domingo, 25 de janeiro de 2015

A "revolução" de Mario Draghi!

Anunciadas com grande pompa e circunstância como representando a salvação para a Europa e, sobretudo, para o euro, as medidas agora propostas por Mario Draghi e pelo Banco Central Europeu (BCE), ao qual preside, visam travar, por um lado, a pretensão de um qualquer país da Zona Euro se sentir tentado a dela sair e, por outro lado, baseadas numa estratégia quantitive easing, agir sobre os preços impedindo que eles entrem numa escalada de descida , isto é, numa incontrolável e imprevisível deflacção.

Escamoteando o facto de que a política austeritária até agora imposta pela chancelerina Merkel prosseguirá, Draghi e os sectores da burguesia que ele representa na Europa e no mundo,  defendem que essa estratégia está a colocar o continente à beira da deflacção e que se torna urgente adoptar medidas que levem ao encarecimento das importações e a contrariar a tendência dos consumidores em adiarem as suas decisões de compra à espera de sucessivas descidas dos preços.

Se é certo que estas medidas poderão potenciar um euro mais barato, que torne as exportações mais competitivas e, até, dinamizar e exponenciar as receitas do turismo – sobretudo atraindo mais turistas de países fora da zona euro -, não menos certo é que, a curto e medio prazo estas medidas se reflectirão, dramaticamente, no valor trabalho. É que, dinheiro não passa de papel impresso e este, a não ser que se registe uma redução do custo unitário do trabalho, que garanta a emissão desse papel impresso…não vale nada!

Ora, para poder levar a cabo estas medidas, a burguesia contará, como sempre, com a prestimosa colaboração daquela esquerda sensata, que sabe estabelecer compromissos – diria traições - , abrindo mão de bandeiras como a saída da NATO, em troca de um pretenso alívio de uma dívida soberana que, não tendo sido contraída, nem pelos trabalhadores, nem pelos povos, contudo é a eles que, através de toda a sorte de medidas terroristas e fascistas, que tem estado a ser imposto o seu pagamento.

Aquela esquerda que incensou como papa da economia Paul Krugman quando este advogava que, para sair da crise, os países sob tutela, fosse do FMI a sós, fosse de uma qualquer tróica imperialista, só teriam como saída uma desvalorização de 30% dos salários, exulta de contentamento face às medidas agora anunciadas por Draghi. As mesmíssimas medidas que advoga François Hollande e que representaram para os EUA o milagre económico de Obama… uma queda histórica de 25% dos salários! Caso para dizer que a montanha, está bem de ver, pariu um rato. Pelos vistos, Draghi incorporou adequadamente os ensinamentos de Krugman!

Para estes eternos românticos da revolução,  organização, disciplina, estratégia e táctica, linha política justa e coerente, objectivos, direcção organizada, são autênticos pesadelos. E nem sequer se pasmam quando verificam que esta sua permanente hesitação, esta sua recorrente fuga para a frente, esta sua aposta no modelo em que o movimento é tudo, esta sua endémica incoerência redunda, fatalmente, na deserção cobarde, sempre alegando que este povo não merece o seu esforço!

Não abandonando a fórmula de sempre, isto é, de que os países da zona euro deveriam apostar na consolidação orçamental, Mario Draghi e os senhores dos grandes grupos financeiros e bancários que serve, com os alemães à cabeça, afirma ser de extrema importância a melhor contribuição da política monetária para fomentar o crescimento e a criação de emprego na zona euro. Tal não passa, no entanto, de um autêntico sofisma burguês, de uma falácia!

É que, no quadro da desindustrialização que o imperialismo germânico forçou em toda a Europa, e em particular em Portugal, onde tal política foi acompanhada pela liquidação da agricultura e das pescas, manter a estabilidade dos preços e garantir uma sólida política cambial beneficia, sobretudo, os superavits das potências detentoras de uma capacidade industrial mais agressiva e moderna, como é o caso da Alemanha.

E contribuirá, do mesmo passo, para a liquidação do que resta do tecido produtivo dos países considerados elos fracos da cadeia capitalista, nos quais se inclui Portugal, ao forçar uma mais acentuada destruição das forças produtivas, o agravar do desemprego e da recessão, mais fome e miséria para os trabalhadores e para o povo.

A ambição de que fala Draghi não pode ser, portanto, a mesma ambição porque lutam os trabalhadores e o povo português e os restantes povos europeus sujeitos ao mesmo tipo de medidas terroristas e fascistas impostas pela tróica germano-imperialista de que o BCE de Draghi, é preciso não esquecer, é um dos suportes.

A ambição de Draghi é a de proporcionar uma cada vez maior acumulação de riqueza à burguesia e aos seus grupos financeiros e bancários. A ambição de Draghi é a de que os chamados elos fracos da cadeia capitalista na Europa, entre os quais inclui Portugal, se tornem países fornecedores de mão-de-obra intensiva, desqualificada e de baixo preço, tornando estes países a Malásia da Europa, que proporcionem às grandes potências económicas, com a Alemanha à cabeça, maiores índices de competitividade que lhes permitam fazer face à cada vez maior agressividade das potências emergentes, das quais a China se destaca.

Mas, a ambição do povo português vai no sentido completamente oposto, antagónico ao de Draghi e dos senhores que serve. Vai no sentido de se organizar e mobilizar para o derrube deste governo de traição nacional PSD/CDS, expulsar a tróica germano-imperialista do nosso país e de todos os que com ela compactuaram, recusar o pagamento da dívida, sair do euro e impor o novo escudo para recuperar o nosso tecido produtivo e a independência do nosso pais, mormente através da nacionalização da banca e dos sectores e empresas estratégicas, vai no sentido de implementar um plano de investimentos criteriosos e produtivos que assegurem a única saída para a criação de riqueza e emprego, dignidade e soberania, para os trabalhadores e para o povo.




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