
Ao analisarmos a posição dos diferentes representantes
do patronato e da classe dominante, a burguesia, os grandes grupos financeiros
e bancários, as grandes corporações, quer as nacionais, quer as estrangeiras,
que têm interesses no saque do nosso país, como sempre o fez no
passado vê no PS o bombeiro voluntário especializado em
apagar o fogo da revolução que inexoravelmente se agiganta e se torna
incontrolável e, agora, com alguns apoios e ajudantes de peso, à esquerda, como é o caso de PCP e BE.
Não fosse a generosidade
dos actuais aliados deixar desconfiada a burguesia e os donos deles todos – isto é, o imperialismo germânico e a
chancelerina Merkel -, àcerca da indestrutível
aliança, lá vêem PCP e BE, em profusas declarações de fidelidade, declarar
que este é um governo para a legislatura
e que estão na disposição de, por um lado, aprovar todos os Orçamentos de
Estado propostos pelo PS e, por outro, impedir o sucesso de qualquer moção de
rejeição ou censura propostos pela direita e pela extrema-direita, isto é, PSD
e CDS/PP.
As bombas de
profundidade que o porta-aviões da contra-revolução vai lançando nas águas
revoltas da resistência e da luta têm demonstrado uma ineficácia exasperante
para quem sobrevive à custa de um sistema que assenta na exploração do homem
pelo homem. Desde a teoria de que o povo português andou a viver acima das suas possibilidades, até às
sucessivas tentativas de manipulação da opinião
pública e da opinião publicada,
de que fazer greves não faz sentido - chegando ao desplante de as classificar
como indutoras de fracturas e divisões entre trabalhadores -, de todo o tipo de
manobras já lançou mão a burguesia.
O que está a desesperar a burguesia é a constatação de
que, os únicos sacrifícios que, ao longo de séculos de luta, os operários e os
trabalhadores em geral, estão dispostos a fazer, não são os de pagar dívidas
que constituem autênticas rendas no processo de acumulação capitalista,
mas unicamente aqueles que poderão redundar em conquistas e satisfação das suas
necessidades.

É por isso que, com roupagens mais reformistas ou mais agressivas e, até, revolucionárias
e de esquerda, é muito provável que
nos tempos mais próximos vejamos CGTP e UGT advogar que greves, sectoriais ou
gerais e nacionais, não deverão ocorrer, pois isso fragilizará o governo de unidade de esquerda , para além de não produzirem
os resultados esperados, visto que os trabalhadores estão fragilizados e não
poderão aguentar o impacto económico que tal tipo de luta acarreta, para mais
num cenário de profunda crise do capitalismo.
Para além desta teoria demonstrar um profundo desconhecimento,
quer da história, quer da vontade, empenho e combatividade que os trabalhadores
demonstram para lutar, o que esta unidade
revela é a vontade dos que agora se aliam, não para dar um novo rumo ao PREC
(Processo Revolucionário em Curso), mas para dele aproveitar a miserável
traição à classe operária e aos trabalhadores que representaram as famigeradas batalhas da produção.
Da história, porque os operários e os trabalhadores
que lutaram para conquistar a semana das 40 horas e todos os direitos
acima elencados, trabalhavam em condições muito mais duras do que as actuais,
alinhavam em frente às fábricas à espera de terem a sorte de naquele dia haver trabalho para si, enredados numa teia
generalizada de desemprego produzida pela migração dos campos para as cidades
que as revoluções industriais produziram, ao libertarem os servos da gleba do
senhor feudal para poderem dispor da única mercadoria de que dispunham – a sua
força de trabalho – para o patrão da indústria ou para o burguês mercantilista.

Os mesmos que, numa vã tentativa de desmobilizar a
luta dos trabalhadores e do povo, afirmam agora que, derrotado Cavaco e deposto
um governo de aliança entre a direita e a extrema direita, estão criadas as
condições para que as reivindicações imediatas destes estão em condições de ser
satisfeitas. Os mesmos que anunciam que
as condições que actualmente se vivem em Portugal não são as mesmas que levaram
a outras revoluções, pelo que o melhor será a classe operária, os
trabalhadores, ficarem muito quietinhos à espera de um qualquer D. Sebastião ou
à espera de que, por geração espontânea,
surjam as condições para uma qualquer ruptura
revolucionária!
Vejamos! Estamos de acordo que não estamos em 1917.
Muito menos na Rússia bolchevique. Donde, as condições revolucionárias da época e do local
não são as mesmas que vivenciamos no nosso país, na actualidade. Tão pouco o estadio sócio-económico é o mesmo!
Na Rússia predominava o feudalismo, a indústria era
obsoleta e pouco competitiva, a ditadura czarista era sangrenta, enquanto em
Portugal, o sistema político é, pelo menos formalmente, uma democracia
(burguesa), o sistema capitalista, apesar de incipiente e assente na lógica de
uma burguesia compradora e
parasitária , que vive, essencialmente, da relação de dependência total ao
capital exterior e se sujeita a ser complementar e marginal, sem uma estratégia
independente - como, por exemplo, a que a burguesia espanhola possui e se
expressa no facto de ter um sector industrial produtor de bens de equipamento,
uma indústria pesada relativamente forte no contexto europeu e, até, no
contexto de mercados como o sul-americano e um sector financeiro com relativo
peso-, predomina nas relações económicas,seja nos sectores primários como a
agricultura, seja nos industriais ou terciários.

