Anunciadas com grande pompa e circunstância como representando a salvação para a Europa e, sobretudo,
para o euro, as medidas agora propostas por Mario Draghi e pelo Banco Central
Europeu (BCE), ao qual preside, visam travar, por um lado, a pretensão de um
qualquer país da Zona Euro se sentir tentado a dela sair e, por outro lado,
baseadas numa estratégia quantitive
easing, agir sobre os preços impedindo que eles entrem numa escalada de
descida , isto é, numa incontrolável e imprevisível deflacção.
Escamoteando o facto de que a política austeritária até agora imposta pela
chancelerina Merkel prosseguirá, Draghi e os sectores da burguesia que ele
representa na Europa e no mundo, defendem que essa estratégia está a
colocar o continente à beira da deflacção
e que se torna urgente adoptar medidas que levem ao encarecimento das
importações e a contrariar a tendência dos consumidores em adiarem as suas
decisões de compra à espera de sucessivas descidas dos preços.
Se é certo que estas medidas poderão potenciar um euro mais barato, que torne as exportações mais competitivas e, até, dinamizar e exponenciar as receitas do turismo – sobretudo atraindo mais turistas de países fora da zona euro -, não menos certo é que, a curto e medio prazo estas medidas se reflectirão, dramaticamente, no valor trabalho. É que, dinheiro não passa de papel impresso e este, a não ser que se registe uma redução do custo unitário do trabalho, que garanta a emissão desse papel impresso…não vale nada!
Ora, para poder levar a cabo estas medidas, a burguesia contará, como
sempre, com a prestimosa colaboração daquela esquerda sensata, que sabe estabelecer compromissos – diria traições - , abrindo mão de bandeiras como a saída da NATO, em troca de um pretenso alívio de uma dívida soberana que, não tendo sido
contraída, nem pelos trabalhadores, nem pelos povos, contudo é a eles que,
através de toda a sorte de medidas terroristas e fascistas, que tem estado a
ser imposto o seu pagamento.
Aquela esquerda que incensou como
papa da economia Paul Krugman quando este advogava que, para sair da crise, os países sob
tutela, fosse do FMI a sós, fosse de uma qualquer tróica imperialista, só
teriam como saída uma desvalorização de 30% dos salários, exulta de
contentamento face às medidas agora anunciadas por Draghi. As mesmíssimas
medidas que advoga François Hollande e que representaram para os EUA o milagre económico de Obama… uma queda
histórica de 25% dos salários! Caso para dizer que a montanha, está bem de ver,
pariu um rato. Pelos vistos, Draghi incorporou adequadamente os ensinamentos de Krugman!
Para estes eternos românticos da revolução, organização,
disciplina, estratégia e táctica, linha política justa e coerente, objectivos,
direcção organizada, são autênticos pesadelos. E nem sequer se pasmam quando
verificam que esta sua permanente hesitação, esta sua recorrente fuga
para a frente, esta sua
aposta no modelo em que o movimento é tudo, esta sua endémica
incoerência redunda, fatalmente, na deserção cobarde, sempre alegando que este
povo não merece o seu esforço!
Não abandonando a fórmula de sempre, isto é, de que os países da zona
euro deveriam apostar na consolidação
orçamental, Mario Draghi e os senhores dos grandes grupos financeiros e
bancários que serve, com os alemães à cabeça, afirma ser de extrema
importância a melhor contribuição da política monetária para fomentar o crescimento
e a criação de emprego na zona euro. Tal não passa, no entanto, de um
autêntico sofisma burguês, de uma falácia!
É que, no quadro da desindustrialização que o imperialismo germânico forçou
em toda a Europa, e em particular em Portugal, onde tal política foi
acompanhada pela liquidação da agricultura e das pescas, manter a estabilidade
dos preços e garantir uma sólida política cambial beneficia,
sobretudo, os superavits das potências detentoras de uma capacidade industrial
mais agressiva e moderna, como é o caso da Alemanha.
E contribuirá, do mesmo passo, para a liquidação do que resta do tecido
produtivo dos países considerados elos fracos da cadeia capitalista,
nos quais se inclui Portugal, ao forçar uma mais acentuada destruição das
forças produtivas, o agravar do desemprego e da recessão, mais fome e miséria
para os trabalhadores e para o povo.
A ambição de que fala Draghi não pode ser, portanto, a mesma ambição porque
lutam os trabalhadores e o povo português e os restantes povos europeus
sujeitos ao mesmo tipo de medidas terroristas e fascistas impostas pela tróica
germano-imperialista de que o BCE de Draghi, é preciso não esquecer, é um dos
suportes.
A ambição de Draghi é a de proporcionar uma cada vez maior acumulação de
riqueza à burguesia e aos seus grupos financeiros e bancários. A ambição de
Draghi é a de que os chamados elos fracos da cadeia capitalista na
Europa, entre os quais inclui Portugal, se tornem países fornecedores de
mão-de-obra intensiva, desqualificada e de baixo preço, tornando estes países a
Malásia da Europa, que proporcionem
às grandes potências económicas, com a Alemanha à cabeça, maiores índices de competitividade que
lhes permitam fazer face à cada vez maior agressividade das potências
emergentes, das quais a China se destaca.
Mas, a ambição do povo português vai no sentido completamente oposto,
antagónico ao de Draghi e dos senhores que serve. Vai no sentido de se
organizar e mobilizar para o derrube deste governo de traição nacional PSD/CDS,
expulsar a tróica germano-imperialista do nosso país e de todos os que com ela
compactuaram, recusar o pagamento da dívida, sair do euro e impor o novo escudo
para recuperar o nosso tecido produtivo e a independência do nosso pais,
mormente através da nacionalização da banca e dos sectores e empresas
estratégicas, vai no sentido de implementar um plano de investimentos
criteriosos e produtivos que assegurem a única saída para a criação de riqueza
e emprego, dignidade e soberania, para os trabalhadores e para o povo.
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