
Porém, ano após ano, o quadro não só se mantém como se
agrava. E, a forma de entreter o povo e iludir o fundo das questões é sempre a
mesma: a protecção civil não funcionou como devia, os bombeiros manifestam uma
profunda descoordenação e falta de meios, etc.
No entanto, a verdade é que, enquanto para a burguesia for
mais rentável “combater” os fogos do que preveni-los, os incêndios serão uma
chaga com a qual os camponeses pobres e envelhecidos, primeiro, e o povo em
geral, depois, se terão de confrontar.

Num país em que o processo de acumulação capitalista não
chegou a uma grande área da sua estrutura agrária, onde pontifica o minifundio
e a dispersão habitacional, onde o campesinato pobre, imediatamente a seguir ao
25 de Abril de 1974 não compreendeu – e até rejeitou – que a única aliança que
permitiria assegurar o seu futuro era a aliança com a classe operária,
aceitando o programa de colectivização dos meios de produção e a mecanização e
modernização da agricultura, os incêndios vão produzir o efeito que os caciques
locais induziram a estes camponeses quando lhes diziam que os comunistas – para
além de comerem criancinhas ao pequeno almoço – lhes queriam roubar as terras.
Claro que, quando refiro o programa defendido pelos
comunistas para o sector da agricultura e pela defesa da aliança
operário-camponesa, não me estou a referir ao PCP que há muito abandonou este
programa revolucionário.

Representa que o poder está a dar uma indicação clara de que
está disposto a dar, de facto, um primeiro, mas grande passo, no caucionar de
um roubo que, afinal, não serão os comunistas a praticar, como afirmavam em 74
os caciques locais, mas sim aqueles que visam facilitar a acumulação
capitalista nos campos e transformar o minifundio em grandes propriedades onde,
ao invés da economia de subsistência, se pratique uma agricultura extensiva e
intensiva, incluindo a florestal.

Ora, foi este abandono, foi este estrangular da agricultura,
agravado pela adesão de Portugal – primeiro à CEE e depois à UE – a uma
comunidade europeia onde os interesses dos grandes agricultores – sobretudo franceses
– determinaram uma política de “quotas” que estrangulou definitivamente a
exploração agrícola no nosso país, provocou um êxodo da juventude dos campos
para a cidade e para a emigração e promoveu o envelhecimento da população dos
campos.
Só uma política democrática e patriótica pode garantir um novo paradigma para a agricultura e a independência necessária à sobrevivência deste sector, para que contribua para um Portugal livre do garrote da dívida e do euro.