recíprocos. Procedeu, então, da seguinte forma no livro primeiro (de O Capital – NdT), não tratando senão do desenvolvimento da esfera de produção capitalista, esse livro é uma continuação de um escrito publicado em 1859, sob o título: Crítica da economia política. É no livro primeiro que Marx desenvolverá a sua teoria do valor. Em seguida, no livro II, o da esfera de circulação do capital, ele concentra-se nos diversos movimentos do capital-mercadoria e nas suas várias metamorfoses, quanto ao livro III, diz respeito a todo o processo de produção capitalista. Nos livros I e II, Marx pressupõe a ausência de classes não capitalistas, a prevalência de reprodução simples e a ausência de crédito.
Isso para dizer que todos os conflitos, tanto industriais como na esfera da circulação do capital, não nos interessam senão que em função da nossa emancipação de proletários. A partir daí, vamos fazer um pequeno apanhado daquilo que designamos por Capital. O nosso combate contra o capital não se limita a querer “eutanasiar os rentistas” de Meynard Keynes, porque para nós o capital não se limita ao capital dinheiro também conhecido como “grande capital”, nem ao dinheiro, ele é um todo em movimento "Capital em processo". Não se trata, portanto, de lutar contra o lado mau do capital, a sua "oligarquia financeira", que teria feito um golpe planetário para nos impor uma "nova ordem mundial", subentendo aquela dos Illuminati, maçonaria ... (sic) . O capital financeiro é hegemónico no planeta há muito tempo e não precisa de fazer um golpe planetário para dominar pelo sistema de crédito a expansão do capitalismo, a sua reprodução ampliada.
O capital em processo é o quê?
Trata-se
de todas as metamorfoses que o capital em movimento deve operar, para retornar
à casa de partida, valorizado pela extracção da mais-valia.
“Mas, na realidade,
cada capital industrial apresenta-se sob as três formas ao mesmo tempo. Os três
ciclos de reprodução do capital são realizados, sem interrupção, um próximo ao
outro. É assim que uma fracção do capital, a funcionar como capital-mercadoria,
convertida em dinheiro, enquanto a outra sai da produção para entrar, como
capital-mercadoria novo, na circulação. O ciclo M '... M’ é, portanto, continuamente
descrito tal como os outros dois. A reprodução do capital em cada uma das suas
formas e em cada uma das suas etapas é tão ininterrupta quanto as metamorfoses
dessas formas e a sua sucessão nas três etapas. O ciclo total aqui resulta da
combinação das suas três figuras. ” (CAPÍTULO IV do Capital T 2-AS TRÊS FIGURAS
DO PROCESSO CÍCLICO)
Essas três formas de capital não são autónomas, elas são "apenas formas funcionais específicas de
capital industrial, que as assumem todas as três sucessivamente" (T II,
p. 57ed. Moscovo)
Como resultado, o ciclo
total do capital não funcionará senão depois de cada fase passar sem
interrupção de uma fase para a seguinte. Se durante o seu ciclo uma fase
congela, é a crise. Na fase D-M, o
capital monetário congela em tesouro; se estiver na fase de produção, os meios
de produção ficam paralisados e os trabalhadores desempregados. Na última fase M'-D 'do movimento de
mercadorias, elas acumulam-se sem se poderem vender. Por exemplo, para o capital
mercadoria, o seu período de circulação é o momento em que o produto é colocado
no mercado e assume a forma de uma mercadoria. "O produto transforma-se em mercadoria graças a esse elemento
espacial" (Grundrisse, cap. do capital, ed. 10/18, p. O elemento espacial
é o transporte).
Em suma, a dificuldade de converter mercadorias em dinheiro,
de obter mais-valia através do acto de vender, é que a mercadoria deve
obrigatoriamente ser convertida em dinheiro para que a mais-valia seja
realizada. Por outro lado, o dinheiro não precisa ser imediatamente convertido
em mercadoria. Daqui resulta que a venda e a compra possam ser dissociadas. É essa dissociação que contém as sementes da
crise, porque permite que as várias fases da circulação do capital se dissolvam
e se tornem "autónomas". A crise chega então como um acto violento,
destinado a reunir as diferentes fases do processo produtivo, que se tornaram
autónomas.
