sábado, 29 de abril de 2017

A reestruturação da dívida e o Estado Social!

Existe em Portugal – e não é um atributo meramente nacional, pois manifesta-se por esse mundo fora – uma esquerda que se entretém a enganar a classe operária e os trabalhadores com a consigna do Estado Social  e com a proposta de renegociação ou reestruturação da dívida pública, fazendo acreditar que esses seriam dois dos grandes objectivos da luta e do porvir histórico da classe operária e dos seus aliados.

Sem que tal constitua já qualquer motivo de surpresa, foi agora anunciado o resultado do que foi cozinhado, nas costas do povo português, por um Grupo de Trabalho formado pelos sociais-democratas, representantes de uma pequena burguesia burguesa e pseudo iluminada, do Bloco de Esquerda e o Partido Socialista, a propósito da dívida pública e de qual a receita que propõem para que esta seja paga.

Sempre o afirmámos que admitir que esta dívida é para ser paga é admitir o principio propalado pelo imperialismo germânico e seus lacaios de que o povo esteve a viver acima das suas possibilidades sendo, portanto, a dívida legítima. É escamotear que a dívida pública não passa de um mero instrumento de chantagem - http://queosilenciodosjustosnaomateinocentes.blogspot.pt/2015/07/euro-e-divida-sao-indispensaveis.html -, pressão e neo-colonização usado pelas potências mais ricas, imperialistas e seus satélites, sobre nações mais fragilizadas, em virtude de terem embarcado nas políticas de destruição do seu tecido produtivo que aquelas impuseram e, por isso, se terem tornado ainda mais dependentes e vulneráveis a ataques especulativos de toda a ordem.
Ataques especulativos que foram facilitados e ampliados, entretanto, com a imposição por parte do imperialismo germânico e seus acólitos, de toda a sorte de Tratados, como o tratado Orçamental, o tratado da União Bancária – percebendo-se cada vez mais porque é que o BE se absteve na sua votação, quando ele foi proposto pela então deputada europeia pelo PS, Elisa Ferreira - , o euro, etc.
Em devido tempo denunciámos a tentativa do PS de defender que havia uma estratégia de esquerda para levar a cabo as imposições da tróica germano-imparialista e outra, de direita, protagonizada pelo governo de aliança entre a extrema-direita e a direita, isto é, do PSD e do CDS-PP. Como denunciámos, com igual firmeza e acuidade, a estratégia proposta por BE e PCP de renegociação ou reestruturação da dívida.

Tal como afirmava no meu artigo - (http://queosilenciodosjustosnaomateinocentes.blogspot.pt/2013/02/o-modus-operandi-do-negocio-da-divida.html– a burguesia e os grandes grupos capitalistas, sobretudo os ligados às áreas da finança e da banca,  esfregaram as mãos de contentamento face a esta tão generosa proposta.

Quanto mais tempo se perpetuar a dívida, mesmo baixando os juros,  maiores são os lucros. Este é, aliás, o mesmo principio abusivo que leva os bancos a penalizar os seus clientes que desejem antecipar o pagamento das dívidas. O que se pretende é precisamente – e ademais com o aval do estado – que a dívida renda dividendos pela maior extensão possível de tempo.

E, a confirmar que tínhamos toda a razão quando denunciámos este patifes reaccionários e oportunistas, estão as conclusões a que o supracitado Grupo de Trabalho, constituído por representantes de PS e BE, chegaram. Pagamento da dívida em 45 anos, com o pressuposto de baixar os juros decorrentes do serviço da dívida e, como tal, garantir que a percentagem do PIB afectado para esse desiderato permita que sejam afectados mais recursos àquilo a que pomposamente classificam de Estado Social.

Uma traição miserável, desde logo porque escamoteia que o estado é uma decorrência da luta de classes e que a luta por um estado social no contexto de uma sociedade capitalista, dominada pela burguesia, é uma redundância sem qualquer sentido.

Só destruindo o modo de produção capitalista, substituindo-o pelo modo de produção comunista, só quando a classe operária – incluindo os assalariados rurais -e os seus aliados tomarem o poder e destruírem o estado capitalista, sobre os escombros do qual construirão o estado que cumprirá o objectivo de extinguir as classes e as lutas que elas travam entre si e, com isso, levem ao próprio desvanecimento do estado, é que se poderá admitir que, finalmente, a cada um será proporcionado aquilo de que verdadeiramente necessita – seja em termos de saúde, educação, habitação, alimentação ou outra necessidade qualquer.

Esta traição, insidiosa e enganadora, cumpre exactamente os objectivos da burguesia. Desarma os operários e seus aliados, fazendo crer que, no quadro do sistema capitalista existe a possibilidade de amenizar a exploração desalmada a que estão sujeitos, a par do saque, morte e miséria a que as potências imperialistas sujeitam os seus países, nações ou territórios.

