domingo, 31 de agosto de 2025

Uma retrospectiva histórica do movimento dos Coletes Amarelos

 


Uma retrospectiva histórica do movimento dos Coletes Amarelos

31 de Agosto de 2025 Robert Bibeau


Por Khider Mesloub .

Surgido espontaneamente, no Outono de 2018, num contexto social letárgico, o movimento dos Coletes Amarelos abalou certamente o panorama político e perturbou radicalmente o clima social.

De facto, se, com a eleição de Macron, o panorama político tradicional da esquerda-direita foi pulverizado com vista a entronizar a chamada Revolução Macroniana no Eliseu, a eclosão do movimento dos Coletes Amarelos não só frustrou (e, portanto, perturbou) os planos da política anti-social do governo, mas, acima de tudo, acentuou correlativamente o fenómeno de putrefação política pela desqualificação de todos os partidos, incluindo a nova formação macroniana (LREM), que deveria estabelecer-se definitivamente na arena política francesa.

Por outro lado, se, no início, o movimento dos Coletes Amarelos abalou as bases do governo com as suas reivindicações radicais e a sua combatividade subversiva, rapidamente ele começou a perder força devido ao seu desvio para caminhos políticos estreitos, expressos pelas suas reivindicações «cidadãs, ecologistas, populistas e referendárias», nomeadamente pelo famoso Referendo de Iniciativa Cidadã (RIC). (sic)

De facto, os políticos profissionais afirmavam que o principal defeito do movimento dos Coletes Amarelos era a sua cruel ausência de um programa político coerente. Isso explica o desaparecimento da classe operária das manifestações semanais. O seu roteiro está marcado por reivindicações fragmentadas e desconexas, improvisadas ao longo da sua trajectória de luta. Traçado no calor da luta por mulheres e homens novatos na política, desprovidos de qualquer formação política proletária e experiência militante operária, orientado por uma pequena burguesia desclassificada, assumindo o papel de mestre de obras para reparar o sistema capitalista abalado, esse roteiro só poderia levar o movimento social a um beco sem saída.


Na verdade, o movimento dos Coletes Amarelos não aspirava de forma alguma seguir o caminho da revolta social consciente, muito menos o da revolução. Inegavelmente, como nos ensina a história, as orientações emancipatórias nunca são o motor da revolta inicial, elas desenham-se à medida que a luta se desenvolve, seguindo a relação de forças entre as diferentes classes envolvidas no combate, de acordo com a repressão desencadeada pela reacção para esmagar o movimento e em função do amadurecimento do contrapoder popular erguido contra o poder.

Levado por uma pequena burguesia enfurecida, precária e empobrecida, em fase avançada de proletarização, ainda apegada ao ideal da velha sociedade baseada no fetichizado Estado de bem-estar social , o movimento dos Coletes Amarelos esperava, ingenuamente e em vão, ressuscitar esse capitalismo social efémero que lhe assegurava uma existência privilegiada dentro da "sociedade democrática francesa".

De facto, o movimento dos Coletes Amarelos lutou pela instauração do poder popular, mas construiu um capitalismo renovado , garantindo uma redistribuição justa da riqueza, a suavização das divisões sociais e a erradicação das crises económicas. Um capitalismo moralizado, humanizado, mais verde, imaculado, liderado, além disso, por políticos e patrões honestos. Numa palavra: um capitalismo de sonho. Quimérico. Utópico. Impossível... porque o modo de produção capitalista não foi concebido para esse projecto social idílico.

Claramente, na época, o encantamento provocado por esse movimento, particularmente entre muitos activistas revolucionários, foi motivado pelo seu radicalismo subversivo inicial, materializado nos seus ataques frontais ao Estado dos ricos ; pelo seu modo de acção e a sua combatividade insurreccional, operando fora do quadro de organizações políticas e sindicais, tanto de esquerda quanto de direita. Mas a ilusão durou pouco. Pois esse radicalismo combativo certamente destruiu alguns símbolos dos ricos, mas não tinha a intenção de aniquilar o capitalismo.


