domingo, 9 de agosto de 2015

A quem serve a abstenção?!

Sempre que se aproximam actos eleitorais, os defensores da abstenção aparecem a agitar as suas bandeiras e a defender que o caminho é não votar. É interessante verificar que, afinal,  são os críticos da retórica os maiores e mais militantes dos retóricos. Afirmam, alto e bom som, que não votam em consciência, porque não querem  alimentar mais um sistema corrupto e corruptor, escamoteando que esse sistema, assente em aparelhos partidários muito bem oleados e organizados, com um sistema de correias de transmissão, de favores e influências há muito implementados, e com reconhecida eficácia, se alimentam, precisamente, da abstenção!

Que bom que é ter um ética e uma moral! O que fazer quando elas promovem o contrário do que anunciam? Apesar de considerar que a solução não passa por eleições e, muito menos, por um sistema podre e caduco, como o é o regime parlamentar burguês, a sugestão mais consentânea com os interesses do povo, neste momento, é que se se utilize o sistema para o combater.

Se é certo que considero, dadas as condições actuais, que a saída mais consentânea com os interesses do povo e de quem trabalha é votar no PCTP/MRPP, reconheço que, desde que não estejam comprometidos com a PRAXIS daqueles partidos que nos últimos 40 anos, à vez ou coligados uns com os outros, impuseram ao povo português a situação que actualmente se vive, outras alternativas poderão ser consideradas.

Há que romper com a situação de total destruição do tecido produtivo, de uma crescente dependência do exterior, do regresso a níveis de miséria vivenciados há mais de 5 décadas e, muito particularmente da perda da soberania do país em matérias vitais como a política financeira, cambial e fiscal, a que os partidos do chamado bloco central – por vezes com a cumplicidade activa do CDS/PP – conduziram Portugal, amarrando o país e o povo à armadilha do euro e da dívida.

Nunca, porém, a abstenção que tanto apraz a Cavaco e à coligação fascista PSD/CDS, bastamente satisfeita com o facto de impedir, objectivamente, o registo nas embaixadas e consulados a mais de 400 mil trabalhadores que nos últimos 4 anos foram forçados a emigrar, porque foi fechando, de forma sistemática e criminosa, aqueles espaços físicos, únicos na função de materializar a relação desses trabalhadores e elementos do povo com o seu país.

A história ensina-nos que, sempre que se vislumbram períodos eleitorais, aparecem este tipo de arautos, lançados pelos partidos do poder para, objectivamente, lançar a confusão e promover a abstenção que, num sistema baseado no método de Hondt, favorece precisamente os partidos com maior número de clientela e cujas organizações são financiadas pelo próprio sistema que, depois, são encarregados de gerir.

 Depois de lençóis de retórica vazia e ôca, polvilhada, por vezes, por algumas tiradas de lucidez transviada para que os mais incautos possam pensar que os defensores da abstenção até sabem do que falam,  fica a grande questão por responder. Então qual é a alternativa? Entregar o ouro ao bandido de bandeja? Sem resistência e luta? Sem aproveitar o arremedo de democracia que o inimigo se vê obrigado, pelo menos de 4 em 4 anos, a encenar? Não aproveitar essa encenação para ir passando novas mensagens e elevar as consciências?

Perante a fatalidade de que as eleições servem para que tudo fique como mais apraz aos donos disto tudo, temos um bom exemplo: a Islândia!  A comprovar que as mudanças não ocorrem por geração espontânea, nem por acção da abstenção. Muito pelo contrário, essas transformações ocorreram porque um conjunto importante de forças - partidárias e não partidárias, mas democratas e patriotas – souberam interpretar adequadamente as necessidades e anseios do povo islandês e dar-lhe expressão. Isso faz-se com luta, organização, coerência e persistência, e não com os habituais lamentos de que somos dominados por um bando de corruptos e corruptores.


Se é certo que o povo não pode contar com os partidos retrógrados que ao longo dos últimos 41 anos, à vez ou coligados, governaram o país, não menos certo é que não deverá alimentar ilusões naquela esquerda que aceitou o princípio da concertação social, considerando ser possível conciliar os interesses do lobo e do cordeiro! Agora, meter tudo no mesmo saco para justificar a abstenção é que não! Até porque fazê-lo elimina a alternativa democrática, elimina a possibilidade política e instrumental de derrubar os promotores da corrupção e aqueles que lhe aparam o sistema.


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