
Escamoteando o facto de que a política austeritária até agora imposta pela
chancelerina Merkel prosseguirá, Draghi e os sectores da burguesia que ele
representa na Europa e no mundo, defendem que essa estratégia está a
colocar o continente à beira da deflacção
e que se torna urgente adoptar medidas que levem ao encarecimento das
importações e a contrariar a tendência dos consumidores em adiarem as suas
decisões de compra à espera de sucessivas descidas dos preços.
Se é certo que estas medidas poderão potenciar um euro mais barato, que torne as exportações mais competitivas e, até, dinamizar e exponenciar as receitas do turismo – sobretudo atraindo mais turistas de países fora da zona euro -, não menos certo é que, a curto e medio prazo estas medidas se reflectirão, dramaticamente, no valor trabalho. É que, dinheiro não passa de papel impresso e este, a não ser que se registe uma redução do custo unitário do trabalho, que garanta a emissão desse papel impresso…não vale nada!

Aquela esquerda que incensou como
papa da economia Paul Krugman quando este advogava que, para sair da crise, os países sob
tutela, fosse do FMI a sós, fosse de uma qualquer tróica imperialista, só
teriam como saída uma desvalorização de 30% dos salários, exulta de
contentamento face às medidas agora anunciadas por Draghi. As mesmíssimas
medidas que advoga François Hollande e que representaram para os EUA o milagre económico de Obama… uma queda
histórica de 25% dos salários! Caso para dizer que a montanha, está bem de ver,
pariu um rato. Pelos vistos, Draghi incorporou adequadamente os ensinamentos de Krugman!
Para estes eternos românticos da revolução, organização,
disciplina, estratégia e táctica, linha política justa e coerente, objectivos,
direcção organizada, são autênticos pesadelos. E nem sequer se pasmam quando
verificam que esta sua permanente hesitação, esta sua recorrente fuga
para a frente, esta sua
aposta no modelo em que o movimento é tudo, esta sua endémica
incoerência redunda, fatalmente, na deserção cobarde, sempre alegando que este
povo não merece o seu esforço!
Não abandonando a fórmula de sempre, isto é, de que os países da zona
euro deveriam apostar na consolidação
orçamental, Mario Draghi e os senhores dos grandes grupos financeiros e
bancários que serve, com os alemães à cabeça, afirma ser de extrema
importância a melhor contribuição da política monetária para fomentar o crescimento
e a criação de emprego na zona euro. Tal não passa, no entanto, de um
autêntico sofisma burguês, de uma falácia!

E contribuirá, do mesmo passo, para a liquidação do que resta do tecido
produtivo dos países considerados elos fracos da cadeia capitalista,
nos quais se inclui Portugal, ao forçar uma mais acentuada destruição das
forças produtivas, o agravar do desemprego e da recessão, mais fome e miséria
para os trabalhadores e para o povo.
A ambição de que fala Draghi não pode ser, portanto, a mesma ambição porque
lutam os trabalhadores e o povo português e os restantes povos europeus
sujeitos ao mesmo tipo de medidas terroristas e fascistas impostas pela tróica
germano-imperialista de que o BCE de Draghi, é preciso não esquecer, é um dos
suportes.
A ambição de Draghi é a de proporcionar uma cada vez maior acumulação de
riqueza à burguesia e aos seus grupos financeiros e bancários. A ambição de
Draghi é a de que os chamados elos fracos da cadeia capitalista na
Europa, entre os quais inclui Portugal, se tornem países fornecedores de
mão-de-obra intensiva, desqualificada e de baixo preço, tornando estes países a
Malásia da Europa, que proporcionem
às grandes potências económicas, com a Alemanha à cabeça, maiores índices de competitividade que
lhes permitam fazer face à cada vez maior agressividade das potências
emergentes, das quais a China se destaca.
Mas, a ambição do povo português vai no sentido completamente oposto,
antagónico ao de Draghi e dos senhores que serve. Vai no sentido de se
organizar e mobilizar para o derrube deste governo de traição nacional PSD/CDS,
expulsar a tróica germano-imperialista do nosso país e de todos os que com ela
compactuaram, recusar o pagamento da dívida, sair do euro e impor o novo escudo
para recuperar o nosso tecido produtivo e a independência do nosso pais,
mormente através da nacionalização da banca e dos sectores e empresas
estratégicas, vai no sentido de implementar um plano de investimentos
criteriosos e produtivos que assegurem a única saída para a criação de riqueza
e emprego, dignidade e soberania, para os trabalhadores e para o povo.
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