Baixe o volume gratuito (aqui): https://les7duquebec.net/archives/253109/ Portuguese-AUTOPSIA-DO-MOVIMENTO-DOS-COLETES-AMARELOS-PORTUGUESE.pdf

AUTÓPSIA DO MOVIMENTO DOS COLETES AMARELOS – les 7 du quebec


A partir da Primavera de 2019, apesar do fracasso evidente do movimento dos Coletes Amarelos, alguns, num impulso de sobrevivência, esforçaram-se, depois de se terem manifestado em vão aos sábados, para perpetuar o movimento. E por uma boa razão. Alguns, nomeadamente os famosos líderes, impulsionados para o centro das atenções pelos meios de comunicação burgueses, habituados às luzes dos estúdios de televisão, temiam com desânimo a sua relegação para as sombras, o seu regresso ao anonimato. Outros, acostumados aos laços de solidariedade e amizade estabelecidos durante esse longo período de luta ao longo dos anos de 2018 e 2019, temiam a ruptura dessa vida fraterna, o retorno à solidão social.

Assim, para garantir a continuidade do movimento, propuseram-se a lançar-se em acções espetaculares e impactantes. Foi assim que anunciaram, no seu relatório aprovado na 2.ª Assembleia das Assembleias, realizada em St-Nazaire a 6 de Abril de 2019, uma série de acções ao longo de vários meses. Acções baseadas nas mesmas fantasias pequeno-burguesas dos cidadãos: «Justiça social», «Justiça fiscal», «Capitalismo ecológico», «Democracia eleitoralista referendária». Tínhamos os revolucionários de fim de semana, descobrimos os revolucionários de calendário, determinados a lutar, mas de acordo com uma agenda organizada, em função de um calendário político que respeita o planeamento familiar e profissional da sociedade e dos membros do movimento, tendo em conta a disponibilidade de cada um, pois os nossos revolucionários de calendário têm imperativos profissionais diários a respeitar e lazeres regulares a consumir.

Quando se quer atacar a sociedade capitalista, não se faz alarde, como o movimento de 10 de Setembro de 2025, planeado desde a Primavera, com a divulgação solene de um calendário de luta onde estão registadas as acções a realizar. Acções, aliás, ineficazes, sem impacto económico. Além disso, muitas vezes adiadas para as calendas gregas. Quando se deseja a Revolução, age-se espontaneamente hic et nunc (aqui e agora).

De qualquer forma, a ideologia do movimento dos Coletes Amarelos permaneceu prisioneira do pensamento da classe dominante. Embora tenham lutado contra o governo (quando, na verdade, a guerra social deve ser travada contra o Estado burguês e contra o capital), os activistas dos Coletes Amarelos certamente não tinham como programa a destruição da governança burguesa.


É certo que o movimento dos Coletes Amarelos alimentava a esperança de eleger outro poder «mais democrático», mas no âmbito da manutenção do capitalismo e da defesa dos interesses da «nação francesa», na continuidade do espírito da Revolução Burguesa de 1789. De facto, para além do carácter heterogéneo do movimento (este movimento era composto por um proletariado periférico volátil, uma classe média precária e uma pequena burguesia empobrecida – pequenos empresários, artesãos, trabalhadores independentes), expressavam-se incessantemente as mesmas reivindicações: poder ilusório do povo, democracia directa através do processo eleitoral bloqueado, evidentemente, pela burguesia, encerramento (impossível) das fronteiras «nacionais» que não existem mais, defesa da pátria contra a invasão de migrantes e a dominação estrangeira, rejeição das finanças cosmopolitas e do capitalismo globalizado.

É evidente que, com o desmantelamento do Estado-providência, o agravamento da precariedade e da pobreza e também o agravamento catastrófico da crise económica, assistiremos no futuro, em muitos países, ao reaparecimento regular dos mesmos modos de acção dos Coletes Amarelos, ou seja, lutas espontâneas e violentas, conduzidas fora do âmbito das organizações políticas e sindicais e fora dos centros de produção, ataques frontais contra o Estado, manifestações não autorizadas e violência multiforme. Em resumo, lutas sem perspectiva de derrubar o capitalismo.


Em todo o caso, graças ao surgimento desse movimento, a natureza reaccionária e repressiva do Estado dos ricos foi amplamente revelada. A democracia burguesa francesa revelou a sua verdadeira essência totalitária e reaccionária, através do desprezo de classe expresso por toda a classe dominante (chefe de Estado, líderes políticos, media a soldo, intelectualidade odiosamente histérica), pelas atrocidades da polícia, pelas mortes e mutilações provocadas durante as manifestações, pelas rusgas aos manifestantes, pelas detenções massivas abusivas, pelas condenações arbitrárias e desproporcionadas, pelas prisões consideráveis de activistas, pelo fichamento sistemático dos militantes, pela aprovação de leis securitárias e liberticidas.