Na
crise actual, é antes de tudo o carácter fictício do capital que aparece como o
elemento perturbador da crise (a sua forma) e, amanhã, essa crise manifestar-se-á
ao nível dos outros dois ciclos do capital e, portanto, a esse nível do capital
total. Noutras palavras, se a crise se manifesta hoje, na maioria das vezes,
primeiro como uma crise financeira, é porque os títulos e "produtos
financeiros" se tornaram a forma comprovada de existência de valor, a
forma essencial do crédito e da especulação que os faz inchar em
"bolhas". Daí resulta que a crise do capital financeiro eclode quando
os seus títulos aparecem, subitamente, como uma atribuição sobre uma riqueza
imaginária, sobre mais-valias que não se realizam, sobre mercadorias que permanecem
em pousio e que não realizam a mais-valias nelas contidas.
Nas suas origens, o Capital Financeiro
Nas suas origens, o Capital Financeiro nasceu do capital
industrial e comercial. A princípio, ele assumiu apenas operações técnicas em
nome de capitalistas industriais e comerciais. Mas, ao fazer isso, esses
movimentos técnicos tornaram-se "autónomos" e transformaram-se na
função de um capital particular; o Capital
Financeiro (Capital dinheiro assumindo no início funções técnicas).
O capital total fracciona-se no processo de circulação a fim de realizar operações para todo o conjunto do capital restante. Portanto, uma fracção do capital total deve existir na forma de tesouro (que alguns acreditam ser o único capital real ... (sic). A partir de então, a administração do capital monetário torna-se um ramo particular ao serviço da classe capitalista como um todo. Portanto, no início, o comércio da moeda, na sua forma simples, ou seja, separado do sistema de crédito, é puramente técnico e só intervém na circulação das mercadorias dos quais é o reflexo.
"A circulação
monetária, em termos de volume, formas e movimentos, não é senão o simples
resultado da circulação de mercadorias" (K. Marx Capital T 1 Cap III edt
Moscovo).
O dinheiro é,
portanto, um reflexo dessa circulação de mercadorias e, ao fazê-lo, é uma
mercadoria específica dentro do capital total (global), cujo processo cíclico
ocorre em três estágios. Com o capital remunerado, vai emergir o sistema de crédito, nessa base, a
mais-valia extraída dos trabalhadores deverá ser dividida entre o Capital activo
e o Capital remunerado. O capitalista mutuário deve restituir ao credor (o
Capital Financeiro) o seu dividendo.
O sistema do crédito corresponde ao surgimento da dominação real
do capital (máquinas e mais-valia relativa) e manifesta-se principalmente nos
países industrializados da época e em primeiro lugar em Inglaterra. As
transformações dos meios de produção requerem investimentos tão importantes que
somente os bancos os podem assumir na forma de crédito. Desde logo o
capitalismo particular é suplantado pelo capitalismo colectivo, que actua
através de sociedades anónimas. Marx chegará a dizer que "é a
supressão do capital enquanto propriedade privada no interior dos limites do
próprio modo de produção capitalista".
"É por isso que o
dinheiro, na sua forma imediata, correspondente a uma fase histórica anterior
ao capital, aparece a este como custos de circulação. O capital esforçar-se-á,
portanto, em converter-se numa forma que lhe seja adequada, tornando-o
representativo de uma fase de circulação que não lhe custa trabalho e não tem
valor. O capital procura , portanto, suprimir o dinheiro sob a sua forma e a
sua existência tradicionais e imediatas e transformá-lo num produto do capital,
tornando-o um produto puramente ideal, ou seja, materialmente suprimido.
»Fundamentos t II p 186
Em resumo, opor o capital financeiro ao capital produtivo é,
na melhor das hipóteses, um retorno a Proudhon e Saint Simon, e não
entender em substância que o desenvolvimento do capitalismo, o da mais-valia relativa, do domínio real do
capital constante sobre capital variável é indissociável do capital de
empréstimo, veja e estude sobre esse assunto toda a parte do Volume III do
capital: capital-dinheiro e capital real.
Na pior das hipóteses, encontramos essa distinção em todos os nacionalistas que
se opõem de forma abstracta ao poder dos bancos da "oligarquia
financeira" aos Estados e "à sua soberania", eles só a fazem
para o "povo" e o seu slogan é "nem bancos nem sovietes" e a
sua teoria é a do "sangue do ouro" do nazi Rosenberg.
G.Bad 21 mai 2020
NOTAS
1.
Isto não retira nada à qualidade do seu
livro, la mondialisation du capital de acesso livre em UPAC.CA
2.
A expressão « ditadura dos credores »
vem-nos de (Fitoussi 1995), (Bourguiba,1995) vai mais longe com a sua « tirania
dos mercados ».
3.
Eu não retomo voluntariamente a exploração
do homem pelo homem, a mulher também é explorada e como dizia Marx ela é «a
proletária do homem”.
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