Marx, no seu Manifesto do Partido Comunista foi claro quanto ao papel destes oportunistas no seio do movimento operário e popular e traçou-lhes um destino: o caixote do lixo da história. E, a história, de forma inexorável , tem-no comprovado. Todos aqueles partidos ou organizações oportunistas, que se afirmam de esquerda, que têm desviado a revolução do seu porvir histórico – que é o de destruir o estado capitalista, o imperialismo e as relações de produção capitalistas -, depois de cumprirem a sua função ao serviço da burguesia são, pura e simplesmente, rejeitados por operários e trabalhadores que enganaram durante toda a sua existência.

Veja-se o que se passou em Itália com o partido revisionista e, posteriormente, com o partido dito socialista. Varridos do mapa político! Em Espanha, o PSOE, está completamente pulverizado e deixou de merecer sequer a confiança dos seus patrões como válvula de escape para a pressão revolucionária. A burguesia encomendou essa tarefa a estruturas ditas horizontais como o PODEMOS!

As eleições francesas são paradigmáticas desta tendência. O PSF sai arrasado das últimas eleições presidenciais! Mais uma vez, a burguesia francesa  aposta noutros cavalos. E isto acontece em França, em Espanha, na Itália, como acontecerá em Portugal e noutros países do mundo onde estes arautos do estado social e outras patranhas como o socialismo democrático, o capitalismo civilizado, ou o reclamar da prossecução de políticas de esquerda no quadro de nações onde impera o capital, o capitalismo e o imperialismo, levam a uma situação em que a classe operária e os seus aliados, tendo consciência de que estes oportunistas não servem os seus interesses, não compreenderam ainda os caminhos, a linha e os objectivos que devem abraçar para, de uma vez por todas, assumir o seu porvir histórico que é o de acabar com a exploração do homem pelo homem, de criar as condições para que deixem de haver classes e luta de classes e necessidade de estado para regular – a favor da classe dominante – os interesses antagónicos entre elas.

Tal como no passado, estes oportunistas, apesar de se reclamarem da esquerda, pelas suas hesitações, pelas traições que protagonizam, pelos desvios que impõem à revolução, são os únicos e verdadeiros responsáveis pelo descrédito em que a classe operária e os seus aliados têm as políticas, programas e estratégia apresentadas pela esquerda, mesmo que formal, levando um sector significativo das massas populares a abraçar ideologias populistas, fascistas e de extrema-direita.

Temos de perceber que um discurso contra a austeridade, acompanhado do apoio a políticas que retiram a cada país a sua capacidade de decidir – de forma independente – a sua política fiscal, cambial, bancária, financeira, etc., não só soa a falso como conduz a classe operária e os seus aliados ao...cadafalso!
A tenaz da dívida aperta-se, o euro e a dívida proporcionam às potências mais relevantes na Europa – Alemanha e França – lucros cada vez mais fabulosos. Aliás, o maior negócio para essas potências e suas marionetas é mesmo, nos tempos que correm, o negócio da dívida!

Um estado onde uma burguesia nacional compradora – que vive como parasita à sombra dos grandes grupos financeiros, bancários e industriais europeus -  aceita que a sua política orçamental, fiscal, cambial, bancária, etc., seja ditada por um directório dominado sobretudo pelo imperialismo germânico, leva esse país – como acontece com Portugal – a ver-se exaurido dos seus recursos e activos e a acabar por vender, a preços de saldo, empresas e activos determinantes para traçar uma estratégia económica e financeira independente e favorável a quem trabalha.

Esta política oportunista e traidora está a atirar largos sectores do proletariado e popular para o círculo de influência política de organizações de extrema-direita, fascista e chauvinista, está a contribuir para que o imperialismo prossiga a sua estratégia de pilhagem e morte por todo o globo terrestre.


Resulta claríssimo deste acordo entre BE e PS, e das conclusões a que o grupo de trabalho que constituíram chegou, que o objectivo de ambos nunca foi o de servir o povo e satisfazer as suas necessidades, mas sim salvar a burguesia, o seu sistema capitalista e, sobretudo, o grande capital financeiro e bancário nesta hora de aflição em que se encontram devido à política de casino especulativo em que embarcaram. Apesar de não ter participado no grupo, o PCP não deixa de defender os mesmos objectivos quando propõe a renegociação da dívida.

A classe operária e os seus aliados têm de se ver livres destas autênticas cortinas de fumo que a burguesia produz e alimenta para os desviar dos seus objectivos históricos. E não é substituindo umas por outras que o vai conseguir. Só quando compreenderem que não existem almoços grátis, só quando se decidirem por uma luta dura, prolongada e sem quartel, dirigidos por um Partido Comunista Operário, baseado nos princípios marxistas, que  consiga reflectir, sintetizar e corporizar os seus interesses, sem hesitações ou desvios, é que conseguirá, finalmente, libertar-se das grilhetas da exploração a que estão sujeitos!

5 comentários:

  1. O Capitalismo entra no seu auge de combustão para se dar início ao Apocalipse.

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  2. Sim, não existe outra saída para os explorados e oprimidos do que não seja dizer abertamente que o rei vai nu...NÃO PAGAMOS!

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  3. As expectativas já eram baixas mas o BE nunca tinha descido tão baixo...já nem há nome para os classificar.

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    1. Há sim senhor, uma nova e rica aquisição da burguesia capitalista portuguesa.

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