E pensar que a esquerda e a extrema-esquerda (e até Macron) se propunham a bloquear a extrema-direita (o fascismo)! Que farsa! Que hipocrisia! A extrema-direita já está na Assembleia Nacional, no executivo governamental e no aparelho estatal burguês, bem como na mente de todos os partidos políticos, campeões da democracia burguesa , dos múltiplos meios de comunicação franceses. No cerne da regulação da miséria social, do controle social, da gestão dos conflitos sociais, da direcção dos empregadores, da gestão das empresas, da manutenção da ordem, da governança do poder.

Khider MESLOUB

 

Fonte: Retour historique sur le mouvement des Gilets jaunes – les 7 du quebec

Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice




sábado, 30 de agosto de 2025

Israel e Arábia Saudita, dois grandes colonizadores do planeta

 


Israel e Arábia Saudita, dois grandes colonizadores do planeta

 

René NABA, 21 de junho de 2015 , em  Décryptage

Última actualização em 21 de Junho de 2015

Paris – O facto é evidente e a fonte é concreta. Está escrito preto no branco num relatório americano intitulado «Global Land and Water Grabbing» (apropriação global de terras e águas) e publicado pela revista Golias Hebdo N.º 275 (semana de 14 a 20 de Fevereiro de 2013).

Israel é um dos maiores colonizadores do planeta e um dos maiores poluidores das terras de África, América Latina e Ásia

Uma colonização com uma área 20 vezes superior à da Palestina, enquanto a Arábia Saudita, sob a bandeira da empresa Ben Laden, a empresa familiar do fundador da Al Qaeda, se voltava para a África e a Ásia para garantir terras aráveis e alcançar a sua auto-suficiência alimentar.

A experiência de Israel com a colonização da Palestina levou-o a colonizar terras em todo o mundo que representam vinte vezes a sua superfície, em detrimento das populações e do ambiente dos países pobres:

 

·         Na Guiné, Simandou, uma montanha isolada no meio da floresta equatorial, nos confins da Guiné. O seu subsolo contém minério de ferro, a maior reserva inexplorada do mundo. O seu valor: várias dezenas, ou mesmo centenas de milhares de milhões de dólares. O subsolo da Guiné está repleto de matérias-primas: bauxite, diamantes, ouro, urânio, ferro, etc. Os principais grupos mineiros do planeta disputam as concessões. Mas os 11 milhões de habitantes pouco beneficiam destes tesouros. O escândalo de Simandou envolve o homem mais rico de Israel, Benny Steinmetz. Uma das maiores operações de pilhagem das riquezas minerais de África, num contexto de corrupção das elites africanas e evasão de capitais, com a cumplicidade de uma ex-primeira-dama guineense.

·         No Gabão, para o cultivo de Jatropa, necessária à produção de bio-combustíveis.

·         Na Serra Leoa, onde a colonização israelita representa 6,9% do território deste país da África Ocidental, que além disso é diamantífero.

·         Nas Filipinas, onde a proporção de terras «confiscadas» atinge 17,2% da superfície agrícola.

·         Na República Democrática do Congo, para o cultivo de cana-de-açúcar, além da exploração de diamantes. Com prolongamento na região dos Grandes Lagos, um proselitismo que visa a conversão dos tutsis ao judaísmo, numa operação destinada a forjar uma nova identidade para uma estratégia de conquista e preservação dos interesses israelitas na zona, paralelamente à estratégia de esterilização dos falachas, judeus da Etiópia em Israel. Ninguém está imune a contradições.

Os escândalos abundam no Congo Kinshasa, onde Laurent Désiré Kabila pagou com a vida as suas indelicadezas ao atribuir a exploração de diamantes a um grupo israelita.

Israel está à frente dos países que controlam as terras nos países pobres, juntamente com os Estados Unidos, a Grã-Bretanha e a China. De acordo com o «The Journal of the National Academy of Sciences of the United States» e retomado pela Golias, 90% dessas terras estão localizadas em 24 países, a maioria na África, Ásia e América Latina.

Desde a crise alimentar de 2007-2008, as empresas estrangeiras estão a adquirir dez milhões de hectares de terras aráveis por ano. As novas culturas são frequentemente cultivadas em detrimento das selvas e das zonas de importância ambiental, ameaçando a sua bio-diversidade. Utilizam fertilizantes e pesticidas e libertam quantidades significativas de gases com efeito de estufa. Em última análise, este fenómeno compromete as bases da soberania alimentar e desvia, em particular, os recursos hídricos.

Nos países da África anglófona...

Com o apoio dos países africanos anglófonos não muçulmanos, Etiópia, Uganda e Quénia, Israel conseguiu um grande avanço diplomático na África anglófona, obtendo a redução da quota de águas do Nilo do Egipto, a maior palhaçada diplomática da era Mubarak, que custou o poder ao egípcio.

