quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

A Hipocrisia de quem nada faz para salvaguardar o SNS

Durante o debate da Lei do Orçamento de Estado para 2016, lei ontem aprovada na generalidade por PS, BE, PCP e Os Verdes na Assembleia da República, vários dos oradores dos diversos partidos da coligação da esquerda formal que dá sustentabilidade ao actual governo do PS no parlamento, teceram considerações várias àcerca da necessidade e da urgência de se restabelecer o Serviço Nacional de Saúde (SNS).

Alguns desses oradores utilizaram, mesmo, uma oratória musculada, aparentemente denunciando a destruição a que o SNS esteve sujeito durante a governação dos traidores à pátria Coelho e Portas que foram, como se sabe, tutelados por Cavaco.

Todos eles, no entanto, escamotearam o facto de que, prosseguindo os ditames dos acordos europeus,  mormente os que se referem ao tratado orçamental e à imposição da tróica germano-imperialista de se resolverem falências bancárias à custa do roubo dos salários e do trabalho e de uma carga fiscal sufocante para os trabalhadores e o povo,  não será possível vislumbrar outra situação que não a prossecução da sua destruição, mesmo que com maior lentidão.

Isto porque, só os juros da dívida ascendem este ano fiscal de 2016 a cerca de 9 mil milhões de euros, verba significativamente superior àquela que a Lei do Orçamento de Estado ora aprovada dedica ao SNS!

O que é certo é que a degradação do SNS prossegue. Desde logo, no seu patamar de cuidados primários. As falhas de cobertura de médicos de família, quer a nível nacional, quer a nível distrital, estão aí para o sublinhar e desmascarar todos aqueles que persistem em ajoelhar perante o euro, a União Europeia e negam que a única saída para o povo português é a do repúdio da dívida e a da saída de Portugal daquelas estruturas de natureza colonial.

Vejamos! Hoje mesmo foi notícia que ficaram por contratar, na Zona Norte do país, médicos de família que assegurariam a cobertura a mais de 50 mil utentes. Isto porque, em vez das 102 vagas necessárias de preencher para assegurar uma cobertura adequada, foram apenas abertas 74. Mas, este quadro é replicado no centro do país, no sul e nas regiões autónomas.

Aliás, muitos dos médicos que não foram agora colocados já referiram que outras alternativas lhes não restam do que concorrer à medicina privada ou a solicitar certificados que os habilitem a emigrar.

O quadro que se vive nas urgências, também não é o melhor! O próprio bastonário dos médicos veio denunciar esta semana que a demora na assistência aos doentes que deram entrada, nas últimas semanas do ano, nas urgências dos hospitais do SNS, poderão ter provocado mais mortes do que aquelas que o Ministério da Saúde e os serviços revelaram.

Responsabilizando o Ministério da Saúde, quer por essas mortes, quer pela degradação dos cuidados e práticas efectuadas nos serviços de urgência em todo o país, o bastonário denuncia que “só não são noticiadas mais mortes, resultantes da assistência indevida, porque as famílias, provavelmente, não se aperceberam”!!! Isto é, se mais casos de óbito não foram divulgados pelos meios de comunicação social, tal ficou a dever-se ao facto de alguns dos familiares e acompanhantes dos doentes falecidos não ter associado a morte dos mesmos a uma falha no sistema, mas ao desfecho natural da condição que levou aqueles doentes a procurarem assistência nas urgências hospitalares.

Entretanto, o governo de António Costa persiste no jogo viciado de entregar o processo de inquérito destas mortes e anomalias nas urgências hospitalares ou nas falhas de cobertura de médicos de família, de enfermeiros e pessoal auxiliar, a entidades dependentes do Ministério da Saúde. Claro está que, não sendo dada autonomia aos hospitais e centros de saúde para contratarem médicos, quem continuará a gerir os hospitais e centros de saúde será o governo e o seu ministério da saúde, replicando, ad aeternum, as condições de degradação que hoje se assinalam e denunciam.


E fá-lo-á acomodando – como agora é moda dizer-se – as necessidades de financiamento do SNS aos limites orçamentais impostos por um directório europeu ao serviço dos interesses da imperialista Alemanha e do pagamento de uma dívida que foi provocada pelos bancos e não foi contraída pelo povo, nem o povo dela retirou qualquer benefício.


Um directório que tudo faz e fará para que os lucros com as dívidas soberanas- sobretudo os de bancos alemães – sejam assegurados e a falência de um monstro do sector financeiro e bancário como é o Deutsche Bank seja travada ou, pelo menos, adiada!

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