A propósito da solução engendrada por António Costa e o
governo do PS para salvar o BANIF, Marisa Matias, em recentes declarações, reclamava que os portugueses estão fartos de resgatar bancos. Se não
fosse trágico dava para esboçar um sorriso! Para quem se absteve no Parlamento
Europeu aquando da votação proposta por Elisa Ferreira do PS para o Tratado da União Bancária, é caso para dizer que
não diz a bota com a perdigota.
No mínimo, é muito desportiva a atitude desta oportunista face a um resgate que os especialistas do costume já estimam poder representar cerca de 4
mil milhões ao erário público – leia-se,
aos trabalhadores e ao povo português que são os únicos que não conseguem
escapar à colecta de impostos. Se é, como afirma, um acto criminoso praticado pelo anterior governo, porque persiste,
então, que a dívida soberana deve ser, ainda assim, renegociada ou reestruturada?
De há muitos anos a
esta parte que, de forma consistente e coerente, os marxistas-leninistas do
PCTP/MRPP vêm denunciando que todos os bancos portugueses estão falidos, ao
mesmo tempo que defendem o princípio de
que, não tendo a chamada dívida soberana
sido contraída pelo povo, nem o povo ter dela retirado qualquer benefício, a
única posição política correcta a defender seria a recusa do seu pagamento.
Propusemos – e
continuamos a propor - o derrube de todo e qualquer governo que inscreva no seu
programa de acção o pagamento da dita dívida, porque temos consciência que tal
é conseguido com recurso ao empobrecimento do povo e de quem trabalha e à
drástica diminuição ou anulação do seu direito à saúde e educação, a transportes
confortáveis e eficientes, à segurança social e acesso a prestações sociais,
enfim, a tudo o que assegure um maior equilíbrio para as suas vidas, a tudo que
assegure que está a recato de qualquer tipo de humilhação e de condição indigna
de sobrevivência.
Durante anos denunciámos que a dita dívida soberana mais não era do que uma manobra da burguesia ao
serviço da banca internacional e do grande capital financeiro – sobretudo a
alemã –,em transformar as dívidas dessa banca e do efeito do rebentamento da bolha imobiliária em dívida pública!
Mais, evidenciámos que o negócio
da dívida consistiu em impor o princípio de que só a banca comercial
poderia aceder ao crédito facultado pelo Banco Central Europeu a 1% de juros -
e agora, a menos – , estando os estados europeus, membros desta fraudulenta e
corrupta união, impedidos de o fazer.
Um maná! Seguiram-se, à custa desta fraude, anos de euforia e lucros por parte
da banca, durante os quais chorudos lucros eram principescamente distribuídos
pelos accionistas, não havendo a mínima preocupação em aproveitar os mesmos
para recapitalizar a banca.
É por isso que, após os desaires fraudulentos e criminosos de
BPN, BPP, BES e, agora, BANIF, depois de se saber que, não fora uma intervenção
musculada do Banco de Portugal, com fundos do estado e dos contribuintes, o BCP
e a Caixa Geral de Depósitos há muito teriam tido o mesmíssimo destino, vale a
pena questionar porque se insiste num modelo como aquele que visa salvaguardar
o sector financeiro e bancário privado e reproduzir o vício de fazer com que
dinheiros públicos – resultantes sobretudo dos impostos que se impõem sobre
quem trabalha e sobre o povo – sirvam para pagar vícios privados.
É cada vez mais evidente o oportunismo daqueles que, como o
P”C”P e o B”E”, nada mais têm a opôr àqueles que como o PCTP/MRPP defendem que
o repúdio da dívida é a única saída que defende os interesses da classe
operária e dos trabalhadores portugueses, do que uma pífia “reestruturação” ou “renegociação” da dívida.
Isto é, prestam-se a servir de cortina de fumo que proteja o
sistema capitalista e o seu programa, escamoteando que esta dívida é gerada
pelo sistema capitalista e propor a sua regeneração não é, certamente, o que
interessa à classe operária, aos trabalhadores e ao povo que são explorados por
esse sistema.
Reveladora deste oportunismo inqualificável tem sido a
reacção solidária e compreensiva de P”C”P e B”E”, bem como da Intersindical e
da UGT – a que se juntou, numa autêntica manifestação da união nacional que os move e anima, o candidato a presidente,
Marcelo Rebelo de Sousa -, às decisões anunciadas por António Costa.
Palhaçada que, para ter alguma consistência, passa por considerar
de grande utilidade mais um inquérito parlamentar, levado a cabo por mais uma
daquelas Comissões Parlamentares, onde tudo se comenta e discute, para que tudo
seja deixado na mesma! Isto é, para que os factores de exploração e humilhação do
povo e de quem trabalha possam prosseguir, de preferência sem resistência, nem
luta.
Um oportunismo que se replica no apoio incondicional a um
governo que persiste no modelo de impor o pagamento por parte do povo e de quem
trabalha desta dívida que não contraíram, nem dela beneficiaram, um governo que
prossegue a venda do país a retalho e o mantém amarrado a uma moeda como o euro que é uma autêntica
tenaz que sufoca economias mais frágeis
como a nossa e a uma União Europeia que representa o domínio imperial sobre os
protectorados que, como em Portugal, aceitaram destruir o seu tecido produtivo
e vender os seus recursos estratégicos por tuta e meia, esmagando qualquer leviandade em prosseguir uma política
soberana, independente e autónoma.
Sabemos que esta é uma luta dura e prolongada. Sabemos que
esta aparentemente ampla unidade de
esquerda tem toldado as lutas que a classe operária e os trabalhadores
devem prosseguir sem desfalecimentos ou ilusões. A via é difícil, é certo, mas
é a única saída para assegurar o restaurar da nossa independência e soberania
nacional e constituir um governo de unidade democrática e patriótica que leve a
cabo um plano de recuperação do tecido produtivo destruído e coloque em marcha
um novo paradigma de economia, ao serviço dos explorados de sempre.
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