Negociando com o egípcio Mubarak, fazendo-lhe acreditar na possibilidade de uma sucessão dinástica a favor do seu filho, Israel incitou os Estados africanos a reclamarem um aumento da sua quota na distribuição hídrica do rio, atraindo os africanos com projectos económicos e os investidores egípcios com promessas de participação nos projectos israelitas. Na Etiópia, Israel financiou a construção de dezenas de projectos para a exploração das águas do Nilo Azul.

O acesso de Israel ao perímetro da bacia do Nilo, através do sul do Sudão, com o apoio francês e americano, foi acompanhado pelo lançamento de um projecto de construção de um canal ligando o Mar Vermelho ao Mar Mediterrâneo, a partir de Eilat. Com duas vias navegáveis, uma para a ida e outra para o regresso, o canal israelita, ao contrário do egípcio, irá competir fortemente com o Canal do Suez e provocar uma perda de 50% das receitas egípcias, de 8 mil milhões de dólares por ano para 4 mil milhões. Mas o Egipto parece ter ganho vantagem sobre o seu rival israelita com o lançamento da construção de um canal complementar, em parceria com a Arábia Saudita, na sequência da nova ofensiva israelita sobre Gaza, -Bordure protectrice (Borda protectora )-, que teve lugar de 8 de Julho a 7 de Agosto de 2014.

O assédio israelita às comunidades libanesas de África, particularmente na Nigéria e na Serra Leoa, visa assim eliminar concorrentes na exploração diamantífera do subsolo africano e secar o fluxo financeiro proveniente dos emigrantes xiitas para os seus correligionários do sul do Líbano. O objectivo é enfraquecer a protecção constituída pela imigração xiita libanesa na África e na América Latina face à colonização crescente das terras empreendida por Israel nessas duas regiões.

O Mossad recrutaria até mesmo jornalistas árabes para vigiar os libaneses da África, de acordo com revelações feitas ao jornal espanhol El País por um ex-agente, o jornalista argelino Saïd Sahnoune.

Saïd Sahnoune foi recrutado em Telavive em 1998. Usando a sua qualidade de jornalista, ele espionava para o Mossad em Abidjan, na Costa do Marfim. Ele era responsável pela vigilância da colónia libanesa xiita na África Ocidental. Sahnoune também espionava na Tunísia, mas principalmente no Líbano após a retirada de Israel do sul do país, que ocupou até 2000. O pagamento ao espião argelino era feito em dinheiro no Chipre, no valor de 1.500 dólares por mês, além da cobertura das despesas da missão, o que lhe permitia ganhar até 6.000 dólares quando os alvos eram atingidos.

Israel é o maior apoiante das ditaduras do terceiro mundo, o aliado incondicional do regime de apartheid da África do Sul. A guarda pretoriana de todos os ditadores francófonos que saquearam África. De Joseph Désiré Mobutu (Zaire-RDC) a Omar Bongo (Gabão), Gnassingbé Eyadema (Togo) e até Félix Houphouët-Boigny (Costa do Marfim) e Laurent Gbagbo, passando por Paul Biya, o presidente offshore dos Camarões, cujo território serve de trânsito para os sequestradores do Boko Haram. Além disso, na América Latina, nas Honduras, na Colômbia e no Paraguai.

E na América Latina...

A ofensiva anti-Hezbollah na América Latina teria também como objectivo lançar uma cortina de fumo sobre a face hedionda do humanitarismo israelita. Camuflar a colonização rampante das terras na Colômbia e essa singular impostura que constitui a reprodução do regime de apartheid da Palestina nas Honduras. Ah, as dolorosas reminiscências.

Israel é um dos maiores exportadores de armas para a América do Sul.

http://www.agoravox.fr/tribune-libre/article/les-soldats-israeliens-en-amerique-165615

Na Colômbia, Israel é conhecido por ter treinado as forças colombianas no ataque contra as FARC com o objectivo de libertar a refém Ingrid Bettencourt. O Estado hebraico assumiu o controlo de vastas áreas para cultivar cana-de-açúcar. E as Honduras tornaram-se um terreno fértil para a transposição do apartheid israelita para o território latino-americano.

Honduras apresenta, de facto, a maior taxa de homicídios por habitante do mundo (85,5 por 100 000 em 2012), ou seja, cerca de 20 assassinatos por dia, 95% dos quais impunes, e onde a pobreza afecta mais de 70% da população, segundo a ONG local Fórum da Dívida Externa, e que, além disso, tem dificuldade em recuperar das consequências do derrube do presidente Manuel Zelaya em Junho de 2009 por militares apoiados por sectores da direita e do mundo empresarial.