Mas, não foi uma destruição qualquer. Foi cirúrgica,
beneficiou o lobby da agricultura
francês, o lobby espanhol das pescas
e a poderosa indústria germânica. E, em Portugal, agravou as condições de
parasitagem de largos sectores da burguesia compradora
e marginal que aceitaram destruir essa capacidade produtiva em troca dos
milionários subsídios. Num primeiro momento, para compensar os efeitos desta
clivagem, a Europa encheu-nos de
fundos para construir infraestruturas que, fundamentalmente, facilitassem a
circulação de mercadorias dos países dominantes para o seu novo protectorado,
Portugal.
Ora, se em 1974 existia uma vasta e aguerrida classe
operária (lembram-se das cinturas industriais de Lisboa e do Porto?), um vasto
sector de assalariados rurais (lembram-se do celeiro de Portugal, o Alentejo?)
e um influente sector de pequenos proprietários rurais que deveriam ter sido a
base de uma forte aliança operária-camponesa, base nuclear para uma revolução
socialista, não menos certo é que, forças que se reclamavam do marxismo e até do
comunismo, desviaram esta aliança estratégica fundamental para uma aliança
Povo/MFA desastrosa, caminho esse que redundou na contra-revolução que se
seguiu. E o argumento foi exactamente o mesmo que hoje se utiliza: é preciso
ter calma, é preciso não assustar, nem estimular o medo que largos sectores da
pequena burguesia alimentam face à revolução e à proletarização de que estão
ameaçadas.
Bem, chegados a este ponto, já dá para compreender,
sem se ser muito exaustivo, que nestas cerca de quatro décadas, muitas
alterações se produziram na sociedade portuguesa e na composição e interesses
de classe que nela subsistem. Desde logo uma diminuição abrupta do peso
demográfico da classe operária e dos assalariados rurais e um crescendo da
pequena-burguesia – técnicos especializados, funcionários administrativos, etc.
A própria burguesia sofreu alterações de peso. A burguesia nacional compradora que tem nos Belmiros, nos
donos do Pingo Doce, etc., os seus expoentes máximos, já não está tão ligada a
áreas da produção, mas sim às áreas da transacção,
mormente na área da distribuição. O sector da burguesia nacional, com
interesses autónomos face aos grandes grupos económicos e financeiros
estrangeiros, patriótica, tem cada vez menor peso e está, técnica e factualmente, falida.

Perante esta situação, quem não perceber o novo
alinhamento de classes, dos interesses específicos que cada uma defende, a
precedência de cada uma em relação à outras, não percebeu nada! Como não
entende que a relação de forças entre essas classes e o governo - que mais não
é do que o capataz da execução das
medidas ditadas pela tróica germano-imperialista - mudou! Apesar de, do ponto
de vista histórico, a base da revolução socialista continuar a ser a classe
operária e o campesinato pobre, vivemos hoje em Portugal uma nova situação, em
que é a pequena burguesia – enquanto o fenómeno da sua proletarização não ocorrer , e vai ocorrer, mais tarde ou mais
cedo, porque um dos objectivos da tróica é conseguir criar “Malásias” na Europa,
e Portugal e a Grécia são candidatos
naturais a esse desiderato, o que é certo é que a base social da fractura revolucionária que se impõe
actualmente é muito mais abrangente.

Daí que, quanto a nós, e pelas razões atrás invocadas
seja um erro crasso, propor ou admitir que o governo PS é um Governo de Esquerda. Não só porque o PS
continua amarrado ao Tratado de Lisboa, ao Tratado da União Bancária, ao Pacto
Orçamental e a todo o tipo de tratados que servem os interesses da Alemanha
imperial, como por tal estratégia dividir mais do que o que pode unir,
precisamente pelos pressupostos que defendemos mais atrás. É, aliás,
interessante, verificar que são precisamente aqueles que ao longo da actual
crise mais defenderam posições recuadas como a renegociação e a reestruturação
da dívida que, agora, se sintam muito confortáveis no seu papel de aliados e
suporte do governo de António Costa e do PS.
Face à ocupação de que Portugal está a ser alvo por parte de uma tróica que mais não constitui do que um instrumento ao serviço dos apetites imperiais e colonizadores de uma potência como a Alemanha, face ao presente alinhamento de classes e interesses de classe, à correlação de forças entre si e quanto ao que as une e ao que as divide, a única saída para os trabalhadores e o povo português é, pois, o derrube de qualquer governo que se disponha a ser serventuário dos ditames de Berlim.

Sem comentários:
Enviar um comentário