Decorreu neste último fim de semana mais uma acção de recolha de alimentos para o Banco Alimentar. Nesta acção, que decorreu em mais de 2.000 superfícies comerciais, participaram cerca de 42 mil voluntários e foram recolhidas mais de 2.270 toneladas de alimentos. Um velho e popular ditado alerta para que quando a esmola é muita...o povo desconfia! E, se não desconfia, pelo menos deveria ficar alerta!
A caridadezinha burguesa em que assentam iniciativas deste tipo, mas não só,
para além de outros objectivos, visa sobretudo adormecer e inebriar a
consciência dos trabalhadores e do povo quanto às verdadeiras causas das
condições de fome e de miséria para que foram atirados por um sistema que
assenta na exploração do homem pelo homem e no sacrossanto lucro.
Num momento em que, fruto das consequências decorrentes das crises
económicas e financeiras do capitalismo, em que a planificação económica não se
baseia nas necessidades do povo, mas tão só nos lucros que os detentores do
capital e dos meios de produção poderão obter – nem que para tal tenham de
morrer milhões de trabalhadores em todo o mundo –, logo aparece um batalhão de piedosas almas, as Jonets, as santas casas disto e daquilo, as caritas, muito afogueadas, a organizar
peditórios para tudo e mais alguma coisa, dizem eles que para aliviar o sofrimento dos pobres da terra.
Se é certo que milhares de voluntários se prestam a dar a sua genuína e
generosa solidariedade, participando activamente em todos esses peditórios –
desde os bancos alimentares à recolha
de vestuário, passando por fundos para tudo e mais alguma coisa -, não menos
certo é que quem se apropria da direcção e destino do resultado dos
mesmos tem uma agenda ideológica que assenta no pressuposto de desculpabilizar o sistema que cria as
condições de fome e miséria pelas quais o povo está a passar.
Isto, para além de o controlo da esmola ser por si um instrumento de poder
e dominação.
E o que dizer, então, da suprema hipocrisia que é o facto de campanhas como
as do Banco Alimentar contra a Fome,
entre outras, serem ansiosamente aguardadas pelos Pingos Doce e Continentes
do nosso descontentamento, que vislumbram nas mesmas uma receita
adicional para os seus já abarrotados cofres e para as suas já gordas
fortunas?!
Quer as grandes cadeias de supermercados – que, logicamente, se disponibilizam de imediato para aderir a
estas campanhas –, quer o estado que defende os seus interesses arrecadam, os
primeiros, fabulosos lucros pela venda dos produtos generosamente adquiridos
por quem, de facto, quer ser solidário, e os segundos, impostos directos como e
IVA e indirectos como o IRC. Contas feitas, neste negócio da caridadezinha,
ao destinatário da mesma, se chegarem uns míseros 20 ou 30% do
resultado das mesmas já estão com muita sorte,
enquanto o estado burguês e os grandes grupos económicos que exploram essas
grandes superfícies, abocanham mais de 80%!
Àqueles mais piedosos que, ainda
assim, poderão dizer que, então, se não organizarmos este tipo de
campanhas é que milhares ou centenas de milhar poderiam morrer à fome, nós respondemos que
não é com aspirinas que se curam cancros. O cancro do capitalismo que,
ciclicamente, provoca a destruição massiva das forças produtivas e atira para o
desemprego, a fome e a miséria, somente em Portugal, mais de 3 milhões de
elementos do povo, nunca será ultrapassado com este tipo de paliativo!
A solidariedade operária é bem diversa da caridadezinha burguesa. Assenta na solidariedade militante e activa
às lutas que em todo o mundo se organizam e desenrolam precisamente para
destruir um sistema que atira para a fome, a miséria e a humilhação quem
trabalha ou trabalhou toda uma vida.
A sua cura, em Portugal, passa por uma luta sem tréguas a todos os governos
que se dispuserem a ser meros obedientes serventuários dos ditames da tróica
germano-imperialista. Passa pela constituição de um governo de unidade
democrática e patriótica que nacionalize todas as empresas e sectores de
importância estratégica para um novo paradigma de economia, ao serviço do povo
e de quem trabalha, um governo que recupere o tecido produtivo que foi
destruído à custa de uma política vende-pátrias levada a cabo por sucessivos
governos do PS e do PSD, por vezes acolitados pelo CDS.
Um governo que tenha a coragem de expulsar do nosso país a tróica
germano-imperialista, que tenha a coragem de colocar o sector bancário sob
controlo do estado, um governo que imponha sem hesitações a recusa do pagamento
da dívida e dos juros dela decorrentes, um governo que tenha o discernimento e
a coragem de preparar o país para a saída do euro e da união europeia.
Ora aqui está um texto que desmascara a propaganda dos meios de comunicação do nosso país.
ResponderEliminarContudo, apesar de estar excelente no assunto que trata, é preciso escrever com esta clareza, outros assuntos de carácter ideológico, tais como a visão do mundo em cada classe da sociedade capitalista.
A grande dificuldade está na juventude não pertencer à classe operária e esta classe já quase não existir.