Uma bênção para Israel: «Honduras é hoje, como a Palestina, um laboratório de genocídio indígena, um laboratório de técnicas de contra-insurgência, um laboratório de guetização e contenção de populações escravizadas.

É também o laboratório para o estabelecimento de um neo-liberalismo absoluto, graças à cessão de soberania sobre regiões inteiras do país através da “Lei Hipotecária” e da criação de enclaves neo-liberais retirados do território nacional, as “Zonas de Emprego e Desenvolvimento Económico” ou “Cidades Modelo” ou “Cidades Charter”. bem como “a transferência de direitos sobre todos os recursos naturais do país” está escrito.

Outro flagelo da economia africana é a venda de terras aráveis

Desde 2006, cerca de 20 milhões de hectares de terras aráveis foram objecto de negociações em todo o mundo, pois, até 2050, a produção agrícola deverá crescer 70% para responder ao aumento da população, de acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). Mas essa ofensiva sobre as terras não ocorre sem contratempos. É necessário reorientar os investimentos, caso contrário, eles podem desequilibrar o país-alvo, como foi o caso das ambições da empresa coreana Daewoo em Madagáscar. À espera de um aumento sustentável dos preços dos produtos alimentares ou de uma maior volatilidade dos mercados, este neo-colonialismo agrícola tornou-se um elemento estratégico para os países preocupados em garantir a sua segurança alimentar.

Aos fundos soberanos de Estados preocupados em garantir a sua estratégia de abastecimento, entre os quais os países do Golfo ou a China, juntaram-se investidores privados, locais ou estrangeiros. As aquisições de terras aceleraram com a crise alimentar de 2008. A Arábia Saudita criou uma empresa pública para financiar as empresas privadas do reino que compram terras no estrangeiro. No Mali, as novas culturas beneficiam principalmente os investidores líbios. A concessão de 100 000 hectares à empresa Malibya, ligada ao antigo líder líbio, o coronel Muammar Kadhafi, causou grande alvoroço. «Os hectares dos líbios estão no início dos canais de irrigação, serão abastecidos com água antes de nós», lamentam os camponeses. «Mesmo que digam que estão a operar no âmbito da cooperação, não compreendemos bem quais são os interesses por trás de tudo isto», resume Mamadou Goïta, da ONG maliana Afrique verte. Os produtores também temem as intenções dos chineses de desenvolver a cana-de-açúcar, que consome muita água. Eles já cultivam 6000 hectares e controlam a fábrica de açúcar Sukala.

Face à subida do nível das águas, as Maldivas procuram novos territórios para se estabelecerem. Setenta mil pessoas vivem amontoadas em Malé, uma pesada plataforma urbana situada à beira do Oceano Índico. Por enquanto, essa barreira artificial resiste. Ela conseguiu proteger a capital desse singular Estado das Maldivas, um arquipélago com 26 atóis e 1.200 ilhas cujos recifes de coral ocupam um lugar de destaque nos catálogos de turismo mundial. Mas por quanto tempo mais? O maremoto de 1987 inundou parte de Malé e causou um profundo choque na população.

Em seguida, o fenómeno climático El Niño provocou, em 1998, um branqueamento maciço dos corais: 90% dos que se encontravam a menos de 15 metros de profundidade morreram. Por fim, o tsunami de Dezembro de 2004 atingiu severamente o arquipélago, destruindo duas ilhas, impondo a evacuação de outras seis e a deslocação de cerca de 4000 pessoas (de um total de 280 000 habitantes).

Nas ilhas Kiribati... Mesma causa, mesma reacção: diante da subida das águas que as ameaça, as ilhas Kiribati, um arquipélago do Pacífico, planeiam comprar novos territórios. «A alternativa é morrer, desaparecer». Os Kiribati enfrentam uma subida das águas de 5 mm por ano desde 1991, o que provoca, nomeadamente, a salinização da água doce. Inicialmente, o governo optou por uma política de formação e emigração controlada. Mas a crise económica levou-o a considerar esta solução mais radical.

A Arábia Saudita criou uma empresa pública para financiar empresas privadas do reino que compram terras no estrangeiro. Ela voltou-se para a África, devido à sua proximidade com o reino. A empresa saudita «Haïl Hadco» aluga milhares de hectares no Sudão com o objectivo de cultivar 40 000, enquanto o grupo Ben Laden, especializado em obras públicas, se comprometeu na Ásia à frente de um consórcio, na esperança de, a longo prazo, gerir 500 000 hectares de arrozais na Indonésia, no âmbito de um projecto agrícola de 1,6 milhões de hectares que inclui a produção de agro-combustíveis.

Fundos abutres, evaporação de receitas, corrupção, má gestão das transferências de fundos dos migrantes, venda a preço de banana de terras aráveis. Será África condenada a continuar a ser um poço sem fundo?

Referências

1.      http://ccfd-terresolidaire.org/e_upload/pdf/ed_110110_bd.pdf?PHPSESSID=2...

2.      Sobre os Fundos Abutre: Relatório da Plataforma Francesa sobre Dívida e Desenvolvimento e do CNCD (Centro Nacional de Cooperação para o Desenvolvimento) intitulado "Um Abutre Pode Esconder Outro ou Como as Nossas Leis Encorajam Predadores em Países Pobres e Endividados", Junho de 2009. África: Um continente mais atingido do que outros pela crise financeira" http://www.dia-afrique.org/suite.php  ?newsid=12031  
Bem como http://www.cadtm.org/spip.php ?article4654   

3.      Sobre o tema da transferência das remessas dos migrantes africanos para os seus países de origem, ver artigo de Grégoire Allix em LE MONDE, 22 de Outubro de 2009

4.      Bertrand d'Armagnac: a corrida pelas terras aráveis Le Monde, 23 de Abril de 2010  http://www.lemonde. pt-br/planeta/ artigo/2010/ 22/04/a-corrida-à-terra-arável-torna-se-preocupada-ante_1341086_ 3244.html  

 

René Naba

Jornalista-escritor, ex-chefe do mundo árabe e muçulmano no serviço diplomático da AFP, depois assessor do director-geral da RMC Médio Oriente, chefe de informação, membro do grupo consultivo do Instituto Escandinavo de Direitos Humanos e da Associação de Amizade Euro-Árabe. De 1969 a 1979, foi correspondente rotativo no escritório regional da Agence France-Presse (AFP) em Beirute, onde cobriu a guerra civil jordaniano-palestiniana, o "Setembro Negro" de 1970, a nacionalização de instalações petrolíferas no Iraque e na Líbia (1972), uma dúzia de golpes de Estado e sequestros de aviões, bem como a Guerra do Líbano (1975-1990) a 3ª guerra árabe-israelita de Outubro de 1973, as primeiras negociações de paz egípcio-israelitas na Mena House Cairo (1979). De 1979 a 1989, foi responsável pelo mundo árabe-muçulmano no serviço diplomático da AFP, depois assessor do director-geral da RMC Médio Oriente, encarregado da informação, de 1989 a 1995. Autor de "Arábia Saudita, um reino das trevas" (Golias), "De Bougnoule a selvagem, uma viagem ao imaginário francês" (Harmattan), "Hariri, de pai para filho, empresários, primeiros-ministros" (Harmattan), "As revoluções árabes e a maldição de Camp David" (Bachari), "Media e democracia, a captura do imaginário, um desafio do século XXI" (Golias). Desde 2013, ele é membro do grupo consultivo do Instituto Escandinavo de Direitos Humanos (SIHR), com sede em Genebra. Ele também é vice-presidente do Centro Internacional Contra o Terrorismo (ICALT), Genebra; Presidente da instituição de caridade LINA, que opera nos bairros do norte de Marselha, e Presidente Honorário do 'Car tu y es libre', (Bairro Livre), trabalhando para a promoção social e política das áreas periurbanas do departamento de Bouches du Rhône, no sul da França. Desde 2014, é consultor do Instituto Internacional para a Paz, Justiça e Direitos Humanos (IIPJDH), com sede em Genebra. Desde 1 de setembro de 2014, é responsável pela coordenação editorial do site https://www.madaniya.info  e apresentador de uma coluna semanal na Radio Galère (Marselha), às quintas-feiras, das 16h às 18h.

Todos os artigos dE René NABA

 

 

Fonte: Israël et l'Arabie saoudite, deux grands colonisateurs de la planète

Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice




O povo canadiano mobiliza-se em prol do povo palestiniano faminto

 


O povo canadiano mobiliza-se em prol do povo palestiniano faminto

Robert Bibeau





Na semana passada, o Comité de Revisão da Fome do IPC, apoiado pela ONU,  finalmente  confirmou a existência de uma situação de fome em Gaza , consequência das políticas deliberadas de fome de Israel. https://www.ipcinfo.org/ipcinfo-website/countries-in-focus-archive/issue-134/en/

Há poucos dias, testemunhamos com horror o devastador  ataque de "  duplo tiro  " lançado por Israel contra o Hospital Nasser , visando directamente as equipas de emergência e os jornalistas que correram para ajudar as vítimas.


Relato de uma enfermeira canadiana que testemunhou este massacre:  
Que o Silêncio dos Justos não Mate Inocentes: Testemunho comovente de uma enfermeira canadiana que regressou do genocídio em Gaza

Em ambos os casos, o governo canadiano adoptou a mesma resposta decepcionante: palavras sem acção . Embora o Secretário de Estado Randeep Sarai tenha emitido uma  declaração  a reconhecer o papel de Israel na fome em Gaza, ele não anunciou nenhuma medida para acabar com ela. E, apesar do seu  tuíte  a dizer estar "horrorizada" com o ataque ao hospital, a Ministra Anand não fez nada, continuando a autorizar o envio de armas para Israel.

Felizmente, cada vez mais canadian estão a tomar as rédeas da situação. Nesta semana, o maior sindicato do sector privado do Canadá, o Unifor,  votou  a favor de um embargo de armas a Israel; a Câmara Municipal de Burnaby  votou unanimemente  a favor de um embargo de armas e prometeu ser "livre do apartheid"; e o Queers for Palestine tomou a corajosa medida de  pressionar  a Marcha do Orgulho de Ottawa a posicionar-se ao lado do povo palestiniano.

Os nossos líderes não agirão se não agirmos.  Devemos continuar a exigir acções significativas para pôr fim ao genocídio de Israel.  Convidamo-lo a participar nos eventos que acontecerão esta semana ( veja abaixo ) na sua região. Se estiver a organizar um evento ou protesto,  considere denunciá-lo através do nosso formulário de envio de eventos  para que possamos incluí-lo nas  nossas futuras comunicações por e-mail.

Antes da lista de eventos/manifestações ( abaixo ), destacamos campanhas, declarações e iniciativas recentes: 

CJPME pede sanções contra Israel para acabar com a fome em Gaza

 


Na segunda-feira, o CJPME emitiu um comunicado à imprensa condenando veementemente a contínua incapacidade do Canadá de tomar medidas concretas para pôr fim ao genocídio em Gaza, apesar do seu recente reconhecimento do relatório da Classificação Integrada de Segurança Alimentar (IPC), que confirma a existência de uma situação de fome em Gaza. "A fome em Gaza não é resultado de um fracasso, mas de um plano israelita. Há quase dois anos, o governo israelita anunciou a sua intenção de cortar o acesso a alimentos e água em Gaza, usando a fome como arma de guerra. Há quase dois anos, especialistas têm vindo a alertar para as consequências catastróficas, porém previsíveis, dessa política israelita deliberada, e, ainda assim, a comunidade internacional nada fez para impedi-la", disse Michael Bueckert, presidente interino do CJPME.  Leia a declaração completa aqui .

Enviar um e-mail: Carney deve sancionar Israel

 


Apesar das ameaças de sanções feitas no início deste ano, Carney não cumpriu a sua palavra e não impôs medidas que acabariam com a fome que Israel impõe a dois milhões de pessoas.  Junte-se a quase 30.000 canadianos para  enviar uma mensagem urgente  pedindo ao Primeiro-Ministro Carney e à Ministra dos Negócios Estrangeiros, Anita Anand, que implementem sanções contra Israel .

Assine a petição: Vamos acabar com as brechas

 


O Canadá continua a transferir armas para Israel, inclusive através de uma brecha na lei americana. Ao enviar armas aos Estados Unidos para serem montadas em caças, helicópteros de ataque e outros sistemas de armas letais que massacram activamente os palestinianos em Gaza, o Canadá está a burlar as regulamentações do comércio de armas e esquivando-se das suas responsabilidades como Estado-parte do Tratado sobre o Comércio de Armas.  Clique aqui para assinar a nossa petição a pedir ao Canadá que feche a brecha nos EUA e pare de armar Israel .

Prorrogação de prazo – Responda a uma pesquisa

O Programa Anti-racismo da Fundação CJPME  lançou uma investigação nacional  para documentar a repressão legal e policial enfrentada por aqueles envolvidos em acções de solidariedade à Palestina em todo o Canadá.

A ARPCF criou um formulário anónimo de auto-preenchimento para colectar depoimentos detalhados sobre:

·         Vigilância, interrogatórios ou prisões pela polícia.

·         Ameaças legais ou processos relacionados com protestos ou acções activistas.

·         O uso de leis ant-iterrorismo ou de discurso de ódio contra defensores da causa palestiniana.

·         Medidas policiais desproporcionais durante protestos relacionados com a Palestina.

·         Reuniões com agências de segurança como a Polícia Montada do Canadá (RCMP), o CSIS ou promotores da Coroa.

Clique aqui  para saber mais sobre o projecto e participar na pesquisa.  O prazo para respostas foi prorrogado até 30 de Setembro de 2025 .

O seu apoio pode mudar a política do Canadá em relação à Palestina

 


No meio desta crise, a CJPME está a construir o poder político necessário para impulsionar mudanças. O nosso  grupo nacional de lobby  está a transformar a energia popular em pressão directa sobre os parlamentares de todo o Canadá. Graças à generosidade de apoiantes como você, já arrecadamos  mais da metade da nossa meta de 120.000 dólares  para financiar esta iniciativa ousada, mas precisamos da sua ajuda para que isso aconteça.

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Manifestações e eventos em todo o Canadá

 


Junte-se a milhares de canadian em todo o país que protestam contra a violência genocida de Israel e a cumplicidade do Canadá.  Observe que muitas organizações diferentes organizam esses eventos, e a CJPME lista aquelas das quais tem conhecimento. Quaisquer perguntas devem ser direccionadas aos organizadores do evento. Se você tiver eventos que gostaria de ver listados,  envie-os aqui .  A lista de eventos apresentada aqui não constitui um endosso.

·         Antigonish, NS, “ Comício quinzenal – todo segundo sábado ”

·         Belleville, ON, “ Todos os domingos; Em solidariedade com o povo de Gaza ”

·         Belleville, ON, “ Vigília à luz de velas pelas crianças famintas de Gaza”

·         Coquitlam, BC, “ Manifestação pela Palestina ”

·         Coquitlam, BC, “  Boicote aos livros Indigo; Dia Nacional de Acção ”

·         Corner Brook, Holanda, “ Pela Palestina – Todos os Sábados ”

·         Edmonton, AB, “ Não pare de falar sobre a Palestina Livre ”

·         Haliburton, ON, “ Vigília por Gaza ”

·         Kelowna, BC, “ Desfinancie o Genocídio ”

·         Kitchener, ON, “ Caminhe com a dor; Gaza é a bússola ”

·         Ottawa, ON, “ Um Estado de Paixão: Exibição de Filme ”

·         Ottawa, ON, “ Raízes e resiliência: uma reunião de cultura e comunidade ”.

·         Ottawa, ON, “ Trabalhadores exigem um embargo de armas ”

·         Owen Sound, ON, “ Manifestação de Solidariedade com a Palestina ”

·         Príncipe George, BC, “ Todos os domingos; Fique com a Palestina ” 

·         Saskatoon, SK, “ Manifestação Semanal por Gaza ”

·         Saskatoon, SK, “ Vigília à luz de velas pela Palestina ”

·         Saint John, NB, “  Comício Semanal de Saint John pela Palestina ”

·         Sarnia, ON, “  Isso deve parar agora; Protesto pela Palestina ”

·         Surrey, BC, “ Agitando a bandeira pela Palestina ”

·         Sydney, NS, “ Manifestação de sábado pela Palestina ”

·         Thunder Bay, “  Apoie a Vigília de Gaza ”

·         Toronto, ON, “ Mulheres de Preto; Vigília por Gaza ”

·         Toronto, ON, “ Desfile do Trabalho de Toronto ”

·         Vancouver, BC, “ Relatório de Saúde de Gaza: Discussão ”

·         Victoria, BC, “ Manifestação para Acabar com o Genocídio e a Ocupação na Palestina”

·         Waterloo, ON, “ Vigília Silenciosa por Gaza – Todas as Quintas-feiras ”

·         Windsor, ON “ Quebre a corrente de Gaza a Ramallah ”

·         Winnipeg, MB, “ Todos pela Palestina; Protesto em Winnipeg ”

·         Vancouver, BC, “ Acabar com a fome e o genocídio em Gaza ”

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Michael, Mary Ann, Jason, Lynn, Alex, Wissam, Tony, Dina, Saeed e o resto da equipe do CJPME.

 

Canadianos pela Justiça e Paz no  Médio Oriente  
CJPME / CJPMO · 580 Sainte-Croix Ave, Suite 060, Montreal, QC, H4L 3X5
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Fonte: Le Canada populaire se mobilise pour le peuple de Palestine affamé – les 7 du quebec

Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice